2 de Maio
Poucos minutos faltavam para a partida tão desejada.
Os colegas e os familiares rodeavam o grande veículo e, às
15 horas, a camioneta partiu. A viagem decorreu maravilhosa, durante
a qual fizemos os nosso projectos.
Por fim, avistámos a Guarda, e aí jantámos e pernoitámos na casa de
Santa Zita.
3 de Maio
Acordámos de madrugada. O frio era intenso. Depois do
pequeno-almoço partimos para a fronteira e daí para Salamanca.
Estávamos em Espanha, no país de Miguel Cervantes.
Fizemos uma paragem para o almoço e partimos logo a
seguir, sem visitar a cidade, porque havia a grande preocupação de
atingir Madrid, a grande capital do país irmão, à hora estabelecida.
Hospedados no «Hostal Meson Auto», na praça de Legerzpi, logo
travámos os primeiros conhecimentos com a delegação alemã,
instalada no mesmo hotel.
4 de Maio
Começaram os treinos, para nos habituarmos ao recinto
onde nos iríamos exibir.
O Festival iniciou-se neste dia e assistimos à sua abertura
e à exibição de muitas classes, entre as quais a da Beira.
5 de Maio
O dia livre permitiu-nos passear sem preocupações.
Não pensem que cada um de nós conquistou Madrid! Pelo
contrário, a cidade é que nos conquistou. Conhecemos a majestosa
capital, o seu movimento intenso e quase nos perdemos no
interessante convívio que tivemos com algumas madrilenas.
Visitámos o Escurial e o Vale dos Caídos, monumento grandioso
erguido em memória de todos quantos caíram na guerra de
Espanha.
Foi um bonito passeio.
À noite, o festival continuou, e tivemos sempre ocasião de
verificar o alto nível de alguns atletas, todos eles mais velhos, e
de todas as nacionalidades.
O Festival reuniu 5.000 atletas de todos os países, sendo os
Dinamarqueses os de maior categoria. Eram já adultos e, segundo nos
foi dito, todos eles professores.
6 de Maio
Mais um dia em Madrid e véspera da nossa actuação, no festival. O sr.
professor Sá Chaves, amigo e compreensivo, permitiu-nos uma saída
pela cidade completamente sozinhos, em grupos de sete. Passeámos e
fizemos as nossas compras.
7 de Maio
Foi o dia da nossa apresentação, um dia diferente de todos os
outros. Estávamos ansiosos e inquietos, mas todos com a vontade de
fazer o melhor, sempre «o melhor».
Os nervos apoderam-se de nós; porém, ganhámos uma
alma nova, ao actuar.
A exibição, de manhã, deixou-nos satisfeitos e voltámos a
sentir-nos com a certeza do dever cumprido.
Às 17 horas era o encerramento do Festival com o desfile
de todas as classes participantes.
Foi a apoteose final, grandiosa e cheia de beleza.
No hotel trocámos galhardetes e emblemas com as alemãs,
raparigas simpáticas e muito camaradas que deixavam Madrid
nessa mesma noite.
A língua germânica não nos amedrontou. Nada sabíamos
dizer, mas os nossos conhecimentos de inglês foram bem postos à
prova!
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8 /
8 de Maio
Nessa manhã partimos também, rumo a Salamanca.
Visitámos a cidade, simpática e acolhedora, e deixámo-la logo a seguir
ao almoço.
Esperava-nos novamente a fronteira e, já no nosso país, a
cidade da Guarda.
9 de Maio
O regresso a Aveiro, logo pela manhã, deu-se por Viseu.
O dia apresentava-se chuvoso e frio, triste como nós
próprios: terminava tão belo passeio!
Foi um belo contacto este que tivemos com outro país e
outras gentes. Abriu-nos novos horizontes, outros mundos desconhecidos. Foi um belo passeio, urna bela viagem, umas boas férias.
As responsabilidades foram connosco; representámos bem
Aveiro e o nosso Liceu.
Não esperávamos tão grande recepção: os nossos familiares,
os nossos colegas, alguns dos nossos Professores e o Excelentíssimo Reitor esperavam-nos, satisfeitos pelo nosso regresso.
Os nossos corações eram já pequenos para neles caber
tanta alegria.
O trabalho, porém, esperava-nos, pois, durante a nossa
ausência as aulas continuaram, novas matérias foram expostas e,
por isso, tivemos que acelerar os nossos estudos, com algum sacrifício.
Mas valeu a pena.
Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena, como
dizia o grande poeta Fernando Pessoa.
O nome de Aveiro estendeu-se além fronteiras.
Carlos Manuel Santos
Borges
Henrique Manuel Vaz Duarte |