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farol n.º 17 - mil novecentos e sessenta e quatro ♦ sessenta e cinco, págs. 3 e 4.

 
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também é Portugal

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NOTA DA REDACÇÃO – Damos agora por terminada a série de artigos escritos por alunos do nosso Liceu que, nas férias grandes, se deslocaram a algumas das nossas Provínc8ias Ultramarinas.

Quisemos, assim, juntamente com a secção «O Liceu Nacional de Aveiro e o Ultramar», contribuir com uma modesta quota parte para um melhor conhecimento do Ultramar e uma maior aproximação com todos os portugueses que lá labutam e defendem a Terra sagrada desta Pátria una, indivisível, multi-racial, «pelo mundo em pedaços repartida.

Esperamos alguma coisa ter conseguido e isso será paga suficiente para o esforço dispendido.

 

 

 

Por terras do Equador

No Golfo da Guiné, no recôncavo a que os cosmógrafos portugueses chamavam Baía das Mafras, ergue-se a Ilha do Príncipe que faz parte de um alinhamento de ilhas: S. Tomé, Fernando Pó e Ano Bom. Todo este arquipélago, descoberto em 1470 e 1471, pertenceu a Portugal até 1788, ano em que as ilhas de Fernando Pó e Ano Bom foram cedidas à Espanha.

Situada a norte de S. Tomé, a ilha do Príncipe tem uma área aproximada de 84 Kms2: cerca de 18 Kms de comprimento entre o Porto do Golfinho, ao norte, e a Ponta do Pico Negro, ao sul, e de 14 Kms de largura entre a Ponta Garça, a leste, e Pico Padrim, a oeste.

Em 1960 a sua população era de 4.605 habitantes, número que possivelmente hoje terá diminuído dado que a entrada de trabalhadores vindos de outras regiões de África Portuguesa tem decrescido nos últimos anos.

Tal como S. Tomé, o Príncipe é uma ilha vulcânica formada de rochas em que predominam as traquites, os basaltos, as tinguíates e os fonólitos – mas de / 4 / actividade vulcânica completamente extinta – e coberta por uma vegetação luxuriante e densa.

Montanhosa e acidentada, caprichosamente enriçada de picos, a ilha do Príncipe tem a sua maior altitude – 984 metros – no Pico do Príncipe, a SO: quase no centro da ilha ergue-se o Pico do Papagaio, de 680 metros.

Da parte central, montanhosa e arborizada, despenham-se na planície ribeiras numerosas, que na época das chuvas correm com grande caudal, alagando as várzeas que as orlam. Com uma costa muito mais recortada do que a ilha de S. Tomé, repleta de pequenas baías, enseadas e admiráveis praias tropicais, a Ilha do Príncipe é um tufo de vegetação com vários tons de verde que se ergue majestoso e, ao mesmo tempo, idílico na imensidão azul do Atlântico.

Primitivamente chamada de Ilha de S. Antão, o seu nome actual advém do facto de, desde longa data, ter sido reservado para o filho mais velho do rei o imposto sobre o açúcar que na ilha se produzia.

As características da Ilha, as suas altitudes, as ravinas, sulcos e quebradas de várias ordens por ela disseminadas, os recortes caprichosos que a cingem dão à ilha um clima de desiguais e benignas características equatoriais. Tais montanhas estranhas, bizarras e fantásticas – como se fossem montes dos Alpes Suíços cobertos de uma flora equatorial – ,se bem que de modesta altitude e embora muito acidentados, constituem quebra-ventos e determinam climas desiguais entre o Norte e o Sul. Não admira, pois, que, numa tal ilha de tão reduzida extensão, por vezes chova torrencialmente num dado local e a meia dúzia de quilómetros desse mesmo local o céu se abra em deslumbrante azul e o Sol brilhe intensamente.

A situação privilegiada da ilha, primeiro na rota da Índia e, mais tarde, entreposto entre a costa ocidental da África e a América do Sul, facilitou contactos de raças, de culturas de produtos. Foi, na realidade, desde o final do século XV, uma das grandes encruzilhadas do Mar – Oceano onde se encontravam homens, negros e brancos, de diferentes proveniências, e se misturam plantas do Mediterrâneo, de África, da Ásia quente e chuvosa e da América do Sul. Foi a ilha campo de ensaio de culturas, no sentido mais amplo que a esta palavra se pode atribuir. Além de portugueses da metrópole, que traziam consigo as formas de um estilo de vida desenvolvido no mundo mediterrâneo e sob a influência da tonalidade oceânica, também madeirenses, com a sua experiência do fabrico de açúcar e de ocupação de terras virgens, e estrangeiros, como genoveses e franceses, técnicos também do açúcar ou mercadores. Ali arribam ainda, embora com contados frustes, os holandeses no decorrer do século XVII. Da costa africana elementos negros introduzidos como escravos, e que, dada a enorme latitude que o resgate teve para as populações de S. Tomé, constituíam os mais variados tipos raciais: Sudaneses e Guineenses, Bantos ou Sul-Africanos mais tarde. Todos eles trouxeram contribuição fragmentária, dado até a forma compulsiva como foram para as ilhas, mas de qualquer forma de considerar. Por si próprios constituem uma das mais significativas dádivas culturais.

Todos estes factos fizeram com que as ilhas de S. Tomé e do Príncipe se tornassem um tipo característico de miscigenação de culturas. Os processos e métodos agrícolas, as espécies cultivadas, o linguajar próprio das gentes das ilhas, os seus usos e costumes, as crenças e práticas, as suas alfaias agrícolas e a sua culinária, a sua indumentária e os seus adágios, as suas danças e a sua música, tudo é uma prova cabal de que S. Tomé e Príncipe apresentam um dos mais complexos processos de aculturação e um dos mais eloquentes testemunhos da colonização portuguesa.

António Alberto Cabeço Silva
(7.º ano – Ciências)

 

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08-06-2018