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        Nelson Martins Mota 
        
        
          
        
        
        Cheguei à Escola José Estêvão em Setembro 
        de 1976. Era colega de grupo do Lapa. Passado menos de um mês, ele vem 
        ter comigo e diz-me que eu tinha de integrar uma lista com ele para o 
        Conselho Directivo. Eu respondi: "então eu fiz estágio no ano passado, 
        venho para dar aulas e tu convidas-me para uma lista? Nem penses!". Mas 
        os argumentos dele convenceram-me. 
        
        
        As lutas entre grupos de alunos e as suas 
        dificuldades de relacionamento estendiam-se também aos professores. 
        Havia mesmo colegas que tinham receio de entrar na sala de professores 
        por não saberem a que grupo se deviam juntar. Existia um pequeno grupo, 
        com a sua ideologia política própria que, segundo o Lapa, conseguia 
        cansar os outros até ficar sozinho e tomar então as decisões 
        pretendidas. Com uma ideia de liberdade mais generalizada e mais 
        respeitadora de opiniões diferentes, esta situação impressionou-me e 
        levou-me a aceitar o desafio: "Sim senhor, eu sou capaz de integrar uma 
        lista que se oponha a essas radicalizações de 
        / 
        42 / opinião, para que não 
        se formem guetos dentro da Escola." 
        
        
        Em Dezembro, estávamos no Conselho 
        Directivo: Aurélio, Parada, Lapa, Otília Osório e eu. Foi a primeira 
        lista eleita segundo regras definidas pelo Ministério e esteve em 
        exercício durante dois anos. 
        
        
        Lembrando o que o Remédios disse 
        anteriormente, durante esses dois anos o centralismo era enorme. Nada 
        podíamos fazer sem o consultar; nem mesmo resolver dificuldades 
        elementares. Era uma força centralizadora. Assim, apresentámos o nosso 
        pedido de demissão. 
        
        
        Apesar de considerarmos justas as nossas 
        razões, fomos obrigados a levar o mandato até ao fim. 
        
        
        A partir de certa altura começou a ser 
        cada vez mais difícil formar listas para Conselhos Directivos e caiu-se 
        nas eleições nominais. Ninguém queria assumir essas funções. O professor 
        mais votado é que escolhia os restantes elementos da equipa que consigo 
        trabalharia. 
        
        
        Em 1981, passei por essa mesma situação. 
        Estava na Vereação da Câmara de Aveiro e deixei-a ao fim de dois anos, 
        para presidir a um desses Conselhos Directivos, depois de o meu nome ter 
        sido votado pela maioria dos meus colegas. Apesar de contrafeito, 
        aceitei. 
        
        
        Por "amor à arte", para que a nossa 
        escola funcionasse com o mínimo de condições e para que todos se 
        pudessem relacionar sem receios, aceitei participar nesses Conselhos 
        Directivos. 
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