Escola Secundária José Estêvão, n.º 5, Out. - Dez. de 1991

 

A família das CYPRAEAS

 

Estas conchas são, sem dúvida, as mais conhecidas e talvez as mais apreciadas pelos coleccionadores dedicados à conquiologia. Isto deve-se à sua forma peculiar, à sua natureza brilhante e ao seu colorido, a que se juntam desenhos naturais de grande beleza e variedade.

Os franceses dão-lhes o nome de porcelanas por causa da textura e do seu brilho, o que as aproxima das belas peças de porcelana feitas pelo homem. Nós, contudo, vamos mais além e relacionamos a palavra com o latim Porcellus e Porcella, diminutivo para designar o bacorinho e a porca pequena. Estabelecemos estas ideias não só pelo aspecto da concha e do seu brilho, mas também pela própria forma como termina a abertura da parte dianteira do molusco, semelhante a um pequeno focinho de porco.

Os ingleses chamaram-lhes cowries, vocábulo que deriva de cauri ou caurim, que foi o nome dado a estas conchas que serviam de moeda na Polinésia e assim foram utilizadas noutras partes do mundo, designadamente na África ocidental.

A maior parte das 180 espécies é constituída por conchas relativamente comuns nos mares tropicais. Algumas são muito raras. Têm vida e actividade nocturna, são hervíboras, alimentam-se de hidróides, e algumas espécies nutrem-se de pólipos de coral e de gorgónias.

Há de tal maneira interesse por estas conchas que, na Austrália, se publica uma revista exclusivamente dedicada às Cypraeas. Por isso, constituem o objecto de muitas monografias e de numerosas associações.

Esta concha dura e brilhante atraiu e impressionou os povos primitivos de tal modo que eles se serviram dela como ornamento, como moeda ou como símbolo religioso. Aliás, ainda hoje a podemos encontrar formando colares a ornar o peito de certas mulheres africanas, o seu cabelo e até certas peças de vestuário. Além disso, certas armas e escudos de alguns povos africanos, bem como alguns instrumentos musicais (ex: a cora) são ornamentados com pequenas cipreias.

Entre nós, aparece em muitas praias portuguesas, talvez a mais pequena cipreia conhecida no mundo. Trata-se da Trivia europaca, que designamos por beijinho que, de acordo com as manchas escuras do dorso, entra diferentemente nos jogos do amor entre os namorados. Os franceses chamam-lhe grão de café (grain de café), piolho do mar (pou de mer) e virgindade (pucelage). É uma pequena concha de 5 a 10 mm, com estrias finas e de cor cinzenta rosada, com duas ou três manchas escuras na parte superior.
 

A Cypraea moneta ou concha-moeda

Para além das indicadas, existiu também uma outra forma de dinheiro-concha que constituiu o dinheiro para o comércio durante séculos e manteve uma circulação notável quase no mundo inteiro, desde o Oriente até à costa ocidental da África e até à América. Era o chamado dinheiro-búzio, que ainda hoje é utilizado em paragens remotas por povos primitivos. Eram pequenas conchas de cor amarelada, da família das Cypraeas, classificadas como Cypraea moneta, muito abundantes nas águas mornas do Oceano Índico. Estes búzios tiveram larga utilização, como moeda corrente, até ao século passado, em Bengala, na China e no Sião.

Ao longo das costas de África e dos seus rios, a seguir aos árabes, apareceram os navegadores portugueses, ingleses, espanhóis, franceses e holandeses, e todos praticaram negócios utilizando os búzios que, a pouco e pouco, se vieram desvalorizando.

À cipreia moneta, como dinheiro-búzio, originária do Oceano Índico, veio juntar-se uma outra, a Cypraea annulus, também chamada búzio-anel ou anel de ouro, pelo traço dourado visível sobre o dorso, também originária das costas orientais da África, onde era colhida, sendo depois utilizada na costa ocidental pelos mercadores, onde também qualquer das ditas conchas era designada por cauri. O curso dos cauris esteve assim subordinado a flutuações que dependiam da lei da procura e da oferta.

Apesar da concha, como valor monetário, ter vindo das zonas orientais, o certo é que o Rei do Congo também resolveu instalar os seus representantes junto ao Atlântico para aí se fazer a recolecção de búzios. Na verdade, Capelo e Ivens, no Capítulo I de “Angola à Contracosta", ao fazerem referência à cidade de Luanda, indicam "a ilha, espécie de quebra-mar de areia" (...) "outrora importante pela colheita do cauri", búzio ou zimbo, como é ainda conhecida nessa costa.

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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