Maria João Montenegro
(4.º ano)
DESPERTA O dia a sorrir! Quem lhe deu tanta beleza? Canta o doce
ribeirinho, as flores, os passarinhos...
a Primavera chegara. Margarida abre os olhos e, encantada, olha para
a janela. Como ela gostaria de
correr pelos campos! Mas tal não pode ser. Margarida é paralítica de uma perna e há dois anos padece desse mal. Para
todos a vida tem um sentido, mas tal não acontece com ela.
Ao acordar, sentiu dentro si, qualquer coisa de
inexplicável. Como todos os dias, a primeira coisa que fez ao acordar, foi experimentar andar. Coisa estranha! Ao pôr-se de
pé, Margarida não sentiu vergar-se a perna, como habitualmente acontecia. A medo, deu um passo, e conseguiu: deu outro... mais
outro e ainda outro e quase sem poder acreditar em tanta felicidade, gritou pela mãe. Vieram os pais e os
irmãos, todos a correr, se precipitaram pelo quarto da enferma.
Quantas lágrimas, quantos risos de alegria e beijos A sua
querida filha estava curada. Bendito milagre! Margarida
agarrada à parede, começou a percorrer o corredor que há
tantos anos o não via. Mas... sentiu-se mal, uma grande dor
de cabeça parecia rebentar-lhe. As pernas que a enferma há
pouco havia bendito, vergaram-se e acabou por cair no chão
com grande estrondo. Margarida dá um pulo da cama. A
cara está a escorrer de suor e com grande tristeza recorda o
sonho que acaba de ter. Ó que amarga desilusão! Tudo não
passara de um sonho, um sonho maravilhoso demais para
ser realidade. Ao seu grito acode a mãe. E as duas abraçadas, choram em silêncio:
– Ó vida, que mal te fiz para seres
tão cruel para mim? Porque me deste uma esperança para
em seguida ma tirares? Ó Mamã, que infeliz eu sou!
E os dias continuam, ora lindos, ora tristes, mas para
Margarida eles são sempre iguais, assim como também é a
sua vida. |