E ainda bem! As
tristezas não pagam dívidas. Se tal sucedesse, passaríamos, todos
nós, a maior parte do tempo a carpir-nos, ainda que dívidas não
tivéssemos. As tristezas não pagam dívidas e os pensamentos devem
ser positivos, para que possamos pedalar mais descontraidamente ao
longo desta corrida que é a vida. Todavia, por vezes, há alguns
acontecimentos funestos que fogem à regra geral. Tal como o azeite
misturado na água, teimam em vir à superfície. Talvez para melhor
nos fazerem apreciar, por contraste, os bons momentos e as coisas
boas deste mundo.
Mas,
e voltamos a esta conjunção bastante adversa e pouco
tranquilizante, a verdade é que os acontecimentos funestos ocorrem
pelas mais diversas razões, mesmo sem necessidade da aliança da
duas poderosas forças que já referimos. Há, para mal da
Humanidade, forças funestas que ocorrem imprevistamente, sem
necessidade da maluqueira bélica do Homem. Precisam de provas?
Estão a ver onde quero chegar? Para não nos alongarmos e voltarmos
a ciclar, vejamos os dois exemplos que passo a recordar-vos.
Quando
a Terra que pisamos fica com excesso de pressão nas entranhas, o
que é que faz? Precisamente o mesmo que nós, só que de maneira
por vezes mais desagradável e desastrosa! Alivia-a frequentemente
de maneira pouco amigável. E lá se vai tudo quanto
lhe anda no dorso. Lá se vão as cidades e as vidas dos que as
construíram!
Quando
o deus das meteorologias se zanga, se enfurece e se põe a soprar
desalmadamente com quantas forças tem, lá vem um tufão ou um
ciclone feminino, que devasta regiões inteiras, arrasando em poucos
segundos o que o Homem levou dias, meses e anos a construir. E a
propósito, já repararam que todos os ciclones, tufões e fúrias
quejandas do deus dos ventos têm nomes femininos? Porque será? Por reminiscências da punição que Eva fez recair sobre
Adão?
O
acontecimento funesto que agora nos interessa foi o resultado apenas
da convergência daquelas duas forças poderosas de que
anteriormente falámos. O miúdo da nossa história não conseguiu
fugir-lhes, apesar de, assiduamente, ouvir os ralhetes da mãe, cujo
coração há muito a avisava e a levou a reparar receosamente no
namoro entre ele e a bicicleta: «Não mexas na bicicleta. Deixa-a
estar quieta, que ainda te aleijas!»
A
verdade é que o namoro foi ficando cada vez mais frequente e os
ouvidos cada vez mais insensíveis aos avisos da mãe, que lhe
entravam por um lado e saíam pelo outro.
Mas,
afinal, o que é que se passou? Já falámos de milhentas coisas, de
ciclones e de tufões, e continuamos na mesma!
Têm
toda a razão! Começam a ficar impacientes e desejosos de saber
qual o acontecimento funesto, que impediu o miúdo de aderir a uma
nova modalidade desportiva, radicalmente diferente do ciclismo.
Será
que pegou na bicicleta, que estava muito descansada ao canto da
sala, foi para a rua e se enfiou contra algum dos raros carros que
então circulavam nas ruas da vila? Ou será que, ao andar na rua,
naquela bicicleta de puro sangue inglês, mas de pneus vazios, se
estatelou no chão e foi parar às urgências do
hospital? >>> |