Estamos em tempo de mudança: projectam-se reformas
curriculares e programáticas e novos acertos da rede escolar. A escola é
assim, ela própria, um pálido reflexo das grandes convulsões
planetárias. Não é, e talvez nunca venha a ser, o motor dos grandes
arranques.
O que será então legitimo esperar dela? Que, ao menos, se
comporte como um organismo vivo, de preferência consciente. Ou seja,
dotado de estruturas capazes de assimilar e, sobretudo, de se reformar,
em que cada equilíbrio é uma conquista provisória, promessa de novos
desequilíbrios, Instabilidade, renovação, progresso.
Assim deverão ser a escola, o ensino e os seus agentes:
sempre em processo. Ensinar/aprender é um permanente desafio. Temos de
aprender/ensinar a mudar, num tempo em que planificar, mesmo a médio
prazo, parece ser cada vez mais um risco, não suficientemente
justificado. Se há que jogar na antecipação (e não tanto, mas talvez
também na nossa bem conhecida capacidade de improvisação), há que saber
o que antecipar: ganhar o futuro passa por aprender a mudar com a
mudança. E a fazê-lo conscientemente.
A escola não é um laboratório, não é um bastião da
investigação e muito menos uma academia de artes, mas também não é uma
linha de montagem ou um museu arqueológico: espera-se dela que, cada vez
mais, seja um organismo vivo, feito com gente viva, testemunho do
presente, de um futuro ainda imprevisível. Pedir-lhe Isto não é
bastante, mas será talvez demais. Da escola actual esperam-se estruturas
mais dinâmicas, susceptíveis de capacitar para as novas exigências que
se adivinham. O processo histórico que estamos a viver, na sua
complexidade, não se compadece com a mera aquisição de competências. É
um processo em aceleração contínua, em que qualquer aquisição
rapidamente se transforma em objecto museológico.
Os novos adultos não vão poder simplesmente contentar-se
com a aquisição de performances específicas. A criatividade, a apetência
cultural (de preferência ecuménica), a abertura de espírito são outras
tantas componentes a potencializar. E a potencializar também pela
escola, que só conquistará a sua maioridade quando mais que um
dispensador de conhecimentos souber tornar-se um objecto de desejo e
que, no mínimo, seja um lugar interessante, habitado por gente
interessante, onde acontecem coisas interessantes, ou seja, um lugar
estimulante. E assim a escola será o que deve ser: o lugar onde apetece
viver extra-horário curricular, onde cada acto, cada momento é vivido
como um acto cultural, porque a escola, pela sua própria natureza não
deve limitar-se a proteger e a recuperar valores culturais. Ela própria
deve assumir-se como um objecto cultural, ser a cultura em acto. E o seu
património mais valioso são indubitavelmente, as pessoas enquanto não
seriadas nem reificadas.
São estas as grandes linhas de orientação que propomos.
Não são meros princípios abstractos: são o produto de um mundo em
efervescência, incompatível com uma perspectiva burocrática do ensino.
Serão estes os pilares da escola a construir, se nós a quisermos, ou não
será.
Na sequência destas considerações e, em face das
possibilidades abertas pelas reformas em curso, há que proceder a
ajustamentos na oferta curricular da escola.
À partida, consideramos não existirem razões que
justifiquem alterações de vulto.
Em primeiro lugar, impõe-se que a escola possa recuperar
condições mínimas que a tornem num local atraente e num verdadeiro
centro de formação de jovens, mais apetrechados nos planos
teórico-prático, mais criativos e com mais apetência por valores em
risco de se perderem, porque são frágeis e necessitam de um terreno
favorável; uma instituição à escala humana, onde existam espaço físico,
espaço mental e espaço para relações afectivas, capazes de optimizar um
desenvolvimento harmonioso de todos e de cada um. E isto supõe uma
redução drástica nos seus efectivos. E, porque nos parece estar esta
escola mais vocacionada para os anos imediatamente pré-universitários,
sugerimos que tal redução se faça à custa da escolaridade obrigatória.
Pesam nesta sugestão uma série de considerações: históricas (as suas
origens e
/ 22 / a
força da tradição, a experiência acumulada, a forte implantação na
própria comunidade e a influência que nesta exerce, pela sua acção
actual e passada e que teve na LABOR uma das suas expressões
paradigmáticas mais marcantes}; materiais (as infra-estruturas de que
dispõe – Laboratórios, Museu, Biblioteca, Gabinetes diversos,
apetrechamento audiovisual e outros, o próprio espaço físico); humanos
(um quadro definitivo de pessoal docente, relativamente estável, com uma
larga e provada experiência neste nível de ensino e que, pelo prestígio
conquistado, continua uma honrosa tradição).
Satisfeitos, pois, os requisitos mínimos, estão
garantidas as condições que possibilitam à escola, com custos reduzidos
para a qualidade do ensino e da formação dos jovens, nosso primeiro
objectivo, continuar a dispensar uma gama de cursos variados,
respondendo a uma procura muito alargada e aproveitando ao máximo a
polivalência dos seus espaços e dos quadros humanos de que dispõe. Tudo
isto torna quase inevitável que a oferta se estenda em áreas que vão dos
cursos científicos aos humanísticos. Nesta última área o leque deverá
ser alargado em relação ao actualmente existente no 12.º ano, já que
assim o exigem a tradição, a dimensão e qualidade do quadro definitivo
dos seus professores e o seu valioso património bibliográfico.
Na área científica deverão manter-se os cursos existentes
por razões tão óbvias que não carecem de explicitação, com uma única
excepção: a componente designada por Curso Técnico-Profissional, que
constitui um desvio à vocação dominante da escola.
Resta a componente mais conhecida pelo nome de Educação
Visual. Embora seja recente a nossa experiência neste campo, tem sido
esta escola a única a proporcionar esta via a toda uma vastíssima
população escolar. E, ao menos através de uma parte dos professores que
constituem o respectivo grupo disciplinar, tem sido uma fonte de
enriquecimento, mesmo em termos de espaço físico e na concepção e
concretização dos projectos educativos da escola e outros. Tornou-se, em
consequência, um elemento indispensável à dinâmica da escola, do qual há
ainda multo a esperar.
O cumprimento do nosso projecto educativo não se esgota,
porém, nas disciplinas curriculares. As actividades ditas
extra-curriculares, não são marginais ou de somenos importância. A prova
está feita, de anos anteriores. Mas, umas ou outras, curriculares ou
não, não dispensam o aparecimento de projectos individuais ou de grupo,
que levem à efectiva concretização das grandes linhas orientadoras aqui
enunciadas. Sem dúvida que há projectos em marcha e ideias que ainda
incipientes, poderão, no seu desenvolvimento lógico, encontradas as
pessoas capazes de as fazer avançar, virem a ser poderosas alavancas da
energética escolar e do espírito que preside ao projecto ora
apresentado.
Em conclusão:
Novos projectos precisam-se.
Há projectos em curso, cuja vitalidade se mantém. Está
prometida a sua continuidade. Há projectos em fase de arranque.
Precisam-se projectos novos e melhor definição de
projectos já anunciados, mas ainda de forma um tanto vaga.
Havemos projectos, havemos expectativas.
Valerá a pena?
«Tudo vale a pena se a alma não é pequena.»
|