Se o percurso da estrada da Barra (pág. 523) é essencial
para se conhecerem os aspectos da região de Aveiro que mais directamente
se prendem com a ria, importará – para apreender a paisagem do Baixo
Vouga, em todo o encanto da sua luz, na zona em contacto menos directo
com a laguna – fazer o passeio de Angeja ou o da Ponte da Rata, lançada
sobre o rio Águeda, junto da sua confluência com o Vouga, e daí subir ao
miradoiro de Almear (a chamada Varanda de Pilatos) donde se
contempla um formoso aspecto da pateira de Fermentelos. Daí à bonita
vila de Águeda são 8 km. Desejando-se apenas ter a vista da varanda
e regressar a Aveiro, renovar-se-á o interesse da volta, passando para a
margem direita do Vouga em S. João de Loure e tomando, em Angeja, a E.N.
n.º 8-1.ª (pág. 544).
Deixa-se Aveiro, seguindo primeiro pela E.N. n.º 8-1.ª
que passa ao lado da capela do Senhor das Barrocas (pág. 495) e logo
transpõe a linha férrea do Norte.
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Atravessa-se a povoação da
Esgueira,
hoje a bem dizer, um bairro da cidade (pág. 543).
A sua igreja paroquial é da traça de Domingos Vieira,
tendo sido continuada pelo «mestre de pedraria» Jorge Afonso (1617), que
no ano seguinte trabalhou na Misericórdia de Aveiro (pág. 479). Em sítio
desconhecido, nesta igreja, foi inumado o grande humanista e preceptor
dos irmãos de D. João III, Aires de Barbosa.
Em vez de continuar pela E.N. n.º 8-1.ª, em direcção a
Angeja (p. 544), corta-se à direita, pela E.N. n.º 39-2.ª que em breve
se embrenha nos pinhais, acompanhando de perto a linha férrea do Vouga.
– 7,6 km
Eixo,
antiga vila (foral manuelino de 1516), sede de concelho em 1834, extinto
em 1853, hoje centro de cultura e preparação de chicória para café
(várias estufas). Feira no dia 3. Estação de caminho de ferro à esquerda
da povoação (pág. 382).
Foi numa carta escrita em Eixo, em 1372, que D. Fernando
tornou público o seu casamento com Leonor Teles. É a terra natal de
Sebastião de Carvalho e Lima, pai de Sebastião e Jaime de Magalhães
Lima. Este último viveu aqui perto, na sua Quinta de S. Francisco, «em
um sítio de rara beleza de paisagem – como ele escreveu – em uma planura
não muito extensa, encastelada no cimo de ribas altas, cortadas de
pedra, quase a prumo, sobre o rio.» As ribas altas a que se faz
referência são as escarpas de arenitos triássicos e cretácicos,
vermelhos e bastante duros, em estratificação horizontal, das margens do
Vouga, que formam o material quase exclusivamente empregado nas
construções da região.
Depois da povoação segue-se ao lado da linha férrea,
vendo-se, à esquerda, o vale planificado do Vouga, ora coberto de
milharais, ora completamente alagado de água, sendo, neste caso, como
uma reminiscência do braço marinho que teria sido, ainda por alturas do
século XI, quando havia salinas à volta de Alquerubim (pág. 500). À
direita da linha férrea e da estrada, observa-se o vale secundário,
também inundável, das
Arnelas.
Um sistema valvular de pequenas comportas de madeira
aplicadas aos vãos dum pontão da estrada, próximo da passagem de nível,
impede, por ocasião das cheias, a irrupção brusca das águas do Vouga na
várzea alagadiça de ArneIas; somente se abrem, automaticamente, quando o
nível das águas vindas do Sul coincide com as do rio.
No Verão as rãs tagarelam todo o dia e toda a noite nos
charcos de água verde que ficam no meio dos campos. De manhã, os
outeiros, cobertos de arvoredo são a distracção livre das rolas, dos
gaios e mil outros seres que fruem a felicidade, sombreada de angústia,
do instante.
Na orla Norte do vale, desde a povoação fronteira de S.
João de Loure até aos fundos de Angeja, é uma franja contínua de
folhagem. Encontramo-nos, dentro de pouco, entre as quatro pontes
metálicas lançadas à esquerda,
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sobre o rio e o extenso campo por ele inundável e o apeadeiro da linha
férrea que serve, por intermédio delas, a primeira povoação.
São as chamadas pontes de
S.
João de Loure
ou de Francisco Matoso (pág. 560), que contribuiu com a sua
influência política, para a sua construção.
Vale a pena meter à esquerda, até ao extremo da
perspectiva rectilínea dessa boa obra de engenharia, aformoseada por
duas alamedas de enormes eucaliptos, plantados no bordo dos aterros,
intercalados. É a terceira passagem sobre o Vouga, a partir da sua foz,
depois de Cacia e Angeja. Compõe-se, a partir do Sul, de um pontão
metálico de 4 tramos (a ponte das Arrotas), lançada sobre a
Vala do Rosário, com 69 metros de comprimento (construído em 1895);
uma avenida de 166 metros de eucaliptos e austrálias; um segundo pontão
metálico, de 4 tramos, de 68 metros (ponte da Vagueira), lançado
sobre os campos alagados, quando as águas vão altas; outra alameda,
sobre um aterro de 221 metros, e finalmente duas pontes contíguas,
metálicas, de estrutura diferente, a primeira lançada sobre o leito do
Vouga, com 11 tramos de 159 metros e a última, de um tramo recto de 44
metros sobre o Poço do Ferro (margem direita), meandro profundo
do rio.
Logo ao pé é a povoação de S. João de Loure. Na freguesia
há dois jazigos de caulino nos locais denominados Horta e
Horta n.º 2, cuja lavra se faz a céu aberto, concessão da fábrica da
Vista Alegre (produção em 1932, 1008 toneladas).
Retrocedendo à estrada de Águeda, acompanha-se de novo a
linha férrea, contornando a base da escarpa de pedra vermelha de
Eirol.
A povoação deste nome encontra-se à direita, a 1 km, sobre as ribas. Uma
estrada municipal
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liga-a (3,6 km.) a
Requeixo,
aldeia edificada a dois passos das margens da pateira de Fermentelos e
perto da qual se conserva uma mamoa.
A poucos metros da estação de Eirol, transpõe-se o rio
Águeda pela
ponte
da Rata,
centro de uma harmoniosa paisagem (71 metros de comprimento, arcos de
alvenaria, construída pelo eng.º Silvério Pereira da Silva em 1866 sobre
os fundamentos de outra). É um pouco a jusante desta ponte que o rio
Vouga, depois de descer o espaçoso vale de Alquerubim, se encontra com o
rio Águeda e muda bruscamente, por imposição da falésia de Eirol, de
direcção. Ao cabo da ponte, no começo da ladeira do Almear, há uma
estrada municipal que permite, no Verão, seguir o vale do Vouga até
Segadães e Trofa. No Inverno as cheias tornam pouco aconselhável e mesmo
impraticável esta digressão. A montante vê-se a ponte metálica de
Requeixo, da linha férrea do Vale do Vouga, a pouca distância da qual o
rio Águeda recebe as águas do Cértima e da pateira de
Fermentelos.
Ao cimo da ladeira sinuosa de Almear, faz-se alto (a 13,6
km) na
Varanda de Pilatos.
Daí se abrange, num olhar, ao Sul, um aspecto surpreendente da
pateira de Fermentelos e a Oeste, o vale do Vouga em uma extensão de
seis quilómetros. É um * panorama de grande originalidade
e suavidade de linhas.
A partir de (14,8 km) Travassô, a estrada
segue, pela encosta, deixando ver, de vez em quando, alguns trechos do
vale do Águeda. Descobre-se, a nascente, o vulto do Caramulo, que se
aproxima. Mas o que prende mais é a cor e a intimidade rústica dos
campos humedecidos pelo afluente. Atravessada a linha férrea do Vouga,
entra-se, a 21,5 km, por uma alameda, em
Águeda ...
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