Os arredores de Águeda são formosíssimos. Numerosas são
as excursões que se podem fazer em torno dela, já através da Bairrada,
já para montante, para a parte caramulana do concelho. Os contrastes são
enormes, segundo se segue uma ou outra direcção. Dum lado, são as
planícies ubérrimas, ridentes, e os terrenos levemente outeirados que
caracterizam a região de Aveiro ou a Bairrada: do outro, para os lados
de Bolfiar e Castanheira do Vouga, é a paisagem morena e áspera de sabor
alpestre, inteiramente diferente dessas verdejantes e luminosas baixas.
No que toca a trechos de arte, só merece menção especial
a igreja da Trofa do Vouga, dentro da qual se encontra o chamado panteão
dos Lemos, duma riqueza excepcional de decoração (pág. 377).
1.º –
À Pateira de Fermentelos e a Oliveira do Bairro,
por Recardães
(1)
(12,8 km. Sul-Sudoeste a Oliveira do Bairro, pelo ramal da E.N.
n.º 40-2.ª até Oiã, e de Oiã em diante por essa estrada; a 5 km à
Ponte de Perrães, ponto de acesso da Pateira).
Passada a ponte de alvenaria, de 5 tramos (71 metros),
que transpõe o rio Águeda junto da vila, deixa-se a E.N. n.º 10-2.ª na
orla Sul do vale e para se subir a ladeira de Recardães. Da
primeira curva da subida a 1 km, tem-se um belo ponto de vista sobre a
vila e a serra do Caramulo. Logo ao pé (1,3 km) encontra-se
Recardães,
povoação muito antiga, que foi vila e sede de concelho com juiz de fora.
Na igreja matriz, construída em 1709, em substituição duma outra de que
há notícia desde o século XI (cfr. Serafim Soares da Graça, A
igreja de Recardães, 1938), são dignos de nota a Torre de três
faces, forma rara, e, interiormente, a tribuna, de boa talha, e o
* sacrário com pequenos quadros pintados sobre cobre,
figurando os passos da vida de Cristo. A talha profusa é do século XVIII.
Próxima, a casa solarenga da Quinta da Póvoa, com capela do
século XVII, da família de D. Fernando Tavares e Távora.
A 4 km,
Piedade,
donde parte, à esquerda, uma estrada municipal para (1,6 km SE.)
Paradela e outra à direita para (1,2 km Norte) EspinheI.
Nesta freguesia, banhada pela Pateira, residiu o escritor
seiscentista D. Francisco Manuel de Melo, que é dos grandes
clássicos, tanto da literatura portuguesa como da castelhana, e teve a
respectiva igreja como comendador da Ordem de Cristo. Alguns livros seus
são datados daqui; e sabe-se, por um assento lavrado em um dos registos
da mesma igreja, que ele fez em 4 de Julho de 1645 oferta de uma lâmpada
de prata a este templo. Perto, fica o solar dos Pintos, do século XVII
(interessante portal brasonado e capela da mesma época). Do Espinhel
parte um caminho de cerca de 2 km Norte-Noroeste, para Óis da Ribeira,
freguesia também limítrofe da pateira, entre ela e o Águeda. A estrada
desce depois em apertado vale até à
/ 576 /
lagoa, cujas águas se distinguem, brilhando por entre o arvoredo.
Depressa se chega ao fundo, ladeando cortinas de mimosas, salgueiros e
amieiros (pág. 560).
Prosseguindo, vê-se no alto o lugar de
Paradela,
distinguindo-se, entre as moradias humildes, a casa que foi do arcebispo
de Braga D. Manuel Baptista da Cunha, que ali teve seu berço.
Vencida uma pequena ladeira, chega-se a
Perrães.
Em seguida,
Silveiro
e
Giesta.
Surge, a breve trecho, a vila de
Oliveira do Bairro
(pág. 468), um dos centros da típica região da Bairrada (pág. 431).
A igreja matriz, de feição singela tem, interiormente, um
bom arco cruzeiro em calcário de Ançã, com decorações e alguma obra de
talha. Nos dois altares colaterais apresenta algumas pinturas e duas
esculturas estimáveis do séc. XVII, uma Virgem e um S. Sebastião,
estofadas, coloridas a ouros e outros matizes, de tons já esbatidos.
2.º –
À
Mealhada (22,7 km Sul, pela E.N. n.º 10-1.ª).
A 700 metros passa-se, à vista da vila, ao
Sardão,
sítio ligado à história da terceira invasão napoleónica, pois foi para
aí que se retirou o exército de Massena depois de ter sido repelido no
Buçaco e efectuado a manobra do Boialvo (pág. 452). À esquerda,
uma estrada municipal leva à
Borralha,
pequena povoação fronteira à vila com o magnífico solar dos
condes desse título, rodeado de um frondoso parque em estilo inglês, no
qual há a admirar uma formosa alameda de palmeiras de alto porte,
todas vestidas de hera, e uma mata de bambus grossos e
enormes, alguns com mais de dez metros de altura e que formam uma
pequena jungla impenetrável, talvez única na Europa. O que torna notável
esta plantação (que, bem entendido, está longe de competir com o
palmeiral de Elche, com o seu milhão de palmeiras) é a espessura do
maciço, altura e regularidade das árvores e a beleza singular da avenida
que elas formam. – A estrada, depois de contornar o muro da quinta
solarenga, é acompanhada de modestos hortedos e courelas. A 4,2 km, uma
estrada conduz, à direita, a dois quilómetros, a
Barrô,
de onde se colhe uma bonita vista sobre o vale do Cértima,
particularmente ampla do terraço da residência do dr. António Breda. –
5,3 km, estrada, à direita, para Aguada de Cima (a 2,5 km.
Sudeste), cuja igreja possui um púlpito executado por artistas
franceses, lavrado com florões e figuras em pedra de Ançã. A
Universidade de Coimbra era a donatária da terra, que, por isso, possuía
um pelourinho com a figura da deusa da Sabedoria. Segue-se uma grande
recta entre pinhais, deixando-se a vista do vale de Águeda. A curta
distância uma da outra, transpõe-se a Ponte de Pedrinha e a
Ponte da Lendiosa. (Paisagem agradável colhida da primeira,
avistando-se ao fundo os vinhedos e arrozais de Oliveira do Bairro).
Atravessa-se a povoação de
Avelãs
do Caminho,
em cujas veigas desembocaram com esperança renascida as forças exaustas
de Massena, após a celebrada marcha nocturna de Boialvo. São mais
acentuados, à medida que se vai andando para o Sul, os traços da
paisagem bairradina. Os olivais e as vinhas revezam-se sem descanso. À
direita, estrada para Mogofores (pág. 467), à esquerda, para a
Anadia (pág. 460). A linha férrea do Norte corre ao lado.
Ultrapassada a estância da Curia (pág. 466), está-se em breve na vila da
Mealhada (pág. 465).
3.º –
A
Paredes de Guardão, no Caramulo (36,2 km Este pela E.N. n.º 39-2.ª).
A estrada, que coleia do vale do Águeda, a montante da
vila e a pouca distância da sua margem direita, depressa oferece belos
relances de paisagem serrana. O contraste é flagrante. Passa-se quase
sem transição duma ridente paisagem de milharais e de relvados para um
cenário severo de montanha. O rio principia a torcer-se, apertado entre
colinas pedregosas (xistos pré-câmbricos) de tonalidade sombria.
Transposto, na
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ponte de Bolfiar, o rio Alfusqueiro, entra-se em (5,4 km)
Bolfiar. Aqui principia verdadeiramente a ascensão da serra. (Para
continuar, ver Serra do Caramulo).
4.º –
Ao
Luso (40 km. Sul-Sudeste pela E.N. n.º 39-2.ª e E.N. n.º 41-2.ª).
[Pela Mealhada (ver excursão anterior) o percurso
é mais breve e cómodo, mas não tão pitoresco].
Sobe-se primeiro pela estrada que conduz ao Caramulo até
Bolfiar (6 km). Aqui toma-se a direcção Sul pelas faldas da serra;
passada a povoação de Belazaima (14 km), pisa-se o histórico terreno de
Boialvo
(1,8 km.), tão ligado à terceira aventura napoleónica em Portugal. Pela
direita, uma estrada municipal desce a Avelãs do Caminho, sugerindo o
rumo que precisamente aqui tomou o exército francês, à procura da
planície; à esquerda, divisam-se as quebradas donde ele desceu, dos
lados de Pala (ver Excursões de Mortágua). Duas léguas andadas
passa-se pela estância do Vale de Mó (pág. 455-464) e contemplam-se
alguns ridentes aspectos da Bairrada. Ao fundo, branqueja a Anadia (pág.
460). A estrada contorce-se sem descanso nas dobras dos declives, em
curvas, por vezes exigentes de atenção, se se viaja depressa. Alguns
relances têm certa beleza silvestre. Transposta a ponte de AIgeriz,
chega-se em breve ao Alto do Candoso (limite do concelho de
Anadia) donde se descobre a grandiosa massa verde do Buçaco. Logo em
baixo, entra-se (40 km) na estância do Luso (pág. 454), pela formosa
Fonte do Castanheiro.
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(1)
–
Informações do sr. dr. Soares da Graça.
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