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        DEPOIMENTOS DOS ALUNOS – ANO LECTIVO 1997/1998 
        
        
        – 
        Turma 12.º K 
        
        – 
        
          
        
        
        ANDRÉ MARQUES – 18 ANOS 
        
        
        
         É fundamental começar por dizer que OED operou uma 
        transformação enorme em mim. Essa transformação, assim como as emoções 
        vividas e sentidas são indescritíveis. Se calhar, foi por isso que me 
        foi tão difícil dar o passo para este balanço de dois anos. O balanço é 
        positivo, e o meu medo deste balanço é desculpável. No fundo, é o 
        princípio do adeus e da rotura com pessoas que me fizeram muito bem, 
        especialmente o "orientador". Descanso a cabeça no braço e começo a 
        rever tudo..., desde a primeira aula, na qual estava petrificado sem 
        saber a razão de estar ali nem o que iria fazer! É com grande emoção e 
        pesar que me apercebo que OED não foi para mim uma disciplina, mas sim 
        uma "casa dentro da escola”. Não dei conta do tempo passar e sinto-me 
        constrangido por não ter dado mais de mim aos outros, por não ter sido 
        mais responsável e por não ter feito mais e melhor. O Duarte sempre nos 
        soube guiar, tendo como único senão (talvez), a demasiada liberdade que 
        nos deu logo no início e que depois não conseguiu tirar. Quem sabe, ele 
        também esperava que nós fôssemos mais responsáveis no que nos 
        propúnhamos fazer. Agora vejo, sinto nas entranhas a essência daquele 
        espaço, que sinto só meu, que me é familiar, no qual vivi e revivi 
        sozinho, com o Duarte e com os amigos que ficámos a ser, tantas emoções, 
        algumas discussões, etapas do crescimento de cada um. OED tem e teve 
        capital importância no aprender a amar o colega, a ser "homem' (com 
        algum medo inerente à sociedade em que estamos), aprender a criar um 
        outro ser vivo dentro de nós, que também vê, sente e fala, mas que o faz 
        de outra maneira... De certo modo, sinto-me frustrado por várias razões, 
        sendo as principais: – esperei um pouco demais das pessoas e da 
        disciplina, porque a meus olhos tudo sempre foi possível de realizar com 
        boa vontade, mas os obstáculos que as pessoas têm e põem à sua frente, 
        tapam-lhes a vista, deixando de acreditar – não são censuráveis, apenas 
        limitadas!; – por outro lado, sei que colegas meus, no seu acanhamento e 
        simplicidade, não compreenderam a face última deste espaço que vibrou 
        com as nossas "aulas”, não viram o que de grandioso e sublime tem a 
        criação momentânea que nasce em cada um de nós ao entrarmos noutra 
        personagem, ao "fazermos teatro”! Houve falhas, principalmente a nível 
        do rigor – penso eu – e penso também que poderíamos ter sido muito 
        melhores e chegado onde alguma vez se ousou chegar. Eu, como é óbvio, 
        não estou fora das críticas nem dos elogios, mas no fundo percebi que 
        OED não era uma disciplina e que o Duarte não era só um professor. É 
        preciso salientar que nunca antes tivera uma relação de partilha e 
        verdadeira amizade com um professor (amizade deveras criticada por 
        pessoas alheias ao grupo e do grupo, cujas críticas acatei mas logo 
        ignorei), tornando-se este, pouco a pouco, um grande amigo que nunca 
        esquecerei, pelas suas palavras experientes e oportunas... – sim Duarte, 
        tu ajudaste-me bastante e fizeste-me aperceber de coisas que, sem ti, me 
        teria apercebido tarde demais... OED é uma disciplina jovem como eu, 
        acompanhou uma parte bastante importante da minha vida, a adolescência 
        e, tal como a vida, é efémero no momento instantâneo da aparição 
        
        
        / 42 / 
        cronometrada das coisas, assim como a juventude, deixando 
        automaticamente de o ser quando o tornamos parte integrante de nós e o 
        revivemos em cada instante, e o tornamos a reviver mais tarde, 
        recordando OED... Vivemos grandes momentos, amo ainda agora cada um de 
        VÓS, que me "sabem" no vosso íntimo, ficarei sempre grato ao Duarte 
        pelos conhecimentos e experiência que nos transmitiu ao longo destes 
        dois anos. Recuso-me incessantemente a dizer "adeus", até porque estarei 
        com OED no próximo ano, mas infelizmente não com vocês, turma – é 
        bastante provável que me achem medíocre ou demasiado profundo no sentir 
        das coisas, mas só quem vê é que percebe o que sinto, pois também o 
        sentiu! É também importante salientar que OED integra um conjunto de 
        indivíduos que merecem aqui um espaço especial: – é-me impossível deixar 
        de começar pelo Nílton, a personalidade mais forte, sensata e sensível 
        do grupo. Grande voz a tua, espelho teu... Grandes voos te esperam. 
        Presto-te um tributo merecido pela tua coragem, pelo teu espírito de 
        ajuda, pelo teu lugar que tão bem soubeste marcar ao longo destes anos – 
        sempre foste exemplar e serves de modelo para mim, pela tua maneira 
        simples de encarares o mundo; – depois a Joana, que neste segundo ano 
        não esteve entre nós, uma pessoa bastante forte / frágil, de ideias 
        fixas, sempre soubeste muito bem o que querias e essa astúcia 
        caracteriza-te muito bem. És bastante perspicaz e marcaste-nos a todos – 
        admiro a tua força e determinação; – depois a Vera e a Tatiana, as quais 
        não pude separar por se completarem muito bem. Na Vera admiro a sensatez 
        mas critico a impulsividade; na Tatiana, com o seu riso, espectro da 
        alegria interior que tens em viver, admiro a tua submissão, o teu 
        espírito de sacrifício, a criança sempre acordada que há em ti (não sei 
        se já a viste), e nas duas admiro a amizade com que sempre souberam 
        cativar nas pessoas; – a Sara, caladinha, cuja evolução admiro muito ao 
        longo destes dois anos, aqui te alumio, solta mais esses cabelos e o 
        restante que tanto medo tens de "soltar". Vive intensamente todos os 
        instantes – admiro o teu rigor e a tua aparente resignação; o Ivo 
        espantou-me enormemente, não estava à espera de tanto talento 
        (infelizmente desperdiçado de tanto "tá-se bem"). Admiro-te pela forma 
        pela qual encaras a vida, mas critico-te pela agressividade com que 
        tratas os outros, especialmente quem mais te ama; – o André conseguiu ao 
        longo destes dois anos crescer mais e impor-se mais como ser respeitado 
        no seio do grupo, admiro a tua força e persistência. Critico-te porque 
        és um livro aberto e isso prejudica-te. É também importante dizer que 
        precisas de adquirir mais calma interior e ser menos brusco. Tens um 
        coração bom, demasiado propício a amores infortunados, mas um dia sai-te 
        a sorte grande. É preciso acreditar mais no teu retrato, porque hoje já 
        procuram ouvir a tua opinião; a Dina, sensível e alegre, é-lhe 
        criticável alguma falta de rigor latente no trabalho que desenvolve. 
        Poderias abrir-te e dar-te um pouco mais aos outros. Relembro a tua 
        vivacidade e admiro o teu coração forte e especial, capaz de aguentar 
        “mil amores". Nunca vincaste a tua personalidade no seio do grupo por 
        seres como um "diluente de união". Vejo-te bela e atraente por dentro e 
        por fora. Admiro a simplicidade inata em ti e critico a forma apressada 
        de viveres as coisas, sem as saboreares com o devido tempo e sem lhes 
        dares a devida importância; o Jaime e a Sónia, par castiço que este ano 
        não figuraram na turma. O Jaime, simples e gozão, "deixa andar" e 
        bonacheirão. A Sónia, alegre, perversa, tenaz e misteriosa. Admiro os 
        dois pela sensatez e sinceridade. Alheiam-se facilmente do resto do 
        grupo, mas nós sabemos que café com leite é uma mistura irresistível; a 
        Susana, cuja alegria vibra no brilho do olhar que transparece o céu num 
        dia luminoso, admiro a verdade que há em ti. / 43 / Critico a 
        superficialidade, não sei se chegaste a sentir a essência do que nós 
        vivemos (só estiveste neste grupo este ano); o Duarte, indescritível, 
        magnético e misterioso, amigo e frágil por ter grande sensibilidade, 
        essencial e verdadeiramente vivo, aquele que nos modelou ao longo deste 
        tempo todo – agradeço-te mais uma vez tudo o que fizeste por mim. O 
        Duarte nem sempre foi essencialmente correcto connosco, assim como nós o 
        não fomos com ele, tendo nós precisado de um “ser" um pouco mais 
        perspicaz em determinados pormenores, sofria menos. Sempre soube separar 
        o papel de amigo do de professor. E eu, abalado com tudo isto, mas 
        consciente de que na vida teremos sempre de contar com os amigos e com 
        as potencialidades. Uma simples inspiração é sinónima de que estamos 
        vivos, mas é preciso muito mais do que isso para provarmos que temos 
        vida cá no nosso interior – a vida é um sopro superior (DEUS) a nós 
        dentro de nós! (além do mais) O que OED fez! 
        
        
          
        
        
        DINA TEIXEIRA – 18 ANOS 
        
        
        
         Confesso que tenho vindo a sentir influência de OED nas 
        relações com a minha família, ao constatar que os diálogos melhoraram. A 
        disciplina ajudou-me a ficar mais frontal, tem vindo a desaparecer 
        aquele receio de perguntar algo considerado "tabu". A minha desinibição 
        na escola reflectiu-se na participação que este ano empreendi em debates 
        públicos (nomeadamente na Assembleia da República e no encerramento da 
        nossa Área-Escola com a Presença da Dr.ª Maria Barroso), o que era 
        impensável há dois anos atrás. Segura de mim mesma e despida de medos e 
        vergonhas, desempenhei o meu papel com segurança e confiança. Estou 
        orgulhosa de ter representado a turma e a escola para uma personalidade 
        pública e importante. Embora não aparente, sempre fui uma pessoa 
        bastante nervosa, mas tenho aprendido a controlá-los e a viver com eles 
        (os nervos). Os exercícios de relaxamento foram muito proveitosos para 
        perceber a minha "orgânica". Faço-me ouvir com a voz que intensifiquei e 
        dei vida, clareza na dicção, preparando-me no presente para tentar 
        brilhar no futuro. 
        
        
          
        
        
        IVO ALMEIDA – 18 ANOS 
        
        
        
         OED tem sido um mar navegável. Um mar navegável como 
        outros que tenho navegado. Fui ao sabor da maré e combati contra a 
        corrente. Nos dias de tempestade mais turbulentos aprendi a ajustar as 
        velas, para na noite enublada dormir no sonho confortável de amanhã ser 
        novo dia. Como mar que é, todos os dias são diferentes, todos os 
        ensinamentos impotentes para vencer a morte que tens de enfrentar (mas 
        nunca aprendes tudo). Chegado a bom porto, sinto a meta (do fim do ano) 
        muito próxima, tão próxima que vejo o cheiro do triunfo desembrulhar-se 
        nas minhas mãos... e sorrio. 
        
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        NÍLTON NUNES – 19 ANOS 
        
        
        
         (Rinpoche, Sogyal – "O Livro Tibetano da Vida e da 
        Morte") 
        
        
        «A sociedade moderna industrial é uma religião fanática. 
        Demolimos, envenenamos e destruímos todos os sistemas da vida do 
        planeta. Assinamos notas de dívida que os nossos filhos não poderão 
        pagar... Actuamos como se fôssemos a última geração sobre o planeta. Sem 
        uma mudança radical nos corações, nas mentes e nas visões do futuro, a 
        Terra acabará por ser como Vénus, calcinada e morta.» – José António 
        Lutzenberger, Sunday Times – London  
        
        
        «O nascimento do homem é o começo dos seus desgostos. 
        Quanto mais tempo viver, mais estúpido se tornará, porque a ansiedade de 
        evitar uma morte inevitável será cada vez mais aguda. Que amargura! Vive 
        para aquilo que está sempre fora do seu alcance! A sede de sobrevivência 
        no futuro toma-o incapaz de viver no presente.» – Chuang Tzu 
        
        
        «Planear o futuro é como ir à pesca num lago seco; nada 
        funciona como pretendes e por isso desiste dos teus planos de ambição. 
        Se queres, na verdade, pensar em qualquer coisa, pensa na incerteza da 
        hora da tua morte...» – Gyalsé Rinpoche 
        
        
        «Quando somos fortes e saudáveis, nunca pensamos na 
        doença que aí vem, mas esta surge com súbita força, como um relâmpago a 
        cair. Quando nos envolvemos nas coisas do mundo, nunca pensamos na 
        aproximação da morte. Surge rápida como o trovão, ressoando em volta da 
        nossa cabeça.» – Milarepa 
        
        
        «A existência é tão transitória como as nuvens de Outono. 
        Observar o nascimento e a morte dos seres é como olhar para os momentos 
        de uma doença. O tempo de uma vida é o clarão de um raio no céu, 
        correndo à pressa, como uma corrente numa íngreme montanha. 
        
        
        Entre todas as pegadas, a do elefante é suprema. Entre 
        todas as meditações conscientes, a meditação sobre a morte é suprema. 
        
        
        O que é nascido morrerá, o que foi reunido será disperso. 
        O que foi acumulado esgotar-se-á, o que foi construído ruirá, o que 
        esteve no alto descerá.» – Buda 
        
        
          
        
        
        SARA SANTOS – 17 ANOS 
        
        
        
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        OED ajudou-me a perceber melhor as reacções dos indivíduos e as suas 
        razões. Esta ajuda manifestou-se na forma compreensível, sensível e 
        respeitadora com que vejo e ouço o outro. Favoreceu o meu processo de 
        integração no que é o meio e uma maior facilidade de comunicação. Com os 
        meus colegas, gerou-se um espírito de inter-ajuda maior e de respeito 
        pelas diferenças. Descobri facetas, sentimentos e atitudes que 
        desconhecia nos meus colegas, tudo devido à maior aproximação dentro do 
        grupo, embora também se repercutisse no exterior, mas de uma forma mais 
        lenta. Em relação aos professores, aprendi a relacionar-me com eles de 
        uma maneira mais aberta, não descurando, é claro, o respeito e a 
        responsabilidade, encarando a "instituição escolar" com um pouco mais de 
        harmonia. Obter um trabalho teatral de bom nível, passa-se por muito 
        trabalho de muita responsabilidade no auge das capacidades de cada um. 
        Foi esse auge que tentei atingir. Quando interpretamos um papel, 
        constrói-se uma personagem com características diferentes das nossas. 
        Dessa forma há necessidade de fazer com que o público percepcione o 
        melhor possível o que envolve as personagens por fora e por dentro. É 
        necessário muito rigor. Ao passar por este processo sofri algumas 
        alterações, obtive um desenvolvimento de capacidades que enriqueceu a 
        minha personalidade. Fiquei com mais autonomia nos actos, mais 
        capacidade de análise e crítica, um maior conhecimento do meu "eu", 
        favoreceu um desenvolvimento ao nível criativo assim como uma 
        intervenção expressiva um pouco mais definida. OED foi muito positivo, 
        ajudou-me na aprendizagem de viver a construir-se todos os dias. 
        
        
          
        
        
        SUSANA LOPES – 20 ANOS 
        
        
        
         OED afectou a maneira como me vejo e como me sinto. 
        Deveu-se ao tipo de comunicação com os colegas, ao ser "obrigada" a 
        destruir barreiras de timidez, desencorajamento e sentimentos de 
        incapacidade. Esta disciplina processa-se no colectivo, por isso, 
        partilha, empenhamento, entrega, rigor, análise e crítica, criatividade 
        e disciplina, são os factores que nos levam a respeitar as diferenças e 
        a existência do grupo ser harmoniosa. OED proporcionou-me algumas coisas 
        novas como tentar conhecer os passos de um actor, uma nova convivência 
        com os professores, maneiras de estar e de comunicar diferentes daquilo 
        que já vivemos. Foi nesta sala cheia de luz e bem-estar que cresci numa 
        nova fase da minha vida, tentei escutar, aprendi a transmitir tudo 
        aquilo que estava a ser criado dentro de mim. 
        
        
          
        
        
        
         TATIANA FERREIRA – 17 ANOS 
        
        
        "– Vou ter Inglês, e tu?  
        
        
        – OED. 
        
        
        – Que é isso? 
        
        
        – Teatro. 
        
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        – Ah!!!" 
        
        
        Mas não é isso, OED é mais que teatro, é mais que oficina 
        (lugar onde se exerce um ofício) de expressão (acto ou efeito de 
        exprimir, gesto, carácter, animação, essência de um sentimento e 
        comunicação) dramática (relativo a drama / acção). É mais do que uma 
        disciplina em que ouvimos o professor e vamos embora. OED dá-nos que 
        pensar. Um dia perguntaste-me o que era para mim OED e eu respondi que 
        era não só uma bengala, mas também um espelho com consciência. Apesar de 
        ser uma imagem um tanto esquisita, não deixa de ser o que sinto. Agora 
        perguntas o que OED fez nestes dois anos. Só posso comparar com uma 
        coisa. Lembras-te do primeiro amor, aquele que marca mesmo fundo? A 
        grande ilusão, sonhos, fantasias, discussões, abraços, desilusão, a 
        saudade de um gosto delicioso? É isso, tem o mesmo efeito – a 
        descoberta! Quando cá entrei era uma miudita com a mania que sabia tudo, 
        mas com medo de levantar a voz (nos dois sentidos), hoje já não. Fui 
        conhecendo os outros de uma maneira impensável, conheci facetas minhas 
        por mim nunca sonhadas e o olhar começou a ser diferente. As 
        características de cada um foram sobressaindo e houve um espaço para 
        cada um "ser". Mais do que um conjunto de colegas, tornámo-nos um grupo. 
        Nos longos caminhos existem sempre desavenças entre todos. Mesmo quando 
        somos rudes, a relação de amizade amadurece. Queremos ser pessoas com 
        garra, com voz activa e tu deste-nos essa oportunidade, quer 
        orientando-nos, quer fazendo-nos reivindicar pelos nossos sonhos, mesmo 
        quando "refilamos" é um processo de crescimento. Apesar do teatro "ser 
        um fingimento da dor que deveras sentes", tornei-me uma pessoa mais 
        calma, mais aberta a novas opiniões e críticas, e sem medo de dizer o 
        que penso. Não só nesta "aula" mas em toda a minha vida sou mais "eu". 
        Falar de OED não é linear, é complicado e mexe muito com a 
        sensibilidade. Foram dois anos importantes, aconteceram factos marcáveis 
        na minha vida e não posso deixar de referir as "poucas" horas em que dez 
        pessoas conseguiam juntar-se e cada dia era um passo para se ser mais 
        "homem". As nossas diferenças contribuíram para esse processo de 
        construção de um interior inacabado, sempre dinâmico –  "Para ser 
        grande, ser homem, sê tu, sê inteiro". 
        
        
          
        
        
        VERA RODRIGUES – 17 ANOS 
        
        
        
         O ESPECTÁCULO 
        
        
        «As palavras teatro e drama procedem de dois termos 
        gregos que significam respectivamente "observar" e "actuar". O teatro 
        dramático é um lugar em que se realizam actuações destinadas a serem 
        contempladas. O teatro ocidental teve a sua origem na Grécia. Segundo 
        Aristóteles, a tragédia deveria produzir nos espectadores uma 
        purificação da alma, através da compaixão e do terror despertados neles. 
        O mundo é um Teatro em que as pessoas actuam por trás de uma máscara 
        para desaparecer na obscuridade, atrás do palco." (in Enciclopédia Combi 
        Visual) 
        
        
        O TEATRO 
        
        
        «O teatro não se pode só ler, tem de se fazer. Teatro é 
        acção. Teatro é vida em 
        
        / 47 / 
        cima de um palco. Só entrando neste jogo de recriação da vida e 
        entendendo por dentro os processos que o tornam possível, poderás 
        extrair plenamente o gosto do teatro. Entra nesta aventura e sairás dela 
        com uma consciência muito mais viva do que significa esta palavra: 
        TEATRO!» ( in “Palavras Certas", Manual de Língua Portuguesa do 7.º ano) 
        
        
        «O teatro constrói as suas peças com pedras vivas – os 
        actores – e oferece-as à curiosidade da gente que constitui o público. 
        Ele é o lugar e o motivo desse encontro carnal único entre actores e 
        espectadores que se chama espectáculo. Espectáculo que é uma forma 
        superior de contacto humano, porque nele se ultrapassa aquilo que a vida 
        real, nas suas limitações, apenas nos permite. Na realidade, o teatro 
        tece histórias da vida com os mesmos fios de que a própria vida se 
        entretece. E os actores dão à representação teatral a carne e o sangue 
        de que essas histórias necessitam para se erguerem nos palcos e se 
        tomarem, elas próprias, vida. (...) O teatro põe-nos diante dos olhos o 
        viver quotidiano, transposto em arte, por isso mesmo, enriquecido. Pode 
        ir buscar motivos que nos falem à inteligência e aos sentidos, pondo 
        problemas dos mais variados, desde os que respeitam ao íntimo da 
        natureza humana até aos que resultam da prática social.» (in “Aula 
        Viva", Manual de Português A do 10.º ano) 
        
        
        O TEATRO SERÁ OU NÃO ESPECTÁCULO? 
        
        
        Sou de opinião que o teatro é formidável, consegue levar 
        a nossa imaginação para um outro mundo. Faz-nos recordar acontecimentos 
        passados ou levar-nos a pensamentos futuros. Teatro é diversão, teatro é 
        magia, é uma caixinha de surpresas que só conseguimos abri-la totalmente 
        quando chegamos até junto dela, quando a sentimos cá dentro. É um local 
        onde nos rimos e choramos, um dia dramático, outro cómico. Teatro é 
        trabalho, teatro é imaginação, pois despende muito tempo para sair do 
        papel. Há quem escreva, quem ensaie e quem o represente, mas o mais 
        importante no teatro é o sentimento do espectador. Se saem palmas 
        mostra-se agrado, se não há barulho, não é do gosto de ninguém. Nesse 
        caso, baixa-se o pano e tenta-se fazer melhor, trabalhando. Como dizia 
        Luís Sintra: – «O teatro é a vida em metáfora de gente.» 
        
        
        A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA 
        
        
        O motivo mais forte que me levou a escolher aquela 
        disciplina, que ninguém me sabia explicar em que consistia, foi para não 
        ter tantas aulas. Ainda me lembro do primeiro dia. Estávamos todos 
        ansiosos em saber qual era o professor e o que íamos fazer. A grande 
        questão pairava no ar! Entrámos e o Duarte (Prof. Duarte, fora da aula) 
        perguntou-nos os nossos dados pessoais em voz alta. Mas de repente a 
        sala ficou estupefacta... pois só pela voz o Duarte indicou-nos as 
        nossas características. O inacreditável foi que ele acertou! Passaram-se 
        umas semanas de aulas, onde fazíamos exercícios para adquirirmos 
        confiança uns com os outros. Eu achava desnecessário, porque julgava 
        conhecer toda a gente. Enganara-me! Algumas até só o nome sabia. 
        Começámos a elaborar trabalhos, sempre com a excelente colaboração do 
        Duarte. Mas nem tudo foi um mar de rosas! O que criticávamos era que 
        quando começávamos a gostar de fazer um ou outro trabalho, ficava sempre 
        a meio. Em suma, as nossas perspectivas não se concretizavam. Um dia 
        fomos convidados para fazer uma pequena apresentação numa galeria de 
        arte. Foi a melhor notícia que recebemos. Trabalhámos, ensaiámos, 
        alterámos, até tudo estar pronto. O tão desejado dia chegara! Os nervos 
        começavam a aparecer à flor da pele e aumentavam a cada minuto que 
        passava. Ao fim da tarde, fomos para a galeria fazer o ensaio geral. 
        Para 
        
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        nossa admiração, o Duarte estava super mal disposto, falava-nos alto e o 
        mais estranho, alterou-nos todas as nossas posições. Pensámos em tudo 
        isso e chegámos à conclusão de que estávamos ali para dar o nosso melhor 
        e que tudo era de propósito. Éramos "actores". Foi uma experiência 
        óptima!!! Assim, as três letras, OED, tiveram um significado: O – olhar, 
        E – existir, D – dizer: 
        
        
        A AQUISIÇÃO DE MAIS 
        
        
        Este ano já estava mais preparada para OED. Começámos 
        logo a trabalhar até chegarmos ao nosso principal objectivo – 
        representar. O melhor do teatro é isto, é o contacto com o público e o 
        sentir do palco. A velocidade das palmas acelera ainda mais o bater do 
        nosso coração, tentando quase explodi-lo. O teatro é a nossa emoção e 
        OED ensinou-me a viver a minha vida todos os dias, quer tristes ou 
        alegres. Com esta disciplina aprendi a controlar as minhas emoções e a 
        alcançar a postura que devo tomar nas minhas decisões. Tudo se facilitou 
        para mim. Hoje sou uma jovem responsável, que luta pelo que quer e 
        acredita. Se eu pudesse, recomendava a todos os jovens a experiência de 
        um palco, atrás das cortinas que, com muito esforço e trabalho, 
        facilmente se levanta. 
        
        
          
        
        
        ANDRÉ CRUZ – 18 ANOS 
        
        
        
         "OED forte" 
        
        
        Composição 
        – Três blocos anuais, contém lactose; 
        
        
        Indicações terapêuticas 
        – Destina-se ao tratamento de alunos com falta de sensibilidade para 
        expressão, assim como a todos os outros; 
        
        
        Contra indicações 
        – A associação de OED forte a qualquer tipo de complexos, preconceitos, 
        neuroses, náuseas e mal-estar, está contra indicada; 
        
        
        Efeitos Secundários 
        – Pode registar-se uma mudança de comportamentos ao nível de 
        auto-estima, controle, pois estes estarão mais marcados; 
        
        
        Precauções especiais de utilização 
        – Evitar tomar à noite já que estimula a vigília;  
        
        
        Efeitos sobre a capacidade de condução e utilização de 
        máquinas 
        – Não tem;  
        
        
        Posologia e administração 
        – Tomar as aulas com auxílio de professor, sendo o primeiro e segundo 
        blocos constituído por seis horas e o terceiro por três horas; 
        
        
        Expedientes 
        – Dióxido de movimento, uma pequena dose de tempo mais muitas horas de 
        prazer; 
        
        
        Sobre dosagem 
        – Não existe um antídoto específico, pelo que em caso de toma maciça, 
        voluntária ou acidental, recomenda-se a ingestão de líquidos e a 
        provocação do vómito. No caso de surgirem durante o uso, os efeitos 
        adversos estão neste folheto. 
  
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