JORNAL
N.º 9

FEVEREIRO
 1993  Ano V


ESCOLA SECUNDÁRIA HOMEM CRISTO - AVEIRO
COLABORA NO ENRIQUECIMENTO DO TEU JORNAL

Cinquentenário da morte de H. Cristo - 25/Fev./1943-1993

SUMÁRIO

 

Editorial

 

Homem Christo

 

Homem Cristo: um aveirense
a recordar

 

A figura de
Homem Cristo

 

Como era
a Secª H.
Cristo nos 
anos vinte

 

Homem Cristo
e o liceu
de Aveiro

 

H. Cristo
visto por pessoas
do seu
tempo

 

Passatempos

 

Fac-símile
da 1ª página

 











HOMEM  CRISTO E O LICEU DE AVEIRO
(actual Escola Secundária Homem Cristo)

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Mais adiante, já quase no final da segunda coluna, volta a recordar a importância do edifício como instituição de ensino para a cidade de Aveiro:

«... O liceu não representa para nós uma casa qualquer, grande ou não grande, bela ou não bela. O liceu é já hoje uma tradição histórica que importa venerar, sob pena de sermos considerados no país um povo indigno e bestial. O liceu é um monumento, e os monumentos, onde há civilização, onde há liberdade, onde há uma nímia ideia do que seja adiantamento e progresso, não se derrocam nem se estragam; aperfeiçoam-se e conservam-se. O liceu é um título de gratidão que tem Aveiro para com o espírito brilhante mais brilhante desta terra, e Aveiro que foi tão ingrata com o eminente tribuno enquanto vivo, que lhe tem sido tão pouco grata depois de morto, não pode tocar na obra desse grande patriota sem se degradar, sem se abandalhar de todo.

Foi José Estêvão que planeou o liceu. Foi José Estêvão que o fez com o seu espírito, com a sua dedicação extrema. José Estêvão amou aquilo. E haveis de ser vós hoje, ó vândalos, que haveis de espezinhar a obra de José Estêvão? E há-de esta cidade consentir que se toque no que foi anelo e amor do nosso grande tribuno? E não há-de haver aí um povo, uma imprensa, qualquer força moral da nossa terra que se oponha com toda a energia a um vandalismo tão vergonhoso e cruel? (...)»

Este segundo artigo, que deveria constituir o fim da tomada de posição de Homem Cristo sobre o problema da desactivação do liceu, dando-lhe outras funções, termina com a sua promessa de entrar na liça: «Pois entraremos na liça. Não valemos nada, bem se sabe. Mas às vezes basta meia gota de água para que transborde o copo. (...) Não terminaremos, porque nunca mais largaremos de mão esta questão importantíssima.»

No quinto artigo saído no jornal «O Povo de Aveiro», n.º 306 de 25 de Novembro de 1887, verificamos que a polémica acerca da mudança do liceu estava bastante acesa, tendo-se acentuado «fortemente a opinião pública contra o projecto da mudança do liceu». Neste mesmo número, Homem Cristo rebate as opiniões surgidas em alguns jornais e o artigo termina com a transcrição de três manifestos: manifesto da academia, da representação pública e da representação da comissão José Estêvão.

No primeiro documento, a classe académica toma a defesa da manutenção do edifício como local de ensino e incita as pessoas a não permitirem essa mudança. Dessas palavras passamos a transcrever uns breves excertos:

«Pretende-se, sob o falso pretexto de que a actual não satisfaz as necessidades do ensino, construir uma casa para exercício da instrução secundária, transferindo-se o liceu do majestoso edifício em que hoje se encerra. (...)

O nosso fim por enquanto é incitar-vos à resistência permitida pelas leis do país contra essa resolução inesperada dos poderes públicos. É erguer bem alto um protesto solene contra o que reputamos um erro de consequências inevitáveis. É varrer a afronta que se quer arrojar à memória sagrada de José Estêvão. É tentar impedir que se complete a desonra da terra, que derrotou junto da urna o maior orador deste século. (...)

Cidadãos:

Não acrediteis esses razões subtis. A casa do largo municipal provê as necessidades do ensino. É um monumento. É um santo legado dum patriota exímio. É herança sagrada de José Estêvão e isto diz tudo.»

O manifesto da academia termina com uma sequência de assinaturas e o convite aos cidadãos aveirenses para assinarem a representação que se encontra em toda a cidade, oferecendo a resistência que lhes impõe a sua dignidade, o seu dever e a sua gratidão.

Os dois manifestos seguintes apresentam um teor idêntico ao primeiro. Limi­tamo-nos aqui a transcrever um pequeno excerto da tomada de posição da comissão José Estêvão, enviada «ao Ilustríssimo e Exce­lentíssimo Senhor Presi­dente da Comissão Executiva da Junta Geral»:

«Como v. Exª sabe tão bem como nós, o liceu actual é um título de gratidão que possui a cidade de Aveiro para com o seu filho dilecto e querido. Ninguém ignora a dedicação que teve José Estêvão por aquele edifício e por aquela instituição e o amor que toda a vida lhe votou. Ir-se desviar hoje do seu primitivo destino, é matar as tradições gloriosas que lhe andam ligadas, e renegar o legado do mais puro e abençoado espírito que surgiu nesta terra, e desrespeitar uma casa que já é um monumento e praticar por consequência um vanda­lismo e uma profanação que ao espírito ilustrado e patriótico de V. Exª há-de repugnar primeiro do que a nenhum outro.»

E as palavras da comissão José Estêvão ter­minam com uma sequência de frases apelativas, visando cimentar fortemente a ligação entre a estátua de José Estêvão e o liceu que se lhe ficou a dever, situado a uns escassos metros de distância no mesmo largo da câmara:

«Deixai-nos que a estátua de José Estêvão se erga defronte do nosso liceu. Deixai-nos que o bronze e a pedra atestem o patriotismo do morto e o patriotismo dos vivos. Deixai-nos que os dois monumentos, o amor dum homem e a gratidão dum povo, sejam a nossa glória comum nos dias de festa que se avizinham aí.

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