Terá acontecido, ao frequentar-se a Biblioteca Municipal, haver-se sido
atendido por uma antiga aluna desta Escola, de formação universitária,
que, por vezes, proporcionou seu conselho na busca que pretenderia
fazer-se. Na verdade poderá tratar-se de uma senhora afável que dá pelo
nome de Honorinda Cerveira, uma escritora radicado em Aveiro, como
muitos outros, desde Énio Semedo, – com quem nos cruzamos no dia-a-dia e
com ascendência no Curvo Semedo, um dos fundadores, com Bingre, o
Francélio Vouguense, da Nova Arcádia e émulo de Bocage, – ao sacerdote,
médico e poeta do Século XVIII Brás Luís de Abreu, o Olho de Vidro, que
Camilo celebrou e terá sido, na cidade, um dos membros activos da
Academia dos Aquilinos. Entretanto, se descermos ao Rossio, lá se nos
deparará João Afonso de Aveiro que, além de redescobrir as terras de
Benim, será um dos poetas que integram o Cancioneiro Geral de Garcia
de Resende, é um poeta, ora de vis sarcástica, tão aveirense, ora
lírico-amorosa, esta última perto da gracilidade do João Roiz de Castelo
Branco de Senhora, partem tão tristes, quando glosa um mote bastante
próximo ("Pois partis, e me deixais, / tão triste, sem galardão, /
tornai-me meu coração, / Senhora, que me levais"), – face lírico-amorosa
tão aveirense também.
Uma polémica que agitou Lisboa e arredores, – mas, entre nós, só
despertou uma, apenas uma chamada de atenção, no “Diário de Aveiro”, –
relembrou as ligações de Eça a Aveiro, ao evocar o desejo daquele
escritor de que os seus restos mortais fossem depositados no cemitério
do Outeirinho, em Verdemilho, terra onde passara tempos de infância, ele
que, escrevendo sobre o Palheiro de José Estêvão na Costa Nova se
considerava quase filho da Ria e, no romance A Capital, por
exemplo, nomeia localidades da região, melhor dizendo, do distrito que
Aveiro encabeça. Mais recente, entretanto, há o caso de Augusto de
Castro, o antigo director do “Diário de Notícias”, que, nascido no
Porto, se considerava também, pela infância, ligado ao Fontão, em
prefácio a uma monografia de Ricardo Nogueira Souto sobre Angeja.
Ligações a Aveiro e seu distrito, por nos haverem visitado e/ou
referido, terão Augusto Gil, Raúul Brandão, Júlio Dantas, Antero de
Figueiredo, José Osório de Oliveira, Miguel Torga, ou o director da
“Ilustração Portuguesa”, o romancista Carlos Malheiro Dias, visita de
Augusto Castro, que, segundo este, chegou a inspirar-se na tricana da
região para o primeiro capítulo de um romance nunca concluído. O caso de
Júlio Dinis, o autor das Pupilas, e também de A Sereia, é mais um
caso comprovativo.
Outra história é a dos escritores nados em Aveiro e/ou suas terras, de
José Estêvão a Ferreira de Castro, de Fernão de Oliveira a José Pereira
Tavares, de Frei Pantaleão de Aveiro a Frederico de Moura, Mário
Sacramento ou Luís Regala (Pedro Zargo).
Perguntava uma aluna certo dia se aquele poeta e ensaísta português
actual citado no Dicionário de Literatura de Jacinto
/
29 / do Prado Coelho e na Literatura do Saraiva/Óscar
Lopes era o autor do apontamento. Que sim, e de Aveiro, mas não caso
único: entre mortos e vivos, de Aveiro e das terras que o distrito
abrange, são muitos e muitos os escritores, desde finais da Idade Média,
princípios do Renascimento, até hoje, a começar nos poetas e a acabar em
dramaturgos, contistas, romancistas, ensaístas, historiógrafos, muitos
deles dobrados de jornalistas, como o parlamentar José Estêvão, ele
próprio fundador de jornais, um deles a “Revolução de Setembro”, onde as
“Conferencias Democráticas do Casino Lisbonense” vieram a ser
anunciadas.
Voltando à vaca fria, e começando por escritores à nossa terra ligados
por obras literárias ou referências, temos, logo no Século XV, Rui de
Pina. No Século XVI, André de Resende, discípulo de Aires Barbosa,
escreveu sobre Frei Pedro de Évora, dedicando a biografia a Juliana Lara
de Meneses, duquesa de Aveiro, terra de onde era natural o biografado;
no Século XIX, Camilo, que faz em Aveiro consulta oftalmológica, escreve
o Olho de Vidro; Garrett dedicara um passo aos ílhavos versus
Campinos, nas Viagens na Minha Terra; Ramalho Ortigão escreve
sobre Espinho em As Praias de Portugal; Oliveira Martins
situa-nos na sua História; também sobre nós escreve Henrique Lopes de
Mendonça. No Século XX, Augusto Gil inspira-se nas Tricaninhas da
Murtosa, em composição dedicada a uma senhora local; Miguel Torga
escreve sobre Aveiro e sua região, em Portugal, e vários passos do
Diário; José Osório de Oliveira reporta-se aos nossos escritores no n.º
17 da Antologia da Terra Portuguesa da Bertrand; Raul Brandão tem-nos
presentes nos Pescadores e Antero de Figueiredo nas Jornadas
em Portugal. À região de Aveiro estão ligados, – por aqui se haverem
radicado, ou por visitas e estadias, – no Século XVIII, Brás Luís de
Abreu, o já referido Olho de Vidro, membro da Academia dos Aquilinos; no
Século XIX, António Feliciano de Castilho, Júlio Dinis, o já citado Eça
de Queirós. No Século XX, como o testemunha o autor de Fumo do Meu
Cigarro, por cá passaram João Lúcio, Júlio Dantas e Carlos Malheiro
Dias; passa a infância e largas temporadas Augusto de Castro; liga-se a
Águeda, pelo pai, Pedro Homem de Mello; Tomaz de Figueiredo, notário em
Estarreja largos anos, ali escreveu muito da sua obra inédita e
publicada; José Marmelo e Silva radica-se em Espinho e, entre muitos
outros, a Aveiro se ligam, Virgínia Nunes ou os já citados Honorinda
Cerveira e Énio Semedo. De Aveiro e seu distrito será João Afonso de
Aveiro; são-no, no Século XVI, Fernão de Oliveira, o autor da primeira
gramática portuguesa e da Fábrica das Naus; o humanista Aires
Barbosa; António da Silva, autor de O Sol do Oriente, (sobre S.
Francisco Xavier); Francisco de Sousa Tavares, pai de Madalena Vilhena,
que virá a ser personagem no Frei Luís de Sousa de Garrett, e Frei
Pantaleão de Aveiro, o conhecido autor do Itinerário da Terra Santa; no
Século XVII, Frei António Pereira; Manuel Mendes de Barbuda e
Vasconcelos, autor de um poema sobre a vida de Nossa Senhora; Cristóvão
de Pinho Queimado, que data de 1687 a conclusão da primeira monografia
sobre Aveiro, intitulada Monografia Sobre a Vila de Aveiro; no
Século XVIII, Frei Miguel de Bulhões e Sousa, de Verdemilho, que
pertenceu à Academia Real da História; João Jacinto Magalhães, que
pertenceu à Academia de Ciências de Paris e à real Sociedade de Londres;
Bingre, o Francélio Vouguense, um dos fundadores da Nova Arcádia, em
Lisboa.
Entre os Séculos XIX e XX, são tantos os escritores do distrito, uns do
Século XIX, outros da transição entre os Séculos, outros do Século XX,
que melhor será ficarmos por uma listagem (e sem dúvida incompleta), a
saber:
José Estêvão,
José Luciano de Castro, Luís de Magalhães, Bento
Carqueja (fundador do Comércio do Porto), Ferraz de Macedo, Fernando
Caldeira, João Grave, Albano de Mello, Barbosa de Magalhães, António do
Nascimento Leitão,
Jaime de Magalhães Lima, Acácio Rosa, António Brásio,
Rangel de Quadros, Marques Gomes, Joaquim da Costa Cascais, Rocha e
Cunha, Sebastião de Magalhães Lima (um dos fundadores de “O Século” e
seu primeiro director), Mendes Leite, Bento de Magalhães, Agostinho
Pinheiro e José Agostinho Barbosa, (que fundaram, com José Estêvão, o
abrangente “Distrito de Aveiro”, publicado várias décadas), Domingos
Cerqueira, António Ferreira Soares, Homem Cristo (o fundibulário do
“Povo de Aveiro”), António Gomes da Rocha Madail,
José Pereira Tavares e
Francisco Ferreira Neves (que fundaram e dirigiram o “Arquivo do
Distrito de Aveiro”, e o segundo, Professor, como o último, do Liceu de
José Estêvão, fundou e dirigiu a revista “Labor”, revista de ensino
liceal), Rodrigues Lapa, João Resende Vieira (monografista da Gafanha),
José Tavares Afonso e Cunha, Júlio dos Santos Batel, João Evangelista de
Lima Vidal (autor de cabeceira de Vitorino Nemésio),
Eduardo Cerqueira,
Alberto Souto, Laudelino de Miranda Melo, Manuel Laranjeira,
Egas Moniz
(também Prémio Nobel de Medicina), Vasco de Lemos Mourisca, Manuel
Trindade Salgueiro, Allyrio de Mello, Bastos Xavier,
Arlindo Vicente,
João Sarabando, Ferreira de Castro, Celestino Gomes, José Luciano de
Figueiredo Lobo e Silva, Joaquim Lagoeiro, Dinis Gomes, António de
Cértima, David Cristo e António Cristo (o primeiro fundador e director
do “Litoral”), Orlando de Oliveira (Professor do José Estêvão, seu
reitor, promotor da fundação do Instituto Médio do Comércio, hoje ISCA,
do Conservatório, da Escola do Magistério Oficial e da Universidade de
Aveiro), Mário Sacramento (médico e escritor, que dirigiu, no José
Estêvão, quando estudante, um jornal académico impresso), Vasco Branco,
Filipe Rocha, Idalécio Cação, Luís Regala (Pedro Zargo), Frederico de
Moura, Costa e Melo, Aníbal Ramos, Amadeu de Sousa, Maria Alice
Guimarães, Eduardo Valente da Fonseca, João Gonçalves Gaspar, Manuel
José Homem de Mello, Raul Vaz, Joaquim Correia, Maria Luísa Ramos,
Manuel Alegre, André Ala dos Reis, Gaspar Albino (mais conhecido como
artista plástico), Armor Pires Mota, Mário da Rocha, António Capão
(Professor desta escola), Ançã Regala, Amaro Neves (da actual direcção
do Litoral e Professor na José Estêvão), Lopes Pereira, Lamy Laranjeira
ou Manuel Ferreira Rodrigues, para acabar com um jovem que exerce a
docência na escola onde foi aluno, e a quem se deve, entre outros
trabalhos, A Indústria Cerâmica em Aveiro (Final do Séc. XIX - Início do
Séc. XX).
– José de
Melo, Poeta e professor do quadro do 8.º Grupo B |