Acesso à hierarquia superior.

farol n.º 16 - mil novecentos e sessenta e quatro ♦ sessenta e cinco, págs. 8 e 9.

 
Aqui

também é Portugal

2

 

 

 

 

 

Por terras de Angola

TINHA chegado a Luanda, a terras de Angola... mais parecia um sonho, uma alucinação. Mas, pelo contrário, o sonho tornava-se realidade. O desejo de ver teras tão longínquas e tão portuguesas, com clima, vegetação, maneira de ser tão diferentes. havia-se concretizado.

Uma viagem destas, naturalmente, traz consigo muitas recordações. Será difícil. será mesmo impossível destrinçar todas estas imagens que trago da província de Angola.

Pude ver o progresso que ali se nota a cada dia, com a construção de estradas, de grandes edifícios, de fábricas, de barragens. de escolas, de tudo que possa tornar Portugal um país cada vez mais seguro da grande realidade que é o Ultramar. Desde a linda e airosa Luanda até às mais humildes sanzalas dos nativos. eu poderia descrever uma longa série de factos a que pude assistir.
/ 9 /
Impressionou-me sobremaneira a capital. Verdadeiramente não contava com aquela grandiosidade numa terra em que as dificuldades são muitas. A cidade cativa pelo seu encanto natural.

Alcandorada pelos morros agrestes e vermelhos, anichada na concha da Baía, Luanda reflecte bem o que tem sido o esforço dos portugueses para a tornar nesta tão moderna e bela cidade. Bairros modernos, residências de luxo, bairros económicos, bairros populares, grandes prédios de apartamento vão cobrindo os baldios.

Enfim, Luanda é essencialmente uma obra humana, uma vitória do homem sobre o solo escarpado e agreste.

Vi outras cidades além da capital, mas talvez nenhuma me admirasse tanto como Sá da Bandeira. Ali parece respirar-se um ar mais europeu, mais metropolitano; quase nos abstraímos que estamos em África. Desde as casas ao clima, à vegetação e aos próprios costumes dos estudantes, tudo faz lembrar o Continente. É a «Coimbra» de Angola...

Outros dois factos, talvez pela sua grande novidade, continuam bem presentes no meu espírito. Um reflecte a escassez de água, de vegetação, de vida: o deserto de Moçâmedes, em que a nossa vista se perde neste «mar de areia» e o Sol produz as suas surpreendentes miragens.

O outro, pelo contrário, recorda a água, o movimento, a cor: as quedas do Duque de Bragança. Por mais que pudesse imaginar, nunca pensei deparar com um espectáculo de tal grandeza, onde as águas correm umas sobre as outras, numa cadência melodiosa e encantadora.

Despertou-me, também, grande curiosidade a vida nas sociedades tradicionais angolanas. Podendo algumas vezes contactar com estas, fiquei bastante impressionado com a extrema comunicabilidade e a alegria constante do nativo angolano. Sempre pronto a ser-nos útil, a mostrar-nos a sua humilde habitação, a explicar-nos aquilo que perguntamos: é assim o preto.

Teria muito que contar, mas considerando as minhas parcas possibilidades literárias e o próprio limite a que está condicionado o trabalho, não me permitem que exponha tudo o que lá vi.

António José de Castro Félix
(7.º ano – Económicas)
 

 

página anterior início página seguinte

08-06-2018