TINHA chegado
a Luanda, a terras de Angola... mais
parecia um sonho, uma alucinação. Mas, pelo contrário,
o sonho tornava-se realidade. O desejo de ver teras
tão longínquas e tão portuguesas, com clima, vegetação,
maneira de ser tão diferentes. havia-se concretizado.
Uma viagem destas, naturalmente, traz consigo muitas
recordações. Será difícil. será mesmo impossível destrinçar todas estas imagens que trago da província de Angola.
Pude ver o progresso que ali se nota a cada dia, com a
construção de estradas, de grandes edifícios, de fábricas, de barragens.
de escolas, de tudo que possa tornar Portugal um país cada vez mais
seguro da grande realidade que é o Ultramar.
Desde a linda e airosa Luanda até às mais humildes sanzalas dos nativos. eu poderia descrever uma longa série de
factos
a que pude assistir.
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Impressionou-me sobremaneira a capital. Verdadeiramente não contava
com aquela grandiosidade numa terra em que as dificuldades são
muitas. A cidade cativa pelo seu encanto natural.
Alcandorada pelos morros agrestes e vermelhos, anichada na
concha da Baía, Luanda reflecte bem o que tem sido o esforço dos
portugueses para a tornar nesta tão moderna e bela cidade. Bairros
modernos, residências de luxo, bairros económicos, bairros populares, grandes prédios de apartamento vão cobrindo os baldios.
Enfim, Luanda é essencialmente uma obra humana, uma vitória do
homem sobre o solo escarpado e agreste.
Vi outras cidades além da capital, mas talvez nenhuma me admirasse
tanto como Sá da Bandeira. Ali parece respirar-se um ar
mais europeu, mais metropolitano; quase nos abstraímos que estamos em África. Desde as casas ao clima, à vegetação e aos
próprios costumes dos estudantes, tudo faz lembrar o Continente. É a «Coimbra» de Angola...
Outros dois factos, talvez pela sua grande novidade,
continuam bem presentes no meu espírito. Um reflecte a escassez de
água, de vegetação, de vida: o deserto de Moçâmedes, em que a
nossa vista se perde neste «mar de areia» e o Sol produz as suas
surpreendentes miragens.
O outro, pelo contrário, recorda a água, o movimento, a cor:
as quedas do Duque de Bragança. Por mais que pudesse imaginar,
nunca pensei deparar com um espectáculo de tal grandeza, onde as
águas correm umas sobre as outras, numa cadência melodiosa
e encantadora.
Despertou-me, também, grande curiosidade a vida nas
sociedades tradicionais angolanas. Podendo algumas vezes contactar com
estas, fiquei bastante impressionado com a extrema comunicabilidade e a alegria constante do nativo angolano. Sempre pronto
a ser-nos útil, a mostrar-nos a sua humilde habitação, a
explicar-nos aquilo que perguntamos: é assim o preto.
Teria muito que contar, mas considerando as minhas parcas possibilidades literárias e o próprio limite a que está
condicionado
o trabalho, não me permitem que exponha tudo o que lá vi.
António José de Castro Félix
(7.º ano – Económicas)
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