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4ª Série - Número 3 - Dezembro de 2000 - pp. 41-42

 

Nelson Martins Mota

 

Cheguei à Escola José Estêvão em Setembro de 1976. Era colega de grupo do Lapa. Passado menos de um mês, ele vem ter comigo e diz-me que eu tinha de integrar uma lista com ele para o Conselho Directivo. Eu respondi: "então eu fiz estágio no ano passado, venho para dar aulas e tu convidas-me para uma lista? Nem penses!". Mas os argumentos dele convenceram-me.

As lutas entre grupos de alunos e as suas dificuldades de relacionamento estendiam-se também aos professores. Havia mesmo colegas que tinham receio de entrar na sala de professores por não saberem a que grupo se deviam juntar. Existia um pequeno grupo, com a sua ideologia política própria que, segundo o Lapa, conseguia cansar os outros até ficar sozinho e tomar então as decisões pretendidas. Com uma ideia de liberdade mais generalizada e mais respeitadora de opiniões diferentes, esta situação impressionou-me e levou-me a aceitar o desafio: "Sim senhor, eu sou capaz de integrar uma lista que se oponha a essas radicalizações de / 42 / opinião, para que não se formem guetos dentro da Escola."

Em Dezembro, estávamos no Conselho Directivo: Aurélio, Parada, Lapa, Otília Osório e eu. Foi a primeira lista eleita segundo regras definidas pelo Ministério e esteve em exercício durante dois anos.

Lembrando o que o Remédios disse anteriormente, durante esses dois anos o centralismo era enorme. Nada podíamos fazer sem o consultar; nem mesmo resolver dificuldades elementares. Era uma força centralizadora. Assim, apresentámos o nosso pedido de demissão.

Apesar de considerarmos justas as nossas razões, fomos obrigados a levar o mandato até ao fim.

A partir de certa altura começou a ser cada vez mais difícil formar listas para Conselhos Directivos e caiu-se nas eleições nominais. Ninguém queria assumir essas funções. O professor mais votado é que escolhia os restantes elementos da equipa que consigo trabalharia.

Em 1981, passei por essa mesma situação. Estava na Vereação da Câmara de Aveiro e deixei-a ao fim de dois anos, para presidir a um desses Conselhos Directivos, depois de o meu nome ter sido votado pela maioria dos meus colegas. Apesar de contrafeito, aceitei.

Por "amor à arte", para que a nossa escola funcionasse com o mínimo de condições e para que todos se pudessem relacionar sem receios, aceitei participar nesses Conselhos Directivos.