História
e trabalhos realizados:
Em 1989, em
consequência da extinção da Escola do Magistério Primário de Aveiro e
com o apoio da Coordenação da Área Educativa de Aveiro, foi colocado na
Escola o Professor de Movimento e Drama, Duarte José Furão Morgado. Nos
primeiros meses desenvolveu-se actividade no campo da Expressão
Dramática e do Teatro, integrado no Projecto «A Cultura Começa na
Escola» do Ministério da Educação e da Secretaria de Estado da Cultura.
Mas cedo se revelou que o professor, para além da capacidade de
mobilização de grupos de estudantes para a expressão dramática, tinha
capacidade para mobilizar e formar pessoas (alunos, professores e outros
membros da comunidade) para a recuperação de peças de artesanato
regional. Iniciaram-se então actividades em ateliers de Artesanato
Religioso com a participação de membros da comunidade interessados nesse
trabalho.
Em 1989/90, grupos
de estudantes apresentaram as suas representações (expressão dramática,
mímica, teatro de sombras, dança criativa) dentro e fora da escola (na
cidade, mas também em outras localidades) e em colaboração com outros
Projectos (especialmente Projecto de Dança de Aveiro). Pela primeira vez
a escola participou no Encontro Nacional de Teatro nas Escolas Em Santo
André (Santiago de Cacém). Ao mesmo tempo, realizaram-se trabalhos de
artesanato religioso – ramos, rocas e registos. Os trabalhos revelavam
uma grande perfeição técnica e elevado sentido artístico, embora
mantendo as tradições com grande rigor, e revelavam sobretudo uma
participação entusiástica dos membros da comunidade envolvidos. O
projecto apresentou-se ao concurso «Educar Inovando/Inovar Educando do
IIE», tendo sido contemplado com um pequeno subsídio.
Em 1990191, a
actividade dos grupos de teatro de alunos foi ampliada. Em Novembro de
1990 apresentaram o espectáculo – Deslocações – em parceria (dos
diversos grupos e com o Projecto Dança de Aveiro). Durante o ano,
procuraram-se apoios. Graças à Associação de Pais, compuseram-se os
panos de cena do Ginásio (cerca de 500 000$00), graças a apoios da
Escola, de grupos da comunidade e da Fundação Calouste Gulbenkian
instalaram-se projectores e órgãos de luzes (cerca de 500 000$00).
Durante os meses de Abril e Maio, os grupos de Teatro apresentaram
diversas peças (autores portugueses e estrangeiros, escolhidos e
tratados pelos estudantes) e em 25 de Maio foram apresentadas as
seguintes peças: «Esta noite improvisa-se» de Pirandello,
«Eu sou uma mulher de bem» e «O avejão» de
Raul Brandão e «Anna Kleiber» de Sastre.
No dia 1 de Junho
vai apresentar-se a peça «O quarto mágico» para as
crianças da escola e das escolas primárias da cidade. As duas primeiras
peças referidas foram levadas ao Encontro de Teatro nas Escolas de
Miranda do Corvo e as últimas vão ser representadas em Tondela, durante
o mês de Junho.
Em 1990/91, também
os ateliers de artesanato se diversificaram, quer em
participantes quer em áreas de intervenção. Na exposição final de 22 a
29 de Maio puderam ser apreciadas novas obras de artesanato religioso,
obras de artesanato marítimo e obras em Tecelagem Macramé.
Ao longo destes
anos, o Professor colaborou em diversos projectos da escola e
especialmente apoiou a restauração de peças antigas da escola que se
encontravam em degradação acelerada, dando alento e vivacidade à
decoração dos corredores. Entre os participantes, dos grupos de teatro e
ateliers de artesanato, encontram-se alunos das diversas escolas
secundárias e de ensino superior, professores desta escola e membros da
comunidade.
Texto de intenções do animador:
«A escola deve ser
um espaço que dinamize contactos e conhecimentos, para poder intervir e
usufruir da intervenção, deve abrir-se à comunidade para a servir e dela
se servir. Uma escola fechada ao seu próprio núcleo é fechada à vida.
Pôr em causa uma escola fechada implica passar da acusação à
responsabilização, que nos leva à reformulação.
Uma escola aberta à
comunidade provoca confrontos, mas leva-nos a repensar a escola, o acto
pedagógico no seu valor sócio-cultural.
O objectivo geral de
todas as actividades expressivas, que eu proponho, residem na aquisição
de instrumentos de cultura e no desenvolvimento de capacidades para um
melhor equilíbrio do ser.
No campo da
expressão dramática interessa-me vencer bloqueios, desenvolver
autonomia, a iniciativa e a cooperação, explorar linguagens, para
promover a disponibilidade psicológica tão importante no acto criador.
No fundo, desenvolver a expressão e a comunicação através de criações
lúdicas colectivas.
No campo do teatro,
em termos pedagógicos, é tão importante o processo como o resultado.
Começando por um trabalho de exploração técnica inerente a esta
expressão artística, é um espaço de experimentação importante ao que
virá a seguir; o contacto com o texto, a sua visualização no tempo e no
espaço, a animação dessas imagens e o seu envolvimento sonoro, as suas
características plásticas, a criação cénica final e a sua divulgação são
as metas seguintes, que sem elas não haverá um processo acabado de
criação artística teatral.
No campo específico
do artesanato além do que se propõe no levantamento cultural de técnicas
artesanais em desuso, impõe-se frisar que se dirigem à comunidade em
geral no sentido de a ocupar e de a responsabilizar como agente
pedagógico. Como pressupostos metodológicos, pretendo através de
situações lúdicas, proporcionar o desbloqueamento psicológico do jovem
face a si próprio e aos outros, processo que proporciona um
enriquecimento da personalidade ao mesmo tempo que lhe permite perceber
o potencial educacional que é a actividade expressiva.
Os resultados
esperados deste projecto são perfeitamente viáveis e impõem-se como
realidade:
– exposições de
artesanato, fotografia e material cinético-dramático;
– espectáculos de
expressão dramática, teatro, dança, feiras de expressão e comunicação,
tanto na escola, como em divulgação do nosso trabalho fora da escola.
Tendo em conta o ponto de partida ao qual
este projecto dá resposta e, que é a finalidade da Educação, a concepção
do homem e a concepção da Escola, a partir da resposta com o trabalho,
surgem naturalmente determinações internas com as quais me confronto
tanto no sector administrativo, como no sector pedagógico da escola.
Perante as metas atingidas, faço uma reflexão do vivido, analisando em
que medida as actividades proporcionaram a consecução dos objectivos
específicos, visaram os objectivos gerais e respeitaram os princípios
psico-pedagógicos e que desenvolvimento proporcionaram as actividades, o
que se alcançou, adquiriu e revelou.
/ 26 /
Face aos dados
recolhidos nesta reflexão e, em conjunto com a escola e com os
participantes do projecto perspectiva-se o «a viver».
Em vez de uma
educação voltada para o «ensino» de «conhecimentos» tidos pelo adulto
como importantes, certos e imutáveis, tendo por finalidade «formar»,
entendo ter melhor efeito uma educação voltada para a satisfação das
necessidades do jovem. Pretendo uma mutação não só nos aspectos
administrativos e programáticos da educação, mas também nos métodos e
princípios pedagógicos. Urge uma escola onde haja espaço, onde o jovem
de acordo com o seu carácter se eduque através de experiências livres e
conforme o desejar, vividas por ele próprio. Em relação à expressividade
e à criatividade, que é onde se centra toda a minha conduta pedagógica,
não desejo impor padrões pseudo-estéticos de conduta expressiva ou
criativa. A prática do acto criador propõe iniciativa, formando assim a
personalidade ao mesmo tempo que ensina a viver com os outros.
Na expressão
dramática interessa-me mais utilizar o contexto expressivo do que uma
conduta artística para possibilitar o desenvolvimento das aptidões do
jovem.
A minha intervenção
pedagógica no campo do teatro, além dos princípios pedagógicos que regem
a expressividade no drama, contempla todos os aspectos
técnico-artísticos, desde o trabalho de voz e do corpo até ao trabalho
de cena e fora de cena.
Este projecto
inserido numa escola, onde alunos de várias escolas coexistem nos seus
tempos livres, tem a intenção de dar resposta como escola dentro de
outra escola, como meio do jovem se servir expressiva e artisticamente
das suas capacidades com a finalidade de desenvolver a personalidade
para um melhor conhecimento de si próprio, dos outros e do que o rodeia.
Em relação à
pesquisa, levantamento e confecção de artes tradicionais, nomeadamente
de temática religiosa, marítima e tecelagem, pretendo que os
participantes se transformem em núcleos duros de animação nestes
aspectos culturais e de preservação do património. É positiva a vinda de
pessoas à escola, a maior parte delas não afectas ao campo do ensino.
Isto só prova que a
escola não deve estar apenas voltada para o «ensino» de «conhecimentos»,
mas também ser eficaz como espaço de auto-desenvolvimento e de luta para
um melhor equilíbrio psicológico.
Não é possível abrir
uma escola à comunidade com Educação pela Arte sem correr RISCOS, mas
neste projecto têm-se levantado vozes com ECOS de apoio e positivismo,
onde numa escola sobrepovoada e com falta de espaços físicos está a ter
cabimento.»
Trabalho a realizar:
Manter os grupos de
teatro na exploração de autores portugueses e estrangeiros e levar à
cena na escola e fora dela as representações das peças que foram e forem
sendo encenadas. Desenvolver animação teatral, especialmente mímica, na
cidade. Estão em andamento projectos de animação de rua, apoiados pela
Câmara e Associações de Comerciantes.
Manter e desenvolver
os trabalhos de recuperação de artesanato regional, de acordo com as
tradições. Revigorar e divulgar as tradições da região. Reforçar os
ateliers da comunidade na escola. Aprofundar o trabalho com os alunos no
campo da confecção de artesanato.
Criar um espaço –
área escola – com ligação profunda aos sectores de Arte & Design
(Artesanato) e à Área de Estudos Humanísticos (teatro).
Estabelecer uma
ligação efectiva ao Projecto VIDA – pela ocupação de tempos livres que
proporciona – mas também servindo de animador de espectáculos e outras
actividades culturais e recreativas.
Estabelecer uma
ligação ao Instituto da Juventude, pela prestação de serviços e núcleo
animador de perspectivas da delegação de Aveiro do Instituto.
Meios:
1. Humanos.
Absolutamente
necessária a colocação do Professor Duarte José Furão Morgado.
2. Físicos.
Na situação actual,
não é possível ceder mais espaços do que a ocupação a tempo inteiro da
antiga sala de Madeiras e a ocupação eventual do Ginásio. Dos
equipamentos necessários só estão a faltar, para o Ginásio, a instalação
do equipamento de som e a compra de uma câmara de vídeo que permitisse
guardar memória dos espectáculos e dos diversos aspectos do trabalho.
3. Financeiros.
Até agora
têm-se buscado apoios fora das instâncias das Direcções do Ministério de
que a escola depende. Assim vai continuar a ser no futuro. Todas as
ajudas para completar o quadro da instalação física são bem-vindas.
Duarte José Furão
Morgado
|