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farol n.º 20 - mil novecentos e sessenta e cinco ♦ sessenta e seis, pág. 27.

Curiosidades

A CANETA

R. B.

Na certeza de que conseguirá oferecer aos leitores uns momentos de recreio ao mesmo tempo instrutivo, este pequeno apontamento de curiosidades refere-se àquele pequeno objecto que, acompanhante diário de todos nós, como é, merece da nossa parte um pouco de apreço, pois com ele escrevemos e assinamos: a caneta.

Nasceu nos princípios do século XIX, em 1803, e a sua invenção deve-se a um espanhol de nome Francisco de Paula Marti. Escritor sem projecção, deixou-nos alguns dramas de certo interesse, mas que não conseguiram evitar as teias de aranha do esquecimento. Igualmente nos deixou algumas gravuras, insuficientes, porém, para sabermos do seu génio, se é que chegou a possuí-lo.

Não chegaria isto para o fazer conhecido; o que faria o seu nome recordado por todos nós e conhecido do mundo de então foi, sem dúvida, a taquigrafia, de que foi o introdutor na Península Ibérica e, depois, o seu invento.

Marti tinha por funções registar as palavras proferidas em discursos ou conferências por qualquer orador; nestas condições, tinha interesse em tornar a escrita tão rápida e cómoda quanto fosse possível. Este seu interesse era satisfeito pela taquigrafia, essa maneira abreviada de escrever usando sinais, tão em voga nos tempos actuais, pelo que logo passou a servir-se deste modo de escrita. Outros lhe seguiram o exemplo e, em breve, a taquigrafia era usada em toda a Península. Por outro lado, havia vantagem em eliminar o inconveniente que as penas de ave tinham de obrigar a molhá-la no tinteiro com a frequência atentatória do fluir das ideias. Imaginou, então, uma pena com um depósito interior, a fim de dispensar a presença do tinteiro. E nasceu a primeira caneta estilográfica: um tubo de metal tinha numa extremidade uma tampa roscada e na outra, mais estreita, um aparo simples, à semelhança da ponta duma pena que podia estar protegida, quando a caneta não estivesse em uso, por um casquilho de uns três centímetros, que se enroscava no tubo. Este tubo podia conter tinta suficiente para quatro horas consecutivas de escrita, o que representava um atributo vantajoso da caneta. Ao mesmo tempo, dada a sua forma, facilmente / 28 / se transportava no bolso, para usar em qualquer local. Finalmente, o aparo escrevia fino e legivelmente, além de que não se gastava, por ser de metal.

Era incómoda, diremos nós; mas, se soubermos compreender o progresso que ela representava, louvaremos Marti por nos ter dado a caneta.

Indubitavelmente, o invento podia trazer avantajados lucros ao seu autor, mas ele era modesto e isento de ambições, pelo que não procurou enriquecer, explorando o interesse alheio. Antes, pelo contrário, ele ensinava a construir essa maravilhosa pena. Explicava a sua atitude, afirmando: «... Como nada deve omitir-se sobre quanto possa contribuir para ganhar tempo, pareceu-me conveniente dar uma ideia da espécie de pena que pode ser usada para maior comodidade dos que aprendem: as melhores são as de ouro e platina, porque a tinta não as corrói; mas, na falta destas, as de prata, latão e aço.

A nova pena só viria a ser explorada industrialmente volvidos mais de trinta anos, mais exactamente em 1835, pelo inglês Parker que, cônscio dos lucros que daí lhe adviriam, começou a sua produção em série, efectuando, simultaneamente, diversas modificações, tendentes a torná-la mais prática, mais leve, mais eficiente.

A expansão foi rápida, fazendo a fortuna de Parker, que, inteligentemente, soube aproveitar-se da ingenuidade do espanhol: foi, sucessivamente intensificando a fabricação do artigo, abrindo novas instalações fabris, melhorando as já existentes.

Presentemente há numerosas fábricas do género produzindo inúmeros tipos de canetas, mas todas, mais ou menos, à semelhança daquela que Marti construiu, inaugurando um reinado triunfal, que nem o assédio da caneta esferográfica conseguiu ainda derrubar, não obstante a comodidade do botão, a duração da carga, a possibilidade de recarga.

Conquanto estivesse ao alcance de qualquer, foi Francisco de Paula Marti que nos trouxe a taquigrafia e nos legou a caneta. Graças a ele, a escrita é, hoje, incomparavelmente mais fácil e rápida. Em qualquer lugar podemos escrever – na cama. em viagem, no campo –, mas poucos sabem a quem se deve essa comodidade, que já é possível desde há 163 anos...

 

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08-06-2018