Maria José Soares
(5.º ano)
CAÍA
uma chuva miudinha naquela tarde de Inverno sombrio. Na rua deserta, as árvores descamadas, braços
erguidos a Deus em muda prece, olhavam as casas cinzentas, mais cinzentas ainda pelo chumbo do Céu. As poças de
água da calçada reflectiam imagens fantásticas, dum mundo longínquo, dum mundo irreal!...
E foi então que ele passou,
metido no sobretudo escuro, mãos nos bolsos, olhar vazio, ele passou...
E as pedras que gemeram sob o seu andar, e as árvores que
o olharam nada sentiram... Um olhar vazio, sombrio, um sorriso
irónico que se desfez numa dor de alma... E uma lágrima rebelde, estúpida, caiu e misturou-se com a chuva miudinha que caía naquela
tarde de Inverno sombrio...
Tinha passado a Solidão, estranha Solidão na verdade, na
figura dum jovem de olhar distante... Foi num minuto mas foi um
século... e as árvores continuaram mudas, de braços erguidos a
Deus... |