No mais belo, do mais pitoresco, a paisagem que nos envolve a caminho de Vale de Cambra, sede de um concelho em que tudo se reúne para prender a atenção do forasteiro.

Pode afirmar-se ser um todo de verdura, tapete de esperança em que a região assenta, no aproveitamento total da terra para uma agricultura que é fonte de riqueza e principal ocupação dos seus naturais. O que inicialmente parece paradoxal – todos sabem ser Vale de Cambra o fulcro da indústria nacional de lacticínios – tem a sua justificação através duma agricultura rica, cuidada e laboriosa: é, por assim dizer, um todo a manter e desenvolver uma parte.

A fertilidade do solo e o nato domínio da agricultura pelas gentes da região, é a causa primeira, a base em que assenta a indústria de lacticínios que de Vale de Cambra fez um dos Principais centros industriais do País.

O acidentado terreno – o próprio nome da sede do conselho o indica, pois que repousa num vale envolto em serrania – lançou o homem para além da agricultura normal (horticultura e vinicultura), criando vastos campos de férteis pastos, alimento do gado que dá lugar a toda a indústria local.

Assim se justifica o paradoxo e pode afirmar-se que a indústria e a agricultura estão ali intimamente ligadas.

Região rica na indústria e na agricultura, não o é menos no aspecto turístico e é neste ponto que, na verdade, existe um paradoxo, uma total contradição: grandes possibilidades e mínimos aproveitamentos.

Vale de Cambra – e não só Vale de Cambra mas todo o seu concelho, quer se parta de S. João da Madeira, de Sever do Vouga, de Arouca ou de Oliveira de Azeméis – está em quase total abandono no que se refere à sua valorização turística.

Na verdade, paisagisticamente valorosa, beneficiada por cenários verdadeiramente maravilhosos, não se compreende nem aceita a pobreza desta região no panorama turístico português.

Ao olharmos o que a Suíça oferece ao turista, ao lermos o que desse turismo se afirma, ante qualquer gravura sem legenda, encontraremos sempre a visão de um recanto de Vale de Cambra, a tornar mais incompreensível ainda o alheamento que aqui se verifica.

E, se não podemos apresentar a paisagem lacustre da Suíça, não deixaremos de oferecer este rincão da nossa terra como privilegiada zona para a prática da pesca e da caça – a primeira nas águas do Caima que nasce ali e que, dada a natureza do seu leito, propicia a abundância de trutas; a segunda em toda a zona florestal que envolve a região.

Para o desenvolvimento do campismo possui ainda a abundância de água e de arvoredo – predicados que lhe proporcionam largas possibilidades turísticas.

Aliem-se às suas naturais belezas – de que citamos, em especial a nascente do Caima, a Albufeira do Castelo, os Castros da Farropa e o Chão do Carvalho – as criadas pelo homem – de que referendamos a Igreja de Castelões, a ponte em Macieira de Cambra (monumentos da época romana), a Igreja e o Cruzeiro de Roge – e teremos Vale de Cambra e o seu concelho como óptimo campo de acção para inúmeras iniciativas de carácter turístico.

O povoamento dos rios e das matas – caça e pesca – o estabelecimento de parques de campismo, a instalação de hotéis e outros empreendimentos podem ali atingir uma expressão capaz de converter-se em viva indústria, tanto ou mais rendosa que a existente. Porque não pode duvidar-se de que, nos tempos modernos, é o turismo uma das mais lucrativas indústrias.

 

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