JORNAL
N.º 10

MAIO 1993  Ano V


ESCOLA SECUNDÁRIA HOMEM CRISTO - AVEIRO
COLABORA NO ENRIQUECIMENTO DO TEU JORNAL

SUMÁRIO

 

Editorial

 

Divulgação

 

Uma canção
para ti

 

Clube de
jornalismo

 

Notícias da
Escola

 

Escrita da
casa

 

Um conto

 

Diversos

 

Passatempos
 

Fac-símile
da 1ª página

 

 













HOMENAGEM A HOMEM CRISTO

Há relativamente pouco tempo, a Escola Secundária evocou a figura do seu patrono. Aveiro, entusiasmada pelo exemplo de seu filho, Francisco Manuel Homem Cristo, e de tantos outros que pelos seus feitos e obras tornaram Aveiro um lugar melhor para se viver, o Aveiro que todos nós hoje conhecemos, acompanhou com interesse a semana de evocação que aqui decorreu. Como das várias actividades realizadas ficaram alguns textos evocativos, alguns já publicados num número especial do nosso jornal, mas outros ficaram restritos ao conhecimento daqueles que participaram nas comemorações, aproveitamos agora este número para dar a conhecer alguns dos textos então apresentados. Temos, inclusive, outros textos de elevado interesse, mas cuja extensão não nos permite fazê-los sair neste pequeno jornal. Assim sendo, limitar-nos-emos, por agora, a apresentar um pequeno texto de um dos elementos do Clube de Jornalismo da nossa Escola, no qual se expressa o nosso obrigado a Homem Cristo.

 

Obrigado, Homem Cristo

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (...), já dizia Luís de Camões. Homem Cristo também quis mudar Aveiro...

Aveiro, nobre cidade!
Serás tu a única que sente
o desejo de aprender, 
vontade de crer e de saber?
Um dia, uma criança
ao mundo veio;
e seu desejo foi concretizar,
enriquecer-te a ti, Aveiro!
Com orgulho a ajudaste a criar!
Essa criança,
que homem se tornou,
e que a este liceu nome doou,
foi um símbolo para muitos!
De criança para homem!
De homem para símbolo,
que a todos envaidece!
A cidade te agradece!
Ana Sofia Neno Leite,7º  - D

Tudo vale a pena...

«Tudo vale a pena quando a alma não é pequena»
Fernando Pessoa

O canto do passarinho
E a aurora encantada
O recanto do vento fresquinho
Num recanto da madrugada.

Uma onda enorme no mar
Uma pequenina também,
Um sol brilhante a vaguear
Como um barco que vai e vem.

Mas vem a noite num passo leve
E instala a sombra amena;
Vem a lua cor da neve...
Tudo isto vale a pena!

E penso só para mim
Como é bom poder viver!
E quero que tudo seja assim
Mesmo quando adormecer.

Sónia Marco
,
11º D

TODOS JUNTOS, FAZEMOS MELHOR...

De uma aula de Português dada no exterior, com a turma do 11º Ano B, no início deste ano lectivo, mais exactamente em 9 de Novembro de 1992, resultou, com base nas frases escritas por todos os alunos da Turma, o texto compilado pela Professora, que passamos a transcrever. Antes, porém, indicamos os objectivos que presidiram a essa aula:

Objectivos:

1-Ver, ouvir e sentir o Parque; 
2-Produzir texto escrito.

(Selecção de frases dos trabalhos de todos os alunos)

O Parque é a perfeita harmonia... de formas diversas. É tudo lindo demais... Se pudesse, queria acordar aqui. É lugar de introspecção, é confidente... Os lugares sombrios e fechados... árvores despenteadas e inconformes. Árvores gigantes de braços abertos ao céu como que pedindo clemência de algo que fizeram... Os ramos alargam para onde querem... os ramos escuros das árvores... Que árvores!... grandes, pequenas, frondosas... parecem tiradas de um sonho. Imensas árvores que rasgam o azul do céu, árvores que se vão despindo...
E o lago é o espelho das árvores, mas também da alma que aprecia coisas belas... Tudo isto me enche a alma de paz. É uma paisagem bonita, harmoniosa, perfeita. A paisagem não é colorida, o que não quer dizer que não tenha cor. Tudo é acolhedor e maravilhoso... há o azul cristalino do céu, o verde, o amarelo, o castanho... verde... verde comum, vulgar, insensível.. massa de cores onde tudo se mistura... castanhos, amarelos queimados, vermelhos... Cores vivas e cores como o verde-claro ou escuro das árvores, o amarelo... O sol, por entre as árvores, dá-lhes uma tonalidade que eu nunca vi... Princípio de Outono morno e silencioso, lento adormecer da loucura do Verão... há um belo em tudo isto. Um “não-sei-o-quê”, que eu não sei explicar... O verde, o canto suave, o sussurrar da água envolve a vida num canto de sonho... No Parque, rodeada de vida, de luz, de verde... O parque, uma casa de mil sonhos, o paraíso, mas a nostalgia do desprender das folhas... Tudo à minha volta é muito sereno... O silêncio faz deste sítio um lugar calmo e pacífico... Este paraíso, o homem devia preservá-lo. Este ambiente paradisíaco dá-me vontade de ter asas e voar, voar, procurar a liberdade... Mas um dia deixarei de respirar e ficarei fria e não poderei mais ver o sol, as crianças, o lago... Há aqui uma agonia que me traz água aos olhos... O borbulhar da água poluída enjoa-me... Sinto uma morte natural que se passeia por este parque... Aqui ninguém vê os meus medos... É tão bom estar aqui... Sinto remorsos de sentir esta calma... Mas, aqui, nada tem sentido; aqui, tudo são sonhos e delírios. Não fui eu que escrevi. Foi a influência desta paisagem onde tudo é belo e me lembra tristeza... Toda a natureza provoca em mim uma sensação de medo e, ao mesmo tempo, de segurança... à noite, este parque ficará sombrio e o som do vento, nas copas das árvores, sobressalta as pessoas. Porque é que as pessoas têm medo do escuro?... Queria ser capaz de vir aqui de noite, mas tenho medo... De noite, tudo é horrorosamente calmo; de dia, a luz e o calor recon­fortam-nos... Estou aqui entre a luz e a sombra... O lago é o símbolo da luz, da calma e do repouso. A natureza funciona como a sociedade: os forte prevalecem e os fracos acomodam-se às regras que os mais fortes fazem. O barulho das águas e dos pássaros faz-me sentir livre... Mas olho esta imensidão de árvores e de vida e sinto-me pequena... Tudo isto acorda saudades e desejos reprimidos dentro de mim. A gota de orvalho é a minha lágrima, a tristeza que nunca chorei, que nunca libertei. Pareço envolvida num filme antigo. A casa... Tenho a impressão que, a qualquer momento, as portas se vão abrir e que de lá vão sair pessoas de épocas passadas... As crianças do lago fazem lembrar a minha infância: vejo as águas onde outrora havia risos, os meus risos... e o velhinho que vem passear a neta, tal com alguém já me passeou... tenho saudades, muitas saudades... Ouço os patos e parece-me que estão a discutir... O verde e o castanho chamam-me a atenção para algo que eu não sei definir o que é... Toda esta verdura me faz sentir esperançada... Faz sentirmo-nos maravilhosos e reconhecer o nosso verdadeiro valor e respeitar os outros... Aqui, sinto-me livre, sinto-me eu, sem imposições. É maravilhoso sentir que ainda há algo na vida que é tão natural... A beleza da natureza, a beleza de tudo isto, é tão diferente do dia-a-dia de todos nós! Embora seja um jardim com intervenção humana, sente-se que houve a preocupação de deixar que se sentisse, o mais possível, a natureza verdadeira... Quem está aqui tem a sensação que o mundo lá fora, poluído, artificial, não existe... Milhões de pessoas sofrem... Mas é tão bom estar aqui, à margem desse mundo... Queria fechar os olhos e viver neste mundo que aqui encontrei... Em espaços abertos é difícil fechar as ideias... Aqui nada tem sentido, aqui tudo são sonhos e delírios... Adormeço neste jogo mágico de cores e sentidos.

                   Profª. Maria José Sarabando


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