António Virgílio M.
Silva
2.° Prémio – Poesia – 2.° ciclo
ESPERAVA no casebre pequenino
(Que mais parecia um ninho que uma casa)
O Velho peregrino,
A derradeira hora,
A campa rasa.
Aceitara conforme, o seu destino
Despido de alegrias. – Mas agora,
Que o pretérito voltou
A aquela alma dorida...
O triste Velho, chorou
E irado amaldiçoou
Os dias da sua vida.
– Cem anos!... sem uma hora! –
A Mãe, fora decerto alguma santa
Que Deus cedo levara para Si.
E o triste Velho recorda,
Cheio de mágoas, ali...
Que a sua fome foi tanta
E, nunca um laço de corda
Na garganta,
Pela ideia lhe passou.
Mas agora,
Que o pretérito voltou
A aquela alma dorida...
O triste Velho chorou,
E irado amaldiçoou
Os dias da sua vida.
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– Cem anos!... sem uma hora! –
Tivera pai? Talvez... não o sabia.
Contaram-lhe que sim que tivera
Mas, que um dia,
A crua guerra viera
E enquanto seu pai partia,
Sua mãezinha morrera.
E o triste Velho cismava,
Minado pela mania
De que p'ra nada valera.
Farrapo que não prestava,
Estrume que se esquecera
E não lograra esquecer
Os antros em que jazera.
Recordações funestas;
Que desejais? Que ides fazer?
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Como eu, diferente
julgava
(Alheio a risos e festas)
O mundo que me fugia.
Se recordar é viver,
Boa fortuna seria
Não recordar... e morrer!
Que nostalgia é esta que me invade
Domina e empalidece o pensamento?
Não tenho duma esperança uma saudade
E é cada vez maior o meu tormento.
Quem foi que apresentou aos meus sentidos
Nua a realidade e eu criança?
Quem foi, e para quê? Anos perdidos...
Sem fé, sem ilusões, sem esperança.
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E na verdade o triste que podia
De belo recordar?
Nunca sentira a graça que extasia
De um feiticeiro olhar...
Só conhecera a dor, a dura fome.
(E a horas mortas)
Depois de em vão bater a tantas portas
O frio que consome.
Todavia,
Sempre aos lábios do triste afluía
Uma sentida prece, onde existia
Amor.
Perdão a Deus implorando,
Do mal que recebia
E não fazia.
Mas agora, recordando
Da vida o tempo passado,
O triste Velho coitado
Ficou chorando...
E cismando...
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Vieram Anjos e Arcanjos,
E, enquanto a alma do justo
Subia em triunfo aos céus,
Ouvia-se um coro augusto
Louvando a graça de Deus.
E as rosas de ouro caíam
Sobre o divino cortejo,
Milagrosamente lindas.
E os Anjos, todos, sorriam....
E o triste que em vida nunca
Satisfizera um desejo,
Vivia no terno beijo
De aquelas Rosas Benvindas.
Tão singelas... e tão lindas!
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