INFELIZMENTE temos em Portugal
várias cidades e vilas que foram retalhadas pelo Caminho de Ferro, e
poderemos citá-las, começando por Lisboa, com a linha de Entre-Campos, Coimbra, com a linha da Lousã,
e Espinho, com as linhas da C. P.
Os frequentadores desta praia, já hoje centro comercial e
industrial de grande vulto, sentem a permanente peia da interrupção
quase contínua do trânsito de peões e veículos, causada pela falta de
passagens superiores ou inferiores e as Companhias, manietadas pelo
acanhado círculo das suas rudimentares instalações, lutam com a
deficiência dos seus importantes serviços, sem remédio fácil e pronto.
Vem este mal de há muitos anos, e, só ultimamente, mercê
da boa vontade das Companhias e das entidades oficiais, se tem pensado a
sério em resolver cabalmente tão importante problema, pesando
cuidadosamente todos os factores que devem ser tidos em conta.
Estamos convencidos de que a execução do projecto de
adaptação das actuais instalações não terá viabilidade, porque seria
obra dispendiosa e insuficiente, autêntico remendo deitado em obra já
desbotada pelo andar dos tempos, que criaram novas situações e
necessidades novas.
Nem a estação, nem os cais, nem as linhas, pela sua
estrutura, permitem um arranjo que possa classificar-se de conveniente e
acertado, com o desafogo de que precisam ambas as Companhias
interessadas. Isto, quanto a estas, porque, sob o aspecto do interesse
local, nunca de postergar, Espinho ficaria eternamente condenado à
tortura do estrangulamento actual, a não ser que fosse decidida, a
abertura de passagens superiores ou inferiores, pouco viáveis, por muito
dispendiosas.
Resta, portanto, a solução da variante, a Nascente da
vila, nos terrenos de posse da C. P. como a única que convirá a todos.
Porém, tal como foi delineada em tempos, a vila de
Espinho, que não pode desenvolver-se noutro sentido que não seja o do
nascente, continuaria a ser atravessada, de um só extremo ao outro
extremo, pelas linhas férreas sem uma única passagem de peões ou de
veículos em cerca de 1.500 metros, pois interromperia as ruas, que vão,
de poente a nascente, com maior prejuízo do que actualmente sofre.
Tal solução, talvez boa em 1900, de forma alguma se
concebe em 1943, e muito menos se compreenderia daqui a vinte ou trinta
anos, quando é certo que a obra a realizar se destina ao futuro.
O ritmo de crescimento da vila de Espinho, uma das terras
portuguesas onde o índice de construções é mais elevado, impõe que se
olhe de frente este problema, de que depende grande parte do seu
progresso futuro, não só como localidade comercial e industrial, mas
também como zona residencial e concorridíssima praia de banhos, uma das
mais acreditadas e prósperas do país.
Assim, uma única solução se apresenta, solução óptima,
para qualquer época e para quaisquer circunstâncias futuras.
Não haverá certamente discrepâncias de qualquer campo,
quanto à necessidade premente de se optar pela melhor solução e esta
será, sem dúvida, a da construção da variante, com rebaixamento de toda
a plataforma das vias e da estação.
Se é certo que este rebaixamento de plataforma obrigará a
um sensível movimento de terras, aliás feito a curta distância e com
fácil aproveitamento ao sul, no aterro necessário ali, não é menos
verdade que permitirá a adopção de um sistema perfeito de passagens
superiores, em todo o comprimento da vila, com absoluta independência
dos tráfegos respectivos.
Esta solução iria de encontro às necessidades das
Companhias e respeitaria, ou melhor, atenderia aos interesses de
Espinho, que devem ser tidos em conta, pois o seu desenvolvimento
rapidíssimo justifica a preferência, desde que qualquer das soluções
indispensáveis ao intenso tráfego das Companhias terá de ser fatalmente
dispendiosa e realizada com os olhos fitos no futuro, que não se
compadece com deslizes.
A utilização dos terrenos da variante, desde que fosse
feita nos termos apontados, e unicamente para serviço de passageiros e
mercadorias de G. V, reduziria a área de terrenos a ocupar, pois que os
serviços de P. V. poderiam ser feitos por utilização das actuais
instalações da C. P. e V. V., ao sul da vila, mediante criação de um
fácil e prático desvio, localizado junto da zona industrial e sem
prejuízo para esta.
Ficaria livre toda a zona central da vila, com libertação
dos terrenos das actuais instalações e evitar-se-ia uma precária
localização, por causa da proximidade do mar, que pode interromper
rapidamente a circulação de comboios, principalmente na região não
defendida, a norte da povoação.
Espinho poderia urbanizar a referida zona, no espaço
compreendido entre as ruas 35, a sul, e 1, a norte, com manifesta
vantagem, pela abertura de mais uma avenida central, cujos topos seriam
destinados à edificação de belas moradias, de tipo previamente definido.
Ainda, e do mesmo modo, poderia proceder-se à urbanização
da parte nova da vila, enfim liberta do pesadelo de ulterior
estrangulamento pelas linhas de caminho de ferro, e com a sua presença
tão útil, fomentando maior desenvolvimento da ridente povoação, pelo
excelente influxo que pode emprestar-lhe.
Sem pretendermos invadir seara alheia, pois pertence aos
técnicos dizer a última palavra, sempre diremos que não deve ainda aqui
pôr-se de parte o critério exprimido pelo Ministério das Obras Públicas,
quanto à localização de futuras construções de interesse público, em
Espinho, indicando o seu desvio para longe do mar, por medida de
segurança elementar e por questão de rudimentar conveniência do povoado,
com crescimento intensamente manifestado para nascente, onde deve
edificar-se a nova vila, sem prejuízo da vila − praia de banhos, que
será sempre e cada vez mais importante, ainda na medida em que souberem
dar-lhe comunicações fáceis e rápidas.
Tecnicamente melhorarão as condições dos caminhos de
ferro, até pela desaparição do trainel de 0,010 e passagem quase ao
nível do terreno no cruzamento com o V. V., com melhores condições de
trânsito de comboios, acabando-se com dificuldades futuras, e permitindo
fácil intensificação de movimento no dia em que o troço Espinho-Porto
seja electrificado ou servido por automotoras.
Localmente, ficará resolvido o grande problema de Espinho
− o grande e angustioso problema de tantas vilas e cidades −
desafrontando-se a povoação do tropeço tremendo das passagens de nível
encerradas, e entrando-se definitivamente no caminho traçado por Sua
Excelência o Ministro das Obras Públicas, sr. engenheiro Duarte
Pacheco, em todas as suas iniciativas de alcance nacional. Porque,
realmente, começa a ser preciso que o espírito desempoeirado de Sua
Excelência principie a imperar dentro dos Caminhos de Ferro servido pela
vontade e inteligência de directores modernos e desejosos de produzir
renovações estilo 1943.
O problema ferroviário de Espinho deve ser encarado e
resolvido definitivamente, pondo de parte soluções provisórias, com
respeito pelo aspecto técnico, estreitamente ligado ao de fomento,
social e económico, mas subordinados ambos ao ponto de vista turístico,
porquanto, nem que pese aos miupes, ainda este depende de uma solução
óptima, que liberte o turista do horrível espantalho das cancelas
fechadas, das passagens de nível e das «passerelles» próprias de museu
de antiguidades.
Está nas mãos da C. P. e do V. V., servidas pela sombra
tutelar do Ministro das Obras Públicas, dotar Espinho de boas
instalações de Caminhos de Ferro e servir o TURISMO NACIONAL.
Turista
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No topo da página, a monumental piscina que está a construir-se em
Espinho.
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