No Golfo da Guiné, no recôncavo a que os
cosmógrafos portugueses chamavam Baía das Mafras, ergue-se a Ilha do Príncipe que faz
parte de um alinhamento de ilhas: S. Tomé, Fernando Pó e Ano Bom. Todo este arquipélago, descoberto em 1470 e 1471, pertenceu a Portugal até 1788, ano em que as ilhas de Fernando Pó e Ano
Bom foram cedidas à Espanha.
Situada a norte de S. Tomé, a ilha do Príncipe tem uma área
aproximada de 84 Kms2: cerca de 18 Kms de comprimento entre o Porto do
Golfinho, ao norte, e a Ponta do Pico Negro, ao sul, e de 14 Kms de largura
entre a Ponta Garça, a leste, e Pico Padrim, a oeste.
Em 1960 a sua população era de 4.605 habitantes, número que
possivelmente hoje terá diminuído dado que a entrada de trabalhadores vindos
de outras regiões de África Portuguesa tem decrescido nos últimos
anos.
Tal como S. Tomé, o Príncipe é uma ilha vulcânica formada de rochas
em
que predominam as traquites, os basaltos, as tinguíates e os
fonólitos – mas de
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actividade vulcânica completamente extinta – e coberta por uma
vegetação luxuriante e densa.
Montanhosa e acidentada, caprichosamente enriçada de picos, a ilha
do Príncipe tem a sua maior altitude – 984 metros – no Pico do
Príncipe, a SO: quase no centro da ilha ergue-se o Pico do Papagaio,
de 680 metros.
Da parte central, montanhosa e arborizada, despenham-se na planície
ribeiras numerosas, que na época das chuvas correm com grande
caudal, alagando as várzeas que as orlam. Com uma costa muito mais
recortada do que a ilha de S. Tomé, repleta de pequenas baías,
enseadas e admiráveis praias tropicais, a Ilha do Príncipe é um tufo
de vegetação com vários tons de verde que se ergue majestoso e, ao
mesmo tempo, idílico na imensidão azul do Atlântico.
Primitivamente chamada de Ilha de S. Antão, o seu nome actual advém
do facto de, desde longa data, ter sido reservado para o filho mais
velho do rei o imposto sobre o açúcar que na ilha se produzia.
As características da Ilha, as suas altitudes, as ravinas, sulcos e
quebradas
de várias ordens por ela disseminadas, os recortes caprichosos que a
cingem dão à ilha um clima de desiguais e benignas características
equatoriais. Tais montanhas estranhas, bizarras e fantásticas –
como se fossem montes dos Alpes Suíços cobertos de uma flora
equatorial – ,se bem que de modesta altitude e embora muito
acidentados, constituem quebra-ventos e determinam climas desiguais entre o Norte e o Sul. Não admira, pois, que, numa tal ilha de
tão reduzida extensão, por vezes chova torrencialmente num dado
local e a meia dúzia de quilómetros desse mesmo local o céu se abra
em deslumbrante azul e o Sol brilhe intensamente.
A situação privilegiada da ilha,
primeiro na rota da Índia e, mais
tarde, entreposto entre a costa ocidental da África e a América do
Sul, facilitou contactos de raças, de culturas de produtos. Foi, na
realidade, desde o final do século XV, uma das grandes
encruzilhadas do Mar – Oceano onde se encontravam homens, negros e brancos, de diferentes proveniências, e se
misturam
plantas do Mediterrâneo, de África, da Ásia quente e chuvosa e da
América do Sul. Foi a ilha campo de ensaio de culturas, no sentido
mais amplo que a esta palavra se pode atribuir. Além de portugueses
da metrópole, que traziam consigo as formas de um estilo de vida
desenvolvido no mundo mediterrâneo e sob a influência da tonalidade
oceânica, também madeirenses, com a sua experiência do fabrico de
açúcar e de ocupação de terras virgens, e estrangeiros, como
genoveses e franceses, técnicos também do açúcar ou mercadores. Ali
arribam ainda, embora com contados frustes, os holandeses no
decorrer do século XVII. Da costa africana elementos negros
introduzidos como escravos, e que, dada a enorme latitude que o
resgate teve para as populações de S. Tomé, constituíam os mais
variados tipos raciais: Sudaneses e Guineenses, Bantos ou
Sul-Africanos mais tarde. Todos eles trouxeram contribuição
fragmentária, dado até a forma compulsiva como foram para as ilhas,
mas de qualquer forma de
considerar. Por si próprios constituem uma das mais significativas
dádivas
culturais.
Todos estes factos fizeram com que as ilhas de S. Tomé e do Príncipe
se tornassem um tipo característico de miscigenação de culturas. Os
processos e métodos agrícolas, as espécies cultivadas, o linguajar
próprio das gentes das ilhas, os seus usos e costumes, as crenças
e práticas, as suas alfaias agrícolas e a sua culinária, a sua
indumentária e os seus adágios, as suas danças e a sua música, tudo
é uma prova cabal de que S. Tomé e Príncipe apresentam um dos mais
complexos processos de aculturação e um dos mais eloquentes testemunhos da colonização portuguesa.
António Alberto Cabeço Silva
(7.º ano – Ciências) |