O Sol, esse magnífico presente com que
Portugal foi brindado constitui talvez o nosso maior cartaz de Turismo.
Quem se livra, porém, de um dia cinzento, dia de amuo do Astro-Rei?
Então, o nosso cartaz perderá todo o seu
valor?
Não. Portugal, alicerçado em tradições
multisseculares, numa vasta gama de manifestações etnográficas e
folclóricas, por vezes timidamente escondidas entre as frias neves ou em
gritante e comunicativa alegria, é um país de eleição para a Turismo.
No entanto, não bastam as condições
favoráveis para ser procurado.
Urge intensificarmos a propaganda, quer
através de notas saborosas «vividas» e «sofridas» por um jornalista,
quer através da cinematografia e rádio, evitando, na medida do possível,
sonolentos folhetos, ricas enciclopédias de ideias estereotipadas,
testes avaliativos da paciência do bom turista... Este, quando penetra e
procura desvendar terra alheia busca, mais do que a fachada dos
edifícios ou diluídos fragmentos de história marcados por cicerones,
calor humano, no comum a todos os povos, transpondo as próprias
fronteiras.
O ideal seria: todo o turista poder dispor
de tempo indispensável para contactar com as populações, integrando-se
nos seus hábitos, analisando as suas actividades e expressões artísticas
e ao
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partir, levar uma mensagem de saudade e entendimento, rectificando
opiniões desfavoráveis alicerçadas em dados imprecisos ou em antigos
ressentimentos.
Quem melhor do que a mocidade, generosa e
receptiva, poderia propagar essa mensagem, quebrando as velhas amarras
dos barcos que chocam contra a muralha, impedidos de sulcar oceanos, de
concretizar miríficos sonhos?
Jovens, desenraizando imagens erradas,
pré-concebidas a respeito do comportamento de povos e raças, serão dado
positivo num futuro incerto.
Essa massa juvenil tomará amanhã a direcção
dos destinos das Nações na medida em que estiver ligada por laços
afectivos e possuir uma visão esclarecida dos valores humanos, assim
reconhecerá o semelhante como parte vital de si mesma e,
consequentemente, evitará uma guerra de autodestruição.
Turismo juvenil, com suas características
bem definidas, só terá sentido quando enquadrado numa vasta perspectiva
histórico-social e orientado a fim de solucionar os seus problemas
capitais: transportes, subsídios e acomodações.
Embora não caiba nesta breve resenha
equacionarmos estes problemas na amplitude que mereceriam, sugerimos: a
utilização dos edifícios escolares durante o período de férias, época de
maior afluência de estudantes estrangeiros; a construção dum albergue
juvenil na capital, à semelhança dos existentes nas grandes urbes
europeias. Catalazede, nos arredores de Lisboa, se bem que possuindo
boas instalações, encontra-se longe e o acesso é difícil e os «lares»,
dentro da cidade, só estão abertos nas férias.
A Serra da Estrela, afastada das rotas do
turismo juvenil, necessita de um albergue para que se desenvolva a
prática dos desportos de Inverno e montanhismo no Verão.
O campo cultural e desportivo não pode ser
esquecido. Referente ao primeiro, o êxito alcançado pelos rapazes de
Coimbra nas «Delfíadas», onde o nosso teatro clássico universitário foi
posto em confronto com agrupamentos estrangeiros, certamente
impulsionará novas iniciativas, alargando-as num panorama mais vasto.
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O estudante devia ser amplamente aproveitado
não só como guia juvenil, mas também no turismo em geral.
Que diferença entre o papagueado monocórdico
de um cicerone e a explicação clara e consciente, por vezes mesmo
salpicada por uma nota de humor dada por um universitário!
Para o turista culto, auscultando a alma
portuguesa ou reunindo dados concretos respeitantes à indústria e
comércio, o universitário pela noção de profundidade técnica e cultural,
seria o rumo certo, o companheiro ideal nos momentos de diversão.
Tais estudantes contratados, após cuidada
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selecção, por hotéis, companhias de viagens e aéreas, viveriam ao lado
do turista, à mesa de jantar, no festival folclórico, na visita a uma
fábrica, na sala de espera dum aeroporto ou durante as férias, nos
departamentos de cultura e turismo no estrangeiro, contribuindo para
definitivamente se riscar a velha legenda: «Portugal, esse
desconhecido...».
Solucionar-se-ia, em parte, o grave problema
da falta de recursos para os estudantes prosseguirem nos seus estudos e,
simultaneamente, desenvolver conhecimentos linguísticos e humanos. |
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Lembro a afirmação gratuita de um conhecido
economista numa faculdade inglesa ao declarar enfatuadamente que em
Portugal só havia sol, sardinhas e... quanto ao mundialmente famoso
«Porto», esse vinho da União Sul Africana! Felizmente estava presente um
estudante português...
LUÍS MANUEL MARQUES
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