ESTARREJA

UM VALOR INDUSTRIAL E TURÍSTICO

DO DISTRITO DE AVEIRO

QUEM, por estrada, se dirige de Aveiro para o Porto, percorre um dos mais belos recantos da nossa terra, atravessando cenários de encanto, contactando com a verdadeira e expressiva Natureza.

Nesta região, em que abunda o cultivo do pinheiro e do eucalipto, em que uma tratada agricultura nos indica a acção dominante dos seus habitantes, a longa estrada é ladeada por imensa planície de verdura a dar-nos uma noção exacta do melhor aproveitamento.

A simétrica distribuição do cultivo, sendo imperativo desse aproveitamento, é capricho do lavrador.

Após um último adeus ao rio Vouga, que atravessamos em Cacia, e ultrapassadas as terras limites do concelho de Albergaria-a-Velha, entramos no característico cenário da região de Estarreja em que a tonalidade verde dos campos nos mostra toda a fertilidade do solo.

São as freguesias de Fermelã, Canelas e Salreu, as primeiras a surgir ao visitante e as primeiras a ser credoras de uma visita que empolgará, desde o alto de São João – em Fermelã – ao Outeiro da Senhora do Monte – na freguesia de Salreu –, aqui merecendo mais uma paragem para visita à igreja desta localidade.

Então, é Estarreja que nos surge.

Melhor cenário não se poderia desejar – autêntica sala de visitas – do que o túnel de arvoredo ladeando a ponte sobre o rio Antuã. Esta imagem, a primeira entre tantas outras que já oferece ao visitante a presença de possibilidades turísticas, numa região em que o turismo poderá ter lugar cimeiro.

Estarreja – em imemoriais tempos Antuan ou Antuão – recebe, em 15 de Novembro de 1519, foral de el-rei D. Manuel e, se até 1700 tem dois juízes ordinários nomeados pelas freiras de Arouca, é, por Decreto de 8 de Janeiro de 1835, considerada sede de comarca Judicial, já que durante aqueles cento e trinta e cinco anos mantém os dois juízes de nomeação régia.

Visitar Estarreja não é só atravessá-la por essa estrada que ruma ao Porto; é, antes e acima de tudo, quedar na contemplação das margens do Antuã e, de sobre a ponte que o atravessa, desfrutar a paisagem do Outeiro da Senhora do Monte – do seu cimo vê-se a imensidade do oceano beijando as praias da Costa Nova, da Barra e da Torreira – , é visitar e contemplar a fonte de Bedueiro, as igrejas de Arouca e Beduído, a costa do Casal e todo um vale imenso que se espraia desde as alturas de Sentiais até à várzea da Marinha.

Mas, a par desta beleza paisagística que envolve Estarreja e o seu concelho, outra beleza, esta sentimental, se vincula a esta vasta zona, com destacado lugar no seu plano social e assistencial. Referimo-nos às fidalgas virtudes do visconde de Salreu que doou à vila, para além das escolas de Laceiros e Picoto, a sua misericórdia-hospital, maternidade, asilo de velhos e inválidos, ninho para crianças desamparadas (obra a que se liga o nome do eminente Dr. Bissaia Barreto) – autêntica cidadela a dominar a vila e amplos horizontes, envolvida por um parque de largas alamedas ladeadas de plátanos e tílias, em que a horta, o pomar e o jardim lhe oferecem um motivo mais para o seu já elevado valor turístico.

E, se tudo isto não bastasse para tornar Estarreja merecedora de um lugar de relevo no turismo português, alia-se-lhe a criação de duas indústrias – o Amoníaco Português, com o fabrico de amoníaco e nitratos, e a SAPEC, com a fabrico de soda cáustica – a emparelhar com a riqueza industrial da região em que Avanca, com metalo-mecânicos e lacticínios, tem lugar preponderante a par da disseminada criação de gado e serração de madeiras, em que as freguesias de Fermelã, Pardilhó, Veiros, Canelas e Salreu, se aliam para a grandeza industrial e agrícola de um concelho sem dúvida merecedor das atenções dos organismos que superintendem no turismo nacional.
 

 

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