W. VIANA
No
espaço de informação que procuro dar aos meus amigos alunos que, em
alguns casos, não me querem entender, porque estão mais empenhados nas
tarefas práticas que os aguardam do que em estudar o meu discurso que
consideram "retórica", há aspectos fundamentais que se inscrevem no
conceito de "Cultura" – que é um direito – e deve ser objecto de
apropriação dos jovens e... aliás... de todos os Homens.
Observei durante anos as reacções desses meus amigos,
ouvi vezes sem conta comentários de pessoas ligadas a sectores
sócio-profissionais diversificados, alguns com responsabilidades na
formação e na saúde dos jovens – e, desiludida, cheguei a pensar
escrever as memórias do que pensava ser a minha frustração.
Desisti porque... afinal, reflectindo mais profundamente,
não me sinto frustrada!...
É que.,. as benditas actividades físicas às quais,
durante longo tempo, se chamou "ginástica" e que, finalmente, foram
reconhecidas "de facto e de direito" como disciplina fundamental
–Educação Física – apenas padecem da mesma discriminação a que têm sido
sujeitos outros aspectos da "Cultura" e do "Progresso" neste País –
Artes Plásticas, Literatura, Teatro, Música, investigação...
ALIÁS...
aqui procura diferenciar a Educação Física do desporto espectáculo de
competição e desmistificar eventuais confusões que ainda possam
subsistir em alguns casos.
A disciplina de Educação Física tem como objectivo
prioritário proporcionar a cada pessoa elementos de ordem científica e
técnica que permitam adequar condições particulares de saúde a formas de
movimento organizado adaptado a cada situação específica.
Esta disciplina pretende alertar todos os alunos –
crianças e jovens, alguns Pais menos atentos e eventualmente outras
pessoas ligadas ao campo da saúde – para o facto incontroverso de que o
"Movimento" é essencial para a "Vida" entendida em todas as suas
vertentes...
Importa que cada cidadão, no âmbito das suas
possibilidades (anatómicas, fisiológicas ou psíquicas) desenvolva a
actividade possível, mais aconselhável e apropriada a cada situação, sem
esquecer que não há duas pessoas iguais...
Aliás...
é por isso que a principal Área de Intervenção da Educação Física se
situa no domínio da "Aptidão Física" ... ou seja... cada um, de acordo
com os seus condicionalismos de saúde ou de idade, pode e deve
desenvolver a actividade física que lhe seja possível e aconselhável. A
imobilidade conduz à morbilidade, à degeneração progressiva e acelerada
/ 15 / das
capacidade físicas, do valor físico de base, da condição física ou, como
dizem com frequência os "mass media", ainda que incorrectamente, da
"Forma".
Acreditando na validade da opção académica por que me
decidi – no tempo em que fazer exercício físico era conotado com
"incapacidade" para desenvolver actividades intelectuais nobres – apenas
desejaria lembrar que, em todos os tempos, as grandes descobertas
científicas só foram determinantes para o progresso da civilização
quando estiveram associadas à capacidade de agir e, desse modo,
trouxeram vantagens ao Homem.
A Educação Física não procura fazer heróis, nem
vencedores, nem atletas... nem sequer "mitificar" ou enaltecer os "bons"
ou "os melhores" com prejuízo daqueles com quem a natureza foi menos
pródiga.
Aliás...
nesta disciplina curricular apenas se procura ajudar a criar condições
para que cada indivíduo se conheça, se aperfeiçoe e possa participar,
activamente, na sociedade que será desejável construir...
O que é preciso é que cada um se mantenha activo e não se
deixe absorver pelos comodismos fáceis que a sociedade de consumo é
fértil em oferecer...
Importa que cada jovem conheça e melhore as suas
capacidades e não deixe que a inactividade as adultere precocemente.
Para se poder intervir e participar na rotina diária é
necessário ter capacidade de ultrapassar toda a espécie de "agressões"
que são impostas pelo meio exterior, aprender a conhecer reacções, estar
apto, em situações diferenciadas, a responder adequadamente a cada uma
das exigências que se impõe satisfazer.
Para isso é fundamental experimentar, em cada caso, o
potencial de resposta perceptivo-cinética.
Aliás...
esses são, resumidamente, os objectivos da Educação Física que, para
tal, utiliza meios de intervenção diversificados.
Educação Física
é afinal uma disciplina teórico-prática simples, fácil e
útil!.
Tal como há mais de dois mil anos, aproxima-se dos ideais
da Medicina com o objectivo de manter a saúde, prevenir anomalias, lutar
por uma longevidade sadia, lúcida e interveniente...
Pugnando por que cada jovem aprenda a conhecer-se e se
decida pela actividade que simultaneamente lhe possa ser útil e
agradável, quando deixar de ser aluno. a Educação Física procura, desde
a primeira infância, colaborar no processo Ensino-Aprendizagem que é
indissociável do conceito de "Homem" como elemento interveniente da
sociedade actual.
Felizmente poucas situações clínicas há em que o
exercício físico seja totalmente desaconselhado, porque afinal, se as
"peças" (ou seja as estruturas) que constituem o Ser Humano não
desenvolverem as funções que lhe são destinadas, elas tendem
progressivamente a degradar-se. É que... a função faz o órgão...
A Educação Física só precisa da "vida"... e de
"oportunidade” para activar as estruturas que sustentam e desenvolvem a
vida de relação de cada um dos indivíduos que nascem neste Universo,
desejando torná-los mais disponíveis e esclarecidos.
Aliás...
a Educação Física contribui para um processo de desenvolvimento que não
acaba nas mesas da escola. Tem reflexos ao longo de toda a vida e... se
não fosse mal entendido... gostaria de deixar um "recado" ou melhor,
uma mensagem...
Que nenhum cidadão ou sector sócio-profissional pactue
com a "incultura" ou contribua para a perda das capacidades com que a
Natureza dotou a espécie humana. ▪
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