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        José Jorge de Campos Sá-Chaves 
        
        
          
        
        
        Na sequência da intervenção feita no Encontro dos 
        dirigentes das escolas de Aveiro, organizada pelo Centro de Formação 
        José Pereira Tavares, em 8 de Julho de 1999, e no sentido de transmitir 
        de forma mais precisa e sistematizada a minha experiência pessoal, 
        apresento, conforme referi na altura, um resumo escrito das actividades 
        desenvolvidas, no intuito de contribuir para a história da gestão 
        democrática das escolas, a qual encerrava enormes potencialidades que 
        superavam de longe as debilidades que certamente todos lhe 
        reconhecíamos. 
        
        
        O meu nome é José Jorge de Campos Sá-Chaves. Exerci as 
        funções de Presidente do Conselho Directivo da Escola Preparatória João 
        Afonso de Aveiro nos anos lectivos de 1979/80 e 1980/81, tendo as 
        circunstâncias em que fui levado a assumir funções, sido no mínimo, 
        inesperadas. 
        
        
        Não tendo havido listas concorrentes ao conselho 
        directivo, facto que acontecia há vários anos naquela escola, 
        procedeu-se a uma votação uninominal entre os docentes (de acordo com a 
        legislação em vigor à data), e embora apenas tivesse regressado à escola 
        há um ano, após uma ausência de seis anos em funções de inspecção e de 
        orientação no ensino básico, fui o professor mais votado. 
        
        
        Nestas circunstâncias fui colocado perante a perspectiva 
        de assumir a presidência do conselho directivo, sem equipa de trabalho e 
        sem Programa de Acção. 
        
        
        Estes foram os dois primeiros problemas a resolver e pela 
        forma original como os ultrapassámos penso merecerem aqui uma 
        referência. 
        
        
        O completamento da equipa directiva no que se refere aos 
        restantes quatro docentes foi após a escolha por mim do primeiro 
        elemento, feita por cooptação sucessiva, respeitando os seguintes 
        critérios de base: 
        
        
        –       Capacidade de trabalho em equipa (por 
        conhecimento e experiência pessoal); 
        
        
        –       Competência profissional reconhecida; 
        
        
        –       Experiência em áreas de gestão e/ou 
        administrativas; 
        
        
        –       Representação alargada dos diferentes grupos 
        disciplinares; 
        
        
        –       Boa aceitação por docentes e funcionários 
        
        / 
        13 / 
        
        
        A escolha do representante do pessoal não docente foi 
        feita por eleição directa, de entre os seus membros, como era prática 
        nestes casos. 
        
        
        A elaboração de uma proposta de Programa de Acção, 
        abrangendo as dimensões pedagógica, administrativa, relacional e 
        cultural, constituiu um primeiro teste à capacidade de trabalho do grupo 
        e serviu para um melhor entrosamento e criação de um verdadeiro espírito 
        de equipa. 
        
        
        Ultrapassada aquela fase, foi a proposta submetida à 
        apreciação do pessoal docente e não docente com o duplo objectivo de, 
        por um lado obter os contributos de todos comprometendo-os nas 
        actividades que resultassem directamente do desenvolvimento do programa 
        e por outro legitimar a acção do Conselho Directivo enquanto colectivo. 
        
        
        Devo referir que a discussão da proposta de Programa de 
        Acção, levada a cabo em reuniões separadas de professores, pessoal 
        administrativo e pessoal, auxiliar teve um elevado nível de participação 
        e resultou em contributos importantes para o documento final o qual, 
        após reformulação, foi aprovado. 
        
        
        O Programa de Acção remetido à Direcção Geral do Ensino 
        Básico (DGEB) para conhecimento, mereceu da parte do director geral um 
        ofício em que fazia uma apreciação muito positiva do mesmo e incentivava 
        à sua concretização e avaliação final. 
        
        
        Na sequência do Programa, foi posteriormente elaborado um 
        Plano de Actividades, o qual foi igualmente aprovado pelos funcionários 
        da escola, docentes e não docentes. 
        
        
        O Programa, pelo seu carácter ambicioso, não se esgotou 
        de forma alguma no Plano de Actividades definido para o primeiro ano, 
        tendo, por isso, e pelo apoio demonstrado por colegas e funcionários, 
        decidido aceitar mais um ano de mandato, mantendo os restantes membros 
        do Conselho Directivo, com excepção de uma colega que, na sequência de 
        concurso, havia sido colocada noutra escola. 
        
        
        Considero que as condições em que se desenvolveu a nossa 
        experiência de gestão foram especialmente favoráveis, quer do ponto de 
        vista interno, apesar das dificuldades de ordem administrativa e 
        orçamental, quer externo, pela abertura à inovação e apoio demonstrado 
        pela DGEB e pela receptividade e apoio tanto da 
        
        / 14 / 
        Associação de Pais como da Câmara Municipal. 
        
        
        De entre as iniciativas desenvolvidas, permito-me 
        salientar algumas que, na época em que ocorreram, já lá vão vinte anos, 
        constituíram inovação e foram suficientemente consistentes para levar em 
        alguns casos à apropriação e posterior regulamentação pela DGEB. 
        
        
        A realização de acções de formação para docentes, 
        organizadas pela escola, durante os períodos de férias escolares, 
        registaram uma participação de cerca de 90% dos professores. A sua 
        realização foi possível lançando mão dos recursos existentes na própria 
        escola (orientadores de estágio), da colaboração de docentes da 
        Universidade de Aveiro e de formadores disponibilizados pela DGEB. Os 
        temas tratados foram Avaliação; Dinâmica de grupos; Trabalho de 
        projecto; Tecnologia educativa; Psicologia do desenvolvimento – a 
        estrutura da inteligência e perspectivas pedagógico didácticas; 
        Insucesso Escolar; Avaliação Escolar – aspectos da apreciação global. 
        
        
        Esta iniciativa correspondeu à satisfação de uma 
        necessidade sentida e manifestada pelos professores da escola que, na 
        sua maior parte (cerca de 70%), não eram profissionalizados. 
        
        
        A abertura dos seminários promovidos pelos núcleos de 
        estágio, à participação dos docentes do respectivo grupo disciplinar 
        constituiu mais uma oportunidade de formação, facilitada pelo facto da 
        escola trabalhar em regime de desdobramento, o que permitia a 
        compatibilização dos horários lectivos com o das acções de formação. 
        
        
        O planeamento anual de cada disciplina, realizado pelos 
        delegados de disciplina conjuntamente com os colegas da respectiva 
        disciplina, antes de iniciado o ano escolar e a sua articulação com o 
        dos outros grupos disciplinares, em que era programada a realização de 
        actividades conjuntas, foi uma das iniciativas inovadoras que permitiu 
        um elevado grau de dinamização da escola. 
        
        
        A organização de um colectivo dos directores de turma e 
        da sua coordenação e apoio, se não esteve na origem, pelo menos 
        antecipou a criação do conselho de directores de turma e dos 
        coordenadores dos directores de turma. 
        
        
        Após a criação do cargo de coordenador dos directores de 
        turma a escola remeteu à / 15 / DGEB uma proposta de redução de horário 
        pelo desempenho do cargo, o que veio a ser regulamentado e generalizado 
        pouco tempo depois. 
        
        
        A concepção do dossier do director de turma contendo um 
        resumo organizado da legislação e outra informação pertinente para o 
        desempenho das respectivas funções, o qual era mantido permanentemente 
        actualizado por um grupo de apoio aos directores de turma, foi 
        implementado na escola no ano lectivo 1979/80, precedendo com muita 
        antecipação a institucionalização pela DGEB. 
        
        
        A análise dos processos individuais dos alunos que 
        transitavam do 1.º para o 2.º ciclo do ensino básico, solicitados às 
        escolas de onde provinham e a sua análise, tendo em vista a recolha de 
        dados pelo director da respectiva turma, veio proporcionar um melhor 
        conhecimento de cada aluno e despistar casos especiais ainda antes de 
        iniciado o ano escolar, com reflexos positivos na relação 
        ensino-aprendizagem. 
        
        
        A definição de critérios para a gestão das horas dos 
        directores de turma, proposta submetida pelo conselho directivo ao 
        conselho pedagógico que aprovou, foi uma das medidas inovadoras da qual 
        foi dado conhecimento à DGEB e na sequência do que surgiu o despacho que 
        a institucionalizou. 
        
        
        O estabelecimento de currículos adaptados para alunos 
        integrados numa turma de supletivos, constituída no ano de 1980/81, foi 
        o resultado de uma proposta submetida à DGEB e que mereceu a aprovação 
        daquela Direcção Geral. Esta medida teve efeitos muito positivos no 
        sucesso escolar dos alunos envolvidos. 
        
        
        A análise dos resultados da avaliação após cada período 
        lectivo, feita por um grupo de trabalho e incidindo sobre cada turma e 
        sobre cada professor relativamente ao conjunto das suas turmas (proposta 
        apresentada pelo conselho directivo e aprovada pelo conselho 
        pedagógico), resultou na evidência de disparidade nos critérios de 
        avaliação aplicados em alguns casos, que pelo simples facto de terem 
        sido detectadas levaram à alteração de atitudes e comportamentos de 
        alguns docentes, com reflexo positivo nas avaliações dos períodos 
        seguintes. 
        
        
        A escolha e afixação da relação dos livros adoptados e do 
        material escolar necessário a cada disciplina, antes do início das aulas 
        (sendo enviada uma relação a todas as livrarias e papelarias da cidade), 
        foi implementada desde o primeiro 
        
        / 16 / 
        mandato antes portanto da DGEB ter regulamentado a mesma medida. 
        
        
        A recepção aos encarregados de educação por equipas de 
        professores, aproveitando a obrigatoriedade administrativa de vinda à 
        escola para confirmação da matrícula, antes de iniciado o ano escolar, 
        possibilitou contactar a quase totalidade dos encarregados de educação 
        dos alunos do 1.º ano (actual 5.º ano), permitindo detectar casos 
        especiais, os quais foram alvo de entrevista individual. Serviu 
        igualmente para aproximar os pais e a escola, e em particular 
        desbloquear as relações com o director de turma, dando simultaneamente a 
        conhecer o funcionamento da escola e dos diferentes serviços de apoio 
        aos alunos. 
        
        
        A realização de acções de formação para o pessoal 
        auxiliar (actualmente designado por auxiliar de acção educativa) foi 
        considerada uma das prioridades e levada a efeito durante os períodos de 
        férias lectivas imediatamente antes do início dos anos escolares. 
        
        
        O baixo nível de escolarização do pessoal e o facto de 
        nunca ter tido qualquer tipo de preparação para uma relação de carácter 
        educativo com crianças e jovens, foi razão mais do que suficiente para 
        justificar a iniciativa, cujos resultados não tardaram a tornar-se 
        evidentes. A Comunidade escolar e a acção educativa: o pessoal auxiliar, 
        seu relacionamento e acção junto dos alunos; Características 
        psicológicas do pré-adolescente: comportamento do adulto perante o 
        pré-adolescente; foram os temas tratados com os necessários cuidados, 
        quer quanto ao nível da linguagem, quer da profundidade dos temas, 
        respectivamente nos anos lectivos 1979/80 e 1980/81, com o apoio de 
        docentes da escola. 
        
        
        Com o apoio da Associação de Pais e a colaboração da Cruz 
        Vermelha Portuguesa (CVP), tendo por objectivo aumentar as condições de 
        segurança da escola e de apoio aos alunos em caso de emergência, 
        realizou-se um curso de formação de socorristas, no qual participaram 
        docentes e funcionários e que culminou, após prestação de provas, com 
        atribuição de diplomas de socorrista da CVP. 
        
        
        A implementação de recreios vigiados, com recurso ao 
        pessoal auxiliar, e a colaboração de alguns professores, surgiu em 
        consequência da constatação do elevado número de acidentes e de 
        conflitos ocorridos durante aqueles períodos, constituindo uma medida 
        inovadora com evidentes benefícios para os alunos e 
        
        / 17 / 
        reflexos no clima da escola. 
        
        
        A criação do jornal "Moliceiro "com periodicidade 
        trimestral visando a dupla função de meio de acção pedagógica e de elo 
        de ligação escola/família, cuja publicação se mantém até hoje, dispensa 
        qualquer outra justificação. 
        
        
        A programação e realização de uma série de conferências 
        sobre um tema que congregasse o interesse de pais, encarregados de 
        educação e professores, capaz de dinamizar as relações Escola/Família 
        encontrou a sua objectivação no tema geral 
        
        
        
        A Educação Sexual na Escola. 
        
        
        Esta iniciativa proposta pelo núcleo de estágio do 5.º 
        grupo tinha como objectivo alertar os pais para a premência do 
        esclarecimento dos jovens em fase pré-púbere e da necessidade de se 
        encontrarem formas articuladas de o fazer, entre a família e a escola. 
        
        
        As conferências intituladas, Axiologia e Sexualidade, 
        pelo Dr. Fernando Vieira, a Medicina e o Sexo, pelo Dr. Moreira Lopes, a 
        Psicologia da sexualidade e a Sociologia da sexualidade, pelo Prof. 
        Doutor Miranda Santos, a que se seguiu uma mesa-redonda sobre A Educação 
        Sexual na Escola com a intervenção dos Prof. Doutor Walter Oswaldo da 
        Universidade do Porto, Prof. Doutor Miranda Santos da Universidade de 
        Coimbra, Prof. Doutor Meireles Coelho da Universidade de Aveiro, Dr.ª 
        Marília Tomé da DGEB e do Padre Vítor Feitor Pinto, foram iniciativas 
        que mobilizaram não só pais e professores da escola como muitas outras 
        pessoas ligadas a certos círculos bem caracterizados e constituiu pela 
        polemicidade do tema e pela qualidade científica e pedagógica das 
        intervenções um marco na vida da Escola, com enorme repercussão na 
        cidade. 
        
        
        Um dos objectivos do programa de acção reflectido nos 
        planos de actividades e que à época constituiu um dos maiores factores 
        de novidade pela sua aplicação à organização escolar foi o da melhoria 
        do clima da escola. Baseado no conceito de clima definido pela 
        Sociologia das Organizações constituiu uma das preocupações principais 
        da acção do conselho directivo, durante os dois anos em que conduziu os 
        destinos da escola, e que se encontra reflectido em algumas das 
        iniciativas atrás descritas e em muitas outras que as limitações deste 
        testemunho não 
        
        / 18 / 
        permitem descrever. 
        
        
        Passados dois anos, considerámos haver cumprido com 
        dignidade o mandato que os colegas nos haviam confiado, pelo que 
        entendemos não nos candidatar nem aceitar nova indigitação, cedendo o 
        lugar a outros com novas ideias e iniciativa e eventualmente com maior 
        capacidade de concretização. 
        
        
        Por muito gratificante que tenha sido o desempenho de 
        funções de gestão, o que nos motiva e apaixona, e para o que nos estamos 
        científica e pedagogicamente preparados é a docência, por tal, sentimos 
        necessidade de a ela regressar. 
        
        
        Não posso terminar sem testemunhar, nesta oportunidade, 
        que o trabalho realizado foi o resultado do esforço de uma equipa e 
        manifestar público reconhecimento àqueles que me acompanharam naquela 
        jornada: Professores Maria Beatriz Correia de Melo, Maria da Graça 
        Amorim, Padre Albino Rodrigues de Pinho, Maria Eugénia Carvalho e Maria 
        Helena Albuquerque Tavares e ainda à representante do pessoal não 
        docente Maria Suzete Lemos Matos Carvalho Reis. 
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