Alternativa AEJE
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Parágrafo introdutório sobre o colega Henrique:
A comunidade mais
jovem não conhece Henrique J. C. de Oliveira, professor aposentado da
ESJE, hoje integrada no AEJE. Foi docente, orientador de estágio e
formador. Esteve sempre ligado ao jornal escolar e à cultura aveirense.
1 –
Quer falar um pouco sobre a sua vida profissional,
explicando o modo como se deu o seu encontro com a Escola Secundária
José Estêvão?
2 –
O seu envolvimento em várias áreas é uma marca do seu
trabalho. Concorda? Quer falar da sua atividade enquanto formador?
3 –
Como tem vivido a sua aposentação? O que é que o leva a
manter-se ligado à escola? Quais são as suas motivações?
A
direção do jornal agradece o seu testemunho.
Respondendo à pergunta número um, posso dizer que o meu
encontro com a Escola Secundária José Estêvão começou em tempos bastante
recuados, ainda antes de ser professor. Com uma costela ceboleira
pelo lado paterno, lembro-me de ter entrado pela primeira vez nesta
escola em 1952, pouco tempo depois do actual edifício ter sido
inaugurado; era eu um miúdo com sete anos de idade. Como foi isto
possível? As minhas primas, pouco tempo depois do Liceu Nacional de
Aveiro (era assim que a nossa escola era designada) ter passado do
edifício onde hoje funciona a Secundária Homem Cristo para aquele que
hoje conhecemos, embora alunas da secção feminina, foram assistir à
récita que habitualmente se fazia no final de cada ano escolar. E
tiveram a feliz ideia de me terem levado com elas a assistir ao
espectáculo realizado no ginásio da escola. Foi este o meu primeiro
contacto, foi esta a primeira vez que entrei no edifício, porque, pelo
lado de fora, passava pela frente frequentemente de bicicleta, aos fins
de semana, pelos caminhos em volta da escola, situada na então designada
Quinta das Agras, onde o novo Liceu foi construído e onde, com o volver
dos anos, nasceu o designado Bairro do Liceu.
Os anos passaram. O miúdo frequentou a escola primária,
depois os três ciclos do ensino liceal; e foi para Coimbra, terra onde
acidentalmente nascera e que nem sequer conhecia, tirar o curso de
Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade desta cidade.
Quase no final do curso, em plena crise estudantil de 69, percorreu o
País num trabalho de investigação etnolinguística, fez e defendeu a
tese; formou-se! E deu ainda aulas durante um ano numa secção da Escola
Industrial e Comercial Brotero, na Lousã, antes de ter sido chamado para
o serviço militar. Entre 1972 e 1974, passou dois anos de «férias
forçadas» em terras de Angola. Estava no sector de Malanje, junto à
fronteira, quando ouviu pela rádio que qualquer coisa se tinha passado
no «puto» no dia 25 de Abril de 74. Esclareça-se que o «puto» era a
designação dada em Angola para o minúsculo país que ficava na cabeça da
Europa e se chama Portugal. E regressou a Portugal continental em
Novembro de 1974, não tendo sequer tido tempo de gozar o mês de férias a
que tinha direito depois da passagem à «peluda», isto é, à vida civil.
Tinha sido colocado como estagiário no então ainda designado Liceu de
Aveiro e tinha de me apresentar ao serviço.
E aqui está como, após uma série de anos, voltei a entrar
na que é hoje a Escola Secundária José Estêvão. Como foi este segundo
contacto com a escola? Como é que me senti como estagiário? Devo
confessar que foi um ano bastante difícil. Difícil e trabalhoso. Mas
ainda mais difícil, porque, na realidade, tive que efectuar dois
estágios em simultâneo. Como assim dois estágios, estarão vocês a
pensar? Em primeiro lugar, ter sido estagiário nesta escola não era
brincadeira nenhuma. Não por causa do estágio em si, porque ensinar foi
sempre uma actividade que me deu prazer. Foi algo complicado, pela
situação que se vivia em Portugal. O primeiro estágio, o que mais me
custou, não foi o lectivo. O estágio mais custoso foi ter de me
readaptar à vida civil que encontrei, passe a expressão, de pernas para
o ar. Na escola, os professores mais velhos, melhor dizendo, as
professoras, olhavam para os estagiários como bichos estranhos, pondo-os
à margem e procurando boicotar-lhes o estágio, a ponto de ter sido
necessária a vinda do Porto, do Liceu D. Manuel II, de uma professora
orientadora para Francês. As aulas praticamente nem sequer existiram
durante parte do primeiro período. Pelo menos, entre Outubro e Novembro,
sucediam-se as Reuniões Gerais de Alunos, as RGA, e as Reuniões Gerais
de Professores (RGP). Reuniões em que muito se falava, se falava,
falava, e geralmente a nada se chegava. A solução para contornar este
estado caótico em que se vivia foi encontrada. Como? Abstraindo-me e
concentrando-me naquilo que efectivamente interessava: as aulas e a
preparação para a vida docente. E a estratégia foi auxiliada pela
excelente camaradagem e amizade entre todos os elementos do grupo:
colegas de estágio e orientadoras. E o ano lectivo chegou ao fim com
pleno sucesso e até mais depressa do que se poderia imaginar.
O segundo ano, não já no Liceu de Aveiro, mas na
Secundária José Estêvão, porque, entretanto, Liceus e Escolas
Industriais e Comerciais tinham passado a escolas secundárias, deveria
ter sido um período calmo e relaxante. Deveria ter sido calmo e de
recuperação do esforço realizado no ano transacto, mas… Outra vez os
professores mais velhos procuraram boicotar os estágios na escola. Desta
vez, era o Estágio Clássico de Português, Latim e Grego, que iria
funcionar no ano lectivo de 1975/76. Três estagiários precisavam de
fazer estágio e tinham garantida uma professora para orientação do Latim
e do Grego. Mas os professores de Português recusaram-se a aceitar o
cargo. Foi um problema sério para a Direcção da escola e, sobretudo,
para os três professores, que corriam o risco de ficar sem estágio.
Alguém, já não sei dizer quem, lembrou-se do estagiário do ano anterior,
que conseguira o melhor resultado e até se tinha interessado por dar um
certo apoio à escola na área dos recursos educativos, tendo, inclusive,
efectuado um breve seminário de tecnologia educativa para os mais
velhos, interessados em descobrir novas técnicas e recursos de ensino.
Contactado pelos três estagiários, que expuseram a
situação, a resposta que lhes dei é que deveriam insistir com os
professores mais velhos, muito mais experientes do que eu, que estava
ainda no começo da carreira. Mas, acrescentei-lhes, podem ter a certeza
de que não ficarão sem estágio. Em última instância, mesmo contrariado,
aceitarei o que me pedem. E mais uma vez me vi envolvido numa situação
idêntica à do ano anterior, não já como estagiário, mas como orientador.
E teria sido um ano tranquilo e até muito mais produtivo, se não tivesse
havido uma estagiária inexperiente, que se deixou manobrar pelas
professoras mais velhas, e procurou «fazer a vida negra» aos colegas. De
tal modo se revelou a ovelha negra do grupo, com atitudes que nem convém
recordar, que, no final do ano, na altura da avaliação, o resultado
seria… Mas não chegou a ser. Apesar de todos os problemas, a minha
preocupação era conseguir uma avaliação o mais justa possível. E a
solução que se me afigurou mais justa foi dar maior peso aos aspectos
positivos, dando o devido desconto à juventude e inexperiência da
professora, que não lhe permitiu afastar-se das más influências. E, indo
contra a vontade do grupo, atribuí-lhe a nota mínima, para que não
perdesse o estágio. E não vou aqui falar das actividades
extra-curriculares, que nos levaram a trabalhar, aos fins de semana, em
actividades agrícolas, actividades de descoberta do mundo do trabalho na
nossa região, das visitas às empresas de pesca, da construção de um
ampliador de fotografia para montarmos um laboratório fotográfico, em
suma, actividades que a maior parte da escola recusou, mas que tiveram a
particularidade de me revelarem um mundo diferente, o mundo da escola
paralela, que é a maior escola que existe, ou seja, a Escola da Vida.
Penso que, ao abordar os meus primeiros contactos com o
outrora Liceu Nacional de Aveiro, hoje Escola Secundária José Estêvão e
sede do Agrupamento de Escolas com o nome do mesmo patrono, já entrei no
ponto 2 das questões inicialmente colocadas.
No ano lectivo de 1976/77, fui efectivar-me na Escola
Secundária n.º 2 de Aveiro, instalada no edifício onde começou o Liceu
de Aveiro. Por ordem do Destino, continuei, na prática, ligado à mesma
escola onde entrara pela primeira vez em miúdo, para assistir a uma
récita de finalistas. Durante alguns anos, as minhas actividades foram
sendo repartidas por várias áreas, não se limitando exclusivamente ao
ensino. Na Secundária n.º 2 de Aveiro, actualmente designada Escola
Secundária Homem Cristo, logo no primeiro ano, experimentei o trabalho
como Delegado de Grupo, em simultâneo com a direcção da Papelaria
Escolar. Como nada percebia de gestão económica, tive de pedir ajuda aos
mais velhos e experientes nas artes da Contabilidade. Depois, sem falar
nos estágios de Formação Integrada da Universidade de Aveiro, que
orientei desde a primeira leva de professores até à minha ida para
Braga, em 1995, para tirar o mestrado, desenvolvi outras actividades
ligadas à Cultura e à Arte: os primeiros anos da ADERAV, graças ao
colega Amaro Neves, a participação no Grupo Coral da escola e, pouco
depois, no Grupo de Cavaquinhos, orientados pelo maestro Severino.
Entretanto, apareceram os primeiros computadores; e com eles a lembrança
e curiosidade, que me nascera, ainda no meio do mato, quando soldados
meus, angolanos, me vieram pedir para lhes dar explicações de Matemática
e de Francês. A Matemática apresentava coisas novas que desconhecia, Uma
linguagem nova, diferente, umas notações e cálculos binários, que eram
novidade para mim e estavam relacionados com a linguagem informática,
despertaram-me a curiosidade, Para mais, recebia todos os meses
informações sobre uma nova ciência através de uma revista francesa
chamada “Science et Vie”.
Em Portugal, em Braga, nos finais da década de 1980, uma
fábrica da Timex lança no mercado um computador novo, mais completo que
os Spectrum’s. Comprei um. Vinha acompanhado com um completo manual de
programação em Basic. E grande parte das minhas férias foram ocupadas na
aprendizagem daquela nova linguagem. Em breve, era capaz de escrever um
programa completo e pô-lo a funcionar. Na escola, alguns alunos já
possuíam Spectrum’s, que utilizavam exclusivamente por causa dos novos
jogos, que eram novidade e bastante atractivos. E o professor de
Português, e então já orientador dos estágios de formação integrada,
resolveu criar um Clube de Informática. Funcionou plenamente, aos
sábados de tarde, num recanto da Homem Cristo. E os vários alunos, hoje
alguns engenheiros informáticos com muito mais conhecimentos do que eu,
desafiaram-me, dizendo que eu não era capaz de criar jogos como os que
eles compravam. E, de repente, mesmo sem computador, sentado à mesa de
um café, escrevi em papel quadriculado um primeiro jogo que, uma vez
batido no teclado, funcionava perfeitamente. E outros programas se
seguiram. Nos períodos dos exames, a escola trocou-me as actividades.
«Em vez de fazeres parte dos júris de exames, passas a criar programas
para serem utilizados pela escola.» – Era este um dos argumentos de um
elemento da direcção, coadjuvado pelo Padre Miguel, que era também um
dos meus companheiros do grupo coral. E nasceram diversos programas, dos
quais destaco apenas um: Eça de Queirós e os Maias. E já agora,
convirá dizê-lo, o jogo da Forca, com cerca de duas mil palavras
incluídas, que fez um estrondoso sucesso na Semana da Escola. Ainda não
eram nove da manhã, e já havia uma longa fila de alunos à espera de
entrar na sala dedicada ao Português, onde se encontrava um computador
Spectrum, com um dicionário de Português colocado ao lado. Claro que as
estagiárias acabaram também por aderir às novas tecnologias. E, graças a
elas – a elas tecnologias, não as estagiárias – nasceu o primeiro jornal
em computador, com um programa hoje considerado primitivo: o Newsmaster.
E nasceu “A Folha”, talvez o primeiro jornal a ser colocado na Internet,
que pode ainda ser consultado no espaço «Aveiro e Cultura», ao lado de
outros editados na Secundária José Estêvão e também na EICA, hoje
designada Escola Secundária Mário Sacramento.
Após um ano de licença sabática, no ano lectivo de
1995/96, para pesquisa e elaboração da tese, regressei à Secundária José
Estêvão. Tive nesta escola – a nossa escola – a oportunidade de
contactar com uma nova forma de ensino, que considero ter sido um
verdadeiro sucesso, apesar de extinto devido a manobras menos lícitas
noutras partes do País. Estou a referir-me, para quem não saiba, ao
designado SEUC, isto é, Sistema de Ensino por Unidades Capitalizáveis.
Posso dizer, e se não o fizesse seria uma injustiça para a escola e os
colegas que aqui trabalharam, que este sistema dava resultados muito
positivos. Talvez porque a escola tinha uma equipa de professores à
altura. Não posso deixar de citar o nosso colega, o professor João
Paulo, o nosso Director da Noite, que sabia dinamizar todo o grupo e era
um colega com o qual dava gosto trabalhar. Também não posso esquecer os
restantes colegas. Eu era um dos quatro elementos que funcionavam como,
passe a expressão, por inadequada, como Directores de Turma. Aos quatro
elementos competia coordenar o trabalho dos restantes colegas, verificar
e arquivar as pautas dos exames, receber os alunos, etc. O ambiente de
trabalho era de tal modo agradável, que nasceu a ideia de retomarmos uma
antiga tradição da escola.
O Liceu Nacional de Aveiro distinguiu-se sempre, no
panorama das escolas do País, por estar à frente em muitos aspectos. Por
aqui passaram nomes que tornaram a escola conhecida: José Pereira
Tavares, Francisco Ferreira Neves, Agostinho da Silva, António Gomes da
Rocha Madahil, etc. Em Aveiro faziam-se Congressos Nacionais ligados ao
ensino. Em Aveiro eram publicadas revistas de interesse nacional ligadas
ao ensino e à cultura em geral. Por que não retomar esta tradição?
A minha actividade, ao longo dos anos, esteve ligada não
só ao ensino, mas a muitas áreas do saber: fotografia, cinema,
jornalismo, etnografia, etc. As ferramentas informáticas não tinham para
mim segredos. Na altura, surgira um programa excelente para criação de
jornais, revistas, cartazes, cartões de boas festas, cartões de visita,
etc. Era (e continua a ser), um editor electrónico, que revolucionaria a
arte do jornalismo. E a escola tinha tudo o que precisava: alunos,
funcionários, professores, uma reprografia devidamente apetrechada, e
uma comunidade escolar que deveria também ser englobada. Todos estes
factores pesaram para a criação de um jornal ou boletim escolar. O
professor João Paulo foi o primeiro a concordar com a minha ideia. Os
professores e alunos com quem falei, todos plenamente de acordo. E qual
o nome a dar ao jornal, tanto mais que era destinado ao ensino nocturno?
O professor João Paulo lembrou-se do nome “Alternativas”. O ensino
recorrente era uma nova alternativa para aqueles que, trabalhando
durante o dia, pretendiam continuar os estudos. E era também uma
alternativa para os alunos darem a conhecer as suas aptidões:
artísticas, de escrita, etc.
O jornal nasceu, foi publicado e fez sucesso. Em breve
deixava de ser exclusivamente da noite, para ser de todos, alunos da
noite e do dia. Em breve, porque a comunidade escolar não podia ficar
excluída, estava também aberto à colaboração de todos: encarregados de
educação e comunidade em geral. E o “Alternativas” manteve-se de boa
saúde até ao fatídico número treze.
Ficou parado no tempo, no número treze, na mesma altura
em que a escola conheceu uma profunda revolução. Desapareceu o
“Alternativas”; desapareceu o espaço interior, onde ainda se fez uma
«Feira Medieval», com a promessa de no ano seguinte sair para a rua;
desapareceu uma Biblioteca Histórica, que deveria ter sido respeitada
como memória de uma época; em suma, a escola sofreu uma profunda
mudança.
Entre 2010 e 2011, vimos desaparecer espaços familiares e
nascerem outros. O espaço interior, ajardinado, deu lugar ao novo
refeitório; as bibliotecas, a histórica e a moderna, pouco tempo antes
remodelada, bem expostas ao sol, onde só se acendia a luz eléctrica no
final do dia, deram lugar a uma nova biblioteca, onde se está de luz
acesa durante todo o dia; as salas de aulas, que necessitavam da luz
diurna para um funcionamento normal, passaram para zonas escuras; as
aulas de informática, que necessitam de um espaço menos iluminado,
passaram para zonas expostas ao sol; em suma, operou-se uma verdadeira
revolução. Para melhor? Talvez!
Este texto já vai demasiado longo e com a terceira
questão por responder. É o mesmo problema que acontece com as cerejas.
Quando se puxa uma, vêm outras atrás. As palavras são assim. Umas puxam
as outras. Ainda estamos de volta com uma ideia, e já outras estão a
bailar, a quererem saltar da massa cinzenta para o papel, neste caso
concreto, do papel cinzento do nosso cérebro para o branco papel virtual
do processador de texto da nossa tablete. E estou a ouvir um aluno a
dizer: olha, este cota diz «a tablete» em vez «do tablet». Para ele, que
acabou de mentalmente me criticar, pergunto-lhe se também diz: «o
mulher» ou «o casa», em vez de «a mulher» ou «a casa». Trata-se apenas
de uma questão de género!
E, para terminar este texto que já vai longo, vou
responder à terceira pergunta de uma forma mais abreviada, prometendo,
espero eu, não me alongar demasiado.
A minha aposentação vai bem, graças a Deus! E espero que
por longo tempo. Por longo tempo, até porque o tempo não custa nada a
passar, se nos mantivermos sempre ocupados. E, diga-se também, se os
Fados o permitirem. E a escola, sem falar no prazer da companhia com os
netos e com a família, é o meu melhor espaço para ocupar o tempo. Como,
em 2001, numa altura em que andava no desenvolvimento de um projecto
iniciado em 1995 para compensar o excesso de espaço livre com que tinha
ficado depois de feita e defendida a tese de mestrado, fui indigitado
pela Direcção da Secundária José Estêvão para Líder do Projecto Prof.
2000 na nossa escola. O projecto em que andava envolvido desde 1995 era
a criação de um romance em género epistolar, de acordo com as normas da
Teoria da Literatura, até porque, na língua portuguesa, tirando as “Lettres
Portugaises”, que nunca terão sido escritas por uma freira
portuguesa, não existe nada em género epistolar. Estava na parte final
do quarto volume das “Cartas de um miliciano», quando fui
apanhado desprevenido pelo convite do responsável pela direcção da
escola.
Há muito que andava ligado ao mundo das novas tecnologias
informáticas. No nível superior, ensinava, além de Gramática da
Comunicação, Técnicas de Secretariado, Jornalismo e Programação por
Objectos. Na área da Formação de Professores, ensinava «Imagem e Novas
tecnologias no ensino», «Fotografia e Cinema» e «Criação de páginas
didácticas para Internet». Como dizer que não? Não tive coragem de
recusar o convite. Aceitei-o.
Pouco depois, após ter apresentado, na segunda ou
terceira sessão do Prof2000, ministrada nas instalações da PT (Portugal
Telecom), em Aveiro, um currículo original, feito integralmente em
linguagem da Internet (HTML), que foi muito elogiado, eu considerei-o de
reduzidíssimo interesse, um certo desperdício de tempo, perante espanto
de todos. Contrapus que interesse teria se, em vez disto, tivesse
lançado a ideia para um projecto que envolvesse toda a comunidade. Como
assim? – Perguntaram os líderes de outras escolas. Esclareci que seria
mais útil ter apresentado um projecto para um espaço comunitário, em vez
do currículo que me tinham pedido. A ideia de um «projecto comunitário»,
envolvendo alunos, professores e comunidade em geral, exposta perante o
grupo, foi aprovada por todos. Pouco tempo depois, estava nos servidores
do Prof2000 o espaço «Aveiro e Cultura», que se manteve até que «os
nossos superiores», lá na capital, por volta de 2015, mais ano menos
ano, resolveram mandar para o lixo cerca de setenta mil documentos
criados por professores e alunos na região centro do País.
Felizmente, a Direcção da Secundária José Estêvão não
padece dos males dos nossos superiores dirigentes. E o nosso Director, o
colega Fernando Delgado, permitiu que todo o projecto continue
preservado nos servidores da Escola Secundária José Estêvão.
Diz a canção que «quem faz um filho...». E como «quem faz
um filho...», se as engrenagens mentais não estiverem a funcionar de
modo incorrecto, procura sempre mantê-lo, para que tenha longa vida,
esta é uma das muitas razões que me fazem vir regulamente à Escola. Não
é única; mas que é uma forte razão, disso não devem, certamente, existir
dúvidas.
E agora, o saber que uma das melhores formas de comunicar
com a comunidade se vai manter, continuando as boas tradições da
Secundária José Estêvão, é mais outra fortíssima e excelente razão para
continuar. Por isso, e para concluir este texto, que já vai longo, devo
dizer que toda a equipa poderá, desde já, contar com a minha plena
participação, com votos de que o novo “@lternativaAEJE”, qual
Fénix renascida, se mantenha por muito tempo.
Aveiro, 17 de Novembro de 2022
Henrique J. C. de Oliveira
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Este texto saiu em 25 de Maio de 2023
no jornal escolar "Alternativa AEJE". Se quiser ler a versão
curta, com cerca de uma página e meia, clique em "Alternativa
AEJE"
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