7.°
Reitor –
Dr. Álvaro de Moura Coutinho de Almeida de Eça. Nasceu em 1854 e
faleceu em 1926.
Foi
reitor desde 1910 a Julho de 1926.
Sobre a
sua acção nos progressos materiais do Liceu, vejamos o que ele próprio
disse nos seus relatórios, publicados à frente dos Anuários que elaborou
(1910-1911 a 1915-1916):
No
relatório de 1910-1911, queixa-se o Reitor de que «foi adquirido há
quasi dois anos, um terreno adjacente ao edificio para construção do
gimnásio, mas, apesar do projecto estar, há muito, aprovado, e garantida
a sua execução por um emprestimo especial, para esse fim contraido,
ainda não foi possivel conseguir que a verba necessaria fosse autorisada,
o que está prejudicando altamente os alunos». «Não havendo sala alguma
disponivel, porque o antigo salão de gimnastica foi, pelo novo plano,
dividido em tres compartimentos, executaram-se os exercicios, quando o
tempo o permitiu, no terreno adquirido a que acabo de me referir, o qual
se encontrava tambem em pessimas condições para tal fim, cheio de ervas
e de pedras, cortado por uma vala e dividido em planos de desegual
elevação!»
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Em
1911-1912, continuam as queixas: «Neste ano não foi possivel conseguir
que as obras prosseguissem e fossem concluidas. Nada se fez». «E,
todavia, ha um emprestimo contraído pelo govêrno para esse fim especial,
parte do qual já foi aplicado nas ditas obras, mas cujo resto jaz, ha 5
anos, sem destino, nos cofres do ministerio do fomento! Adquiriu-se um
terreno para o ginasio, mas o ginasio não se faz, e o terreno cheio de
socalcos, entulhos e ervas nenhuma utilidade tem, porque, naquele
estado, nem para recreio pode ser aproveitado. As carpintarias das obras
já feitas estam todas por pintar, dando ao edifício, que é um dos
melhores do país, um aspecto sujo que simultaneamente onde indicar
negligencia que nos vexa. Todas as janelas exteriores, que são da
primitiva edificação, estam muito pôdres e desconjuntadas, não se
abrindo, sem perigo, muitas delas, sendo além disso de uma forma
impropria para a ventilação, que é imperfeitissima, sentindo-se, sempre,
nas salas de aula as conseqüências perniciosas de tal estado».
E a
seguir pedia o reitor ÁLVARO DE EÇA, «encarecidamente», o remédio para
estes males. E conclui: – «Do que deixo exposto resalta que é para a
conclusão das obras que todos os esforços se devem empregar. Feitas
elas, ficará Aveiro com um estabelecimento de ensino muito aceitavel e
digno do alto espirito que promoveu a sua construção em tempos em que as
vantagens da instrução eram, talvez, menos reconhecidas e alardeadas,
mas em que, como se vê deste belo edificio, construido há meio seculo,
os meios de propaga-Ia eram, parece, menos regateados».
No
anuário do ano seguinte são igualmente desassombradas as palavras de
protesto que o Reitor dirige à respectiva
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Direcção-Geral: –
«Novamente e encarecidamente peço a V. Ex.as se dignem mandar
prosseguir as obras do liceu para cujo acabamento apenas é necessario
empregar uma insignificante parcela de boa vontade, visto que o
dinheiro, para faze-Ias, existe no Ministerio do Fomento, proveniente do
emprestimo de 11:260$00, contraído para esse fim especial, na Caixa
Geral dos Depósitos, em 7 de Abril de 1910. Construir novos edificios
liceais e remodelar por completo outros muito menos frequentados de que
o nosso, concedendo-lhes rasgados subsídios especiais, e deixar este
liceu, que serve uma populosa região e tem notavel frequência, no
esquecimento, quando ha, desde muito, capital destinado para os seus
improrogaveis melhoramentos, é, sem contestação, processo anormal,
excepção que muito nos tem magoado e contra a qual não será extranhado
que, por indeclinavel obrigação, mais uma vez proteste».
O anuário
de 1913-1914 nem uma palavra traz a respeito de obras. O Reitor,
desanimado, não quis continuar a bater em ferro frio...
As obras
só vêm a continuar em Dezembro de 1914. A esse respeito, diz-nos o
reitor ÁLVARO DE EÇA no relatório do anuário de 1914-1915: – «Nesse mês,
a repetidas instâncias dos Ex.mos Governadores Civis, Augusto
Gil e João Salema, aos quais, aqui, novamente deixo consignado o nosso
agradecimento – mandou o Ex.mo Ministro do Fomento que fossem
continuadas e, para isso, pôz á disposição da repartição das obras
públicas os fundos necessários, encarregando-a da execução por
administração directa. Começaram, é certo, em principios de 1915, mas
estava escrito que a lentidão do inicio fôsse condão que as bafejasse
até ao têrmo, e de tal potência ele é que ainda agora, principios de
1916, falta dividir, solhar, forrar e rebocar interior e exteriormente;
podendo já dar-se a certeza de que não será neste ano utilizado! Pois é
uma casa simples: quatro paredes de 6 metros de alto, limitando uma
superficie de 240 m2, com duas pequenas divisões no tôpo e um
grande salão de 200 m2». «E o pior é que é preciso esperar
pelo seu termo, para se construir a alpendrada que deve circundar o
terreno de recreio, fazer a mudança dos dejectórios, abrir a serventia
para o exterior, plantar o hôrto e arvores para sombra, e outras obras
complementares destas. – Por várias vezes e de várias maneiras, foi
significada a nossa estranheza e descontentamento, por tal morosidade,
mas não foi dificil entrarmos na convicção de que quanto mais pedissemos
menos... obtinhamos. – Mas, no capítulo obras, alguma coisa se executou
digna de menção, graças – sempre é bom afirmá-lo em letra redonda
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– ao benéfico decreto n.º 471 de 6 de Maio de 1914, que regulamentou a
autonomia administrativa dos liceus, tornando em realidades as, até
então, platónicas disposições do decreto de 29 de Agôsto de 1905».
Depois de
manifestar o seu regozijo e o do corpo docente pela (tão salutar
disposição) da autonomia administrativa, o Reitor continua: –«Foi assim
que se instalou e completou o gabinete de física e química, mas
principalmente este último, que pouco mais era do que uma hipótese, e
que agora se encontra em circunstâncias de satisfazer os mais exigentes
professores; foi assim que se construiu um amplissimo anfiteatro para 90
alunos na sala n.º 10, destinada exclusivamente para as sciencias
naturais, onde as três ultimas classes podem, conjunta e comodamente,
assistir a experiências e projecções; foi assim que se adquiriu novo
mobiliário para substituir algum impróprio, que só a muita necessidade
obrigava a utilizar, e que se adquiriram instrumentos, mapas, etc., e
foi assim, doloroso é dizê-lo, que se conseguiu lavar, sem oficios
implorativos, o vasto edificio, povoado por quási três centenas de
pessoas; lavá-lo, varrê-lo, e mantê-lo em condições de não ser um foco
de infecção, como anteriormente esteve em risco de ser, por não ser
lavado quási durante um ano, e a varredura haver de ter sido feita à
custa do pessoal docente! Não foram, portanto, realizadas para ficarem
no esquecimento tantas e tão uteis transformações, como no esquecimento
não deve ficar o nome do professor de sciências Luiz de Brito Monteiro
Guimarães que, na parte respectiva e em muitos outros assuntos,
referentes ao desenvolvimento dêste instituto, foi sempre um valioso
auxiliar».
Referindo-se ainda às obras do Liceu, o reitor ÁLVARO DE
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EÇA
exprime-se do seguinte modo, no seu relatório de 1915-1916 (pág. 6-7): –
«Foi, incontestavelmente, para êste instituto um ano feliz, um ano de
prosperidade material, o ano escolar que acabou, porque nêle acabaram de
se realizar as aspirações de muitos anos, aspirações sempre mantidas com
afinco e sempre ludibriadas sem piedade e sem razão. Tinha a
generosidade de um govêrno ilustrado e conhecedor das necessidades do
ensino, agraciado em 1907 êste liceu por sugestão de filhos ilustres
dêste distrito com a importante quantia de 11:000 escudos para obras.
Essas obras, começadas com dificuldade, continuadas com morosidade e
intermitência, e durante alguns anos paralisadas, foram no ano presente
recomeçadas, para o que se conjugaram esforços de tantos que me não é
fácil enumerá-los e deixar-lhes aqui nominalmente o testemunho
perduravel da nossa gratidão, com receio de que alguem, por esquecido,
se melindre. – Antes do Natal – creio eu – verão elas o seu têrmo com a
conclusão do vasto ginásio que, no terreno adjacente ao liceu se ergue,
não diremos com magestade, porque detestamos exageros, mas com
simplicidade e comodidade que dão gôsto. As vidraças do edifício que ha
55 anos aguentavam as furias dos temporais sem um leve reparo e que, na
sua maioria, principalmente do poente, estavam a desfazer-se, foram
todas reformadas e pintadas; e aos telhados, canalisações, estuques e
pinturas chegou tambem a sua vez. Levantou-se na sala de ciências um
amplo anfiteatro, creou-se o laboratório químico, ampliou-se o material
de ciências fisico-naturaes, e o que é ainda digno de menção – embora em
alguns possa determinar o espanto – até se lavaram os pavimentos do
edificio que quasi durante um ano não viram água, nem escôva, com a
agravante de nele andarem obras que diariamente o emporcalhavam».
Acerca da
primeira tentativa de elevação do Liceu a Central, escreveu o Reitor o
seguinte no anuário de 1914-1915 (pág. 13-14):
«Una
voce e desde tempos imemoriais se implorava esse grande benefício.
Solicitando-o e adeantando aplausos; estabelecendo confronto de o serem,
com muito menos frequência, outros liceus, e apregoando a economia e o
socêgo que para as famílias adviria, sem falar nas vantagens de toda a
ordem que, como maná, se derramariam pela cidade, famílias e
corporações, – camara na frente – davam a nitida impressão de que era
êste o mais imperioso dos seus desejos. Pois chegou, por esforço de
alguns, mas principalmente, pelo de um ilustre filho desta terra – o dr.
José Maria Vilhena Barbosa de Magalhães, lente da Universidade de Lisboa
que, removendo todas as
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dificuldades – e não foram poucas –
conseguiu que o «Diario do Governo) n.º 194-1.ª serie, de 24 de Setembro
de 1915 publicasse a respectiva lei. O júbilo foi, como era natural,
intenso: cá estava a felicidade desejada com tanta ância, mas – havia um
mas – era preciso que as 17 câmaras do distrito custeassem a despeza –
uma bagatela de quatro mil escudos, e as camaras resolveram,
prudentemente, recolher todo o seu entusiasmo, e fechar, com segurança,
os seus cofres!»
Essa
aspiração só se tornou realidade em fins de 1916 (decreto de 18 de
Novembro), graças aos esforços da Câmara de Aveiro e do dr. Barbosa de
Magalhães. Pouco depois, tomou a Junta Geral do Distrito a
responsabilidade dos encargos respectivos.
O
aumento, sempre crescente, da população escolar trouxe a necessidade de
se ampliarem as instalações do Liceu. Por decreto de 24 de Abril de
1919, devido os esforços do prof. Dr. Luís de Brito Guimarães, que era
então Ministro dos Abastecimentos, abriu-se um crédito de dez contos,
destinado à aquisição do edifício contíguo ao Liceu, e respectivo
quintal, que haviam pertencido aos Marqueses de Arronches. Dessa forma,
o edifício do Liceu com todas as suas dependências passaria a ocupar uma
área de 5000 metros quadrados, aproximadamente. O decreto de 10 de Maio
de 1919 declarou de utilidade pública urgente a expropriação daquele
prédio e anexos e determinava que ele fosse utilizado pelo Conselho
Administrativo do Liceu para ampliar e melhorar a instalação dos
diferentes serviços.
Todas as
obras de adaptação foram executadas sob a direcção do reitor Álvaro de
Eça. Datam daí o laboratório e gabinete de Química, instalados na
cozinha da casa expropriada.
Por
decreto de 6 de Janeiro de 1919, foi dado ao Liceu o nome de Liceu
Central de Vasco da Gama.
O decreto
n.º 9.677, de 13 de Maio de 1924, extinguiu-lhe o Curso Complementar de
Letras e conservou-lhe o de Ciências, a cargo do Estado. Aquele curso
foi, porém, restabelecido pelo decreto n.º 11..32, de 12 de Outubro de
1925.
Dos
últimos anos da sua reitoria deve mencionar-se o seguinte, entre os
progressos materiais e culturais do Liceu:
a) –
Organização e montagem do gabinete de Ciências Naturais, obra do prof.
Álvaro Sampaio; b) – Enriquecimento da biblioteca e sua eficaz
utilização, sob a direcção do professor José Tavares; c) – Realização,
sob proposta do mesmo professor, de conferências culturais, públicas,
feitas por notáveis individualidades, estranhas ao Liceu (Drs. Fidelino
de Figueiredo,
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Luís Carrisso, Jaime de Magalhães Lima, Joaquim de
Carvalho, Hernâni Cidade) e por professores da casa; d) – Palestras de
alunos; e) – Festas cívicas e patrióticas; f) – Récitas escolares no
Teatro Aveirense, dirigidas por professores, com início em 1920 sob a
direcção do prof. José Tavares.
Das
récitas, as principais foram aquelas em que se representaram: de Gil
Vicente, o Monólogo do Vaqueiro, a Exortação da Guerra e a
Inês Pereira; de D. Francisco Manuel de Melo, a 3.ª Jornada do
Fidalgo Aprendiz; e de António José da Silva algumas cenas da
Vida do Grande D. Quixote e do Gordo Sancho Pança.
E foi em
Janeiro de 1926 que os professores José Tavares e Álvaro Sampaio
fundaram a revista de Ensino Secundário – Labor – que levou a toda a
parte o nome do Liceu de Aveiro.
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