Emília Gomes de Carvalho
NUM
sonho mavioso, de encantar,
Vi eu uma figura rutilante:
Um olhar lindo, azul, muito brilhante.
Leves asas batendo sem parar!
E a figura angélica desceu;
Parou junto de mim, tomou-me a mão,
Levou-a de mansinho ao coração
E o seu olhar tão meigo entristeceu.
Então, senti bater muito
apressado
Aquele coração tão pequenino.
Descerraram-se os lábios do menino,
Num tom de nostalgia repassado:
Era infeliz, vivia em
amargura
No seu palácio de ouro e de cristal;
Descera lá de cima e num mortal
Procurava os encantos da ventura.
Agora, recordando o
sonho lindo,
Embala-me tristeza negra e fria,
Enquanto uma contínua nostalgia
Invade a minha alma e a vai cobrindo...
Um ente do eterno
firmamento,
Onde dizem que há luz e felicidade,
Vive triste, suporta a crueldade
De duro e desolado sofrimento!
E ouso eu então, fruto
da terra,
Tentar a felicidade do infinito,
Lamentar-me, lançar a Deus o grito
Do desejo de paz que o mundo encerra?!
Não desças do teu leito
de alva luz
Criança de olhos lindos, cor do céu.
Que prazer te hei-de dar? Tudo o que é meu
É choro, desespero e amarga cruz!....
LANA |