O novo "@lternativaAEJE",
qual Fénix renascida
Henrique
Oliveira, Professor aposentado
«Votos de que o novo “@lternativaAEJE”,
qual Fénix Renascida, se mantenha por muito tempo.»
A comunidade escolar mais
jovem não conhece Henrique J. C. de Oliveira, professor aposentado da ESJE, hoje integrada no AEJE. Foi docente, orientador de estágio e
formador. Esteve sempre ligado ao jornal escolar, “Alternativas”, e à
cultura aveirense. É o seu testemunho na primeira pessoa que a seguir se
apresenta.
O meu encontro com a Escola Secundária José Estêvão começou em tempos
bastante recuados, ainda antes de ser professor. Lembro-me de ter
entrado pela primeira vez nesta escola em 1952, pouco tempo depois do
actual edifício ter sido inaugurado. As minhas primas foram assistir à
récita que habitualmente se fazia no final de cada ano escolar e
levaram-me com elas a assistir ao espectáculo realizado no ginásio. Foi
esta a primeira vez que entrei no edifício.
Os anos passaram.
Frequentei a escola primária, depois os três ciclos do ensino liceal e
fui para Coimbra tirar o curso de Filologia Românica na Faculdade de
Letras da Universidade. Quase no final do curso, em plena crise
estudantil de 69, percorri o País num trabalho de investigação
etnolinguística, para a tese de formatura. Leccionei na secção da Lousã,
da Escola Industrial e Comercial Brotero antes de ter sido chamado para
o serviço militar, que cumpri entre 1972 e 1974.
De regresso à vida civil,
fui colocado como estagiário no Liceu de Aveiro. Aqui, vivi um ano
bastante difícil e trabalhoso pela situação que se vivia em Portugal e
na escola, em particular. O segundo ano deveria ter sido um período
calmo. No entanto, por razões de instabilidade política e social, também
refletidas na educação, vi-me inesperadamente como orientador de
estágio.
Durante vários anos, fui
cultivando um enorme gosto pela informática, que o ensino me ajudou a
despertar. Nos finais da década de 1980, comprei um computador e grande
parte das minhas férias foram ocupadas na aprendizagem da nova linguagem
de programação. Resolvi criar um Clube de Informática que funcionou aos
sábados de tarde, num recanto da Homem Cristo, escola na qual estava a
lecionar. E diversos programas foram por mim escritos, dos quais
destaco: “Eça de Queirós e Os Maias” e o Jogo da Forca, que foi um
estrondoso sucesso na Semana da Escola. Nasceu o primeiro jornal em
computador, “A Folha”, talvez o primeiro a ser colocado na Internet, que
pode ainda ser consultado no espaço «Aveiro e Cultura”.
No ano lectivo de 1995/96, após um ano de licença sabática para
apresentação da tese de mestrado em Novas Tecnologias no Ensino,
regressei à Secundária José Estêvão, onde tive a oportunidade de
contactar com uma nova forma de ensino, o SEUC (Sistema de Ensino por
Unidades Capitalizáveis). Ao longo dos anos, estive ligado não só ao
ensino, mas a muitas áreas do saber, tais como a fotografia, o cinema, o
jornalismo, a etnografia. As ferramentas informáticas não tinham para
mim segredos. E a escola tinha tudo o que precisava: alunos,
funcionários, professores, uma reprografia devidamente apetrechada, e
uma comunidade escolar que deveria também ser englobada. Todos estes
factores pesaram para a criação de um jornal ou boletim escolar. E qual
o nome a dar ao jornal, tanto mais que era destinado ao ensino nocturno?
Nasceu o jornal “Alternativas”, que fez sucesso. Em breve deixava de ser
exclusivamente da noite, para ser de todos.
Como a minha
especialização durante o mestrado foi relacionado com as novas
tecnologias, com as quais estava já há vários anos familiarizado, fui
indigitado pela Direcção da Secundária José Estêvão para Líder do
Projecto “Prof2000” na nossa escola, o que me levou a pôr de lado um
projecto em que andava envolvido: a criação de um romance em género
epistolar, de acordo com as normas da Teoria da Literatura, até porque,
na língua portuguesa, tirando as “Lettres Portugaises”, que nunca
poderão ter sido escritas por uma freira portuguesa, não existe nada em
género epistolar.
Há muito que andava
ligado ao mundo das novas tecnologias // informáticas. No nível superior,
ensinava, além de Gramática da Comunicação, Técnicas de Secretariado,
Jornalismo, Programação por Objectos, Etnografia Portuguesa. Na área da
Formação de Professores, ensinava «Imagem e Novas Tecnologias no
Ensino», «Fotografia e Cinema» e «Criação de páginas didácticas para
Internet».
Indigitado para líder da
Escola, frequentei um curso para os líderes, ministrado nas instalações
da PT (Portugal Telecom), em Aveiro, Pouco depois, na segunda ou
terceira sessão do “Prof2000”, apresentei um currículo original, feito
integralmente em linguagem da Internet (HTML), que foi muito elogiado. E
aproveitei para dizer que, em vez de um currículo, seria mais
interessante apresentar um projeto que envolvesse toda a comunidade em
geral, projeto que apresentei ao grupo e foi aprovado por todos. Pouco
tempo depois, estava nos servidores do “Prof2000” o espaço «Aveiro e
Cultura», que se manteve até 2015. E a Direção da Secundária José
Estêvão permitiu que todo o projecto se mantivesse preservado nos
servidores da Escola.
Saber que o jornal escolar, que é uma das melhores formas de comunicar
com a comunidade, se vai manter, continuando as boas tradições da
Secundária José Estêvão, é mais outra fortíssima e excelente razão para
continuar aqui nesta escola. Por isso, e para concluir este texto, devo
dizer que toda a equipa poderá, desde já, contar com a minha plena
participação, com votos de que o novo “@lternativaAEJE”, qual Fénix
Renascida, se mantenha por muito tempo.
Henrique J. C. de Oliveira
Professor aposentado
Henrique Oliveira escreve de acordo com a
antiga ortografia. Versão integral em
HJCO
A minha Estêvão
Há treze anos, deixei Aveiro por Aveiro, que
se entenda: a minha casa, a Secundária, nossa José Estêvão, e as
memórias que vos quero transmitir:
de tão curta passagem (três anos, para ser
exacto), retenho a forma como acordei
para a cidade
que entendam: para a vida, para a vida
social, para as primeiras escolhas por minha conta e risco, para os
primeiros passeios comigo mesmo, para alguns dos amigos de uma vida,
sabem? Foram os
longos intervalos para almoço e a primeira “autorização para sair” que
me deram o gosto do que seria se pudesse caminhar sem pressa ou,
simplesmente, sentar-me ao acaso, com ou sem companhia, vendo a cidade
surgir. A grande dádiva da José Estêvão foi a Liberdade.
Podem apontar-me o dedo por não mencionar as
pessoas que me viram chegar, ficar e partir e com quem tanto aprendi.
Todavia, estou seguro de que saberão que as lembro e evoco. Para nós,
neste registo, conta o valor daquela época e, esse, foi o de um
ponto-de-partida, um grande passo em frente.
Concordamos que apenas na arte e na memória
nos é permitido voltar atrás? Se sim, deixo-vos exatamente aqui! A
lembrança de um edifício cujos claustros e seu jardim de palmeiras nos
oxigenavam os corredores, cujas janelas muito longas nos iluminavam os
rascunhos, cujos ombros largos das paredes e os pés-direitos altos
sacralizavam o acto da aprendizagem.
Na Associação, montada de improviso,
deixo-vos as jogatanas e o tempo, esse tempo!, onde a palavra-de-honra
contava. Às x horas, havia basquete e lá nos encontrávamos nós (não que
jogasse, confesso, apreciava) e quão bom era haver espaço para nos
olharmos, pensarmos e nos elogiarmos?
Deixo-vos, especialmente, uma José Estêvão
com tempo para ouvir.
Pedro Albuquerque
ex-aluno
Pedro Albuquerque escreve de acordo com a
antiga ortografia. |