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farol n.º 24 - mil novecentos e sessenta e seis ♦ sessenta e sete, págs. 6 a 8.


Diário

duma viagem a Madrid

 

2 de Maio

Poucos minutos faltavam para a partida tão desejada.

Os colegas e os familiares rodeavam o grande veículo e, às 15 horas, a camioneta partiu. A viagem decorreu maravilhosa, durante a qual fizemos os nosso projectos.

Por fim, avistámos a Guarda, e aí jantámos e pernoitámos na casa de Santa Zita.


3 de Maio

Acordámos de madrugada. O frio era intenso. Depois do pequeno-almoço partimos para a fronteira e daí para Salamanca. Estávamos em Espanha, no país de Miguel Cervantes.

Fizemos uma paragem para o almoço e partimos logo a seguir, sem visitar a cidade, porque havia a grande preocupação de atingir Madrid, a grande capital do país irmão, à hora estabelecida.

Hospedados no «Hostal Meson Auto», na praça de Legerzpi, logo travámos os primeiros conhecimentos com a delegação alemã, instalada no mesmo hotel.


4 de Maio

Começaram os treinos, para nos habituarmos ao recinto onde nos iríamos exibir.

O Festival iniciou-se neste dia e assistimos à sua abertura e à exibição de muitas classes, entre as quais a da Beira.

 

5 de Maio

O dia livre permitiu-nos passear sem preocupações.

Não pensem que cada um de nós conquistou Madrid! Pelo contrário, a cidade é que nos conquistou. Conhecemos a majestosa capital, o seu movimento intenso e quase nos perdemos no interessante convívio que tivemos com algumas madrilenas.

Visitámos o Escurial e o Vale dos Caídos, monumento grandioso erguido em memória de todos quantos caíram na guerra de Espanha.

Foi um bonito passeio.

À noite, o festival continuou, e tivemos sempre ocasião de verificar o alto nível de alguns atletas, todos eles mais velhos, e de todas as nacionalidades.

O Festival reuniu 5.000 atletas de todos os países, sendo os Dinamarqueses os de maior categoria. Eram já adultos e, segundo nos foi dito, todos eles professores.


6 de Maio

Mais um dia em Madrid e véspera da nossa actuação, no festival. O sr. professor Sá Chaves, amigo e compreensivo, permitiu-nos uma saída pela cidade completamente sozinhos, em grupos de sete. Passeámos e fizemos as nossas compras.


7 de Maio

Foi o dia da nossa apresentação, um dia diferente de todos os outros. Estávamos ansiosos e inquietos, mas todos com a vontade de fazer o melhor, sempre «o melhor».

Os nervos apoderam-se de nós; porém, ganhámos uma alma nova, ao actuar.

A exibição, de manhã, deixou-nos satisfeitos e voltámos a sentir-nos com a certeza do dever cumprido.

Às 17 horas era o encerramento do Festival com o desfile de todas as classes participantes.

Foi a apoteose final, grandiosa e cheia de beleza.

No hotel trocámos galhardetes e emblemas com as alemãs, raparigas simpáticas e muito camaradas que deixavam Madrid nessa mesma noite.

A língua germânica não nos amedrontou. Nada sabíamos dizer, mas os nossos conhecimentos de inglês foram bem postos à prova!
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8 de Maio

Nessa manhã partimos também, rumo a Salamanca. Visitámos a cidade, simpática e acolhedora, e deixámo-la logo a seguir ao almoço.

Esperava-nos novamente a fronteira e, já no nosso país, a cidade da Guarda.


9 de Maio

O regresso a Aveiro, logo pela manhã, deu-se por Viseu.

O dia apresentava-se chuvoso e frio, triste como nós próprios: terminava tão belo passeio!

Foi um belo contacto este que tivemos com outro país e outras gentes. Abriu-nos novos horizontes, outros mundos desconhecidos. Foi um belo passeio, urna bela viagem, umas boas férias.

As responsabilidades foram connosco; representámos bem Aveiro e o nosso Liceu.

Não esperávamos tão grande recepção: os nossos familiares, os nossos colegas, alguns dos nossos Professores e o Excelentíssimo Reitor esperavam-nos, satisfeitos pelo nosso regresso.

Os nossos corações eram já pequenos para neles caber tanta alegria.

O trabalho, porém, esperava-nos, pois, durante a nossa ausência as aulas continuaram, novas matérias foram expostas e, por isso, tivemos que acelerar os nossos estudos, com algum sacrifício.

Mas valeu a pena.

Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena, como dizia o grande poeta Fernando Pessoa.

O nome de Aveiro estendeu-se além fronteiras.

Carlos Manuel Santos Borges
Henrique Manuel Vaz Duarte

 

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11-06-2013