Maria João Montenegro de
Lima Lobo
(4.º ano)
OS sinos repicam alegremente, convidando o povo
a vir assistir à missa do galo. A igreja está cheia.
Cada um reza, fazendo um pedido a Deus. Uns
pedem-Lhe que cure alguma pessoa de sua família
que esteja doente; outros pedem que lhes dê mais
sorte nos negócios para o ano que vem, a fim de poderem
satisfazer os desejos de seus filhos; outros, ainda, pedem para que
este dia se repita por muitos anos e haja as mesmas alegrias. Nesta igreja, encontram-se várias crianças.
Umas tristes. Outras alegres. Enquanto as segundas pensam
nos brinquedos que irão receber dentro de momentos, os
bolos, os doces e a grande ceia que irão comer, as primeiras
sonham com as mesmas coisas.
Lá fora, o céu está muito estrelado. Há vento e está
muito frio. Terminou a missa. Todos se dirigiram às suas
casas. Agora a rua está deserta. Mas... eis que lá ao longe
se encontra um vulto. Aproximamo-nos. Oh! Uma criança.
Numa noite tão fria e tão mal agasalhada!...
Vamos perguntar-lhe porque razão não está em casa.
Não, é melhor não o fazer, pois podíamos assustá-la. Dá a
impressão de ser órfã, não acham? Olhem ela agora pôs-se
de pé e começou a andar por este passeio De vez em
quando, pára e olha maravilhada para as vitrinas que se encontram
recheadas de toda a espécie de doces, rebuçados, brinquedos, tudo
aquilo de que uma criança gosta. Dos seus
olhos deslizam duas lágrimas teimosas. Pobrezinha chora
de fome!
Tem graça, não ouvem mais alguém a chorar? E que
coincidência, também é um choro de criança! Vamos ver
quem chora. É nesta casa. Espreitemos pela janela.
O compartimento está todo iluminado.
À volta da
mesa, a família ri, canta, toca... De repente, abre-se a porta
e aparece um homem vestido de Pai Natal com um grande
saco às costas. Todos se levantam e batem as palmas. O Pai
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Natal ceia com eles e, no fim, começa a fazer a distribuição
dos presentes. Todos o olham com ansiedade. O primeiro a
ser presenteado foi o avô e teve um cachimbo lavrado a
ouro. Depois, a avó, com um xaile muito lindo. O pai teve
um fato e a mama. uma carteira e um par de sapatos. O filho do casal teve um carrinho. Ele não ficou contente com o
presente, queria mais coisas e atirou-o ao chão, começando a chorar.
Como filho único, tinha muito mimo e imediatamente o papá e a mama o beijavam e diziam ao seu querido
menino que amanhã iriam comprar-lhe muitos brinquedos.
E para o convencer, disseram-lhe que o Pai Natal teve de ir
a muitas casas antes desta e, por isso, só lhe havia crescido
o carrinho. Mas ele não se conformou com a ideia de ter tido só aquilo e disse:
– Eu não gosto de ficar com os restos. Sou bastante
orgulhoso para consentir isso. E tu, papá, nunca falarei para
ti, se não fores comprar-me brinquedos.
– Mas, meu filho, como queres tu, que eu vá agora lá
para fora com este frio e, além disso, as lojas estão fechadas?!
Como continuasse a chorar, o pai saiu de casa, a fim
de satisfazer o desejo de seu filho.
Afastemo-nos um pouco, pois ele pode ver-nos. A
criança que estava na rua foi ao seu encontro. Pediu-lhe uma esmola e recebeu a seguinte resposta:
– Sai da minha frente,
menino, porque estou com pressa.
Ela ficou desanimada. Ainda não houve uma alma
caridosa que lhe desse qualquer alimento ou agasalho. Todos
a desprezam. Voltou a sentar-se no passeio e começou a rezar. Olhou o céu e viu um ponto luminoso. Não ligou
importância, pois julgou tratar-se da luz de uma estrela. Mas
aquela luz aproximava-se e com uma intensidade mais forte... Cada vez mais... mais... Ela olhava para aquela luz
maravilhosa, que, apesar da claridade ser muito grande, não
feria os olhos. Deixou de sentir fome ou frio. Sem saber como, viu-se vestida com um vestido de estrelas. A criança
continuou sempre a olhar para o céu e, juntando as suas
pequeninas mãos, murmurou:
– Senhor, porque já não tenho frio nem fome? Porque
me encontro vestida com este maravilhoso vestido?
Não obteve resposta. Mas já não era preciso, porque
havia-o compreendido. Dois anjos um de cada lado a levaram ao Céu, onde não teria sofrimentos. Ia, finalmente, ser
feliz.
No dia seguinte, os varredores encontraram um corpo
inerte no bordo do passeio. |