"AMONÍACO PORTUGUÊS"

UM GRANDE COMPLEXO INDUSTRIAL

NO DISTRITO DE AVEIRO

O viajante que passa pela ridente vila de Estarreja, situada nessa maravilhosa região de tranquilos canais de águas espelhantes que é a zona da ria de Aveiro, quer utilizando a via férrea Porto-Lisboa, quer rodando pela estrada que daquela localidade conduz à capital nortenha, é forçado a dar a sua atenção, ainda que por breves instantes, a um imponente conjunto de instalações industriais, que se avistam já de longe, enquadradas por densos pinheirais.

Majestosos edifícios, bem cuidados e de louvável traça arquitectónica, grandes depósitos metálicos junto dos quais um automóvel parece um brinquedo de criança, estruturas de aço cortando o horizonte em arabescos complicados, chaminés vomitando fumos, linhas de alta tensão, reservatórios de água brilhando ao Sol, despertam o desejo de saber do que se trata.

O que é aquilo? A resposta é facultada, quer por letreiros luminosos que encimam o altaneiro edifício da Síntese de Amoníaco, que mais lembra uma grande catedral com suas aberturas de iluminação semelhantes a vitrais, quer pela placa indicadora que a Junta Autónoma de Estradas mandou erguer no ramal de estrada que serve aquele quase ciclópico conjunto: aquilo, aquele aglomerado onde o esforço criador do Homem se evidencia, é o complexo industrial do «AMONÍACO PORTUGUÊS», a grande Empresa que garante ao País cerca de 60 % do respectivo consumo de Sulfato de Amónio, o mais antigo e o mais usado dos adubos azotados.

Porque se criou o «AMONÍACO PORTUGUÊS»? Porque, com o aumento constante da população, foi necessário encarar a intensificação da produção agrícola. Ora, para incrementar essa produção, para que o pão não faltasse aos portugueses, havia que fornecer à Lavoura Nacional, para que esta os lançasse à terra, os convenientes adubos azotados, melhorando assim a respectiva produtividade.

Durante anos, esses fertilizantes tiveram de ser adquiridos no estrangeiro, para ali se drenando, em caudalosa torrente, convertido em divisas que tanta falta faziam ao País – boa parte do rendimento que tão trabalhosamente era adquirido pelo agricultor.

E foi assim... até que os portugueses acordaram. Porque não fabricar no País o Sulfato de Amónio? Apenas havia de se conseguir hidrogénio, pois que o azoto – esse, era de obtenção fácil: bastava fraccionar o ar, separando aquele elemento, de que a terra carece para se desentranhar em frutos, do oxigénio.

Mas como obter hidrogénio para a síntese do Amoníaco se Portugal não dispunha de energia eléctrica em quantidade e a preços convenientes para se fazer a electrólise da água, decompondo-a nos seus elementos constitutivos – o hidrogénio e o oxigénio – e se no subsolo do País havia apenas carvões de impossível gaseificação pelos gasogénios então conhecidos e experimentados?

Entretanto, mercê de avisada política governativa, foi resolvido, a pouco e pouco, o problema da electrificação nacional; barragens dominaram os rios, arrancando deles a energia que, até então, se desperdiçava rumo ao mar. Desapareceu assim o obstáculo que, na altura, impedira conseguir-se hidrogénio; cerca de 1942, iniciou-se a arrancada que conduziria ao auto-abastecimento do País em adubos azotados.

 


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Constituída a empresa «AMONÍACO PORTUGUÊS», à qual em breve se associaram as entidades que, na altura, eram as mais representativas da Lavoura – a Federação Nacional dos Produtores de Trigo e a Junta Nacional do Vinho – deu-se início à primeira fase do empreendimento / 103 / industrial de Estarreja. Dificuldades insuperáveis, originadas pelo penúltimo grande conflito internacional, a segunda grande guerra, originaram um acentuado atraso na construção das fábricas, pois tudo faltava ou era de dificílima obtenção.

Vencidas que foram, e sabe Deus à custa de quanta perseverança, as dificuldades, no alvorecer do ano de 1952 fabricava-se em Estarreja o primeiro Sulfato de Amónio português, utilizando-se para a produção do hidrogénio a via electrolítica.

Desde então e até hoje, os lavradores portugueses passaram a poder afirmar, com patriótico orgulho, que utilizavam o Sulfato de Amónio Nacional para que o pão que cultivavam fosse mais português.

Contudo, porque a laboração das fábricas dependia da quantidade de electricidade que era posta à disposição da electroquímica, quantidade essa condicionada anualmente pelas variabilidades hidrológicas, houve que pensar em instalar outra fonte de produção de Amoníaco e essa não podia deixar de ter, como origem do hidrogénio, a via química.

Desta necessidade resultou a realização da segunda fase das fábricas de Estarreja, levada a cabo em escassos dezoito meses de trabalho, o que atesta a competência dos técnicos que conceberam e dirigiram as montagens e dos operários que as levaram a cabo.

A partir dos fins de 1957, o «AMONÍACO PORTUGUÊS» passou a ter um regime de laboração que garantia o fabrico de 110 a 120 mil toneladas anuais de Sulfato de Amónio.

Hoje, a Empresa, que tem um capital de 110.000.000$00 e realizou investimentos que ultrapassam o meio milhão de contos, dá ocupação a cerca de 1000 técnicos especializados e operários, assegurando-lhes remunerações ajustadas e um programa de realizações sociais muito de louvar.

Para se avaliar da importância do empreendimento no quadro de Economia Nacional, não há que tomar em conta tão-somente as quantidades de fertilizante produzidas, mas ainda, e principalmente, os consumos de energia eléctrica, de pirites, de gasolina pesada (produto nacionalizado da Refinaria de Cabo Ruivo), a grande movimentação que imprime à rede ferroviária nacional, etc.

Eis, a traços muito breves, sucinta descrição do complexo conjunto industrial do «AMONÍACO PORTUGUÊS» em Estarreja, que não passa despercebido, antes prende a atenção do viajante que atravessa aquela localidade, podendo, assim, constatar mais uma grande prova do surto económico português.

 

 

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