Quando,
há alguns anos, felicitávamos o director de um Museu do distrito de
Aveiro pela rica colecção de conchas que tinha sido oferecida a esse
estabelecimento cultural, ficámos um pouco abalados pela resposta quase
inocente que recebemos: «Sabe, as conchas constituem uma existência do
Museu que menos me tem interessado.»
No velho Liceu de Aveiro, hoje Escola Secundária José
Estêvão, sempre existiu, no chamado Museu de Ciências Naturais, um
conjunto de exemplares de conchas a que, parece-nos, nunca se deu a
devida importância, apresentando-se, embora classificadas à partida,
como um amontoado inútil, espécie de concheiro arrumado displicentemente
em armários sem qualquer intenção docente ou didáctica de tipo
pragmático.
Ao regressarmos à nossa Escola, sentimos alguma mágoa ao
verificarmos o abandono a que estes belos especímenes tinham sido
votados.
Só com intenção de ser útil e pensando ser possível
animar a funcionalidade do Museu dentro de outras perspectivas,
propusemo-nos, ainda que isso não fosse da nossa área, e com a preciosa
boa vontade e acção de outros colegas, dar vida a esse pequeno
"cemitério", chamando a atenção para a grande riqueza cultural que daí
poderia surgir, sob o ponto de vista biológico, linguístico, geográfico,
histórico-económico, etc.
Por isso mesmo, e procurando atingir outros objectivos,
demo-nos ao grato prazer de fazermos alguma investigação, elaborando o
texto que vem a seguir. Dentro de outros princípios, que procuram pôr de
lado velhas ideias sobre museologia, rejeitamos a existência de museus
como amontoados de exemplares quase somente dignos de serem
resguardados.
Com uma regulamentação conveniente, qualquer museu deve
ser aberto e do seu espólio se deve dar conta não só aos interessados
mais directos, mas também a toda a comunidade, no seio da qual ele se
encontra implantado.
Para além de se poderem satisfazer meras curiosidades,
entendemos que deve ser um exemplo vivo de cultura e um meio propício à
aquisição de novos conhecimentos.
Somos também da opinião de que as Escolas Secundárias
poderiam e deveriam possuir instalações adequadas à organização de um
museu que abrangesse as várias áreas do saber humano. Supomos que haverá
suficiente material, falta, de facto, um conjunto de instalações a isso
dedicadas. Pensamos que não faltaria espaço para tal, desde que tivessem
funções polivalentes. Bastaria que as entidades superiores quisessem,
estudassem o problema caso a caso e segundo certos critérios e
prioridades. |