Há
relativamente pouco tempo, a Escola Secundária evocou a
figura do seu patrono. Aveiro, entusiasmada pelo exemplo de
seu filho, Francisco Manuel Homem Cristo, e de tantos outros
que pelos seus feitos e obras tornaram Aveiro um lugar melhor
para se viver, o Aveiro que todos nós hoje conhecemos,
acompanhou com interesse a semana de evocação que aqui
decorreu. Como das várias actividades realizadas ficaram
alguns textos evocativos, alguns já publicados num número
especial do nosso jornal, mas outros ficaram restritos ao
conhecimento daqueles que participaram nas comemorações,
aproveitamos agora este número para dar a conhecer alguns dos
textos então apresentados. Temos, inclusive, outros textos de
elevado interesse, mas cuja extensão não nos permite fazê-los
sair neste pequeno jornal. Assim sendo, limitar-nos-emos, por
agora, a apresentar um pequeno texto de um dos elementos do
Clube de Jornalismo da nossa Escola, no qual se expressa o
nosso obrigado a Homem Cristo.
Obrigado,
Homem Cristo
“Mudam-se
os tempos, mudam-se as vontades (...), já dizia Luís de Camões.
Homem Cristo também quis mudar Aveiro...
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Aveiro,
nobre cidade!
Serás tu a única que sente
o desejo de aprender,
vontade de crer e de saber?
Um dia, uma criança
ao mundo veio;
e seu desejo foi concretizar,
enriquecer-te a ti, Aveiro!
Com orgulho a ajudaste a criar!
Essa criança,
que homem se tornou,
e que a este liceu nome doou,
foi um símbolo para muitos!
De criança para homem!
De homem para símbolo,
que a todos envaidece!
A cidade te agradece!
Ana Sofia Neno Leite,7º - D |
Tudo
vale a pena...
«Tudo
vale a pena quando a alma não é pequena»
Fernando Pessoa
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O
canto do passarinho
E a aurora encantada
O recanto do vento fresquinho
Num recanto da madrugada.
Uma
onda enorme no mar
Uma pequenina também,
Um sol brilhante a vaguear
Como um barco que vai e vem.
Mas
vem a noite num passo leve
E instala a sombra amena;
Vem a lua cor da neve...
Tudo isto vale a pena!
E
penso só para mim
Como é bom poder viver!
E quero que tudo seja assim
Mesmo quando adormecer.
Sónia Marco, 11º D |
TODOS
JUNTOS, FAZEMOS MELHOR...
De
uma aula de Português dada no exterior, com a turma do 11º
Ano B, no início deste ano lectivo, mais exactamente em 9 de
Novembro de 1992, resultou, com base nas frases escritas por
todos os alunos da Turma, o texto compilado pela Professora,
que passamos a transcrever. Antes, porém, indicamos os
objectivos que presidiram a essa aula:
Objectivos:
1-Ver,
ouvir e sentir o Parque;
2-Produzir texto escrito.
(Selecção
de frases dos trabalhos de todos os alunos)
O
Parque é a perfeita harmonia... de formas diversas. É tudo
lindo demais... Se pudesse, queria acordar aqui. É lugar de
introspecção, é confidente... Os lugares sombrios e
fechados... árvores despenteadas e inconformes. Árvores
gigantes de braços abertos ao céu como que pedindo clemência
de algo que fizeram... Os ramos alargam para onde querem... os
ramos escuros das árvores... Que árvores!... grandes,
pequenas, frondosas... parecem tiradas de um sonho. Imensas árvores
que rasgam o azul do céu, árvores que se vão despindo...
E o lago é o espelho das árvores, mas também da alma que
aprecia coisas belas... Tudo isto me enche a alma de paz. É
uma paisagem bonita, harmoniosa, perfeita. A paisagem não é
colorida, o que não quer dizer que não tenha cor. Tudo é
acolhedor e maravilhoso... há o azul cristalino do céu, o
verde, o amarelo, o castanho... verde... verde comum, vulgar,
insensível.. massa de cores onde tudo se mistura...
castanhos, amarelos queimados, vermelhos... Cores vivas e
cores como o verde-claro ou escuro das árvores, o amarelo...
O sol, por entre as árvores, dá-lhes uma tonalidade que eu
nunca vi... Princípio de Outono morno e silencioso, lento
adormecer da loucura do Verão... há um belo em tudo isto. Um
“não-sei-o-quê”, que eu não sei explicar... O verde, o
canto suave, o sussurrar da água envolve a vida num canto de
sonho... No Parque, rodeada de vida, de luz, de verde... O
parque, uma casa de mil sonhos, o paraíso, mas a nostalgia do
desprender das folhas... Tudo à minha volta é muito
sereno... O silêncio faz deste sítio um lugar calmo e pacífico...
Este paraíso, o homem devia preservá-lo. Este ambiente
paradisíaco dá-me vontade de ter asas e voar, voar, procurar
a liberdade... Mas um dia deixarei de respirar e ficarei fria
e não poderei mais ver o sol, as crianças, o lago... Há
aqui uma agonia que me traz água aos olhos... O borbulhar da
água poluída enjoa-me... Sinto uma morte natural que se
passeia por este parque... Aqui ninguém vê os meus medos...
É tão bom estar aqui... Sinto remorsos de sentir esta
calma... Mas, aqui, nada tem sentido; aqui, tudo são sonhos e
delírios. Não fui eu que escrevi. Foi a influência desta
paisagem onde tudo é belo e me lembra tristeza... Toda a
natureza provoca em mim uma sensação de medo e, ao mesmo
tempo, de segurança... à noite, este parque ficará sombrio
e o som do vento, nas copas das árvores, sobressalta as
pessoas. Porque é que as pessoas têm medo do escuro?...
Queria ser capaz de vir aqui de noite, mas tenho medo... De
noite, tudo é horrorosamente calmo; de dia, a luz e o calor
reconfortam-nos... Estou aqui entre a luz e a sombra... O
lago é o símbolo da luz, da calma e do repouso. A natureza
funciona como a sociedade: os forte prevalecem e os fracos
acomodam-se às regras que os mais fortes fazem. O barulho das
águas e dos pássaros faz-me sentir livre... Mas olho esta
imensidão de árvores e de vida e sinto-me pequena... Tudo
isto acorda saudades e desejos reprimidos dentro de mim. A
gota de orvalho é a minha lágrima, a tristeza que nunca
chorei, que nunca libertei. Pareço envolvida num filme
antigo. A casa... Tenho a impressão que, a qualquer momento,
as portas se vão abrir e que de lá vão sair pessoas de épocas
passadas... As crianças do lago fazem lembrar a minha infância:
vejo as águas onde outrora havia risos, os meus risos... e o
velhinho que vem passear a neta, tal com alguém já me
passeou... tenho saudades, muitas saudades... Ouço os patos e
parece-me que estão a discutir... O verde e o castanho
chamam-me a atenção para algo que eu não sei definir o que
é... Toda esta verdura me faz sentir esperançada... Faz
sentirmo-nos maravilhosos e reconhecer o nosso verdadeiro
valor e respeitar os outros... Aqui, sinto-me livre, sinto-me
eu, sem imposições. É maravilhoso sentir que ainda há algo
na vida que é tão natural... A beleza da natureza, a beleza
de tudo isto, é tão diferente do dia-a-dia de todos nós!
Embora seja um jardim com intervenção humana, sente-se que
houve a preocupação de deixar que se sentisse, o mais possível,
a natureza verdadeira... Quem está aqui tem a sensação que
o mundo lá fora, poluído, artificial, não existe... Milhões
de pessoas sofrem... Mas é tão bom estar aqui, à margem
desse mundo... Queria fechar os olhos e viver neste mundo que
aqui encontrei... Em espaços abertos é difícil fechar as
ideias... Aqui nada tem sentido, aqui tudo são sonhos e delírios...
Adormeço neste jogo mágico de cores e sentidos.
Profª. Maria José Sarabando |