EVOCAÇÃO DE
ESPINHO
De Espinho
conservo na memória uma razoável quantidade de imagens, que surgem
imprevistamente. São elas que alimentam, seguramente, parte do meu
universo onírico.
Frequentemente sou
remetido para épocas recuadas da infância. E as imagens sonhadas são tão fortes
que muitas vezes as consigo rever mesmo depois de acordado. As mais
antigas são da segunda metade da década de 1940. Vejo-me não
raras vezes à beira-mar, tendo na frente ruínas de casas
engolidas pelas águas revoltas de um imenso oceano. E surge-me uma torre de
igreja, destruída e meio inclinada, por alterosas vagas envolvida.
Estas imagens
levaram-me há tempos a um trabalho de pesquisa. Procurei averiguar
em que medida correspondiam à realidade. E a pesquisa deu frutos
curiosos. De facto, algumas foram capturadas pela minha
câmara estereoscópica pessoal nos meus tempos de garoto.
Encontrei fotografias, com as respectivas
chapas fotográficas de vidro, que terão sido tiradas pelo meu pai. Mostram a vila de Espinho
destruída
pelo mar.
O mais estranho é que retenho factos e imagens na memória que nunca
poderiam ter sido visionados directamente por mim. São exemplo as
três fotografias que agora reproduzo. Encontram-se em
muito mau estado: quase apagadas e amarelecidas pelo tempo. Se
estão razoavelmente visíveis nesta página, deve-se apenas ao
facto de as ter recuperado graças às modernas técnicas digitais. Seria
interessante pesquisar em jornais da época, para determinar
rigorosamente a data destes acontecimentos, relacionados com a
História de Espinho. De uma coisa tenho quase a certeza: são anteriores
ao meu nascimento. E se as tenho gravadas na memória, é porque
certamente as terei visto em miúdo, na altura em que o
meu pai as terá reproduzido. Deixemos as especulações e
observemo-las.
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Em relação
à imagem ao lado, lembro-me de que, em miúdo, no Verão, quando
nadávamos na maré baixa, era possível encontrar um maciço
de pedra a uns cinquenta metros da praia, numa área situada
talvez em frente à rua 19. E dizíamos uns para os outros:
«- Olha,
já estamos sobre o local onde ficava a igreja de Espinho.» |
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