1 – Jogos Olímpicos
Realizou-se há pouco em Roma
a XVII Olimpíada da era moderna.
Agora que estão ainda nos nossos espíritos as extraordinárias
marcas obtidas por atletas dos mais diversos países em todas as
modalidades representadas, voltemos atrás nos séculos e vejamos qual
a origem e o significado profundo dessa manifestação máxima do
desporto mundial.
Sabe-se que entre os Gregos a
Educação Física teve, especialmente até ao séc. V a. C., papel
primordial. Os jovens praticavam ginástica e atletismo em lugares
especialmente destinados a isso, e de tal modo frequentados que são
apontados como pontos de reunião da sociedade grega, tão
importantes como a praça pública (ágora).
Talvez deste relevo dado à Educação Física nascesse a ideia de
incluir nos festivais periódicos em honra dos deuses manifestações
de carácter desportivo, paralelamente a outras, religiosas. Entre
esses festivais destacam-se os Jogos Pan-Helénicos,
que superavam o aspecto normalmente limitado a uma cidade que tinha esses jogos, reunindo todo o
povo grego, e constituindo assim um precioso elemento de união entre
os gregos das diversas cidades.
Entre estes ainda, eram especialmente notáveis os Jogos Olímpicos,
talvez por se realizarem em honra de Zeus, «pai dos deuses e dos
homens».
Os primeiros Jogos Olímpicos realizaram-se no ano de 776 a. C.,
com um programa desportivo bastante reduzido. A partir de então,
passaram a realizar-se de quatro em
quatro anos e o número de modalidades foi aumentando. Os
concorrentes eram da classe mais elevada, e entre os gregos
constituía glória insuperável ser vencedor nos jogos olímpicos,
embora a recompensa material fosse precária.
Com o rodar dos séculos a educação física foi perdendo o seu
acentuado predomínio no programa de estudos dos jovens gregos, e os
concorrentes aos Jogos passaram a ser indivíduos de qualidade social
mais baixa. Gradualmente, o povo desinteressou-se dos Jogos, e
quando, no ano de 393, o Imperador romano Teodósio proibiu a sua
realização, tinham perdido todo o seu significado moral. O
primitivo ideal religioso desaparecera e o profissionalismo, que
ao contrário do que muitos pensam, não é fenómeno recente, invadira
o desporto.
Já no final do século XIX, o barão francês Pierre Coubertin
lançou
numa reunião das Sociedades Francesas de Desportos Atléticos a ideia de restabelecer os Jogos
Olímpicos, dando-lhes carácter mundial. E em 5 de Agosto de 1896,
formado já um Comité Olímpico Internacional, inauguravam-se em
Olímpia, no estádio grego expressamente restaurado, os Jogos
Olímpicos da era moderna.
Depois, mantendo a mesma
periodicidade dos Gregos, apenas interrompida pelas duas Grandes
Guerras Mundiais, têm-se realizado os Jogos em diversos países, à
sombra da bandeira olímpica, cujos anéis entrelaçados, símbolo da
fraternidade
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mundo: azul, amarelo, negro, verde e vermelho.
No dia da inauguração, um atleta
do país organizador pronuncia um
Juramento da autoria do barão Coubertin, que exprime bem a
intenção e o objectivo dos Jogos:
«Nós juramos que nos apresentamos nos Jogos Olímpicos como
competidores leais, respeitadores dos regulamentos que nos regem e
desejosos de neles participar com espírito cavalheiresco, para
honra dos nossos países e glória do desporto».
É, pois, com este espírito, que centenas de atletas de todo o mundo,
– esquecendo divergência de naturalidade, de raça, de religião, e
as divergências que no campo da política internacional ensombram as
relações entre os seus países, – ardorosa e lealmente lutam no
campo
pacífico do desporto.
A chama olímpica a arder e a bandeira tremulando ao vento representam o ideal superior do homem: Paz, Compreensão, Fraternidade
Universal.
*
E agora,
algumas «curiosidades
olímpicas».
Portugal esteve pela 1ª vez representado nos V Jogos, em
Estocolmo (1912).
A 1.ª medalha ganha por Portugal nos Jogos Olímpicos foi de bronze,
em 1924, obtida numa prova de hipismo (obstáculos).
Em 1928 nova medalha de bronze na prova de esgrima (espada), por
equipas.
Em 1932 nova medalha de bronze,
na prova de hipismo (obstáculos).
Em 1948, em Londres, Portugal obteve urna medalha de prata em Vela,
na categoria de andorinhas.
Em 1952, em Helsínquia, nova medalha de bronze em Vela, na classe de
stars.
Em 1956, devido à dificuldade de deslocação a Melbourne, Portugal só
esteve representado em Vela, obtendo um 4.° lugar em stars.
Em 1960, Portugal concorreu nas
seguintes modalidades: atletismo, ciclismo, esgrima, ginástica,
hipismo, luta, pesos e halteres, natação, remo, tiro e vela.
O comportamento dos portugueses merece especial relevo nas
seguintes modalidades:
Vela
– Na classe de stars, os irmãos Quina conquistaram para
Portugal uma medalha de prata. Em dragões, Portugal obteve um
9.° lugar.
Natação
– Embora eliminados nas suas séries, Raul Cerqueira e Vaz
Jorge bateram respectivamente o recorde nacional de 100 m. costas
com 1.6,7 e o recorde nacional e ibérico dos 200 m. mariposa, com
2.28,9.
Atletismo
– Também eliminado, Manuel de Oliveira conseguiu, porém,
bater o recorde nacional dos 5.000 m. com 14.15,6.
Hipismo
– Na prova de obstáculos, o Major Henrique Calado
classificou-se em 10.º lugar.
O Tenente-Coronel Reimão Nogueira classificou-se em 10.º lugar na
prova de ensino e Jorge Matias obteve o 9.° na prova de adestramento.
Vejamos agora o progresso verificado nos tempos de algumas provas
em atletismo e natação, desde os 1.ºs Jogos Olímpicos Modernos em
que foram disputadas estas modalidades até este ano:
Atletismo
– A prova de 100 m planos foi disputada pela 1.ª vez em
1896 (Atenas) com o tempo de 12 s.. Em 1960, o vencedor fez o tempo
de 10,2 s.. No entanto, o recorde mundial é de 10 s.
A prova de 5.000 m realizou-se pela
1.ª vez em 1912 (Estocolmo), com
o tempo de 14.36.6. Em 1960, o vencedor gastou 13.43.2.
Também em 1912, se correu pela 1.ª vez a estafeta de 4x100 m, com
42,4 s.. Em 1960, o tempo gasto pelos vencedores foi de 39,5 s.
Na prova de salto em altura,
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atingiu-se, em 1896, 1,81 m. Em 1960, o vencedor atingiu 2,16.
Note-se, porém, que o recorde mundial está na extraordinária marca de
2,22 m.
O vencedor do salto em comprimento, no ano de 1896, saltou 6,35 m.
Nos Jogos actuais, o vencedor atingiu 8,12 m.
No lançamento do disco obteve-se em Roma a distância de 59,18 m,
contra 29,75 m obtida em 1896.
Na prova de 100 m femininos, disputada pela
1.ª vez em 1928 (Amsterdâo),
foram gastos 12,2 s. Em 1960 a vencedora fez 11 s.
Natação
– Não foram menos sensacionais nesta modalidade os
progressos verificados.
Provas masculinas
100 m livres
1896 (Atenas) ...................... 1.22,2
1960 ...................... 55,2
400 m livres
1904 (S. Luís) ...................... 6.16,2
1960 ...................... 4.18,3
100 m costas
1908 (Londres) ...................... 1.24,6
1960 ...................... 1.01,6
200 m mariposa
1956 (Melbourne) ...................... 2.19,3
1960 ...................... 2.12,8
Provas femininas
100 m livres
1912 (Estocolmo)
...................... 1.22,2
1960 ...................... 1.01,2
200 m bruços
1924 (Paris) ...................... 3.33,2
1960 ...................... 2.49,5
Os progressos que estas notas
põem em destaque são enormes. Na
sua base está o desenvolvimento da Educação Física, sem a qual não é
possível praticar racionalmente o desporto. Felizmente, entre nós já
a sua prática vai entrando no hábito. Pena é que os ginásios se não
multipliquem e estejam ao alcance de toda a gente. É de lamentar também que a maior parte dos desportistas se esqueça de fazer
previamente a sua preparação física, votando-se deste modo a
resultados modestos, ao insucesso mais ou menos próximo, e quantas
vezes à ruína física.
2 – Passagem por Aveiro
dos filiados do Ultramar
Como é do conhecimento do todos,
dada a grandiosidade do acontecimento, o I Acampamento
Internacional Infante D. Henrique reuniu a valiosa presença dos
rapazes do Ultramar, dos Açores e Madeira e ainda de algumas
delegações estrangeiras (do Brasil, Japão, Paquistão, Inglaterra,
França, Alemanha, Estados Unidos e Espanha).
Depois de quinze dias de
camaradagem sã e proveitosa numa «cidade de lona» onde nada faltava,
e onde 1200 rapazes, antes desconhecidos,
se tornaram bons amigos, o Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa ofereceu aos rapazes do
Ultramar e à delegação brasileira uma rápida viagem pelo Norte do
País. Poucas foram as cidades visitadas, mas a Aveiro coube a honra
de receber essa centena e meia de rapazes do Ultramar, que
passaram algumas horas de boa camaradagem. O facto, por invulgar e muito
significativo, devia ter merecido o interesse da população convidada a
associar-se à recepção, e muito especialmente dos alunos do Liceu, que em
número considerável se encontravam em Aveiro, apesar de estarmos em férias. A sua falta foi
imperdoável e eles próprios a lamentariam,
se se detivessem uns minutos a pensar em como seria proveitoso e
agradável um convívio, embora curto, com os rapazes ultramarinos.
Diante das delegações de
todas as nossas províncias, muito mais do que diante de qualquer livro de História, nós sentimos que Continente e Ultramar são um só e orgulhamo-nos na verdade ao ouvir e
ver o orgulho com que cada um dos
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nossos colegas, qualquer que seja a sua província de origem, a sua
cor ou a sua religião, afirmam que são portugueses como os melhores
continentais.
Os rapazes do Ultramar chegaram a Aveiro às
18h.30 m. do dia 30
de Agosto e depois de visitarem o túmulo de Sª Joana, onde
depuseram uma coroa, foram saudados pelo Sr. Delegado Distrital,
que com
outras autoridades, entre as quais o Senhor Reitor, os recebeu;
agradeceu as boas-vindas o Comandante de Falange Zózimo da Silva,
da Índia Portuguesa. E quando à sua voz de: Ultramar!, todos os
rapazes, como
um só, responderam: Presente!, alguma coisa vibrou no ar. Era o
Portugal sonhado pelo Infante que mais uma vez se afirmava, pela voz
dos jovens, forte e indivisível.
À noite, no jardim público,
houve um festival folclórico dedicado aos visitantes, que na
manhã seguinte partiram para o Norte.
Achámos que teria interesse ouvir um representante de cada
província; e, como o tempo era escasso, fizemos a todos as mesmas
perguntas. Desculpe-se a repetição, que tem
pelo menos a vantagem de mostrar como todos sentiram e vibraram do
mesmo modo ante os grandes acontecimentos a que assistiram.
Eis as perguntas:
1 – Estás contente por teres
vindo à Metrópole?
2 – Qual a cerimónia das
Comemorações Henriquinas que mais te impressionou?
3 – Que pensas sobre o Acampamento
Internacional Infante D. Henrique?
Eis as respostas:
Marcelino Cassamá –
Guiné Portuguesa
1 – Gostei imenso. Tive ocasião de ver muitas coisas novas e que
muito me impressionaram, e de avaliar melhor a acção dos nossos
antepassados.
2 – O desfile naval de Sagres, com representações de muitos países
estrangeiros e desfile de todos os filiados das representações
ultramarinas, continentais e insulares pela Avenida da Liberdade.
3 – Muito bom, com esplêndidas
instalações. Tive ocasião de viver
bons momentos em companhia de todos os meus colegas; aliás, senti-me lá como em casa de meus pais.
Miguel Ângelo Maia Barros
– Cabo Verde
1 – Nem se pergunta se gostei. Oportunidades como esta raras vezes aparecem.
2 – Desfile Naval, onde pude ver as nações de todo o mundo a
prestarem homenagem ao Príncipe
de Sagres.
3 – Gostei muito pela possibilidade que tive de estar em contacto
com juventude dos quatro cantos do mundo.
Pedro Amorim – S. Tomé e Príncipe
1 – Estou muito contente por ter podido vir à Metrópole,
conhecendo assim melhor esta parcela do território português.
2 – A inauguração do Monumento dos Descobrimentos.
3 – O Acampamento – a nossa cidade de lona
– foi uma obra grandiosa,
organizado e dirigido
com muito bom senso.
Luís Filipe Colaço - Angola
1 – Contentíssimo com a vinda
à Metrópole, não só por ficar a conhecer novos horizontes, mas também
por poder admirar este cantinho da Europa, que deu novos mundos ao
Mundo.
2 – Desfile naval de Sagres,
pela grandiosidade de que se revestiu.
3 – Bem organizado, mas com
poucas características que geralmente se encontram em acampamentos,
contribuiu muito para aperfeiçoar
/
28 / o intercâmbio dos jovens da Metrópole com os do Ultramar e
com os estrangeíros.
Amílcar Cardoso Salvador
– Moçambique
1 – Realmente estou muito satisfeito e encantado com esta visita.
Há já nove anos que não vinha à Mãe-Pátria.
2 – Desfile naval de Sagres, com a presença de tantas representações estrangeiras.
3 – Muito bem organizado. Nele se patenteou o espírito de
camaradagem entre todas as representações portuguesas e
estrangeiras.
João Baptista Lam - Macau
1 – Gostei muito. Nesta viagem, em que até
agora gostei
especIalmente de Aveiro, encontrei muitas surpresas.
2 – Desfile Naval de Sagres. Sentia-se reviver a glória do Infante.
3 – Agradou-me muito. A
organização perfeita.
A entrevista ao nosso colega de Timor foi feita já «com o pé no
estribo!». Não nos foi possível registar o seu nome; é um timorense
que fala e isso é que importa.
1 – Estou muito contente.
2 – Quase todas me
impressionaram, mas destaco o desfile naval de Sagres.
3 – Bastante completo e fora do vulgar. Óptima camaradagem.
Mas... falta a Índia Portuguesa! Não, a Índia não podia faltar. A delegação da
Índia Portuguesa partiu mais cedo, porque as aulas,
lá, já tinham começado, mas ouvimos o Comandante de Falange Zózimo
da Silva, um grande Chefe dentro da M. P.. O Zózimo é de Goa, mas
está
a frequentar o Instituto Superior de
Estudos Ultramarinos, e vive actualmente em Lisboa. Eis o que nos
disse:
1 – A delegação da Índia, se ainda cá estivesse, teria todo o
prazer em responder às vossas perguntas, mas eu posso dizer-vos
que a
rapaziada partiu encantada com
tudo e... com a delegação de Aveiro ao Acampamento.
2 – As cerimónias que mais me impressionaram foram as
decorridas em frente de Sagres.
3 – Impressões muito boas. Vi o Acampamento como sendo
uma
prova de valorização da M. P., e do que ela pode fazer, se
quisermos.
E, para acabar, algumas palavras dos nossos amigos e irmãos do
Brasil.
Jorge A. Braga – Colégio
D. Pedro
II – R. de Janeiro
1 – Já tinha boa impressão de
Portugal, mas o que vi excedeu tudo.
Aqui, em Portugal, Ultramar, Brasil e Metrópole é um só. Enquanto
assim for, haverá paz e esperança entre os povos. Vim com
coração brasileiro e sangue português. Volto com coração luso-brasileiro e sangue português.
2 – As comemorações foram uma grande
realização portuguesa,
extensiva ao Brasil. Foi o culminar do sonho de Sagres, com
grande espírito de solidariedade entre os
povos de ascendência e sangue português. Maravilhoso, numa
palavra única.
Sobre o Acampamento, disse-nos Sandra Melo Fernandes também do Colégio de D. Pedro
II:
O Acampamento foi em todos os aspectos bom, e com óptima
organização. Nunca o imaginara assim.
Depois disto, nada
acrescentaremos. É para ler e pensar.
Reportagem de . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . .
João M. T. Barreto
António Simões Dias
José E. T. Barreto
João
Afonso Cristo
António A. D. Gonçalves |