O Bem pelo Bem
BARBOSA DE MAGALHÃES
CONTINUAMENTE
se vêem nos jornais e em outros órgãos de publicidade apelos à caridade
alheia, pedidos de esmolas, de socorros, subscrições a favor de homens,
mulheres, crianças e. colectividades, convites para espectáculos,
concertos ou chás de caridade, com bridge, ou sem bridge, com canasta,
ou sem canasta, com variedades, ou sem elas, e, felizmente, esses apelos
e pedidos são frequentemente atendidos, essas subscrições recolhem
bastantes donativos e esses convites são aceites, dando ensejo a serem
cobradas receitas mais ou menos quantiosas.
E é tudo por bem.
Mas, infelizmente, esse bem poucas vezes é
devido a puro altruísmo.
Há quem o faça para parecer bem; para ver o
seu nome nos jornais, ou o seu retrato numa parede de certa
colectividade; para ganhar o céu − quem dá aos pobres empresta a Deus −;
para ir divertir-se, comendo, bebendo, dançando, jogando e gozando os
variados espectáculos que se lhe proporcionam.
Há ainda, com certeza, quem o faça por
política, para conseguir partidários e votos − um subsídio com dinheiro
seu, ou do Estado, ou de um órgão administrativo, para um sino duma
igreja ou capela, para um marco fontenário, para uma fonte, ou calçada.
E até há quem o faça para simples satisfação
da sua consciência, por impulsos da sua alma e do seu coração.
Entre estes beneficentes estão os bombeiros
voluntários; e estão em primeiro lugar.
Porquê? Porque, mesmo dentre os que fazem o
bem pelo bem, poucos são os que dão, ou sacrificam, aquilo de que
precisam; em regra, dão ou sacrificam o que lhes é supérfluo.
Os bombeiros arriscam o seu sossego, o seu
bem-estar, a sua saúde e a sua própria vida − para evitar prejuízos aos
outros, para lhes evitar os males físicos, que derivam das calamidades
públicas, para salvar a saúde, a vida e até a fazenda dos outros.
O que dão, o que arriscam não é nada do que
lhes é supérfluo e são dos poucos beneficentes que seguem o preceito
moral − faz o bem, não olhes a quem.
Bem poucos são os que pensam que, de um
momento para o outro, podem precisar do precioso auxílio dos bombeiros,
que, já desde longe, se não limitam a evitar e a acudir aos incêndios,
mas intervêm, com a sua valiosa acção, com todos os seus dedicados e
inteligentes esforços, em todas as outras calamidades públicas.
Em regra, o egoísmo tem tal força que,
contando com o altruísmo alheio, nem deixa pensar que de repente pode
haver precisão de recorrer àqueles que estão sempre prontos para
socorrer os outros.
No entanto, os bombeiros são daqueles
altruístas que, aliás muito merecidamente, são olhados e respeitados com
admiração e reconhecimento.
JANEIRO DE 1957
|