No frontispício desta antologia de canções quero
gravar os nomes de dois grandes divulgadores actuais da boa Música, como
grata Homenagem por tanto que nos têm dado:
– um é
Eurico Augusto Cebolo, grande pedagogo português, autor de vários
e óptimos métodos de aprendizagem e divulgador de belas canções
internacionais;
– o
segundo é o violinista e maestro André Rieu, excelso comunicador
mundial – que consegue harmonizar os compositores clássicos com grandes
orquestrações de canções tradicionais e inesquecíveis.
São dois
corifeus do combate à trágica degradação do gosto musical (e poético,
artístico) que a sociedade de consumo e as TVs populares têm imposto.
As
poderosas tecnologias hoje ao dispor da Música e o desenvolvimento da
escolaridade, que tanto poderiam ajudar a 'poetizar' as letras, estão a
ser subaproveitados e desvirtuados.
Onde
está o encanto, a sedução, o romance, o desejo, o amor o sonho, a
música, a poesia de uma cantiga como esta: "Ela sorriu / Ele foi
atrás / Ela despiu-o / Ela o satisfaz"?
Uma
percentagem esmagadora das canções do consumo actual é um espantoso
macaquear do instinto, sem respeito pela cultura nem pela dignidade dos
(e das) jovens consumidores!
Música é
Cultura, enraizamento e elevação. Mas, em vez de harmonia, sonho,
romance e felicidade estética e sã, o consumismo materialista condiciona
e escraviza as mentes em formação e excita o consumo de álcool,
estupefacientes e free-sex, a soldo dos poderes básicos da
sedução e explorando a ingenuidade e o mimoso poder de compra da
Juventude.
O
garrote de milhares de watts das gritarias agudas e dos baixos
profundos destroem as frágeis defesas, nivelando de bestialidade as
modas comerciais servidas por esses taberneiros.
Até as
Festas universitárias! Que 'pimbalhadas'! Que tristes metastizações dos
mais esquisitos 'forrifuns' do subdesenvolvimento cultural!
Em vez
de a juventude culta influenciar e elevar os 'futricas', são estes que
lhe marcam o compasso! Por falta de Cultura e livre pensamento, até, por
ex., a solene Aula Magna da UL tem deixado 'misturar' eventos de Saber
Universitário com espectáculos bem rascas.
A
juventude actual, ou não canta, ou então, para 'armar', põe-se a 'abanar
o capacete' e a silabar numa língua estrangeira que nem compreende.
Mas a
culpa também é nossa. E é da nossa responsabilidade apresentar
alternativas.
Colocar
algumas das nossas belíssimas canções portuguesas lado a lado com as
mais belas da Europa é uma das faces do projecto deste livro.
Historicamente, Portugal é o primeiro País
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europeu, com unidade de Pátria, escriturada na bula "Manifestis
Probatum" de 1179.
Toda a
Cultura tradicional da Europa (desde o trovadorismo medieval) irradiou
de Santiago de Compostela, onde convergiam todos os povos. Muitas
cantigas, portuguesas e europeias, mantêm ainda fundos vestígios de
várias características dessa vivência compostelana, onde está
documentada a expressão artística não só das terríveis fragilidades e
receios do décimo milénio (a temática da guerra, o 'fossado'), mas ainda
a doce 'cantiga de amigo' popular da confissão amorosa feminina e, em
contexto, os temas ancestrais da ruralidade do noroeste peninsular: o
mar, a fonte, o amor, a saudade, os trabalhos no campo e as festas
populares (o Natal, S. João, os casamentos e baptizados...), o carácter
social da alegria e a intencionalidade casamenteira da sedução
implícita nas danças tradicionais...
Pequenas
notas no rodapé de algumas canções afloram um pouco essa temática.
Talvez
por um snobismo inerente à ignorância musical (e pela dificuldade da
leitura paleográfica em latim...), a própria magistratura universitária
ainda mal começou a debruçar-se a sério sobre o infindável manancial
poético, musical, histórico e sociológico de muitas das canções
tradicionais – por ex., há rimances praticamente desconhecidos, apesar
de riquíssima temática da intimidade histórico-social, nomeadamente do
tempo dos Mouros e, até, de Carlos Magno (séc. VII- VIII) [1]
Para
além da fidelidade às Raízes culturais portuguesas e europeias, esta
antologia de CANÇÕES... transcritas neste primeiro volume (outros se
seguirão?) procura compilar de modo abrangente, de países e géneros,
algumas das canções mais conhecidas e apreciadas em toda a Europa e,
até, no Mundo.
São
variadíssimos os temas e os alvos:
– o
escutismo, o regionalismo, as profissões e festividades tradicionais, o
desporto, o turismo e as romarias, os grupos corais, o associativismo
juvenil, a emigração, o Dia da Mãe, do Pai, dos Namorados... as línguas
vivas... o convívio... todas as escolas...
Com as
canções inserem-se alguns contos tradicionais, seculares, agora
musicados, que, com uma encenação elementar, bem podem ser transformados
em pequenas operetas, destinadas aos mais novos das nossas escolas: a
História da Carochinha, a História da Cabacinha...
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Nestas CANÇÕES... reserva-se também um lugar especial para a
cidadania, através dos Hinos Nacionais dos países europeus.
Não fica
esquecido o Fado de Lisboa (agora património da Humanidade), nem o Fado
da nossa velha e saudosa Coimbra, "menina e moça" eterna.
A Música
é a mais poderosa e íntima linguagem universal da empatia humana;
através dela, as mensagens do coração e da fraternidade propagam-se como
um sorriso feliz.
Por
isso, não deixei de dar letras portuguesas a algumas das mais belas
canções europeias, que tão fundas marcas têm deixado na vida de tantas
pessoas.
É o caso
de Edelweiss (Música no Coração), Greensleeves,
Nearer my God to thee, The way old friends (ABBA), The
Rose, Amigos para sempre, Serenata de Schubert,
Fascination (divulgadas por André Rieu), Padam... padam...
(Edith Piaf!), House of rising sun... – e tantas tantas canções
'inesquecíveis', mesmo em línguas estrangeiras e sem a letra em
português, que agora passam a ter.
Uma
última observação vai para a notação das músicas, que procuro escrever
com rigor e lógica, também de memória, quando não há pautas (ou não são
fiáveis).
Procuro
sempre a possível simplificação pedagógica, escolhendo as tonalidades no
sentido de tornar cantáveis certas peças de origem instrumental ou mais
erudita. Em apêndice, incluo os acordes básicos, para viola e para
teclado de piano.
Num
mundo quase sufocado pelo Ruído e pela Angústia (que tão dolorosamente
Álvaro de Campos lamentou!) será muito bom que esta antologia de
CANÇÕES INESQUECÍVEIS LUSO-EUROPEIAS possa contribuir para que a
Música – e a Poesia, sua irmã gémea e inerente – ajude os jovens a
encontrarem um dia uma alternativa estética à carneirada dos mass
media, assumindo nobremente uma educação espiritual própria, que é,
sempre, libertação.
Para os
menos jovens, a minha mensagem é que, nas inexoráveis pegadas do Tempo,
ainda possam encontrar e reviver muitas – de tantas! – melodias dos
'bons tempos'... inesquecíveis.
Sintra, 10
de Julho de 2012
Altino Moreira Cardoso |