Luís Filipe Bernardo da Fonseca
Pois isto tem uma certa sequência... Eu vim parar aqui ao
José Estêvão em 86, não era daqui, tinha uma certa ligação ao José
Estêvão, e um certo carinho, porque a minha mulher na altura em que
acabou a formatura a primeira escola onde trabalhou foi no José Estêvão,
em Aveiro, no tempo do Reitor, depois eu fui colocado e acabei por vir
para aqui.
Como é que eu vou estar ligado à gestão, chamemos-lhe a
"gestão da Amélia Brito" porque a Amélia é que era a presidente e, como
tal, é assim que deverá ser
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referenciada; era a Amélia, a Alda, a Lindonor Silveirinha, o Breda.
Ainda apanhei aquela fase da contestação do Dr. Aurélio quando ameaçou o
Secretário de Estado; na altura veio aí a Inspectora de Coimbra, a Dr.ª
Maria Adélia Veiga Simão, para arranjar alguém que garantisse a
continuidade. Foi convidado o Pinhatel Queirós, fui convidado eu, mas
acabámos por não tomar posse, porque depois alterou-se tudo à última
hora e nós acabámos por vir a ser os depositários da gestão do Lapa, do
Dr. Auréllo, do Nelson. Portanto houve essa sequência. Foi extremamente
agradável aquele período.
Eu agora gostaria de fazer um à parte. Foi agradável este
encontro. Eu vim de Coimbra com todo o gosto. Não vim para ocupar o meu
tempo livre, porque já estou reformado, se não estivesse reformado viria
na mesma, porque acho que isto é extremamente agradável. Parabéns.
Permito-me fazer uma sugestão: na próxima, se houver próxima, Aveiro tem
Restaurantes impecáveis, que foi assim que eu vivi durante aquele
período, marquem um almoço porque é extremamente agradável.
(...)
Na altura, a gestão da Amélia tinha características
próprias, que toda a gente conhece, dinâmica, cheia de garra, cheia de
vida, o ambiente na Escola a nível de professores havia conflitos, eu
senti-me colocado num grupo que neutralizou todos esses conflitos, até
porque eu já vivia em Coimbra e vinha todos os dias de comboio e havia
muita gente que vinha de Coimbra para Aveiro, portanto, saía de Coimbra
no comboio das sete e um quarto, alguns regressavam no comboio das cinco
e meia e eu normalmente regressava a Coimbra para levar uma carga de
pancada da Teresa, porque dizia assim: "Meteste-te na gestão e acabas
por abandonar os filhos e a mulher e o resto". Bem, mas isto para dizer
o seguinte: havia ali um conjunto de indivíduos que eu me permito
realçar e que toda a gente se lembra, ou solteiros ou desenraizados da
família durante o dia, e que eram o Monteiro da Costa, da Carapinheira,
o Malaca, o Pinhatel, o António Augusto Fernandes, que era Orientador de
Estágio de Português, um indivíduo de Bragança, portanto com um espírito
muito especial, um conjunto de Estagiários e Estagiárias que passaram
por Coimbra e que, portanto, tinham normalmente que almoçar nos
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restaurantes. Bom, como é que se havia de neutralizar aquele frio que
nós víamos às vezes na Sala de Professores? Ora, o casamento do Malaca
com a Isolete, a tentativa..., ou era a tentativa de casarmos a Aurora
de Geografia, que nós lhe chamávamos a Aurorinha... No fundo, quando nós
entrávamos depois de almoço naquela Sala de professores, que aquilo era
um gelo, cada grupo para seu lado, aquilo parece que se comiam uns aos
outros, as convicções a nós não nos interessavam, porque nós
funcionávamos muito na base do "nós não matámos ninguém". Portanto, isto
ao nível do ambiente penso que houve uma certa mudança. Eu tinha como
responsabilidade o pessoal e os alunos e o S.A.S.E.. A nível do S.A.S.E.
aquilo foi quase de controle entre o Sr. Lança Pereira e o Sr.
Veríssimo, que não se davam lá muito bem, cada um tinha as suas ideias e
recordo-me, eu já não vinha à José Estêvão há talvez 18 anos, e qual não
foi a minha surpresa quando fui à Secretaria e ainda encontrei lá gente;
passei pelos corredores e ainda encontrei gente e estava a tentar ver se
não me conheciam, porque vinha com um familiar, um jovem, acabaram por
reconhecer-me e eu fiquei extremamente satisfeito, porque acabou quase
por ser um "passa palavra"; na altura o Sr. Herculano veio-me lembrar
uma situação que ele teve quando veio para o José Estêvão, foi ali
colocado, tinha vindo do Ultramar e há seis meses que não lhe pagavam
nada; tinha que esperar o ordenado, tinha que esperar não sei quanto
tempo; fui ter com o Sr. Lança Pereira, o Sr. Lança Pereira disse que
não pagava; fui ter com o Sr. Veríssimo (hoje ia preso) e disse-lhe:
"tire aí verba dos alunos, pague ao homem, porque se nós precisamos do
homem para termos os alunos com refeições, com subsídios e com apoios,
se não temos homem, porque não tem comida, então nessa altura isto
funciona pior, claro"; passado algum tempo solicitou-se para Lisboa o
pagamento, veio a verba e então ele repôs o dinheiro correspondente.
Lembro-me de outras coisas, por exemplo, a questão
daquela sala de alunos, daquela grande, na altura, isto era quase como
que uma iniciativa da Amélia, a Amélia dava uma certa prioridade à
alimentação, e os alunos tinham que ou beber sumos ou beber qualquer
coisa que lhes fizesse bem à saúde e leite era muito bom; então nós
arranjámos um processo: criámos ali aquela sala misto de estudo e de
bar, não sei se agora ainda continua com as mesas de estudo, mas na
altura
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havia muitos alunos que iam para ali trabalhar; bem, o que é certo é que
na altura nós ficámos surpreendidos com o desafio, porque nós pusemos o
copo de leite penso que a um escudo ou a uma coisa quase simbólica e o
que acontece é que muita gente começou a consumir leite no bar dos
alunos; portanto é quase a mesma coisa que "todo o burro come palha
desde que ela seja preparada e a saber a queijo"!
Outra coisa que realmente me agradou, eu vivi a 100%
aquele período e gostei! Acho que a gente, os alunos são aquilo que nós
tivemos a sorte ou não de ter família e ao mesmo tempo de termos amigos
no momento próprio para nos estimularem, para nos darem exemplos e nós
sermos capazes de assimilar; se calhar aceitamos mais, por isso é que eu
digo que se é sorte ter família também é muita sorte ter valores.
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