João Carlos Pinheiro
(6.º ano)
ANDAVA um
pobre pastor, chamado José Francisco, apascentando o seu rebanho, quando um grito aflito se fez ouvir do lado de uns rochedos.
José Francisco não esperou mais tempo; desatou a correr em direcção
de onde lhe parecia ter vindo o grito. Quando lá chegou, viu um
soldado caído numa saliência rochosa e. como estava habituado a
andar
por ali, não lhe foi difícil chegar ao pé do soldado que, ao cair,
tinha fracturado uma perna; ajudou-o a subir até à sua humilde
choupana. Aí, o militar contou ao pastor que ia em
serviço de urgência ao forte mais próximo, pedir reforços militares
para um reduto, onde estava a cumprir a vida militar. que estava
cercado pelas tropas inimigas havia semanas; mas, para chegar ao forte mais próximo tinha que se atravessar a
retaguarda inimiga, o que era considerado como quase impossível,
visto a vigilância efectuada pelas referidas tropas.
O pequeno pastor, depois de ouvir as declarações do
militar, ofereceu-se para acabar
a tão arriscada e preciosa empresa já começada, o que foi aceite pelo outro, com grande alegria e
comoção, por ver naquele rapaz de quinze anos tanta coragem e
patriotismo.
Depois de ter deixado comida ao soldado e ao seu
rebanho, José
Francisco pôs-se a caminho, levando consigo comida e o pedido de
socorro.
A retaguarda inimiga já se avistava e
a partir de agora ele passou a
andar com mais
prudência, porque sabia que o menor erro lhe custava a vida
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e a dos soldados cercados. Tinha já atravessado a zona perigosa,
quando foi descoberto; então, ele pôs-se a correr aos ziguezagues
sem se importar das balas que lhe assobiavam aos ouvidos, até que
caiu atingido por um projéctil traiçoeiro;
nem isto o deteve; levantando-se aqui, caindo acolá para se
tornar a levantar mais além,
ele conseguiu chegar ao forte, entregar o pedido de reforços,
dizer o que tinha acontecido ao soldado e caiu inanimado pelo
esforço dispendido.
No forte cercado, já tinham perdido as esperanças de
verem chegar
os reforços, quando
muito ao longe se ouviu um toque de clarim trazido pelo vento. Os
soldados sitiados com os olhos cheios de lágrimas e com as forças
recuperadas pelo toque do clarim, conseguiram repelir ainda o
inimigo que mais tarde veio a ser
desbaratado pela coluna de reforços.
Havia passado um mês de
pois daquele célebre dia. Na
parada do forte procedia-se às condecorações dos que mais se
distinguiram na defesa do forte. Dos nomes dos heróis, lidos em voz
alta pelo comandante do forte, dois não tiveram resposta; esses
nomes eram: o de
José Francisco e o do soldado, que não puderam, porque ambos se encontravam na enfermaria; o primeiro com uma perna
amputada, pelo esforço exigido à perna ferida e o segundo com a
perna fracturada pela queda que o impossibilitou de acabar a empresa.
Ao depositar a condecoração no peito de José Francisco, o
comandante deixou cair duas
lágrimas de comoção por ver coragem, patriotismo e abnegação
naquele rapaz de quinze anos. |