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        DEPOIMENTOS DOS ALUNOS – ANO LECTIVO 1997/1998 
        
        
        – 
        Turma 11.º L 
        
        – 
  
        
        
        ANA CAROLINA COSTA – 17 ANOS 
        
        
        
         Quando me matriculei na disciplina de OED não sabia para 
        o que ia, uma experiência, na tentativa de aprender e descobrir algo 
        novo, e assim foi. Estas aulas contribuíram muito para uma aproximação 
        geral da turma, para um conhecimento mais profundo de cada um, bem como 
        a relação entre nós. Fui notando, ao longo de dois períodos, uma 
        evolução constante ao nível pessoal e ao nível eu/turma. Foram-se 
        superando determinados obstáculos, algumas vergonhas das quais agora me 
        rio ao lembrá-las, e foi também devido às aulas de OED que se foi 
        gerando uma certa cumplicidade jamais vista na turma. Tornámo-nos todos 
        muito mais unidos, o que facilita a relação entre amigos e a 
        
        
        / 24 / 
        relação entre aluno e professor. Esta última, a meu ver, com uma certa 
        importância, visto que na sala somos tratados de igual para igual, não 
        há diferenças nem preferências e somos postos em descontracção como não 
        estamos em mais nenhuma aula. Não vale a pena tentar arranjar uma 
        resposta para saber o que levou a este tratamento, a esta relação... 
        pois é sabido que o mérito é todo do professor, que nos soube "levar" e 
        dar a volta, de modo a respeitá-lo e ao mesmo tempo a sermos 
        respeitados. Tornei-me muito mais tolerante em relação aos meus amigos, 
        mais madura em determinadas atitudes a enfrentar dentro ou fora da 
        escola... Directa ou indirectamente, esta disciplina contribuiu para 
        isso. Foi também OED que contribuiu para isso e para uma 
        auto-caracterização sincera, ou seja, passou a haver uma aceitação e 
        confirmação dos defeitos de cada um e uma aprovação das qualidades, o 
        que mais uma vez veio a comprovar o respeito que se criou à nossa volta, 
        o respeito pelas diferenças e a maneira de ser de cada um. Se recuar um 
        bocado no tempo, lembro-me de termos sido postos à prova em relação à 
        nossa capacidade de entrega e rigor perante determinados trabalhos a 
        efectuar. E lembro-me também, o quanto foi difícil no início, este mesmo 
        envolvimento, esta mesma entrega e concentração. Achávamos os exercícios 
        estranhos, alguns até mesmo ridículos, e a nossa capacidade de 
        concentração era pouco ou nenhuma... mas isso mudou, nós mudámos, eu 
        mudei, estou mais atenta, mais responsável e sinto-me cada vez mais 
        capacitada para fazer algum trabalho com público, haver a tal entrega de 
        corpo e alma. Houve, sem sombra de dúvidas, algumas mudanças bem 
        notórias, quanto à minha maneira de actuar e estar, em determinadas 
        situações. 
        
        
          
        
        
        ANA CAROLINA SEQUEIRA – 17 ANOS 
        
        
        
         Penso que, se fizermos um balanço do trabalho realizado 
        desde o princípio do ano lectivo, encontramos um saldo bastante positivo 
        como resultado de todo este percurso. Nesta disciplina exercitamos a 
        criatividade e o trabalho realizado é da nossa autoria. Isso faz-nos 
        gostar tanto dele. Temos o tempo que for necessário para o fazermos, 
        usando os nossos critérios e gostos, libertando a nossa imaginação, que 
        fora encarcerada durante muito tempo. Por outro lado, a simplicidade nas 
        soluções é algo que vamos recuperando: somos uma corda na qual foram 
        feitos nós e que agora vamos desatando. Apesar de pertencer a esta turma 
        desde o ano passado, sinto que só este ano estou realmente integrada e 
        devo isso, em parte, a OED. Concordo que tenho um "génio difícil", mas 
        também tenha qualidades como toda a gente e foi em OED que surgiu a 
        oportunidade para que me conhecessem melhor e começassem a aceitar-me 
        como sou. Considero-me uma pessoa empenhada e interessada pelo trabalho, 
        mas desta vez foi-me pedida uma entrega diferente – não era suficiente a 
        razão, eram também as emoções. No princípio custou-me bastante. Estive 
        fechada tempo demais para o mundo. Houve uma altura em que deixei de 
        resistir e entreguei-me sem dar por isso. Sinto-me mais confiante para 
        desfolhar o grande livro da vida e aniquilei fantasmas do passado. Fui e 
        continuo a ser uma pessoa bastante prática que se agarra ao real e 
        concreto, afastando subjectivismos. No entanto, foi-me exigido 
        ultrapassar este limite e conceber trabalhos como os que efectuámos até 
        agora. Tenho 
        
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        dois grandes defeitos que me impedem de progredir: – a falta de 
        autonomia e o perfeccionismo. Ambos parecem ocultar-se quando tenho 
        alguém que me oriente como o professor Duarte. Em algumas situações 
        surgiu o imprevisto com o qual tive que aprender a lidar e, melhor que 
        isso, aproveitar para enriquecer o trabalho. É uma capacidade que não 
        estava desenvolvida, porque gosto de planear tudo. Para conseguir todos 
        estes processos houve alguém que nos mostrou o "cor de rosa" do céu. 
        Passados alguns meses, é para nós, mais do que um simples professor – um 
        amigo em quem confiamos e que nos conhece um a um, com as nossas 
        qualidades e defeitos, e a quem aprendemos a respeitar. A sua 
        perspicácia é espantosa – possui um "raio X” que lhe permite ver o que 
        sentimos, mesmo quando nem sequer nos apercebemos. Confrontei-me com uma 
        nova forma de criação artística – o Teatro. Sempre tive bom 
        relacionamento com a minha família e isso é a base do meu equilíbrio 
        emocional; mas onde senti mais evolução foi na escola. Não nego que 
        tenha mudado, mas não tanto como se pensa. A grande diferença está na 
        revelação do que tinha dentro e que não estava a descoberto; quem gosta 
        do que não conhece? A esse nível devo muito a OED, porque me forneceu as 
        circunstâncias, tempo e descontracção necessárias para que pudesse ser 
        "eu” em corpo e alma. Esta abertura ao mundo fez-me gostar da escola por 
        saber que vou encontrar amigos, não colegas. Fechei durante muito tempo 
        portadas. Ninguém podia ver o que lá se passava, mas o que eu 
        desconhecia é que isso me impedia também de espreitar cá para fora. 
        Agora deixo as portadas abertas e acordo todos os dias com o sol da 
        manhã. 
        
        
          
        
        
        ANA SOFIA CARVALHO – 18 ANOS 
        
        
        
         Tudo começou com as matrículas para o ano lectivo 
        1997/98. Eu e mais umas alunas estávamos indecisas em relação às 
        técnicas. Tínhamos de escolher entre três disciplinas: .º bloco de OED 
        ou 2.º bloco de Informática e 1.º de Técnicas de Tradução. O nosso 
        pessoal ia todo para OED, e aí nós escolhemos também a tal disciplina de 
        seis horas semanais e que se não gostássemos teríamos de aguentar até ao 
        fim do ano. A verdade é que nos deparámos com algo nunca antes por mim 
        sonhado. Tínhamos como professor um homem, que eu pelo menos, nunca 
        tinha visto mas que nos cativou logo na primeira aula, isto pela maneira 
        que se colocou ao nosso lado e nunca à nossa frente, pela igualdade e 
        porque nos deu uma liberdade de expressar aquilo que sentíamos e 
        sabíamos. De um momento para o outro eu comecei a ver aquela sala como o 
        cantinho onde o grupo se junta, e que agora, se esquece do que vai lá 
        fora e se entrega aos outros sem medos e sem tabus. Ao princípio era 
        algo estranho, mal nos conhecíamos interiormente. De uma forma louca, de 
        que ninguém se apercebeu, fomo-nos tornando num grupo sólido e forte 
        como somos hoje. Sem o sabermos directamente, fomos sendo mais autónomos 
        e mais verdadeiros possível ao fazer com que os outros acreditassem no 
        nosso trabalho. Ensinou-nos a escutar e a ver, a entrega a um trabalho 
        com rigor, o que é o espírito de inter-ajuda, a improvisar, a analisar e 
        a criticar o nosso trabalho e o trabalho do vizinho. Esta disciplina 
        ajudou-nos a amadurecer, a lutar pelo que queremos, que temos força 
        interior para fazer seja o que for. Ser autónomo é ser independente, é 
        sermos capazes de agir sozinhos sem pedir auxílios ou explicações, é 
        termos a capacidade de resolvermos os nossos problemas e dúvidas, 
        
        
        / 26 / 
        sermos capazes de o fazer sem ferirmos o nosso mundo e o mundo alheio, é 
        aceitar as diferenças sem tabus e enfrentarmos o novo sem receio. Aliado 
        à autonomia está a responsabilidade, sentimento forte que nos exige o 
        melhor de nós próprios, é o dever e a força, é aquilo que vem de dentro 
        de nós e que não nos dá a hipótese de pensarmos que não somos capazes de 
        efectuar um trabalho qualquer. Tudo isto se reflectiu na relação com 
        todos. Nós amadurecemos dentro de quatro paredes e aprendemos a transpor 
        tudo cá para fora, para um mundo de cada um. 
        
        
          
        
        
        ANDREA DUARTE 
        
        – 
        
        17 ANOS 
        
        
        Sargeant Pepper's Lonely Hearts Club Band 
        
        
        
         Uma oficina é um local de experiências, de aprendizagem e 
        de criação, um local onde se busca no interior de cada um o material a 
        ser explorado. A expressão dramática é uma forma de declarar algo, ou 
        talvez o abrir de uma gaiola interior que origina... um voo que deve 
        influenciar quem o vê. Este desmembramento de definição foi a melhor 
        maneira que encontrei para descrever a disciplina, não crendo que exista 
        uma explicação tão simples. Pensando na influência de OED, sei que 
        existe uma mudança em quem sou e como me vejo mas não é claro. 
        
        
        Woke up, fellout of bed, 
        
        
        dragged a comb across my head 
        
        
        found my way upstairs and had a smoke 
        
        
        somebody spoke and I went into a dream. 
        
        
        ("A day in the life" – Beatles) 
        
        
        Foi um aprofundamento do conhecimento de quem sou que me 
        fez interrogar quanto a capacidades. O empenhamento, entrega e rigor, 
        derivam da concentração que dedico ao que faço e estão relacionadas com 
        o "escape". OED oferece uma saída de energia de uma forma diferente 
        distanciando-se de qualquer outra disciplina escolar – é como uma 
        possibilidade de libertação. A criação de projectos, nunca sem 
        orientação, desenvolveram a imaginação e a crítica nos trabalhos que se 
        constroem para os outros verem ou nos que vejo. Desenvolvi a desinibição 
        na expressão verbal e corporal facilitando-me o "modo" invulgar de 
        mostrar uma mensagem e segurança para o aplicar. A sensibilidade na 
        comunicação foi uma mudança visível fora das aulas de OED, porque 
        comecei a ponderar mais na minha comunicação. OED não modificou quem eu 
        sou, mas ajudou-me a ter uma ideia mais precisa de quem eu sou. 
        
        
        What would think if I sang out of tune 
        
        
        would you stand up and walk out on me 
        
        
        lend me your ears and I'lI try not to sing you a song
         
        
        
        and I'lI try not to sing out of Key 
        
        
        I get by with a little help from my friends. 
        
        
        ("A little help from my friends" – Beatles) 
        
        
        / 
        27 / 
        
        
        Todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais que 
        outros. 
        
        
        ( "O Triunfo dos Porcos" – George 0rweIl) 
        
        
        It’s these little things 
        
        
        they can pull you under 
        
        
        live your life 
        
        
        filled with joy and wonder 
        
        
        sweetness foIIows. 
        
        
         "Sweetness FoIIows" – Rem ) 
        
        
        We couIdn't all be cowboys 
        
        
        so some of us are clowns 
        
        
        and some of us are dancers on the midway 
        
        
        we roam from town to town. 
        
        
        ("Goodnight Elisabeth" – Couting Crows) 
        
        
        Todos estes excertos descrevem um aspecto ou outro da 
        minha relação com os outros. 
        
        
        Acho que OED me levou a maior desinibição e abertura, o 
        que originou uma melhor compreensão das várias partes, com mais paixão 
        na descoberta dos outros. 
        
        
        Everybody knows there's nothing doing 
        
        
        everything's cIosed it’s Iike a ruin 
        
        
        everyone you see is haIf asIeep... 
        
        
        ("Good morning, good morning” – Beatles) 
        
        
        When I think back on all the crap 
        
        
        I learned in highschooI 
        
        
        it's a wonder I can think at all 
        
        
        ("Kodachrome" – Simon and GarfunkeI) 
        
        
        OED surge como incentivo e um corte com a monotonia. A 
        influência desta disciplina reflecte-se na maneira tão diferente como me 
        relaciono com a escola. Esta deixa de ser sempre a mesma coisa e 
        torna-se algo onde há mudança. As disciplinas restantes parecem mais 
        agradáveis simplesmente porque tenho mais paciência para elas. 
        
        
        We were taIking 
        
        
        about the space between us all 
        
        
        and the peopIe 
        
        
        who hide themseIves behind a wall of illusion 
        
        
        Never glimpse the truth. 
        
        
        then it's far too Iate 
        
        
        ("Within you, without you" – Beatles) 
        
        
        Julgo que estou mais atenta a tudo o que me envolve 
        porque me sinto mais envolvida. 
        
        
        She (we gave her most of our lives) 
        
        / 
        28 / 
        
        
        is leaving (sacrificed most of our lives) 
        
        
        home (we gave her everything money coud buy) 
        
        
        (...) for so many years 
        
        
        ("She's leaving home" 
        
        – 
        
        Beatles) 
        
        
        Devo referir, de novo, que encontro mais sensibilidade na 
        minha comunicação. É preciso pensar antes de falar e agir... 
        
        
          
        
        
        ANDREIA VENTURA NEVES – 17 ANOS 
        
        
        
         Perguntaram-me muitas vezes sobre que tratava a 
        disciplina OED. A princípio respondia que era uma disciplina totalmente 
        diferente das outras, não tínhamos livro, não havia quadro nem giz, em 
        vez de estudar tínhamos que pensar e para corroborar estas horas de 
        "alívio" tínhamos uma maneira de estar na sala de aula que fazia 
        desaparecer aquele ar de "hierarquização professor/aluno", ao qual 
        começámos a tratar por "tu". Quiseram saber o que fazíamos nestas "ditas 
        aulas". Eu disse que em primeiro iniciámos um processo de melhorar o 
        nosso auto-conhecimento, e uma progressiva aproximação com o resto dos 
        elementos do grupo. Muitas das vezes explicava minuciosamente cada 
        actividade por nós exercida. Na minha opinião, não foi imediatamente que 
        percebemos o porquê de tantos "jogos". Primeiro, temos que formar um 
        grupo no verdadeiro sentido da palavra e com todas as implicações do 
        respeito à ajuda mútua. Desenvolve-se a personalidade melhorando as 
        qualidades de cada um como autonomia, responsabilidade, etc. ... Daí o 
        nosso fiel empenhamento em cada actividade realizada. A turma só 
        funciona bem quando visa objectivos comuns, mas separa-se muito no 
        convívio exterior. Devo ter ficado mais observadora, porque os meus 
        amigos começaram a perguntar-me sobre o que se estava a passar por ser 
        mais analítica e crítica. "Dubélo", aquilo resulta. 
        
        
          
        
        
        ANDREIA LOURENÇO – 17 ANOS 
        
        
        
         A escrita pode servir para exorcizar a alma dos demónios. 
        Quem sou eu? Alguém que sente, sinto tudo o que me rodeia e quero mais, 
        viver mais liberdade. Anseio por exorcizar a alma dos demónios. Os 
        pássaros pretos voam à minha volta, mas eu não os deixo aproximarem-se. 
        Quero destruí-los. São como ébano, um preto macio de seda que seduz. Vou 
        ser eu a seduzir os pássaros pretos. A lua, os amigos, as estrelas, a 
        praia no inverno, o mar, o Egipto, as dunas, o azul, a paixão, os 
        limos... Eu acredito no impossível, afastar para sempre o demónio dos 
        olhos vazios, indiferentes. Quero ver as almas. Viver cada segundo como 
        se fosse o último. Quero sentir-me completa. Os pássaros pretos estão 
        outra vez perto de mim. Desta única vez não os vou afastar. Eles vão 
        tocar-me com o ébano que arde, com o fogo macio eu vou partir com eles. 
        Para sempre entregue ao sonho, um ser irreal/intemporal. Os pássaros 
        pretos são anjos terrivelmente belos. Vou 
        
        / 29 / 
        voar por cima do demónio da indiferença e frieza. Ao olhar para baixo 
        vejo um precipício, um vazio de pensamentos e de sentimentos. Os seus 
        olhos são transparentes e as almas belas e ricas. Deixei para sempre a 
        normalidade e a sanidade. Sou livre. Não deixo que o exterior mude 
        aquilo que eu sou, mas deixo-o sufocar-me para poder sentir e saber como 
        são. OED foi como um telescópio que me permitiu ver melhor algumas 
        estrelas que já estavam dentro de mim e que ainda não tinham 
        importância. Nasceu mais paixão. OED permitiu ser um dos pássaros pretos 
        que me levou a voar por cima de tudo o que podia fazer-me perder a 
        coragem e o amor por mim e pelos outros, com mais vontade, mais 
        desinibição e mais compreensão. Eu posso não deixar que mudem o meu ser, 
        mas não recuso um aprofundamento. OED, ao cortar com a monotonia num 
        sistema quase estático, resulta num incentivo e numa maior paciência 
        para estudar. Existe uma maior entrega, existem pássaros preto por todo 
        o lado, pontes que permitem atravessar para alturas mais elevadas e 
        profundas. À minha lista de mar, amigos, Egipto, posso agora acrescentar 
        o teatro e o criar pessoas novas. 
        
        
          
        
        
        BRUNO SARAIVA – 17 ANOS 
        
        
        
         Dizer o que se pensa acerca deste assunto é sempre 
        difícil começar. Talvez porque fica sempre algo por dizer, por 
        esquecimento ou por gentileza. Penso, sempre que escrevo algo que será 
        lido por e para outras pessoas, em não magoar os sentimentos de quem 
        gosto ou que finjo gostar, mas que na verdade me irritam bastante; e só 
        o esforço para não deixar transparecer o verdadeiro "eu" deixa-me 
        exausto e zangado comigo próprio por não ser verdadeiro; mas se assim 
        fosse deixaria de ser humano... O que importa agora é fazer a análise 
        entre o "antes" e o "depois" de OED, e não dizer que gosto de a, b ou c. 
        Não é isso que importa e ainda estou para perceber porque é que escrevi 
        o que se pode ler no primeiro parágrafo, e isto após umas poucas 
        leituras. Bem, vá-se lá perceber a mente humana e os seus mistérios. Mas 
        agrada-me o que escrevi... soa-me muito a mim próprio, e isso faz-me bem 
        ao Ego. Continuemos. O "antes" de OED é um bocado difícil de esclarecer. 
        Talvez graças à minha auto-estima, não consigo por mais que tente, 
        visualizar-me nesse período da minha vida. Mas posso tentar: um rapaz 
        aparentemente normal, sem grandes problemas pessoais ou familiares, com 
        bastante saúde e energia, algo vazio interiormente, não tinha grande 
        conhecimento dos supostos amigos e colegas que o rodeavam. Não gosto de 
        falar no "antes", soa-me a algo sombrio, frio e sem interesse. Prefiro 
        muito mais falar no "agora", no "depois". Isso sim, é agradável. Nesse 
        ponto tenho mais por onde pegar: as amizades que se aprofundam, o 
        avançar de uma relação com os outros, comigo, contigo e com o teatro. 
        Por ora vou deixar este assunto e reflectir noutro que tem mais 
        urgência: a minha relação comigo mesmo. Vou começar pelo inevitável 
        aspecto físico. Eu, à semelhança de todos os seres humanos, acho que me 
        falta muito para ser perfeito. Ou é porque gostava de ser mais alto e um 
        pouco mais bem constituído, ou é porque gostava de ser mais belo do que 
        sou. Enfim, todos temos esses desejos que nos fazem ser "fora de 
        
        
        / 30 / 
        série". Ou é porque ambicionava ser um grande atleta, um grande génio ou 
        até mesmo um actor famoso, o que faria de mim uma "vedeta" internacional 
        e assim ser cobiçado por muita gente que, entre suspiros e desvarios, 
        desejariam ser como o hipotético "eu". Mas não, já me conformei que eu 
        sou como sou e terei de viver, quer queira quer não, assim até ao resto 
        da minha vida. Mas o que será que faz as pessoas serem especiais e assim 
        diferenciarem-se umas das outras? Geralmente, costuma ser o seu corpo e 
        a forma como o exibem ou tiram partido do mesmo. Não me venham com 
        aquelas tretas de "o que importa é o espírito e não o corpo", porque 
        esse monte de desculpas já não enche ouvido a ninguém. É dado assente – 
        o que conta mais é o aspecto físico. Não nego que possa existir também 
        uma atracção pelo aspecto mental, mas nos dias que correm, as pessoas 
        baseiam-se mais no físico que no psíquico. Para ser franco, para mim 
        contam os dois, só que tenho a tendência natural e humana para 
        inclinar-me mais para a beleza exterior. Não tenho complexos em 
        particular com o meu corpo, mas imagino como seria ter outro aspecto 
        exterior... Desde que me lembro de ser alguém, penso que sempre me dei 
        bem comigo próprio, e só raramente é que atrofio comigo mesmo. Tenho a 
        consciência que sou especial, assim como todos os que partilham a 
        experiência teatral comigo. Isto parece um pouco narcisista, mas, como 
        diz o reclame, se eu não gostar de mim, quem gostará? Falar do aspecto 
        interior é algo difícil, pois não o consigo ver nem descrever, apenas o 
        sinto e esse sentir interior torna-se confuso assim que procuro palavras 
        para o materializar. Normalmente, defino-me como um tipo divertido e que 
        raramente vai abaixo, mas quando isso acontece fico mesmo mal, isto é, 
        fico bastante perturbado; por vezes sou duro para as pessoas, mas isso 
        acontece por ordem do subconsciente, não por vontade minha, já que eu 
        detesto ofender e chatear as pessoas. Por vezes entro em conflito 
        interior com coisas sérias, ou seja, devo fazer ou não devo fazer 
        determinadas coisas, mas isso acontece com todo o indivíduo racional. Em 
        certos aspectos, quer físicos quer intelectuais, OED abriu-me os olhos. 
        Ensinou-me a olhar com olhos de ver para mim próprio. Graças à referida 
        disciplina conheço melhor o meu corpo e sinto-me melhor interiormente. 
        Acho que as técnicas utilizadas na aula, à primeira vista, pareceram-me 
        um pouco inúteis, mas com o passar do tempo e do trabalho, apercebi-me 
        que fizeram bem a nível individual e colectivo. Gosto de dizer que os 
        amigos são tudo na vida, e a relação com os colegas de OED não é muito 
        forte, mas em comparação com o ano passado tenho muito a agradecer a OED, 
        pois deu-me a hipótese de conhecer mais profundamente companheiras e um 
        companheiro que anteriormente desconhecia; deu-me a possibilidade de 
        conhecer os seus gostos, os seus medos, e permitiu-me ter confiança 
        neles e vice-versa. Neste aspecto, tornei-me mais aberto aos outros, 
        mais extrovertido e com mais tacto na relação com as outras pessoas. OED 
        serve para muito mais que espreitar uns rabos e umas mamas das colegas; 
        serve para fomentar o meu relacionamento com o sexo oposto derrubando 
        alguns tabus e dúvidas acerca da sexualidade feminina através das 
        conversas que tive com algumas colegas na aula. Contudo, tenho a 
        sensação que começo a perder algum poder de conversação. Não estou a 
        falar de isolamento, mas parece que está tudo a fugir ao meu controle. 
        Parece que estou mais recolhido no meu pequeno mundo e não tenho o poder 
        de o evitar. Por mais que tente e que lute, os amigos e os que eu gosto 
        afastam-se de mim. Sinceramente não sei se o que digo é verdade, podem 
        ser paranóias ou talvez não... Costuma-se dizer que, para um estudante, 
        a escola é a segunda casa. Depende do ponto de vista do que consideramos
        
        
        / 31 / 
        "casa". Se por um lado a escola é um lugar privilegiado para o fomento 
        das relações entre os indivíduos e o conhecimento, pode também ser um 
        sítio onde se podem "perder". É na escola onde se recebe parte da 
        formação pessoal e moral. É um espaço de ensino, não só com as aulas, 
        mas também com os colegas e com o resto do universo que compõe a 
        constelação escolar. Gosto de estudar, sempre é melhor que trabalhar (de 
        longe), mas eu encaro a escola como uma profissão a sério. O meio em que 
        existimos é algo complexo. Não que seja difícil viver nele, mas existe 
        algo nele ou por ele provocado que impede que atinjamos o grau de 
        civilização desejado, ou a tal felicidade e estabilidade para as suas 
        vidas. Sem excepção, somos todos filhos ou frutos da sociedade em que 
        vivemos. Isto pode parecer um pouco filosófico, mas é a verdade. Quer se 
        resista ou se entregue, a pessoa é influenciada pelo grupo de pessoas 
        com quem vive, procria e morre. E como eu não sou diferente das outras 
        pessoas neste aspecto, limito-me a fazer a minha pacata existência, 
        subjugado por essa elite de indivíduos que teimam em dizer-me o que 
        tenho de fazer. Mas não praguejo à sociedade que me cria e que me dá 
        consistência: apenas faço o que parece bem aos olhos deles e sou outro a 
        amaldiçoar, e o primeiro a estar disposto a mudar a ordem natural das 
        coisas. Parece que sou um revoltado social, mas aparentemente vivo feliz 
        com o estado das coisas na ânsia de rastejar para debaixo das saias da 
        sociedade e bajular mais um elemento da elite para uma oportunidade de 
        me redimir. Estou farto disso. Quero abandonar tudo o que tenho e 
        aqueles de quem gosto... Quero partir à descoberta de outras paragens, 
        doutros estilos de vida diferentes deste... Enfim, quero pelo menos uma 
        vez na vida sentir-me vivo e livre. E ser capaz? Este meio que me gerou 
        durante 17 anos viciou-me a este estilo de vida... Ensinou-me que só 
        devo viver para mim, só devo pensar em ganhar dinheiro e depois gastá-lo 
        todinho em bens para mim. Eu, Eu, Eu... Só existe o pequeno eu nesta 
        porcaria de sociedade. Desejo mais que tudo na vida libertar-me deste 
        cerco e fugir para onde apenas se sente em nós e nos outros e não no 
        "eu". Já é tarde demais e a revolta cresce dentro de mim a apetecer-me 
        autoflagelar. Sou um cobarde e tenho que admitir que sou mais uma 
        vítima. Hoje em dia não se pensa em mais nada senão tirar um curso 
        bonitinho para que, os também culpados pais, fiquem a babar-se de 
        orgulho, para nós mesmos afirmarmos a superioridade sobre um desgraçado 
        e pobre explorado grupo social. Ah, e depois de termos o lindo canudinho 
        na mão, vamos à procura de um(a) digníssima(o) fêmea/macho para 
        acasalarmos e vivermos felizes para o resto da vida! Bonito, não? A 
        família é a família, não é? É a nossa maqueta pequenina e perfeita da 
        sociedade grande, grande, grande. É o nosso "ninho" quando temos "frio" 
        ou "fome". Enfim, lá no fundo, é tudo o que tenho de genuíno e meu. Não 
        é que eu tenha uma relação tempestuosa ou nada que se pareça, mas nem 
        tudo são rosas e encantos. O que se vive em pequeno na família vai-se 
        desvanecendo quando se cresce e quando se passa a conhecer melhor os que 
        moram comigo. O encanto tornou-se monotonia e aborrecimento em relação 
        aos pais e aos irmãos. Em pequeno gostava de ter uma família daquelas 
        que aparecem na televisão, onde tudo é bonito e os problemas não 
        existem. Agora aprendi às minhas custas que tal coisa não existe e até é 
        salutar haver problemas na família, já que é um óptimo teste à unidade e 
        à harmonia que existe ou não na mesma. A família perfeita é uma utopia 
        e, por isso, por que razão haveria eu de cobiçar outra vida familiar? 
        Sou feliz com o que tenho; e embora o que a minha família tem para me 
        oferecer seja pouco, não me importo, pois sei que o pouco que eles me 
        possam dar foi o possível e saiu do fundo do 
        
        / 32 / 
        coração. Sei que se eles pudessem oferecer-me um pouco mais de calor, de 
        carinho, mimos, sei que me dariam sem qualquer problema, mesmo que 
        tivessem de tirar da sua parte. Por esse simples facto, estou-lhes 
        agradecido, pois sei de muitos pais que fazem exactamente a mesma coisa, 
        só que os filhos não sabem agradecer o esforço que se faz por eles. 
        Gosto de pensar em OED como um complemento muito pessoal e necessário ao 
        indivíduo. Atrevo-me mesmo a dizer que não deveria ser apenas um grupo 
        privilegiado a ter acesso a esta disciplina. Todas as turmas deveriam 
        tê-la para a escola cumprir o objectivo para que foi criada – 
        formar/educar o indivíduo na vertente científica e espiritual. OED é uma 
        disciplina que ajuda bastante o espírito do indivíduo, e a mim ajudou-me 
        a ultrapassar algumas barreiras que obstruíam o meu pensamento. 
        Considero que OED não ensina só técnicas teatrais e tudo o que advém 
        desse aspecto, também ensina a pessoa a ter um maior conhecimento 
        pessoal e também daqueles que contactam mais connosco. Aumenta-nos o 
        nível de autoconfiança, respeito por nós e pelos outros, 
        responsabilidade e amadurecimento no contacto com a diferença. 
        
        
          
        
        
        CAROLINA CLARO – 17 ANOS 
        
        
        
         Mudança. Agora é possível falar de um grupo de amigos em 
        OED, infelizmente ainda não se nota nas outras disciplinas. OED 
        proporcionou-nos esta situação. Nas outras disciplinas é tudo demasiado 
        impessoal, não se procurando a proximidade. Para esta relação de 
        aprofundamento uns com os outros, contribuiu todo o conjunto de 
        conteúdos que se tratou ao longo do ano, culminando no respeito pelas 
        diferenças. No princípio do ano fui acusada de "ligar" só a duas colegas 
        e fechar-me ao resto da turma. Agora penso que ultrapassei esta situação 
        e já deram conta disso. O trabalho que temos vindo a construir foi 
        realizado de "raiz" pelos alunos, por nós, por mim. Nada dá mais 
        satisfação que ver os frutos de participação empenhada. Mas o orientador 
        esteve sempre presente a dar "dicas', esclarecendo o que poderia ser 
        experimentado para poder ficar melhor ou pior naquela cena, aproveitando 
        o nosso improviso. Claro que nem sempre estive com vontade de trabalhar, 
        mas não era por falta de motivação. Para a concepção deste trabalho foi 
        muito importante saber fazer crítica e autocrítica construtiva. Mas o 
        unido grupo de OED, quando sai da sala, não se fecha em si próprio; e 
        foi-me mais fácil aproximar-me de outras pessoas, de outras realidades. 
        
        
          
        
        
        CHARLENE CÂMARA – 16 ANOS 
        
        
        
         Quando perguntei pela primeira vez a alguém o que era, de 
        facto, a disciplina de 
        
        / 33 / 
        OED, a psicóloga limitou-se a responder: "– Ajuda-te a conheceres-te 
        melhor!" (Mas eu conheço-me, pensei eu!). Posteriormente vieram mais 
        notícias sobre a disciplina; a pouco e pouco eu ia descobrindo o que era 
        na verdade OED. Bastou a palavra-chave para eu decidir que era aquilo 
        que eu queria – Teatro e arte de representar. Ao princípio era tudo uma 
        enorme novidade; era tudo muito diferente do que tínhamos aprendido até 
        aí. Uns aceitaram com grande facilidade, outros com um pouca de 
        excitação. Certamente fui uma das pessoas que aceitaram e mergulharam 
        por completo neste campo. Ao longo das aulas, fui percebendo que havia 
        muito a explorar em mim, como pessoa e como mulher. Apesar de muitas 
        novidades, eu já me considerava pioneira nestes assuntos, já olhava para 
        o meu interior. Havia jogos que eu já conhecia, mas nunca tive medo de 
        surpresas ou novidades porque sou escuteira. O movimento escutista 
        baseia-se no "alerta para bem servir". Prepara-nos para mulheres e 
        homens do amanhã, servindo o próximo sempre em contacto com a natureza e 
        com a ajuda de Deus. A grande diferença entre pertencer a este movimento 
        e às aulas de OED, é que nas aulas de OED convivemos mais durante a 
        semana, somos mais unidos e somos menos. Tudo isto é fundamental para 
        alcançar a essência do grupo. Só tenho pena de termos de estar sempre 
        entre quatro paredes! Pessoalmente torna-se mais difícil libertar-me! 
        Acho que uma vez ou outra poderíamos fazer o aquecimento e relaxamento 
        ao ar livre junto à natureza – respirar outros ares. A realidade mais 
        evidente foi os alunos terem-se tornado mais tolerantes e respeitadores, 
        em cumplicidade entre alunos e professor. Teve reflexos muito positivos 
        no relacionamento com mais união, compreensão, facilitando toda a 
        orgânica de grupo – sermos diferentes, mantermos igualdade no trato sem 
        alterar a personalidade. 
        
        
          
        
        
        DANIELA LOUREIRO – 17 ANOS 
        
        
        
         Existem ideias que saem sem rumo por todo o meu corpo e 
        para as quais procuro encontrar uma vela no pensamento que as ilumine, 
        um raio de luz que as guie e que me permita escrevê-las. (Adorava ser 
        actriz) É um dos meus segredos, que agora divulgo e partilho. Sei que é 
        muito difícil e a este "bichinho" que não corrói, vou-lhe dando seiva do 
        saber que posso. Um dos seus manjares favoritos é esta aula, da qual sai 
        cada vez mais saciado, ansioso de progressão e continuidade. Afinal, até 
        aprendeu que ser actor não é só encarnar alguém que não se é, porque 
        transparece sempre algo de nós, e passou a saber que é um grande 
        processo para uma vida. Passámos a construir personagens Quando somos 
        confrontados com a surpresa, as reacções variam conforme a forma de 
        encarar o inesperado, mas a preparação física e psicológica, o trabalho 
        de rigor, leva-nos a aprender a viver com o mundo da criatividade nesta 
        sala comunitária. Pouco a pouco vamos sabendo ouvir e ver melhor, a 
        aceitar as diferenças, apesar de ser difícil respeitar a individualidade 
        de cada colega e a forma de cada carácter. Em OED percebe-se mais, 
        porque é como um mundo distinto, em que cada um é ele mesmo e tantas 
        coisas mais. É como se o empenho, maioritariamente forçado nas outras 
        aulas, fosse neste local algo de espontâneo e natural. Mas também somos 
        impacientes – pensa-se estar já perante a 
        
        / 34 / 
        conclusão e surgem tarefas que causam semblantes de insatisfação e 
        frustração, nervosismo e irritação a dizer "caramba, isto nunca mais 
        acaba", sabendo a pouco estímulo, a aflitivo, já que se afigura mais uma 
        etapa, quando deveria ser o clímax da situação. É o plano para algo novo 
        que se corta e parece que não gostamos do que fazemos. Será sempre 
        assim? Quando vemos o resultado, dizemos que valeu a pena. É difícil 
        encarar o desconhecido e aceitá-lo como normal, pois não o é. Talvez 
        resulte nalguma dispersão e intervenção sem oportunidade, mas não fará 
        tudo isto parte de um processo de aprendizagem, que divide o que está 
        certo do que está errado e mostra que estes são dois conceitos muito 
        relativos? A entrega e a capacidade de análise podiam ser maiores, no 
        entanto, convém não esquecer que estes são traços pertencentes à 
        personalidade de cada pessoa, personalidade essa que está a ser 
        continuadamente trabalhada e que nunca deixará de o ser. Por isso mesmo, 
        é compreensível que numa disciplina como esta seja necessária uma 
        integração nos seus métodos e o processo de crítica possa existir. Mais 
        do que poder, deve acontecer sempre para que, esforço após esforço, se 
        possa concluir onde se melhorou ou se errou. Geralmente, descobrem-se os 
        erros cometidos de uma forma autocrítica. A critica colectiva ainda é 
        efectuada com algum receio, já que se teme a reacção da pessoa visada, 
        mas não criticando não se está a ajudar o parceiro. Para se poder fazer 
        sempre mais e melhor, é preciso conhecer os pontos fracos e 
        ultrapassá-los. Neste ponto refiro-me a todos os acontecimentos da nossa 
        vida em que o ensinado e aprendido aqui, podem sempre funcionar e 
        surgir. Relembro um fácil e acessível exercício de concentração, que 
        pode servir de base para um relaxamento e, simultaneamente, estímulo à 
        actividade intelectual para antes de um teste. E inconscientemente até o 
        fazemos, vamos na rua, olhamos para as matrículas dos carros e 
        inventamos uma história com esses dados para mais facilmente os 
        memorizarmos. É uma forma de nos familiarizarmos com o próprio meio onde 
        vivemos, despertando a nossa atenção para ser aplicada em tantos outros 
        aspectos da vida corrente... Por isso estas aulas não são estranhas ou 
        loucas como alguns podem pensar. Através de bases simples atingimos 
        coisas bonitas, aplica-se muito melhor o "eu" de cada um ao seu próprio 
        desempenho, aprende-se o que é intervir em solidão e em comunidade. É 
        uma das muitas possibilidades de percebermos que necessitamos da nossa 
        autonomia, mas também de uma mão amiga, que nos permita fazer certas 
        distinções em determinadas alturas. Pessoalmente sinto mais remorsos 
        quando chego atrasada a uma destas aulas que a outra. Talvez porque 
        saiba que estou a deixar para trás tempo importante da minha vida sem 
        recuperação possível. OED não cria super-homens nem super-mulheres, 
        apenas auxilia um processo de crescimento, por vezes tão complicado na 
        adolescência. OED apenas luta para que sobressaia o melhor de dentro de 
        nós. OED não pretende formar grandes actores ou actrizes, alicia para 
        uma vida fascinante e transcendental que é o teatro, o teatro da vida em 
        que o palco é cada segundo que passa e o público cada emoção que sente. 
        Deste modo, é preciso não esquecer que este passado de que falamos e 
        para o qual olhamos como processo de aprendizagem e desenvolvimento foi, 
        em tempos, um futuro que pretendemos alcançar. Resta então saber o que 
        vamos fazer, agora que temos o presente na mão. 
        
        
          
        
        
        FILIPA RAQUEL – 17 ANOS 
        
        
        
         É com prazer 
        
        / 35 / 
        que leio e releio as páginas do meu diário em que transpiram novos 
        sentimentos oriundos de OED e a provocar novas atitudes. Quando escolhi 
        OED foi pela simples razão de que parecia ser uma disciplina fácil, onde 
        se tiravam notas fáceis. Mais tarde, os meus amigos perguntavam-me o que 
        fazia em OED, até porque me viam com roupas estranhas, e eu respondia 
        que era teatro, por não ser fácil uma definição muito exacta no início 
        do ano. Contudo, à medida que as páginas do meu diário foram ficando 
        mais preenchidas, a minha pessoa também se preenchia com algo de novo. 
        Não fazia ideia do quanto é importante e necessário parar para observar 
        o "eu" e o "outro". À medida que o tempo foi passando, floresciam 
        características minhas que até eu desconhecia. Agora compreendo o porquê 
        de tantos "jogos e tarefas"... Seria muito lindo se fazer teatro fosse 
        decorar uns textos! Felizmente nada disso é assim, o processo de 
        aprendizagem é longo e algo complexo. Recordo-me de uma frase que 
        escrevi num papel de uma das minhas companheiras "fazer teatro não é 
        fácil, mas é bonito". É bonito e dá prazer pelo facto de não ser fácil 
        de o conseguir. Muita responsabilidade, autonomia, sentido de 
        observação, respeito, estão inseridos nas actividades e nada depende só 
        de um aluno ou só do orientador, depende do grupo. Fascina-me verificar 
        como um aglomerado de pessoas, que trabalham juntas seis horas por 
        semana, constroem a capacidade de se darem a si mesmos e concretizar 
        ideias tão boas, inesperadas, com objectivos e metas comuns a atingir. 
        OED tem-me ajudado a ser mais segura, para além de me ajudar na 
        construção de uma pequena parte da minha personalidade. Sou uma pessoa 
        difícil de contentar e tenho-me sentido frustrada em relação ao 
        "trabalho em construção". Contudo gosto da disciplina por marcar 
        diferença, em cada momento há desafio para o encontro com o nosso 
        próprio "eu". 
        
        
          
        
        
        GONÇALO PEREIRA – 16 ANOS 
        
        
        
         – Deitem-se! Foi a primeira palavra... Podia muito bem 
        ter sido, «... eu sou o vosso professor de OED, esta é a vossa sala e eu 
        chamo-me Duarte. Por favor, preencham as fichas...» Mas não, pura e 
        simplesmente ouvimos um estranho, ao mesmo tempo reconfortante 
        "deitem-se, eu não gosto da sala assim..." O que me pareceu ter sido uma
        
        
        / 36 / 
        terapia de grupo, tornou-se em algo que mexia com o nosso próprio "eu", 
        que teve um efeito mais marcante do que qualquer outra disciplina. Tudo 
        começou com uma metodologia a que não estava habituado, com a sensação 
        de que havia já uma relação muito superior à dogmática aluno/professor 
        que é como quem diz púlpito/plateia! Mas, estupefacto, comecei a reparar 
        que esta relação era bem mais provida de rigor e precisão do que me 
        parecera uns dias antes. Tinha passado do vago para o claro. Uma verdade 
        aterrorizadora ao ponto de haver uma introspecção tal que me dava ao 
        belo prazer de comentar com os "outros" que na sua ignorância dominada 
        pelo senso comum diziam entre dentes: – Que circo! Para mim tornava-se 
        então cada vez mais importante ouvir com "ouvidos de escuta, e olhos de 
        microscópio". Por momentos a relação prof. / alunos esteve muito 
        enigmática e imprevisível. Julgo que de certa forma isso também nos 
        ajudou a manter-nos interessados e expectantes. O que iria acontecer na 
        próxima aula? Tornava-se então cada vez mais imprescindível um grande 
        empenho e entrega, pois na minha opinião tudo tem que assentar num 
        princípio básico que distingue o lá fora e o nosso mundo. O processo 
        criativo começou com os alicerces indispensáveis da improvisação, da 
        crítica, da autonomia, da intervenção oportuna que iriam dar lugar à 
        execução do trabalho e por fim à sua concepção que se espera ser a 
        idealizada. (E lá vinham ao de cima crises de falta de autonomia e a 
        devida solidariedade para levar tudo a bom porto.) Tive sempre 
        dificuldade em descrever com correcção o que se passava em OED, para mim 
        não era um conjunto de raparigas que se vestiam e despiam à minha 
        frente, é um projecto com uma ordem bem definida que resulta numa outra 
        maneira de "ver" e de "falar" sobre mim e sobre o outro. Tornei-me numa 
        pessoa capaz de mostrar à frente de uma turma inteira aquilo que sinto 
        ao ouvir a música do Rei Leão... 
        
        
          
        
        
        MARIA ZAGALLO – 17 ANOS 
        
        
        
         Aprender a fazer o vazio, o silêncio... A abstracção da 
        realidade exterior mostrou-se um grande obstáculo. Fui percebendo que é 
        algo essencial, nada simples, nada mecânica. Não busco encerrar-me em 
        mim própria, em mergulhar unicamente no meu pensamento, nem ficar 
        alienada do exterior. Seria bom conjugar o melhor de mim com o que 
        apreendo lá fora. Canalizando-me, posso alcançar a concentração que me 
        permitirá trabalhar na procura do rigor, e a abstracção do supérfluo 
        conduz a uma entrega cada vez mais plena. Olhando para trás, noto que 
        todos partimos de um estado "bruto" e fomos moldando progressivamente o 
        nosso carácter. A autonomia tem-se desenvolvido em nós sem darmos muito 
        por isso. Estamos tão "entregues a nós próprios" que somos obrigados a 
        tomar decisões, e muitas vezes de uma forma bastante improvisada. A 
        construção do trabalho é o reflexo dessas decisões e o imprevisto fez 
        quebrar barreiras para um conhecimento melhor. Ultrapassámos momentos de 
        um "despir" delicioso, que permitiu que se fosse esboçando o grupo. Se 
        pegarmos nas palavras de Mário de Sá Carneiro «Eu não sou eu nem sou o 
        outro, sou qualquer coisa de intermédio», e as transportarmos para a 
        nossa vivência, penso que são bastante adequadas e que poderíamos 
        prosseguir e acrescentar – "Eu sou Eu e sou o 
        
        / 37 / 
        Outro" para nascer um eu colectivo. Não sei apontar que deixei de fazer 
        isto ou passei a fazer aquilo, mas o reflexo existe. As diferenças 
        sentimo-las internamente sem vermos as suas manifestações externas. 
        Simplesmente sentimos o crescimento... 
        
        
          
        
        
        HELENA VASCONCELOS – 16 ANOS 
        
        
        
         Não vou ser hipócrita e dizer que mudei muito e que sou 
        uma pessoa completamente diferente, tipo aqueles testemunhos da IURD. É 
        verdade que passei por muitas e diversas experiências que me 
        surpreenderam bastante (como o conhecimento através do tacto), mas nem 
        por isso mexeram com a minha pessoa. No entanto, sinto que estou 
        diferente ao nível do auto-controle. A disciplina é responsável pelos 
        laços que se estabeleceram entre mim e os outros, quer sejam de amizade, 
        atracção ou mesmo de não relação. Lembro-me de outra coisa, que 
        provavelmente é um grande defeito, ao aprender a camuflar (não mostrar 
        aquilo que não vale a pena ser mostrado) capacidades ligadas ao 
        auto-controle. Quando uma pessoa conhece totalmente outra, deixa de ter 
        interesse! Tudo começou logo nas primeiras aulas, quando o professor 
        desvendava alguns aspectos da nossa personalidade. Se existe coisa que 
        eu deteste, é isso! Aliás, acho que é quase impossível alguém fazer-me 
        isso, porque eu sou tantas e tão diferentes: a Helena da escola, a Lena 
        dos amigos, a Maria Helena da família. Mas, pelo sim pelo não, decidi 
        dar a mostrar apenas o que podia e conseguia. 
        
        
          
        
        
        MIRIAM ROSA – 17 ANOS 
        
        
        
         Privilegiada ou não por ter na minha posse alguns 
        conhecimentos relativos ao trabalho da disciplina, o receio foi o 
        sentimento dominante quando entrei pela primeira vez na sala de teatro. 
        Medo de não conseguir corresponder, de falhar, que me descobrissem 
        demasiado, e uma intimidação enorme, quer pela figura do orientador, 
        quer pelo trabalho a desenvolver, visto que sabia à partida que a 
        disciplina implicaria muitas alterações na minha própria personalidade. 
        A figura enigmática do "mestre", com as suas mil artimanhas, também 
        justificava esse medo... Era necessário despirmo-nos de todas as formas, 
        numa busca primária de conhecimento interior e colectivo. Assim se 
        formou o grupo, a primeira das principais ferramentas de trabalho. É 
        complicado sintonizar harmoniosamente um conjunto de indivíduos tão 
        diferentes e complexos entre si. Aprendemos a respeitar o outro 
        tolerando, sabendo ouvir e intervir, funcionando como órgão de um corpo 
        a desempenhar uma função mínima, mas vital para o conjunto, não se 
        pretendendo protagonismos. Decorriam no mesmo espaço de tempo bastantes 
        metamorfoses a nível individual. O actor não é 
        
        / 38 / 
        alguém que brinca ao "faz-de-conta" ou ao "era uma vez", é o despir da 
        sua identidade e vestir-se de outra, alheia, trabalhada, para viver 
        outras vidas por empréstimo durante o tempo predestinado. No palco ele é 
        tudo o que quiser, brilha com todo o fulgor, vive o seu sonho; entre 
        palcos é apenas um homem entre tantos outros. Foi necessário vencer uma 
        série de barreiras, complexos e preconceitos, esquecer o que nos prende 
        e soltar tudo, conhecer, partir à descoberta, desde a troca de roupa, à 
        partilha desconhecida mas não ingénua de jogos que, a "brincar", 
        permitiram evolução. Para quem, tal como eu, pensava que o teatro era 
        como nos filmes e nas novelas, OED revelou-se surpreendente numa 
        "primogenitura" de sensações, opiniões e actividades criativas. Alguns 
        aspectos do quotidiano não ficaram alheios a esta nova forma de estar, 
        desde a projecção de voz sempre que me quero fazer ouvir, até aos 
        exercícios de relaxamento para introspecção ou para dormir, passando 
        pelo treino de aquecimento feito antes de qualquer esforço intelectual. 
        É preciso gostar daquilo que se faz e entregar-se à tarefa com toda a 
        alma e empenho, aliando a originalidade aos conhecimentos adquiridos. A 
        relação com a escola sofreu alterações sobretudo na desenvoltura e 
        extinção de inibições que, pouco a pouco, foram contribuindo para uma 
        maior descontracção nas aulas com os colegas. E descobri que o teatro 
        também é jogo corporal, jogo verbal, espaço, estética, conflito, luz, 
        som, figurino, caracterização... À medida que fomos adquirindo 
        conhecimentos e cumplicidade, a figura do orientador passou a tornar-se 
        coordenadora do trabalho nas suas vertentes formativa e moderadora, 
        deixando a cargo dos discentes todo um trabalho com autonomia criativa, 
        constituindo uma experiência bastante enriquecedora na confiança. O 
        actor tem de preparar-se e pesquisar convenientemente para a 
        representação, tendo em atenção o seu aspecto físico em função da 
        personagem, o figurino, o seu "eu" expressivo, a sua essência. É um 
        trabalho de pesquisa e introspecção fundamental e que só ele pode 
        realizar. Face a esse esforço necessário para entrar numa personagem, 
        passei a valorizar/criticar com frequência as representações que tenho 
        visto e orgulho-me de o fazer com algum conhecimento de causa. Uma das 
        belezas do teatro, para além do seu carácter único, irrepetível e real, 
        assenta no facto de poder conjugar o jogo com o sério, o natural com o 
        absurdo, pedaços fragmentados de emoções em gestos, a essência de quem 
        cria, o gozo que se vive para que os outros possam assistir e pensar em 
        condicionalismos ou liberdades. 
        
        
          
        
        
        SANDRA PACHECO – 18 ANOS 
        
        
        
         Nunca pensei que esta disciplina me proporcionasse um 
        conhecimento mais profundo de mim e dos outros, ver as coisas de outra 
        maneira. É o segundo ano que ando com esta turma e nunca fomos tão 
        unidos como agora. Eu sei que um dos meus defeitos dentro da sala é não 
        me desligar do exterior, mas já estou a superar um pouco mais. Sou uma 
        pessoa tímida que não dá muito de si, mas luto para ser diferente. 
        Apesar de ser preguiçosa, tento ser rigorosa, porque gosto de ser 
        organizada. Gosto de ouvir as críticas dos colegas, porque tenho dias 
        que não sou criativa e isso ajuda-me. Depois não sou um elemento de 
        grande participação oral por medo, mas OED ajuda-me a pensar antes de
        
        
        / 39 / 
        agir. Quero tirar psicologia e esta disciplina já começou a ensinar-me a 
        saber escutar os outros. 
        
        
          
        
        
        SOFIA RIBEIRO – 16 ANOS 
        
        
        
         Na primeira aula de OED, o Duarte deu-nos um poema de 
        Mário de Sá Carneiro para ser lido com intensidade. Talvez sem saber, 
        para mim, foi uma dádiva, uma gota de sangue que brotou em mim e uma 
        flor a querer desabrochar. Naquele momento, sentada numa cadeira, com 
        dezenas de olhos postos em mim, incluindo os de um professor 
        desconhecido e misterioso, senti-me nervosa e confiante! Eu sabia que ia 
        conseguir, aquele era o meu momento, o momento ideal para mostrar um 
        pouco mais de mim. Foi "deslumbrante", como disse o Duarte, e tudo 
        devido à minha rouquidão natural. OED fez-me perscrutar toda a minha 
        existência; mas também a olhar para os outros, a conhecê-los, a saber 
        que são humanos e sensíveis como eu. Com o professor foi a sinceridade, 
        a descontracção, o carinho, a repreensão, o aprender e a adulação. Foi 
        aproveitar o tempo para sentir os sentidos. Foi muito importante 
        descobrir os outros no sentir, no amar e no viver. E a flor começou a 
        pedir mais água para crescer e ser eternamente bela. A confiança que o 
        professor depositou em nós fez-nos criar um trabalho com empenho. 
        Juntámos pedacinhos da alma de cada um para formar um todo glorioso. 
        Posso afirmar que tenho muito orgulho no nosso trabalho e na forma como 
        o Duarte nos conduziu no "labirinto". Ajudou-me no domínio das minhas 
        emoções para fazer o que gosto. Nada sei do futuro, mas jamais 
        esquecerei o teatro, está incrustado no meu cérebro para todo o 
        sempre... A minha personalidade renovou-se, por isso estou grata ao 
        grupo, ao Duarte e à vida. Contrariamente a Mário de Sá Carneiro, tenho 
        apreço à vida para ser feliz e fazer os outros felizes. Dissipem-se as 
        ilusões, resta a essência – o Amor. 
        
        
          
        
        
        TANYA PACHECO – 17 ANOS 
        
        
        
         Quero deixar bem claro que quando vim para esta 
        disciplina pensava que seria chegar à aula, vestir-me e tentar 
        representar algo que o professor me mandasse fazer. Nunca pensei que 
        iria tentar conhecer-me melhor e aos outros. No princípio tive 
        dificuldade em integrar-me, mas OED ajudou-me a "abrir" e fiquei 
        surpreendida comigo. Por vezes sinto que não sou ajudada, mas ao 
        respeitar as diferenças, levou-me a uma melhor entrega, empenhamento, 
        pontualidade, etc. Por vezes estou desorientada na aula, mas tenho 
        receio de pedir ajuda, embora saiba que faço mal. No trabalho que 
        estamos a construir, tive momentos de angústia, e sei que o professor 
        notou isso. Dava-me vontade de encontrar 
        
        / 40 / 
        um buraco para me meter, mas quero atingir todos os objectivos 
        propostos. 
        
        
          
        
        
        STACY L. ATCHISON – 19 ANOS 
        
        
        
         (aluna dos Estados Unidos da América inserida num 
        projecto de intercâmbio escolar) 
        
        
        Decidi participar em OED para conhecer mais pessoas da 
        minha idade. Era uma decisão boa por várias razões. Conheci muitas 
        pessoas e estou a aprender mais sobre mim própria. Talvez eu tenha 
        ideias diferentes dos outros, porque sou Americana, e só estou a 
        frequentar a escola para aprender principalmente a língua portuguesa. 
        Como tenho objectivos diferentes dos outros alunos, a influência de OED 
        na minha vida é só parte da influência de uma cultura. Estou a aprender 
        muito sobre mim própria, e isso é muito óbvio em OED. Também há coisas 
        que já sabia, mas agora estou a reparar mais nelas. Não gosto quando as 
        pessoas tentam corrigir-me, fico um pouco aborrecida. Isto é muito mau, 
        mas agora que reparei, posso tentar ser melhor. Eu estou a fazer o 
        esforço de aprender, mas não tanto como podia. A única pessoa que posso 
        desapontar é a mim própria. Às vezes falta a motivação, porque nada é 
        obrigatório. Isto é uma coisa que só agora estou a tentar corrigir. Mas 
        talvez antes ainda não estivesse pronta. Por causa de OED, no 11.º L, 
        somos muito unidos, porque as pessoas são mais livres de serem elas 
        mesmas. O ambiente é muito menos rígido, assim como a relação entre 
        professor e alunos. Esta disciplina é muito importante, porque não tenho 
        que estar sentada numa cadeira a tirar apontamentos e só a prestar 
        atenção ao professor. Há muito mais interacção entre os alunos. Não faz 
        mal cometer erros, os outros percebem e ninguém fica com má impressão 
        acerca de mim quando não entendo tudo. Uma coisa que aprendi com os 
        portugueses, especialmente em grupos, falam muito e fazem pouco. Não 
        conseguem concordar com facilidade e ninguém pensa num compromisso. 
        Estão sempre a discutir e eu fico calada por não ter nada para oferecer. 
        Não sou muito criativa com estas coisas à primeira. De todas as minhas 
        aulas, acho que OED será a aula que vai dar-me mais confiança e também é 
        a aula onde mais pratico o Português. Eu tenho muita autonomia neste 
        grupo, muito mais do que nas outras aulas. Com a autonomia vem a 
        responsabilidade. Às vezes não gosto de mim mesma, outras tenho muita 
        confiança, sei que consigo fazer tudo o que quero, que estou sem limites 
        nenhuns. Tento sempre respeitar os outros mesmo quando não concordo com 
        o que estão a dizer. Mas às vezes ofereço resistência, não ouço, porque 
        estou farta de errar tanto. Sou 
        
        
        um pouco egoísta, e teria mais respeito por mim mesma se 
        fizesse todas as coisas que disse que vou fazer. A responsabilidade de 
        melhorar é minha, a minha vida é a minha responsabilidade. Tenho a 
        responsabilidade de melhorar perante o grupo. Eles não são obrigados a 
        ajudarem-me mas ajudam mesmo; por isso, sou quase obrigada a aprender ou 
        pelo menos a  tentar. 
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