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Escola Secundária José Estêvão,
n.º 20, Dezembro de 1997 |
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O meu testemunho
Chamo-me Cristina e fiz ontem o meu
último exame de 12.º ano. Estou de férias e com o 12.º ano
concluído. Sou mais uma dos milhares de estudantes que pretendem
ingressar no ensino superior no próximo mês de Setembro. Sou mais
uma a querer Iniciar uma nova fase da sua vida. Contudo, para que
aqui chegasse outras etapas passei e gostaria de vos dar o meu
testemunho sobre a mais recentemente ultrapassada os 6 anos que
passei nesta escola.
Sim, parece incrível mas já passaram 6
anos.
E tinha então 11 anos feitos em
Fevereiro quando, pela primeira vez, entrei nesta escola para ter
aulas. Sétimo ano. Uma escola diferente. Uma escola grande,
enorme, labiríntica com alunos com o dobro do meu tamanho,
prontinhos a irem para a Universidade (e o 12.º ano parecia então
algo tão distante...). E eu, o que era então Muito do que ainda
sou. Uma menina pequenina, franzina, sempre de trança, com uma
mochila maior que eu, que gostava de estudar e pronta a desafiar
tudo e todos.
Pois é, tudo isto se passou há 6 anos.
6 anos que passaram e que deixaram marcas. 6 anos intensos a todos
os níveis profissional (sim, porque a minha profissão é ser
estudante!), emocional, físico e psicológico.
Cresci, mudei de Ideias, protestei,
tentei mudar alguns aspectos desta escola, chorei, ri, dei pulos
de alegria, aprendi umas coisas, desaprendi outras.
Pediram-me que dissesse o que penso
desta escola. Bem, para cá ter ficado este tempo todo, a ideia que
tenho desta escola não pode ser assim tão má...
E, de facto, não o é. Gosto muito
desta escola e estou certa de que vou sentir muitas saudades de
tudo e de todos cá do sítio.
Os aspectos negativos desta escola que
ficarão gravados na minha memória são alguns. O estado das casas
de banho (até já sou conhecida no conselho directivo por isso...),
a atitude de uma minoria de professores (mas na vida há que
conviver com pessoas de quem gostamos menos e de quem gostamos
mais) e o não me terem deixado entrar pela porta principal muitas
vezes em que me encontrava do outro lado da referida e tive que ir
dar a volta, (mas até já isso me explicaram que tinha razão de
ser). Como vêem, os aspectos negativos não são muitos, nem em
termos de quantidade, nem em termos de importância. Ahl Já me
esquecia, há um aspecto que não posso deixar de referir e que é,
na minha opinião, extremamente negativo e, infelizmente, comum a
quase toda a sociedade em que vivemos a falta de estímulos, de
incentivos às pessoas que podem ir mais longe que os simples
objectivos mínimos ditados pelo Ministério e o nivelamento do
ensino por baixo, tentando levar-nos a viver num estado de
mediocridade. Há que incentivar os alunos a desenvolverem as
capacidades; e não há que beneficiar um aluno que não trabalhou
com um 10 só porque, «…Coitadinho, deixai-o ir a exame.» Por que é
que os professores hão-de continuar a teimar em subir as notas
mais baixas e a descer as notas mais altas Por que não aplicar o
princípio de que cada um tem aquilo que merece
Os aspectos positivos desta escola são mais que muitos. As
instalações, em termos de material para a minha área (Ciências)
poderiam ser melhores, mas são suficientes, há salas decentes e
novas, o edifício está arranjado e o conselho directivo apoia as
iniciativas dos alunos, tentando fazer com que a nossa segunda
casa não seja um local onde nos seja penoso estar mas, pelo
contrário, nos ajude a crescer e a formar 27 como pessoas que
somos. Por outro lado, e pelo que sei de outras escolas da região,
e embora o princípio da mediocridade seja a máxima de alguns
docentes, o nível de exigência nesta escola é bom e há bastantes
professores que estão cá por vocação (o que, neste dias, é difícil
encontrar). Outro aspecto bastante positivo é o facto de os órgãos
superiores desta escola darem voz aos alunos e tentarem
compreender os seus problemas (e, não só compreender, mas também
tentar resolvê-los!).
A listagem poderia continuar.
A mensagem que gostaria de deixar
(quer a alunos, quer a professores, quer a auxiliares de acção
educativa) é que a minha passagem por esta escola foi bastante
agradável e espero que os aspectos positivos que ela hoje
apresenta se mantenham e que os negativos sejam ultrapassados.
Antes de me despedir gostaria de dizer
apenas mais uma coisinha; esta coisinha é especialmente para os
alunos, mas como, infelizmente, não são muitos os alunos que lêem
este jornal, pedia que os senhores professores fizessem os favor
de a transmitirem aos seus alunos.
Também eu passei cá 6 anos da minha
vida. 6 anos bem passados. E foram bem passados não só porque a
escola já em si é boa, mas porque eu e os meus colegas a tornámos
agradável aos nossos olhos. Somos nós que fazemos a escola. E não
basta apontar o que está mal; é necessário ser activo e apontar
soluções.
E, por favor, não se lembrem de St.ª
Bárbara apenas quando troveja; se, de facto, querem chegar a algum
lado e ser alguém de que se possam orgulhar, esforcem-se por isso
E, já agora, estudem um bocadinho todos os dias. Não, não se riam.
É verdade. É muito mais fácil ir acompanhando as matérias do que
as tentar colar (sim, não lhe chamem aprender) na véspera do teste
ou do exame. No 10.º ano, o Professor Antunes disse-nos que a
matemática se estudava todos os dias durante 15 minutos e que, se
algum dia, tivéssemos a necessidade de estudar mais que isso era
porque não havíamos estudado esse quarto de hora no dia anterior.
Todos nos rimos. Mas uns de nós experimentaram. Outros não. E
continuaram a rir-se até agora. Escusado será dizer que aqueles
que experimentaram tão estranha técnica” obtiveram melhores
resultados que os outros e, incrivelmente, com menos trabalho e
menos stress. Acreditem. Não se lembrem de tirar boas notas
só no 12.º ano.
Se a lei nos dá a possibilidade de 50%
da nossa média de candidatura ser o resultado de 3 anos de
trabalho, porque não aproveitar esta oportunidade Digo-vos, e falo
por experiência própria, que é bastante confortável podermos
chegar ao fim das aulas do 12.º ano e pensar que, mesmo que
tenhamos zero em todos os exames, concluímos o 12.º ano com boas
notas.
Estão-se a rir Pensam que é um
discurso utópico Pensam que isso é só para os marrões Pensam que
só uns é que têm jeito para tirar boas notas Pois enganam-se todos
nós somos inteligentes; temos é que descobrir em que área é que a
podemos desenvolver. E, podem crer que quando se faz algo por
gosto, faz-se bem.
Pronto, era esta a coisinha com que me
queria despedir.
Obrigada por tudo o passei nesta
escola. Espero que quando a venha visitar ela se encontre tão boa
como agora (pelo menos...).
-
Cristina Borges
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