A HOMENAGEM A ZÉ AUGUSTO
Dra. Maria da Luz Nolasco – pág. 3
Há cerca de um ano que, na ala sul
do renovado edifício da Fábrica Jerónimo Pereira Campos, junto ao Cais
da Fonte-Nova, entrou em funcionamento o Centro Cultural e de Congressos
de Aveiro. Se a inauguração oficial se deu a 8 de Julho de 1995, a sua
abertura à comunidade aveirense é uma realidade desde 15 de Setembro
desse mesmo ano. Preparada durante a 1 a quinzena do mês por uma centena
de jovens bailarinos do concelho, foi então estreada uma coreografia de
dança contemporânea, com a qual, evocando Santa Joana, de forma intensa
e simbólica, homenagearam a cidade e a sua memória. E tem sido assim que
ali se tem vindo a trabalhar evocando e elaborando a memória colectiva,
construindo e pondo constantemente à prova a viabilidade e utilidade
daquele equipamento, recorrendo-se a uma programação que reflecte, em
simultâneo, a política cultural da Câmara e a sua própria abertura às
propostas que os agentes culturais apresentam. Apesar das grandes
dificuldades, que aqui cumpre a iludir, têm sido gratificantes os
resultados.
Face a essa nova realidade, há um
ano tornou-se finalmente possível iniciar um novo ciclo da gestão
cultural do Município.
Articulando aquele novo espaço com
os já existentes, o programa de actividades culturais então aprovado
pela Câmara Municipal pôde estender-se a diversas áreas do conhecimento,
procurando, fundamentalmente, que os acontecimentos não tenham como
origem e destino o acaso, mas que se integrem em linhas de acção com
objectivos determinados. Dentro desta nova orientação, um dos trilhos já
abertos é o conducente à criação, a prazo, de uma Galeria de Arte
Contemporânea que pela prática se fixe numa das salas do Centro Cultural
e de Congressos. Ali se virão a expor algumas das obras do crescente
espólio Municipal, mas, fundamentalmente, deverá ser posta em
contacto/confronto a produção mais significativa, no domínio das artes
plásticas contemporâneas aveirenses e nacionais.
Nessa rota para a sedimentação da
Galeria Municipal de Arte Contemporânea de Aveiro...
... A HOMENAGEM A ZÉ AUGUSTO...
...é também a homenagem a alguém
que, para além de, na arte da cerâmica, representar o escol dos seus
obreiros maiores e um dos seus mais prolíferos criadores, é também,
noutros domínios das artes plásticas, vulto ainda por conhecer, mas
cujos segredos agora revelados permitem vislumbrar não menor estatura.
Artista contemporâneo, José
Augusto Ferreira dos Santos, Zé Augusto, é aveirense nascido no bairro
da Beira-Mar, rua do Vento, freguesia da Vera-Cruz, neto e bisneto de
marnotos. No mais genuíno ambiente aveirense Zé Augusto elaborou o seu
saber dar vida ao barro, modelando-o, dando-lhe forma, ritmo e
movimento, com ele dialogando sobre o seu imaginário de expressões
bizarras, críticas, caricaturais... sínteses da comunidade, imagens da
memória. Por tal razão é pouco, mas revelador, interrogarmo-nos se Zé
Augusto não estará para Aveiro e a sua região como Rafael Bordalo
Pinheiro para a país. E ambos fizeram muito para além de símbolos da
identidade colectiva, escola, experiências, inovação, ... arte!
Zé Augusto, pela primeira vez num
espaço que inevitavelmente o solicitará até ao infinito, é a figura que
na obra visitaremos e homenagearemos até ao final de 1996.
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