Ao iniciar o Projecto de I&D "Imprensa
Militar Portuguesa" – dando corpo a um trabalho de pesquisa iniciado há
mais de 20 anos – houve a intenção de seguir a linha de orientação do
Professor Doutor António Nóvoa nos seus trabalhos sobre a imprensa de
educação e ensino, concretizados na edição inicial de um
repertório(4),
seguido de um catálogo e de um álbum ilustrado com trechos escolhidos.
A escassez de meios e as dificuldades encontradas ao longo do processo
foram levantando dúvidas e perplexidades sobre a possibilidade de
concretização, em tempo útil, de um projecto de idêntica dimensão.
A visita a uma exposição sobre a imprensa científica
portuguesa(5);
a consulta das obras do Dr. Daniel Pires sobre a imprensa periódica
literária portuguesa(6);
e, também, do notável trabalho do General Martins de
Carvalho(7)
(infelizmente, em grande parte ainda inédito) permitiram vislumbrar
alternativas e optar por uma orientação diferente.
Acrescem duas circunstâncias que vieram a tomar-se determinantes das
decisões que tiveram de ser tomadas.
A primeira foi a constatação da existência de grande número de jornais
militares (especialmente do período 1950-1975) que estão bem
referenciados noutros títulos com que estabeleciam permutas (por vezes
até com imagem da capa), mas de que não foi encontrado qualquer
exemplar. Seria, pois, impensável incluí-los num catálogo e muito menos
estudá-los num repertório.
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A segunda é o inexorável factor tempo, a fazer aproximar rapidamente a
data em que o responsável pelo Projecto terá de deixar, por imperativos
de idade, a direcção da Biblioteca do Exército.
Por tudo isso havia que reformular a estrutura inicialmente projectada.
Assim, optou-se por avançar primeiro com a publicação de um catálogo,
limitado aos títulos existentes na Biblioteca do Exército, em número
superior a um milhar.
E continuar com os trabalhos relativos à edição de outra obra – um
dicionário bibliográfico – do qual constarão todos os títulos conhecidos
(cerca de 1.400, incluindo os apenas referenciados), cada um com uma
resenha, sensivelmente proporcional à sua importância e longevidade,
naturalmente condicionada pelo efectivo conhecimento dos números
publicados.
Este Catálogo concretiza, portanto, a primeira fase do Projecto.
Nele os conceitos de imprensa, militar e periódico são tomados em
sentido muito lato e admitidos da forma mais abrangente possível, com a
intenção de aproveitar o máximo de informação disponível. .
Assim, entendemos incluir referência às publicações periodicamente
editadas como sejam almanaques, anuários, listas de antiguidades ou
ordens (do dia ou dos três ramos das Forças Armadas) – dificilmente
enquadráveis no conceito de "imprensa"; a todos aqueles "jornais" –
comemorativos, números únicos, homenagens festivas ou póstumas – que não
obedecem à regra da periodicidade; e bem assim aos jornais e revistas
que, tendo sido fundados ou, de alguma forma, dinamizados por militares
em áreas em tempos afins (aeronáutica, hipismo, instrução paramilitar,
paraquedismo) se situam agora bem longe da sua génese.
O Catálogo refere-se apenas ao acervo documental da Biblioteca do
Exército, onde se conserva a quase totalidade do espólio da memória
colectiva das campanhas de África e da Índia no terceiro quartel do
Século XX (mais de 400 títulos) de que, infelizmente, se perdeu
irremediavelmente uma significativa parcela, superior a uma centena,
para além das faltas existentes nas colecções conhecidas.
Todo este importante acervo está a ser também sistematizado e reunido
com vista à criação, no âmbito da Biblioteca, da Hemeroteca do Exército.
No âmbito do Projecto "Imprensa Militar Portuguesa", a pesquisa
estendeu-se às mais importantes bibliotecas nacionais, designadamente
Biblioteca Nacional, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra,
Biblioteca Pública de Évora, Biblioteca Pública Municipal do Porto,
Academia das Ciências de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa,
Sociedade de Geografia de Lisboa e Arquivo Histórico Ultramarino; a
bibliotecas e arquivos militares, como a Biblioteca Central de Marinha,
Arquivo Histórico da Força Aérea, Liga dos Combatentes, Arquivo
Histórico Militar, Instituto de Altos Estudos Militares, Academia
Militar e algumas unidades; e bem assim a algumas das mais antigas
revistas militares, como a Revista Militar, Anais do Clube
/ 23 / Militar Naval, Revista
de Artilharia, Revista de Marinha, Mais Alto, Jornal do Exército e
Revista da Armada.
Pode dizer-se que, na generalidade das épocas consideradas, a pesquisa
foi gratificante, como sejam o período da chamada "guerra do Ultramar"
ou "colonial" (apesar das perdas detectadas), o pós-25 de Abril (com
muitos clandestinos de cariz político) e, no Séc. XIX, as lutas liberais
(embora limitado aos boletins dos exércitos em operações).
Um período houve, todavia, em que se revelou frustrante – a I Guerra
Mundial com a agravante de ter restado a sensação de que deverá ter
havido um número significativo de publicações, designadamente de
carácter humorístico. Ficámo-nos pelos cabeçalhos de dois jornais de
unidades da frente (O Chipanço e Le Filleuil) e de uma
revista editada em Paris, a única que pudemos incluir neste Catálogo.
O Catálogo está organizado por ordem alfabética da grafia actualizada.
Segue-se o local de edição e o ano do primeiro número, a grafia
original, os subtítulos, os números publicados, o primeiro responsável,
os impressores, o tamanho e a cota da Biblioteca do Exército.
As informações deduzidas mas não confirmadas aparecem entre parêntesis
[rectos], as dúvidas assinaladas por (?) ou o último algarismo
substituído por (-).
As datas têm os meses na forma abreviada (segundo as regras militares) e
os anos com quatro algarismos, dada a existência de diferentes séculos.
Os períodos de publicação são definidos por travessão (1936-1939) ou
hífen (1840-1897), reservando-se a barra para os períodos mais extensos
abrangidos por um mesmo número (1899/1902 ou, de forma mais
simplificada, 1960/61).
O Catálogo segue, na generalidade, as "Regras Portuguesas de
Catalogação", editadas pela Biblioteca Nacional em 1997.
Mas, dada a especificidade do meio militar e o facto de ter sido quase
totalmente executado por não especialistas em ciências documentais,
leva-nos a admitir que, apesar dos apoios recebidos e das exaustivas
revisões, possa conter erros, lacunas ou falhas técnicas, que não foi
possível eliminar ou contornar – e de que antecipadamente nos
penitenciamos.
Visando essencialmente reunir informação que permita aos investigadores
e estudiosos terem mais rápido e eficaz acesso às fontes, esperamos que
essas possíveis falhas não prejudiquem de forma significativa o mérito
da utilidade e a oportunidade da sua publicação.
Dado o grande número de títulos extraviados e de colecções incompletas,
apelamos à colaboração de quem possa ajudar na eliminação dessas lacunas
e o consequente enriquecimento do acervo bibliográfico da Biblioteca do
Exército e da sua nascente hemeroteca.
/ 24 /
Por último, queremos agradecer todos os apoios e colaborações recebidas,
sem os quais não teria sido possível a publicação deste Catálogo.
Ao Ministério da Defesa Nacional, ao Governo de Macau, ao Estado-Maior
do Exército e à Revista Militar, pelas condições que proporcionaram aos
trabalhos do Projecto.
Ao Professor Doutor Artur Anselmo que, há mais de 20 anos, me
entusiasmou e orientou os primeiros passos na pesquisa da imprensa
militar.
Ao Professor Doutor António Nóvoa pelos sábios conselhos com que sempre
acompanhou o desenvolvimento do Projecto; e ao Professor Doutor José
Tengarrinha, para além do acompanhamento científico, por ter aceitado
prefaciar este Catálogo.
Ao Professor Doutor Aníbal Pinto de Castro (Director da Biblioteca Geral
da Universidade de Coimbra), Professor Doutor Carlos Reis (ao tempo
Director da Biblioteca Nacional), Dr.ª Maria da Fátima Tavarela Veloso
(da Biblioteca Pública Municipal do Porto), Dr.ª Manuela Borges (da
Biblioteca Pública de Évora), à Dr.ª Gina Rafael, à Dr.ª Fernanda Casaca,
à Dr.ª Vera Oliveira e ao pessoal de todas as bibliotecas contactadas,
pelas facilidades concedidas.
Aos camaradas de Armas, ex-militares, seus familiares, viúvas e filhos
que disponibilizaram, ou mesmo cederam, colecções completas ou
exemplares raros, por vezes únicos e de grande valor estimativo, que
vieram enriquecer o acervo da Biblioteca do Exército e da Hemeroteca que
nela está a ser criada.
Às publicações – Jornal do Exército, Boletim da ASMIR, Combatente,
Lanceiro que deram destaque ao nosso apelo para recuperação dos jornais
desaparecidos ou de colecções incompletas, que foi captado por muitos
dos seus leitores. E ao Núcleo de Lagoa da Liga dos Combatentes, que
cedeu parte do seu pavilhão na "FATACIL 2001" para a instalação de uma
exposição de publicações militares.
Um projecto de investigação implica sempre a colaboração, pessoal ou
profissional, de grande número de pessoas. Na impossibilidade de as
citar individualmente, aqui deixo o público reconhecimento a quem mais
de perto me apoiou – Major João Baracho, Dr.ª Maria Eduarda Dimas, Dr.ª
Maria da Conceição Macieira, Daniel Gonçalves e Manuel Borges Machado –
bem como aos restantes militares e civis que prestam serviço na
Biblioteca do Exército. E a todos os que, de alguma forma, ajudaram a
concretizar este projecto, de que foi agora dado o primeiro passo.
Finalmente, à Cristina, à Inês e ao João Miguel, o meu reconhecimento
pela compreensão que sempre tiveram pelos longos serões em que o
convívio familiar foi sacrificado às necessidades do Projecto.
Alberto Ribeiro Soares
_______________________________
(4) - NÓVOA, António
(dir.). A imprensa de educação e ensino: repertório analítico
(séculos XIX-XX). Lisboa, Instituto de Inovação Educacional, 1993.
(5) - MUSEU NACIONAL
DA IMPRENSA. 250 anos de imprensa: exposição no Palácio Foz. Lisboa,
Museu de Imprensa, 2000.
(6) - PIRES, Daniel.
Dicionário da imprensa periódica literária portuguesa do século XX.
Lisboa, ed. Grifo, 1996 (2 vol.).
(7) - CARVALHO,
General Francisco A. Martins de. Dicionário bibliográfico-militar
português. Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa, 2 vol., 1976
(com bastante material inédito). |