Ouvindo a 6ª Sinfonia
de Beethoven
Ardendo
vai o outono
por dentro da tarde
e eu ouço-te Ludwig ouço-te
a confiança os sons
como água
ou pássaros mansamente
nada
nem a morte
(rasto ou raiz de corpo)
te separou de nós
que te escutamos
desde quando?
que
força desprende
a Pastoral?
que jogos de luz
(ou som?) fibra a fibra
nos marcam o corpo
marcam o corpo
fibra a fibra?
donde
esta transparência
este sussurro fonte
ou memória plantada
no coração futuro?
ah
não é fácil Ludwig
cultivar o equilíbrio
sobre as tão remotas
ruínas antiquíssimas
Poemas do Tempo Incerto, 1983 |
Recordação dos Alpes
Colinas
mergulhadas
num grande silêncio
de árvores entreabertas
por entre assomos de neve
que a chuva dissolve
pouco a pouco
vales
por onde os sons
se diluem
e as aves se concertam
entre abismos e água
solta
espaços
de luz
habitados de trompas e coros
por onde os gados
se transfiguram
e os pastos se iluminam
tão transitoriamente
oh
casa nos alpes lugar
onde recolher
os indomáveis cavalos
sempre solitários
e acesos
Poemas
do Tempo Incerto, 1983 |