João B. Resende
(6° Ano)
E lá estava eu,
via a chuva, via o caminho
e não a via.
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Via a gente, via a terra, e via até
a pedra branca,
e não a via.
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Via tudo enfim, mas não
via nada,
pois não a via.
Pensava? Eu verdadeiramente pensava?
Talvez... lembrava-me das suas mãos quando me acariciavam...
da sua doçura...
lembrava-me das covinhas que fazia nas
bochechas quando se ria, do seu queixo, dos seus cabelos, dos seus
olhos...
pensava até em todas as palavras que começassem por X por ser essa
a primeira letra do seu nome.
– E tanto lembrei, tanto pensei e
tanto não vi
Que vi!.
e vi mesmo meu Deus!
Como ela estava, não fria, um corpo sem vida.
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Mas como a vi pela primeira vez, com o seu vestido
branco...
as suas tranças... e rosada...
e quente...
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No meu espírito ao princípio e depois eu via-a em sonho e quando
estava acordado.
Não dizia outra coisa senão o seu nome.
E se alguém me perturbava,
e eu via alguma coisa que não fosse ela,
oh! que fúria! eu batia, eu
mordia, eu dava cabeçadas e pontapés, quando não podia em mais nada,
mesmo na parede.
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Falava por vezes sozinho...
Sim sozinho, mas só com ela e quando ela por vezes se esvaía, eu
então via a realidade, a sua morte...
Desesperava-me...
. . . . . . Chorava, chorava,
e quando de repente a via outra vez só dizia
ah!
Mas pensava muito.
Pensava... Dizia... Não sei.
Já não sei se pensava, se dizia, se agia...
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Para mim tudo era...
...Nem sei o quê.
Sei que me disseram que
eu dizia coisas sem nexo...
e que ofendiam por vezes...
Ao mesmo tempo que me debatia, berrava e mordia... pensava:
Talvez tenham razão... quem sabe...
... O que eu digo.
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E diziam-me que eu era louco...
Como cada vez mordesse e desse mais pontapés, enfiaram-me à força no
diabo duma coisa em que eu não me podia mexer;
mas esqueceram-se de que eu podia berrar...
e berrei.
Depois, levando-me assim no meio dos berros que eu dava, e da gente
que para mim olhava, meteram-me numa casa, e por fim num pequeno
quarto.
Quatro paredes e um tecto que me abafavam.
As grades não me deixavam ver para fora.
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Mas tanto me fazia. Agora
ninguém me incomodava e via-a
sempre! |