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1959 Aveiro esteve em festa para celebrar, entre outros factos, o seu
milenário. Na verdade, haviam decorrido mil anos sobre o legado feito ao
mosteiro de Guimarães pela Condessa Mumadona Dias, tia do Rei Ramiro II,
de Leão, de umas terras e salinas que possuía em Alavário. Fazia,
também, 575 anos que dali saíra um navegador para acompanhar Diogo Cão e
com ele erguer, na foz do Zaire, o padrão de Portugal. Comemoravam-se
ainda os duzentos anos da cidade, pois tantos tinham decorrido sobre o
dia em que D. José I a elevara, dando-lhe por nome Nova Bragança,
de que bem depressa se desembaraçara para voltar a ser o que sempre
fora: Aveiro.
Esta comprovada antiguidade, este apanhado
de datas, este comparticipar da epopeia, parecem falar-nos de alvos
cabelos, velhas praias e vetustas muralhas, tudo virado para o passado,
numa veneração estática, silenciosa, quase triste.
No entanto, nada mais enganoso! – dizemo-lo
porque não há, em Portugal inteiro, rincão mais alegre, mais luminoso,
mais jovem, mais sadio, mais simples do que essa extensa faixa da
Beira-Mar; porque não há lugar de mais estranha beleza, de maior
encanto, de mais admiráveis horizontes, onde mais apeteça viver e ser
feliz do que ao longo dessa Ria de maravilha, que penetra e se espraia
por dezenas de quilómetros, de Ovar até Mira!
DUARTE DE ALMEIDA
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