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        DEPOIMENTOS DOS ALUNOS – ANO LECTIVO 1997/1998 
        
        
        – 
        Turma 
        11.º K 
        
        – 
  
        
        
        ADRIANA SANTOS – 17 ANOS 
        
        
        
         Sempre que escrevo sobre alguma coisa, penso que é uma 
        tarefa difícil e, definitivamente, não penso mal. É difícil em todas as 
        disciplinas, mas a dificuldade triplica quando a disciplina é Oficina de 
        Expressão Dramática. Ao contrário das outras disciplinas, em OED tenho 
        que falar de mim – o eu – ser único e diferente de todos os outros 
        seres. Mesmo que não queira ou tente fugir, acabo sempre a reflectir 
        sobre a importância de um simples toque ou movimento a poder ter 
        diferentes significados para cada indivíduo que se encontra na "sala de 
        aula" – diferente de todas as outras salas. Deve também ser esse um dos 
        motivos que me levam a "estar" de maneira diferente. Parece que passo 
        pela "porta mágica" e a transformação acontece. Isto, para não falar do 
        professor que, apesar de ser um professor, é sem dúvida um professor 
        diferente, talvez por exigências da disciplina, quem sabe! Creio serem 
        estas as causas desta escrita ser particularmente trabalhosa (até já 
        pensei em inventar uma desculpa qualquer...), mas decidi fazê-la por 
        mim. É quase impossível para uma pessoa passar pela experiência de ter 
        esta disciplina e ficar indiferente. OED mudou algumas coisas em mim, 
        não o posso nem tenho motivo para o negar. A minha relação com os 
        professores não mudou muito, só que agora tenho tentado perceber melhor 
        algumas atitudes, que até aqui considerava absurdas. Às vezes penso como 
        serão fora das aulas, são pessoas com família noutros espaços, com 
        sonhos, medos, etc.. O mesmo acontece em relação aos meus colegas e 
        amigos; passei a conhecer melhor os seus defeitos e qualidades e aprendi 
        a conviver com eles. Passei a conhecer um lado da sua personalidade que 
        estava escondido, pois nas aulas vejo-os em situações que nunca poderia 
        imaginar e a mim também. As minhas relações familiares ficaram mais 
        equilibradas. Nas minhas discussões com a minha mãe já não acabo a bater 
        com a porta. Tento entender a opinião dela e fazer-me entender. É uma 
        nova maneira de olhar para o outro e para mim. Observo quando estou à 
        espera do autocarro ou quando passam por mim na rua. Despertei todos os 
        sentidos e fiquei mais curiosa. Por vezes custa um pouco o que se mostra 
        de nós ou o que os outros possam pensar, mas vale bem a pena sentir que 
        evoluímos como pessoas. Ninguém depende de ninguém / todos dependem de 
        todos. 
        
        
          
        
        
        ANA FILIPA GABRIEL – 19 ANOS 
        
        
        
        
         Ao longo deste período de trabalho, 
        
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        várias foram as tentativas em que o professor pretendeu que houvesse uma 
        entrega total por parte dos alunos. Entrega esta que fiz de cabeça, 
        tronco, membros e alma. Procuramos mostrar o outro lado da pessoa embora 
        seja muito difícil. Mas tudo se torna mais fácil através das vivências 
        em grupo, vivências que resultam num melhor entendimento entre os pares. 
        Resulta uma melhor amizade na procura do melhor que há em cada um. Eu, 
        interiormente, bem lá no fundo, continuei a mesma pessoa tímida, que só 
        mostra o seu lado divertido e por vezes "maluco" a certas pessoas. Foi 
        muito gratificante para mim conhecer o meu grupo, pois é em OED que 
        podemos constatar como todos somos diferentes e como todos somos iguais. 
        Ao trabalharmos o espírito de inter-ajuda resultou melhoria nos nossos 
        trabalhos. É muito bom verificar que com o teatro pode-se mudar muita 
        coisa na nossa vida, principalmente ter mais vontade de viver. 
        
        
          
        
        
        CLARA RIBEIRO – 18ANOS 
        
        
        
        
         Na minha opinião, as aulas de OED têm ajudado muito os 
        alunos numa relação de mais inter-ajuda, de compreensão e de 
        desenvolvimento intelectual. Foi o que me aconteceu até agora. No 
        princípio, quando cheguei à sala espaçosa com poucas mesas e cadeiras 
        expostas ao comprido num dos lados da sala, apercebi-me que a disciplina 
        iria mostrar-me algo de novo, o que me assustou um pouco; mas esta 
        sensação de novas experiências tornou-se boa e deu-me coragem para 
        seguir em frente e partir à aventura – ter escolhido esta disciplina foi 
        uma aventura. Fiquei incomodada na aula em que o professor disse que 
        tínhamos que mudar de roupa juntos naquela sala sem cortinas a separar 
        os rapazes das raparigas, mas agora é normalíssimo fazê-lo (por vezes é 
        tal a descontracção quando estamos nas "mudas" que já nem reparamos se a 
        porta está aberta ou fechada), é-nos indiferente. Falando só de mim, 
        penso que tive um óptimo processo de desinibição em relação a tudo o que 
        me rodeia e até a mim própria, tanto na disciplina como no meu 
        quotidiano. Desenvolvi certas capacidades que não tinha, ou melhor, 
        tinha mas não era capaz de as fazer aflorar e progredir, como o saber 
        "despir" preconceitos, conflitos internos. 
        
        
          
        
        
        FRANCISCO PINTO – 16 ANOS 
        
        
        OED e a alteração da história... 
        
        
        
        
         Provavelmente foi OED a primeira e única disciplina 
        escolar capaz de abrir novas perspectivas e novas interpretações sobre 
        tudo aquilo que me envolve e que faz parte da minha vida. A História 
        dá-nos uma ideia sobre os factos políticos, sociais, culturais, 
        religiosos, ideológicos, etc., que foram influenciando o caminho da 
        humanidade desde os tempos dia (?) partes de mim que viveram camufladas 
        por medos, ilusões e sonhos nefastos ao longo de 16 anos, a tempo de 
        ainda mudar muita coisa. Por outro lado, a ideia de grupo tem vindo a 
        ganhar novas formas e tonalidades desde que iniciei esta disciplina; a 
        ligação entre os 
        
        / 16 / 
        membros, o seu funcionamento, os objectivos que o unem e a sua linha 
        orientadora dão-me um novo sentido para tudo. OED permite interpretar de 
        maneira diferente, mas clara e objectiva, as minhas acções e atitudes no 
        quotidiano, assim como as reacções do meio que me rodeia, seja ele 
        familiar, do círculo de amigos, escolar, etc.. É, sem dúvida, uma 
        disciplina que deveria abranger toda a comunidade escolar, já que esta 
        seria uma forma de derrubar barreiras para a aprendizagem de novas 
        interpretações do mundo que nos abraça – permite-nos ultrapassar as 
        aparências, atingir a alma... 
        
        
          
        
        
        
         JOANA PIMENTA – 16 ANOS 
        
        
        As aulas de OED são horas em que me sinto bem, 
        descontraída, relaxada. Podemos estar à vontade, ser como realmente 
        somos sem disfarces. Aprendemos a conhecer melhor os outros e também a 
        darmo-nos a conhecer. Acho que até se aprendem diversas coisas que nos 
        vão ajudar um dia mais tarde – respeitar os outros e ajudar o próximo. 
        Estas aulas tiveram um efeito positivo em mim pois conheci-me melhor, 
        consegui encontrar em mim alguns valores positivos e negativos que até 
        então estavam camuflados e que nunca deveriam estar escondidos para se 
        melhorar. Ao longo do tempo vim notando em mim várias diferenças, já não 
        sou aquela menina outrora impulsiva, desrespeitadora e inimiga do seu 
        amigo. Noto que já sou capaz de controlar alguns dos meus impulsos, 
        respeito muito mais as pessoas que estão à minha volta, sei ouvir sem 
        que a conversa seja motivo de escárnio. A minha relação com o mundo 
        tomou-se muito mais fácil e proveitosa. 
        
        
          
        
        
        LILIANA VIDAL – 17 ANOS 
        
        
        
        
         Ser-me-á difícil de escrever aquilo em que OED me tem 
        instruído ao longo deste tempo. Tudo aquilo que é exercitado aula após 
        aula faz-me crescer e aprender a viver neste mundo tão grande e pesado 
        que paira sobre mim. OED faz-me crescer em personalidade. As aulas são 
        realizadas de tal maneira que torna possível o auto-conhecimento, 
        quebrando e ultrapassando medos leva-nos a um conhecimento melhor do 
        nosso interior. É possível ficar a conhecer melhor o outro, porque a 
        vida é um jogo, algo que começa e logo se acaba, por isso é necessário 
        saber viver – saber lidar com os outros. Se o outro ser é pensante 
        devemos aceitar a sua individualidade. Cada qual tem a sua forma de 
        estar e OED ensinou-me / ajudou-me a saber lidar com todo o tipo de 
        pessoas. É preciso saber viver com as diferenças – "Todos Diferentes 
        Todos Iguais". 
        
        
        A importância da confiança é indiscutível e foi uma coisa 
        que após algumas aulas passei a sentir. Saber acreditar em mim, saber 
        acreditar que sou capaz levou-me a concluir que se não confio em mim 
        como poderei confiar no outro? Outra coisa que eu acho extraordinário 
        nas aulas é o facto de poder desenvolver a capacidade de concentração e 
        de compreensão da realidade. Posso dizer que OED é a disciplina do 
        conhecimento, a 
        
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        fonte da comunicação e da desinibição, embora ainda me sinta um pouco 
        tímida (por enquanto). Noto, da minha parte, mais compreensão e afecto 
        no seio familiar e mais amizade e tolerância com os outros. A minha 
        capacidade crítica aumentou e existe uma vontade enorme dentro de mim de 
        querer chegar mais além. Já tenho bons objectivos de vida e acredito que 
        ainda vou alcançar muitos mais. 
        
        
        Ao trabalhar a construção de personagem estou a explorar 
        o meu outro lado, aquilo que sempre quis fazer sem saber como. Isso 
        dá-me grande felicidade na alma porque procuro viver a personagem que 
        escolhi, construindo-me a representar experimentando. 
        
        
          
        
        
        MARCO FONSECA – 18 ANOS 
        
        
        
        
         Todas as experiências realizadas, desde a comunicação 
        corporal até à comunicação verbal, desde o aquecimento até ao realizar 
        de uma dramatização, mudaram muito a minha vida. Antes quase nada tinha 
        grande significado até perceber que só se vive uma vez e que tenho de 
        aproveitar tudo até ao máximo. Comecei a ter uma nova forma de pensar, 
        uma nova perspectiva de tudo o que me rodeia. Comecei a ter uma maneira 
        mais positiva de relação com os pais com menos disputas, amigos, 
        colegas, com o desconhecido. Cresci psicologicamente e descobri que não 
        sou só mais um neste planeta, mas que sou um ser humano à procura de 
        conhecimentos, razões e coisas diferentes. Desde que comecei a entender 
        isto acabaram-se as más emoções, os maus pressentimentos. A vida tem 
        duas versões, ou é boa ou é má. Tornou-se urgente perceber que apesar de 
        ser dura, é boa. 
        
        
        Sinto-me mais forte e estimado, contrariamente ao que 
        sentia antes. Na sala de OED, libertei-me de uma muralha que me rodeava 
        e penso que os outros também. Com toda a gente em geral estabeleci 
        confiança, amizade e também carinho. Consegui ser eu próprio, evitando 
        fechar-me numa concha, num mundo intransponível onde só eu existia. As 
        muitas experiências que tive com o grupo permitiram-me desvendar as 
        minhas diferenças e igualdades em relação ao outro, e o que o professor 
        me ensinou sobre eu ser "eu mesmo" foi de extrema importância. Por isso, 
        estou muito grato às influências da disciplina, porque me sinto muito 
        melhor comigo e com os outros. A vida tem sentido – representar é mais 
        do que existir, é viver, ser e estar – é vida. 
        
        
          
        
        
        MARIA MANUEL BILELO – 17 ANOS 
        
        
        
         Escolhi OED um pouco às cegas. Muita gente dizia que era 
        muito fixe e que se aprendia imenso. Só o percebi realmente quando 
        comecei a reflectir sobre o que se tinha passado, até agora, nestas 
        horas todas na sala de teatro. As aulas de OED são horas em 
        
        
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        que, ao mesmo tempo que me divirto, aprendo. É fantástico aperceber-me 
        de todas as mudanças que sofri e para as quais essas aulas foram 
        fundamentais. Acho que apesar de me terem vindo a ajudar a lidar melhor 
        com o exterior, o que considero mais relevante foi o conseguir 
        compreender-me muito melhor e o ultrapassar certo tipo de barreiras, 
        outrora inultrapassáveis. Considero o facto de lidar melhor com o que 
        está à minha volta uma consequência dessa mudança interior. Afinal, como 
        é que vamos perceber os outros se nem a nós mesmos percebemos? Talvez 
        não tenham sido só as aulas de OED por si só, mas todo o contexto em que 
        se inseriram. Se pensar bem, o principal e o que me fez sentir tão 
        melhor foi o facto de me sentir muito mais EU, esteja onde estiver, 
        esteja com quem estiver. A insegurança sempre presente está agora muito 
        mais ténue, com muito menos poder sobre mim. Acho que me tornei uma 
        pessoa muito menos frágil e que consegue superar as coisas sem pôr 
        tantos problemas. Mas, ao mesmo tempo essas horas fizeram-me muito mais 
        sensível. Descobri que toda a gente tem o direito de SER. Outra das 
        barreiras que fatalmente tive que ultrapassar foi a timidez. Fui 
        obrigada a deixá-la de lado, pois queria progredir na disciplina. Ainda 
        bem que assim foi pois perder parte dela ajudou-me cá fora, muitas vezes 
        tornava-se num verdadeiro empecilho. Aprendi a estar melhor em grupo, 
        principalmente num grupo em que conhecia mal a maior parte das pessoas. 
        Sinto-me muito mais capaz de respeitar os outros e de me fazer respeitar 
        ultrapassando diferenças. Só não sei explicar coerentemente os choques 
        com a minha família! Acho que nisso as aulas de OED foram prejudiciais, 
        talvez por eu ter mudado tanto em tão pouco tempo ou até por aquilo de 
        que me apercebi durante as mesmas. O que mais me fascina nestas aulas 
        ainda é o facto de serem multifacetadas. É incrível como se aprende 
        tanta coisa e tão variada numa só disciplina e ainda por cima de uma 
        forma descontraída e sem pressões! Considero estas aulas um grande 
        contributo para a minha formação pessoal. Para além de melhorar a minha 
        relação comigo própria e com o exterior comecei a cativar-me e a 
        entender o "teatro". Consigo neste momento apreciar muito mais um 
        espectáculo, não só de teatro mas também de cinema ou dança. Tornei-me 
        muito mais sensível a certos pormenores que dantes nem sequer me 
        chamavam a atenção. É bom lidar melhor com o meu corpo e com o dos 
        outros. É incrível aquilo que se pode fazer e transmitir com o corpo, 
        fazendo muitas vezes com que a voz se torne desnecessária ou mesmo 
        ridícula. OED tem sido intrigante mas enriquecedora. 
        
        
          
        
        
        MARIANA SARMENTO – 17 ANOS 
        
        
        
         Passar para o papel o que para mim têm sido as aulas de 
        OED pode, de início, parecer uma tarefa simples; porém, ao fim de algum 
        tempo a reflectir sobre o que havia de escrever, descobri que afinal não 
        era algo assim tão fácil. Provavelmente, para quem está de fora, esta 
        minha dificuldade não tem razão de ser, porque apenas é necessário dar 
        uma opinião. O primeiro obstáculo com que deparei foi: o que é OED? Qual 
        a sua finalidade? O que pretende ensinar? Estas são, talvez, algumas das 
        interrogações mais pertinentes desta oficina. A sua definição revela-se 
        complexa, assume várias dimensões, visto que tudo o 
        
        / 19 / 
        que está relacionado com esta disciplina faz parte do mundo da 
        subjectividade, depende da maneira de ser de cada um, da forma como se 
        deixam transparecer as emoções; tudo depende de nós próprios. Pois bem, 
        as seis horas por semana dedicadas a OED são momentos em que eu faço uma 
        viagem ao meu ser, de modo a conhecer melhor as minhas potencialidades e 
        os meus limites. E esta introspecção é feita por todos, pelo grande 
        grupo. Mas o que tem isto de comum com o teatro? Para vestir outra pele 
        é preciso, antes de mais, sentirmo-nos bem na nossa, o que só é 
        alcançado depois de "travarmos conhecimento" com a pessoa que somos. OED 
        proporciona-nos o ambiente e as circunstâncias adequadas, bem como nos 
        dá elementos para tal. Várias foram as barreiras que consegui transpor 
        graças a algumas actividades que temos vindo a realizar ao longo do ano. 
        Acho que a principal meta atingida foi a desinibição, a perda de 
        complexos sem fundamento, conquistei a minha afirmação pessoal apenas 
        por aquilo que sou, a partir do conhecimento das minhas características. 
        Um pormenor que ajudou muito foi o trabalho em conjunto. Confesso que ao 
        princípio, o facto de ter que me "despir" perante catorze pessoas, com 
        cuja maior parte das quais não temos confiança suficiente, apesar de 
        todos nos conhecermos, foi assustador mas sobretudo deixou-me pouco à 
        vontade. Acabei por descobrir que esses jogos são muito benéficos, na 
        medida em que me "obrigaram” a analisar o meu interior, fazer uma 
        lavagem à alma e ao coração, em busca daquilo que temos de bom e numa 
        tentativa de mudar alguns pontos de vista e/ou alguns comportamentos. No 
        âmbito do desenvolvimento pessoal ocorreram algumas mudanças originadas 
        pelo "despir" de cada um. Creio que aprendi a respeitar as diferenças, a 
        ter espírito de partilha, de modo a relacionar-me melhor comigo própria, 
        com o meio em que estou inserida, com os amigos, os outros e a família. 
        A minha autonomia também foi "posta em jogo' – testada. O professor 
        Duarte esteve sempre presente, só que me deu (a todos) espaço de 
        manobra, forçando-nos a ser autónomos, a acreditar que somos capazes de 
        fazer sozinhos o que nos é pedido. Por vezes senti-me desamparada, de 
        mãos atadas. Tinha de trabalhar, o problema é que não sabia como começar 
        nem como tornar as ideias realidade. Mas era preciso desenvencilhar-me. 
        E não restam dúvidas de que o método teve sucesso, pois não só aumentei 
        a minha autonomia como desvendei um pouco mais do "eu". Contudo, a 
        vertente teatral propriamente dita da disciplina nunca foi esquecida, 
        bem pelo contrário, o teatro esteve sempre na base de tudo. Posso 
        afirmar, que agora o teatro ocupa um lugar especial, dedico-lhe mais 
        atenção, até porque adquiri conhecimentos que me permitem apreciá-lo. 
        Explorei a minha capacidade crítica e agora sei identificar muito mais 
        depressa e melhor os "produtos" que têm valor e qualidade. Acima de tudo 
        foi-me incutido o gosto por esta arte, integrei-a no meu quotidiano, 
        pois aprendi que a própria vida pode ser vista como uma peça de teatro e 
        que nós somos personagens numa constante actuação. Assim, o que eu 
        julgava ser uma disciplina onde se representariam peças de teatro, onde 
        se aprenderia ser actor, revelou-se uma caixinha de surpresas, 
        principalmente boas. OED é um espaço que permite explorar o mundo, que 
        nos ensina a lidar com o exterior, a utilizar o teatro na comunicação... 
        enfim, com entrega e empenhamento da nossa parte ganhamos mais um 
        incentivo para a vida. 
        
        
          
        
        
        ORLANDA RIBEIRO – 16 ANOS 
        
        
        
         Eu sei que esta 
        
        / 20 / 
        disciplina transformou muitos dos meus actos em relação a muita coisa. 
        Embora ainda não tenha visto com muita clareza o que está em 
        transformação, sei que tenho a noção de mudança. Em casa estou mais 
        paciente com a minha irmã e com o meu pai, e estou a ensiná-los a ser 
        mais tolerantes. Já consigo compreender certas situações que, 
        provavelmente, antes seriam completamente absurdas. Coisas 
        insignificantes têm um significado que normalmente as pessoas passam e 
        não dão importância. Em relação aos meus colegas, quando a conversa não 
        interessa, tento incutir outro assunto sem que eles fiquem magoados, já 
        os conheço melhor porque passei a dar importância a pequenas coisas. 
        Estou mais perspicaz e isso reflecte-se em muitas das minhas acções. 
        Mas, em contrapartida, já não consigo deixar de aborrecer as pessoas, 
        não sei se isto é uma consequência de ter OED ou não, até pode nem ser, 
        mas isso ainda vai levar algum tempo para descobrir. Consigo, em algumas 
        situações, disfarçar a minha timidez, embora às vezes custe um pouco. 
        Acho que as aulas de OED deviam ser para todos os alunos, porque não se 
        trata de aprender a representar, mas sim a descobrirmo-nos e a 
        descobrirmos os outros. Eu, apesar de tudo, só deixo que os outros 
        descubram de mim aquilo que eu quero... 
        
        
          
        
        
        RAQUEL BARROS – 17 ANOS 
        
        
        
         As aulas de OED fizeram-me pensar sobre tudo aquilo que 
        fiz até hoje, sobre a vida. Ainda bem, porque permitiu analisar e 
        desenvolver a minha personalidade. Aprendi a compreender melhor o outro, 
        aprendi a ser mais forte em relação ao mundo e aos outros. Quebrei 
        barreiras e medos para aceitar-me mais com sou, lidar com as inibições 
        de uma forma mais positiva – sinto que cresço a cada hora. Nas aulas 
        libertei as emoções mais escondidas. Descobri que podemos comunicar e 
        exprimir sentimentos através do corpo, porque o corpo não mente, ele 
        denuncia-nos. Descobri que o que parece simples tem objectivos profundos 
        e complicados. Deste modo, comecei a desenvolver e a reconhecer uma 
        evolução na minha personalidade e na personalidade dos outros. Não posso 
        esquecer que a confiança esteve sempre presente nas aulas de OED, e isso 
        fez-me deixar despir a alma para enfrentar obstáculos. Consegui definir 
        algumas fragilidades e aprendi a conviver com elas. Ao aprender a 
        integrar-me melhor no mundo, descobri que o teatro é vida. Tudo isto 
        fez-me encontrar mais paz interior, harmonia e calma. O teatro é vida, 
        mas será o teatro algo bem definido e concreto? Ainda não consigo 
        definir bem o teatro por ser tantas coisas, mas é vida. 
        
        
          
        
        
        SÓNIA MOSTARDINHA – 17 ANOS 
        
        
        
         Antes de ir mais além do que se pretende, poder-se-á 
        nomeadamente começar por dizer uma frase muito importante que Peter 
        Brook proferiu. «O teatro é um instrumento fantástico para a educação.» 
        Todavia, em tempos anteriores, o teatro não era visto desta 
        
        
        / 21 / 
        forma. Era idealizado como um mundo de ilusão, de elite, visando 
        essencialmente a arte de artifícios espalhafatosos, ridicularizados. Mas 
        toda esta idealização é posta de parte quando se vai à raiz do teatro, 
        ou seja, aprofundamos mais a sua origem e constatamos que o teatro não 
        tem qualquer semelhança com os ideais estabelecidos, pois a verdadeira 
        natureza é aquela que somente o teatro reconhece: o ser-se. O teatro 
        baseia-se na vida, espaço e tempo concentrados, permitindo desta forma 
        que possa sair de cada um aquilo que talvez, por uma razão ou outra 
        desconhecidas, sem esta oportunidade permanecesse escondido. Verifica-se 
        importante que haja no teatro sempre a verdade do actor, não a verdade 
        dos outros, mas a verdade de cada um, para que o espectador possa 
        acreditar no que está a ver, caso contrário todo o trabalho será em vão 
        para se tornar um aborrecimento. Existe no teatro toda uma rede complexa 
        de infinitas ideias. À medida que o tempo vai marcando o seu compasso 
        nas aulas de OED, posso constatar que em cada dia que passa há algo que 
        muda, não só connosco mas na relação com os outros. De início tudo 
        parecia tão escuro, mas o sol foi infiltrando os seus raios por entre as 
        barreiras da imensa "caminhada" a percorrer, tudo foi ficando cada vez 
        mais claro e transparente, compreensível e esclarecedor. A verdade é 
        que, parecendo que não, nós não conhecíamos o suficiente de nós 
        próprios, ou seja, eu não me conhecia a mim própria e muito menos os 
        outros. Por isso, à medida que as aulas passavam, através das surpresas 
        desta disciplina, originou a colisão interior com o meu "eu" sentindo 
        timidez umas vezes, angústia ou medo outras. Tudo isto só pode ser 
        superado quando se descobre que tudo tem uma razão (lógica ou não) para 
        nada acontecer por acaso. Há origem e fundamento para tudo. Foi assim 
        que comecei a ver tudo numa perspectiva diferente, certas atitudes e 
        posições que os outros tomaram (anteriormente tornavam-se desconhecidas 
        com autênticos ficheiros secretos), ainda vítimas de crítica e escárnio, 
        são agora possíveis de compreender e mais facilmente de aceitar – a sua 
        receptividade é muito melhor. Penso que todos nós mudámos no sentido 
        positivo; houve um desenvolvimento das nossas capacidades para uma 
        melhor construção da Personalidade, certos "focos" que estavam muito 
        escondidos são agora postos na "ribalta". Pessoas que aparentavam uma 
        grande timidez, mostrando receio de fazer algo com medo do que os outros 
        pudessem pensar, agora já não se passa, essa barreira já foi 
        ultrapassada porque o teatro liberta o indivíduo, desenvolve-o 
        psicologicamente e fisicamente dando-nos liberdade de expressão. 
        
        
          
        
        
        SORAYA AMARO – 16 ANOS 
        
        
        
         Quando escolhi OED sabia, de certo modo, o que me 
        esperava. Mas acho que não sabia que seria tão bom. Ao começar, tenho a 
        noção de que me espantei. Ninguém esperava que aquela sala fosse, em 
        simultâneo, vestiário comum, oficina, palco, bastidores, confessionário 
        e mesa de café, onde as pessoas se conhecem aos bocadinhos, onde se 
        puxam conversas e onde com os amigos o respeito e a confiança se ganham. 
        Uma mesa gigante onde, em vez de café, fomos ingerindo confidências e 
        deglutindo vergonhas e receios. E muitos, muitos medos. Fomos tomando 
        consciência de que aos olhos dos outros, somos 
        
        / 22 / 
        todos uma caixinha de surpresas pronta a abrir. Bastou saber o segredo 
        da abertura. Com a ajuda do Duarte (perdão, em público é Professor 
        Duarte) descobrimos as combinações certas que abriam cada um de nós e 
        como nos usarmos no momento certo. Esse foi um efeito dos mais 
        importantes da disciplina. Aprendi a ver para lá do que as pessoas 
        mostram, a ouvir, não só o que elas dizem, mas sim aquilo que pretendem 
        dizer. Porque isso era, provavelmente, o mais importante de tudo. Saber 
        que as pessoas têm muito para mostrar, sabem disso e não são capazes de 
        o fazer, leva-nos a ajudá-las a mostrar os seus maiores potenciais que 
        dormitam dentro de si. Quando me foi pedido que criasse uma personagem 
        para mais tarde a viver, tive tanto medo do que teria de mostrar de mim, 
        dos meus desejos, das minhas vontades, que durante muito tempo não 
        consegui decidir sobre qual seria a minha personagem. Depois percebi que 
        essa era uma oportunidade única, e que era o melhor momento para 
        descobrir como seria se não fosse eu mesma. Resolvi reinventar-me e foi 
        excelente viver outra pessoa, outra realidade sem com isso deixar de ser 
        eu. A minha personagem é aquilo que a minha verdade faz dela. Ela é 
        exactamente aquilo que eu seria se, em vez de ser eu própria, fosse ela. 
        A forma como tento representá-la é a verdade com que a vejo, é a imagem 
        que tenho dela dentro de mim. E é muito bom aprender a ser capaz de 
        exprimir a nossa própria verdade. Uma coisa que me surpreende bastante é 
        a forma como tenho (temos todos) vindo a aprender a lidar com os 
        complexos. Cheguei à conclusão de que não é saudável escondê-los e 
        deixar que, na sombra, cresçam desmesuradamente. Aprender a 
        reconhecê-los é o mais importante, tal como ultrapassá-los de uma forma 
        o menos violenta possível e que não venha cortar radicalmente com a 
        forma como até então nos víamos – um tempo para aprender a aceitar a 
        nova imagem criada. Deitar no chão, no meio de uma roda de mais de duas 
        dezenas de olhos curiosos, e esperar que estes nos observem e tirem as 
        suas conclusões, é muito mais educativo do que ouvir depois essas mesmas 
        conclusões. Porque o que custa verdadeiramente é aguentar vinte e tal 
        olhos pousados, a vaguear pelo nosso corpo, a querer descobrir as nossas 
        formas e características, o resto é fácil. Criou-se entre o grupo de OED 
        uma união, as pessoas inscritas na disciplina tornaram-se um grupo com o 
        passar do tempo. Compreendemos que a condição essencial para que um 
        conjunto de pessoas se torne um grupo é o respeito, e nós temos vindo a 
        respeitar as diferenças de cada um. Claro que existem sempre choques de 
        ideias, de opiniões, de valores, mas temos procurado contornar essas 
        divergências sem querer que passem em branco. O conhecimento que temos 
        do outro nunca é total e divergências de opinião podem significar uma 
        outra forma de conhecimento. OED levou-me a um sítio maravilhoso, 
        ensinou-me como fazer a melhor de todas as viagens – a Viagem Dentro de 
        Mim. 
        
        
          
        
        
        KINNERET ISRAEL – 17 ANOS 
        
        
        
         (aluna dos Estados Unidos da América inserida num 
        projecto de intercâmbio escolar) 
        
        
        Já está quase na hora de sair de Portugal. Durante este 
        ano vi exemplos de como eu quero viver e de como não quero nem consigo 
        viver a minha vida. O teatro é uma das / 23 / coisas que não vou deixar 
        para trás. A participação e a análise do teatro vão ficar sempre comigo. 
        Aprendi muito com os trabalhos que nós fizemos em conjunto. Uma das 
        coisas em que esta disciplina me ajudou foi na língua. Os colegas 
        tiveram muita paciência para explicar o que estávamos a fazer; o 
        ambiente desta aula é bom para se aprender, as pessoas não criticam os 
        outros levianamente, o que cria liberdade e conforto para exprimir e 
        experimentar as nossas ideias. Crescemos em conjunto para ouvirmos e 
        aceitarmos as ideias e os compromissos. Todos temos que dar e aceitar e 
        experimentar coisas novas. Também devido a certos jogos que nós fizemos 
        eu desenvolvi a concentração e aprendi a confiar nos outros. Do teatro o 
        que teve mais influência em mim foi a observação, a confiança, a 
        criatividade e a imaginação. Tornei-me uma melhor observadora e comecei 
        a pensar mais sobre a razão de sermos quem somos e de estarmos onde 
        estamos. Este ano fiquei muito tempo sozinha. Quando não tinha alguém 
        para falar ou nada para fazer, só olhava as outras pessoas como numa 
        peça de teatro. Os melhores sítios para fazer isso são as paragens de 
        autocarro, comboio, rua, escola, porque nestes sítios tenho que usar 
        mais a minha imaginação. A utilização do teatro na vida real sempre dá a 
        possibilidade para a elevação dos pensamentos e diversões em qualquer 
        tempo e lugar. Quase todos os aspectos do teatro são importantes na 
        vida. Mas algumas destas coisas são difíceis, tais como deixar os medos, 
        nunca olhar para trás e tirar partido da linguagem corporal. O teatro 
        ajudou-me a desenvolver a mentalidade e a percepção da vida, só que nem 
        sempre consigo aplicar em relação aos outros. O que prefiro no teatro é 
        a improvisação. O teatro mostra-nos a dinâmica dos múltiplos 
        relacionamentos com os outros e pela observação eu já consigo ver como 
        são as pessoas, sem se retratarem, tornando mais fácil as relações com 
        os outros. O teatro disse-me que sempre existe alguma coisa mais depois 
        da palavra, da acção, e é o que estou a procurar. 
        
        
        «Depus a minha máscara, e tornei a pô-la 
        
        
        Assim é melhor 
        
        
        Sem a máscara 
        
        
        E volto à personalidade como a um terminus da linha.» 
        
        
        ÁLVARO DE CAMPOS 
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