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farol n.º 18 - mil novecentos e sessenta e cinco ♦ sessenta e seis, pág. 14.

INTERVALO POÉTICO

 


ÁFRICA

Nos meus olhos de exilado tenho o meu
País longínquo, pais de palmeiras, luar, amor...
Vejo os coqueiros baloiçarem-se flexíveis à
Brisa suave do entardecer, enquanto
Um negro, longe, toca tambor, olhando
O Sol que nasce...
– M'bombo Lambô, M'bombo Lambô...
Nos meus olhos de exilado tenho o meu
País longínquo, país de palmeiras, luar, amor...
Mulatas! Mulatas de olhos brilhantes,
Onde ides ?
Meninos negros, que brincais sozinhos,
Quem são vossos pais?
Nos meus olhos de exilado tenho o meu
País longínquo, país de palmeiras, luar, amor...
A noite transparente de luar é escura de sorrisos de
Feiticeiros e é escura de gritos na Selva,
E é escura de tantans constantes e melancólicos;
São noites transparentes de luar e poesia...
E uma negra vestida de branco está
Tangendo o violão, cantando para a lua:
– «M'zulli foi no maximbombo, foi...
E M'zulli não voltou, não voltou...»
E no escuro da noite, numa palhota de colmo e lata,
Outra negra soluça baixinho, porque
Perto de si está o seu filho que nasceu
Morto...
Lá fora, a Lua baila com as estrelas.

                                                          CARLOS VIEIRA CAPELA
 

 

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08-06-2018