Aveiro pode ser considerada uma cidade "baluarte da
liberdade". Teve a sua loja maçónica, que existiu na quinta dos Santos
Mártires no Alboi. Era urna casa olhada com algum horror, pois ali, –
dizia-se – os maçónicos davam tiros na imagem de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Dela, faziam parte alguns intelectuais cujas profissões eram:
juízes de fora, provedores, desembargadores, lentes, tenentes, etc. Esta
loja serviria para divulgar nesta cidade os ideais liberais...
Perante o regresso de D. Miguel ao país em 1828, Aveiro
recebeu com frouxo entusiasmo esta notícia. Não houve "Te Deum" na
sessão camarária. D. Miguel irá dissolver de imediato as Cortes e
logicamente a Câmara dos Pares e dos Deputados, proclamando-se Monarca
Absoluto e revogando a Carta Constitucional de 1826. Joaquim José de
Queirós, que era então deputado, tentou apoio junto dos seus pares
contra esta política anticonstitucional, mas não conseguiu. Será, pois,
na cidade de Aveiro, na sua casa de Verdemilho, que Joaquim José, então
desembargador, irá começar a planificação da revolução, que haveria de
estalar simultaneamente em Aveiro e no Porto em 16 de Maio de 1828. Esta
revolução teria como objectivo derrubar o regime absolutista de D.
Miguel, restaurando a carta constitucional de 1826, outorgada por D.
Pedro IV. Joaquim José de Queirós irá conseguir, para a sua causa, o
apoio de alguns maçónicos de Aveiro e mesmo de alguns intelectuais como
Francisco Silveira de Carvalho e Clemente Morais Sarmento. A nível
militar, esta revolução teria o apoio do Batalhão de Caçadores 16. O 16
de Maio chegou e em Aveiro começaram a ouvir-se "Vivas" à carta, a D.
Pedro e a D. Maria, na Praça do Comércio e noutros lugares da cidade. Na
casa da Câmara reuniram-se mesmo alguns oficiais dos Caçadores 16. Os
vultos mais proeminentes do partido liberal proclamaram a rainha D.
Maria II, depuseram a vereação e deram vivas à liberdade. Mendes Leite e
José Estêvão assinam o auto na Câmara.
No entanto, a revolução do 16 de Maio vai gorar-se em
Aveiro, pois imediatamente são presos nas suas casas António da Silva
Pinto, José de Sousa Ribeiro e outros.
Joaquim José de Queirós, perante a condenação à morte de
alguns liberais como Manuel Luís Nogueira e Francisco Gravito, exilou-se
imediatamente na Inglaterra e depois na Bélgica, vindo a ser condenado à
morte pelo garrote.
Depois
de decorridas as lutas liberais e mesmo antes de se ter assinado em
1834, a Convenção de Évora Monte, Joaquim José de Queirós irá regressar
à sua casa de Verdemilho, voltará ao seu cargo de Desembargador da
Relação do Porto, sendo sempre um liberal. Chegou a ser ministro da
Justiça em 1847.
Nesta casa de Verdemilho, e em contacto directo com o
avô, passará a sua infância Eça de Queirós, ouvindo e acompanhando os
episódios mais marcantes da luta política liberal.
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* Professora do Quadro de Nomeação
Definitiva e Delegada do 10.º A da ESJE.
Nota: A imagem da casa de Verdemilho, retirada da
"Revista Ilustrada" de 30 de Setembro de 1890 e actualmente (em
2023) inexistente, foi acrescentada a este artigo do “Aliás” pelo
professor que reconverteu as publicações para o formato electrónico.
Nos começos da década de 2020 ainda existiam as ruínas do edifício,
mas... Tudo quanto tem interesse histórico tem tendência em Aveiro
a desaparecer: as muralhas, as casas nobres, etc. Parece que, nos tempos
que correm, cada novo autarca tende a apagar os vestígios do que os
anteriores fizeram. Ver também
CONSELHEIRO QUEIRÓS.
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