Escola Secundária José Estêvão, n.º 2, Jan. - Mar. de 1991

Terá acontecido, ao frequentar-se a Biblioteca Municipal, haver-se sido atendido por uma antiga aluna desta Escola, de formação universitária, que, por vezes, proporcionou seu conselho na busca que pretenderia fazer-se. Na verdade poderá tratar-se de uma senhora afável que dá pelo nome de Honorinda Cerveira, uma escritora radicado em Aveiro, como muitos outros, desde Énio Semedo, – com quem nos cruzamos no dia-a-dia e com ascendência no Curvo Semedo, um dos fundadores, com Bingre, o Francélio Vouguense, da Nova Arcádia e émulo de Bocage, – ao sacerdote, médico e poeta do Século XVIII Brás Luís de Abreu, o Olho de Vidro, que Camilo celebrou e terá sido, na cidade, um dos membros activos da Academia dos Aquilinos. Entretanto, se descermos ao Rossio, lá se nos deparará João Afonso de Aveiro que, além de redescobrir as terras de Benim, será um dos poetas que integram o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, é um poeta, ora de vis sarcástica, tão aveirense, ora lírico-amorosa, esta última perto da gracilidade do João Roiz de Castelo Branco de Senhora, partem tão tristes, quando glosa um mote bastante próximo ("Pois partis, e me deixais, / tão triste, sem galardão, / tornai-me meu coração, / Senhora, que me levais"), – face lírico-amorosa tão aveirense também.

Uma polémica que agitou Lisboa e arredores, – mas, entre nós, só despertou uma, apenas uma chamada de atenção, no “Diário de Aveiro”, – relembrou as ligações de Eça a Aveiro, ao evocar o desejo daquele escritor de que os seus restos mortais fossem depositados no cemitério do Outeirinho, em Verdemilho, terra onde passara tempos de infância, ele que, escrevendo sobre o Palheiro de José Estêvão na Costa Nova se considerava quase filho da Ria e, no romance A Capital, por exemplo, nomeia localidades da região, melhor dizendo, do distrito que Aveiro encabeça. Mais recente, entretanto, há o caso de Augusto de Castro, o antigo director do “Diário de Notícias”, que, nascido no Porto, se considerava também, pela infância, ligado ao Fontão, em prefácio a uma monografia de Ricardo Nogueira Souto sobre Angeja. Ligações a Aveiro e seu distrito, por nos haverem visitado e/ou referido, terão Augusto Gil, Raúul Brandão, Júlio Dantas, Antero de Figueiredo, José Osório de Oliveira, Miguel Torga, ou o director da “Ilustração Portuguesa”, o romancista Carlos Malheiro Dias, visita de Augusto Castro, que, segundo este, chegou a inspirar-se na tricana da região para o primeiro capítulo de um romance nunca concluído. O caso de Júlio Dinis, o autor das Pupilas, e também de A Sereia, é mais um caso comprovativo.

Outra história é a dos escritores nados em Aveiro e/ou suas terras, de José Estêvão a Ferreira de Castro, de Fernão de Oliveira a José Pereira Tavares, de Frei Pantaleão de Aveiro a Frederico de Moura, Mário Sacramento ou Luís Regala (Pedro Zargo).

Perguntava uma aluna certo dia se aquele poeta e ensaísta português actual citado no Dicionário de Literatura de Jacinto / 29 / do Prado Coelho e na Literatura do Saraiva/Óscar Lopes era o autor do apontamento. Que sim, e de Aveiro, mas não caso único: entre mortos e vivos, de Aveiro e das terras que o distrito abrange, são muitos e muitos os escritores, desde finais da Idade Média, princípios do Renascimento, até hoje, a começar nos poetas e a acabar em dramaturgos, contistas, romancistas, ensaístas, historiógrafos, muitos deles dobrados de jornalistas, como o parlamentar José Estêvão, ele próprio fundador de jornais, um deles a “Revolução de Setembro”, onde as “Conferencias Democráticas do Casino Lisbonense” vieram a ser anunciadas.

Voltando à vaca fria, e começando por escritores à nossa terra ligados por obras literárias ou referências, temos, logo no Século XV, Rui de Pina. No Século XVI, André de Resende, discípulo de Aires Barbosa, escreveu sobre Frei Pedro de Évora, dedicando a biografia a Juliana Lara de Meneses, duquesa de Aveiro, terra de onde era natural o biografado; no Século XIX, Camilo, que faz em Aveiro consulta oftalmológica, escreve o Olho de Vidro; Garrett dedicara um passo aos ílhavos versus Campinos, nas Viagens na Minha Terra; Ramalho Ortigão escreve sobre Espinho em As Praias de Portugal; Oliveira Martins situa-nos na sua História; também sobre nós escreve Henrique Lopes de Mendonça. No Século XX, Augusto Gil inspira-se nas Tricaninhas da Murtosa, em composição dedicada a uma senhora local; Miguel Torga escreve sobre Aveiro e sua região, em Portugal, e vários passos do Diário; José Osório de Oliveira reporta-se aos nossos escritores no n.º 17 da Antologia da Terra Portuguesa da Bertrand; Raul Brandão tem-nos presentes nos Pescadores e Antero de Figueiredo nas Jornadas em Portugal. À região de Aveiro estão ligados, – por aqui se haverem radicado, ou por visitas e estadias, – no Século XVIII, Brás Luís de Abreu, o já referido Olho de Vidro, membro da Academia dos Aquilinos; no Século XIX, António Feliciano de Castilho, Júlio Dinis, o já citado Eça de Queirós. No Século XX, como o testemunha o autor de Fumo do Meu Cigarro, por cá passaram João Lúcio, Júlio Dantas e Carlos Malheiro Dias; passa a infância e largas temporadas Augusto de Castro; liga-se a Águeda, pelo pai, Pedro Homem de Mello; Tomaz de Figueiredo, notário em Estarreja largos anos, ali escreveu muito da sua obra inédita e publicada; José Marmelo e Silva radica-se em Espinho e, entre muitos outros, a Aveiro se ligam, Virgínia Nunes ou os já citados Honorinda Cerveira e Énio Semedo. De Aveiro e seu distrito será João Afonso de Aveiro; são-no, no Século XVI, Fernão de Oliveira, o autor da primeira gramática portuguesa e da Fábrica das Naus; o humanista Aires Barbosa; António da Silva, autor de O Sol do Oriente, (sobre S. Francisco Xavier); Francisco de Sousa Tavares, pai de Madalena Vilhena, que virá a ser personagem no Frei Luís de Sousa de Garrett, e Frei Pantaleão de Aveiro, o conhecido autor do Itinerário da Terra Santa; no Século XVII, Frei António Pereira; Manuel Mendes de Barbuda e Vasconcelos, autor de um poema sobre a vida de Nossa Senhora; Cristóvão de Pinho Queimado, que data de 1687 a conclusão da primeira monografia sobre Aveiro, intitulada Monografia Sobre a Vila de Aveiro; no Século XVIII, Frei Miguel de Bulhões e Sousa, de Verdemilho, que pertenceu à Academia Real da História; João Jacinto Magalhães, que pertenceu à Academia de Ciências de Paris e à real Sociedade de Londres; Bingre, o Francélio Vouguense, um dos fundadores da Nova Arcádia, em Lisboa.

Entre os Séculos XIX e XX, são tantos os escritores do distrito, uns do Século XIX, outros da transição entre os Séculos, outros do Século XX, que melhor será ficarmos por uma listagem (e sem dúvida incompleta), a saber: José Estêvão, José Luciano de Castro, Luís de Magalhães, Bento Carqueja (fundador do Comércio do Porto), Ferraz de Macedo, Fernando Caldeira, João Grave, Albano de Mello, Barbosa de Magalhães, António do Nascimento Leitão, Jaime de Magalhães Lima, Acácio Rosa, António Brásio, Rangel de Quadros, Marques Gomes, Joaquim da Costa Cascais, Rocha e Cunha, Sebastião de Magalhães Lima (um dos fundadores de “O Século” e seu primeiro director), Mendes Leite, Bento de Magalhães, Agostinho Pinheiro e José Agostinho Barbosa, (que fundaram, com José Estêvão, o abrangente “Distrito de Aveiro”, publicado várias décadas), Domingos Cerqueira, António Ferreira Soares, Homem Cristo (o fundibulário do “Povo de Aveiro”), António Gomes da Rocha Madail, José Pereira Tavares e Francisco Ferreira Neves (que fundaram e dirigiram o “Arquivo do Distrito de Aveiro”, e o segundo, Professor, como o último, do Liceu de José Estêvão, fundou e dirigiu a revista “Labor”, revista de ensino liceal), Rodrigues Lapa, João Resende Vieira (monografista da Gafanha), José Tavares Afonso e Cunha, Júlio dos Santos Batel, João Evangelista de Lima Vidal (autor de cabeceira de Vitorino Nemésio), Eduardo Cerqueira, Alberto Souto, Laudelino de Miranda Melo, Manuel Laranjeira, Egas Moniz (também Prémio Nobel de Medicina), Vasco de Lemos Mourisca, Manuel Trindade Salgueiro, Allyrio de Mello, Bastos Xavier, Arlindo Vicente, João Sarabando, Ferreira de Castro, Celestino Gomes, José Luciano de Figueiredo Lobo e Silva, Joaquim Lagoeiro, Dinis Gomes, António de Cértima, David Cristo e António Cristo (o primeiro fundador e director do “Litoral”), Orlando de Oliveira (Professor do José Estêvão, seu reitor, promotor da fundação do Instituto Médio do Comércio, hoje ISCA, do Conservatório, da Escola do Magistério Oficial e da Universidade de Aveiro), Mário Sacramento (médico e escritor, que dirigiu, no José Estêvão, quando estudante, um jornal académico impresso), Vasco Branco, Filipe Rocha, Idalécio Cação, Luís Regala (Pedro Zargo), Frederico de Moura, Costa e Melo, Aníbal Ramos, Amadeu de Sousa, Maria Alice Guimarães, Eduardo Valente da Fonseca, João Gonçalves Gaspar, Manuel José Homem de Mello, Raul Vaz, Joaquim Correia, Maria Luísa Ramos, Manuel Alegre, André Ala dos Reis, Gaspar Albino (mais conhecido como artista plástico), Armor Pires Mota, Mário da Rocha, António Capão (Professor desta escola), Ançã Regala, Amaro Neves (da actual direcção do Litoral e Professor na José Estêvão), Lopes Pereira, Lamy Laranjeira ou Manuel Ferreira Rodrigues, para acabar com um jovem que exerce a docência na escola onde foi aluno, e a quem se deve, entre outros trabalhos, A Indústria Cerâmica em Aveiro (Final do Séc. XIX - Início do Séc. XX).

– José de Melo, Poeta e professor do quadro do 8.º Grupo B

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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