Henrique J. C. de Oliveira, Relatório do Inquérito Linguístico realizado na Gafanha do Carmo, Aveiro, 1967.

ALCUNHAS

Um dos capítulos mais curiosos e que merecia um estudo atento e profundo é o relativo às alcunhas. Só aquelas que consegui recolher, algumas bastante pitorescas e extravagantes, dariam para uma longa dissertação. Mas não é isto o que aqui pretendo, pelo que tentarei, de maneira sucinta e clara, fazer sobre elas um pequeno estudo.

Em grande número de casos, baseiam-se as alcunhas em defeitos físicos ou até mesmo morais. Porque um homem agarrou numa bomba «d'alamite e quedou coto», passou a ser conhecido por Antoino Coto. Um indivíduo, de nome oficial Manuel João Gafanha, apenas era conhecido pelo «Caroço» porque em miúdo, era pequenino como um caroço de milho. Porém, o mais curioso é quando o defeito do pai vai servir para alcunha do filho. É o caso de Júlio Caçador, que toda a gente apenas conhece pelo «Careca», porque o pai era careca. Também os defeitos morais podem servir para distinguir determinado indivíduo. Assim, um certo Albino Diamantino, que a todos enganava como fazia um outro de Verdemilho chamado Pragas, passou a ser conhecido pelo «Pragas».

A maneira de ser, o comportamento e o modo de andar podem também servir para atribuir uma alcunha a uma pessoa. Logo, um indivíduo de nome oficial João dos Santos Prior, por andar sempre «cheio de nove horas», passou unicamente a ser conhecido por «o Noboras». José da Costa Caçador, que tinha por hábito dizer «caipora», quando se excitava, passou a ser o «Caipora».

A profissão pode também servir de base para uma alcunha. Foi o que sucedeu, por exemplo, a Manuel Domingos Ferreira. Como lidava muito com coisas que eram próprias para senhoras, passou a ser chamado «o Calcinhas». E de tal modo esse nome se divulgou, que hoje só o conhecem pela alcunha.

Por vezes, a alcunha é transmitida de pais para filhos, como já vimos ao tratar do meu informador, ou, então, tem a sua origem na infância. Estão neste caso Manuel Faria Louro, o «Quinhas», a quem os pais chamavam Marquinhas, ou Manuel Gandarinho, o «Chincha», que, em miúdo, andava sempre a pedir ao pai para o deixar ir com ele pescar à chincha.

Muitos outros exemplos poderiam ser citados, para já não falar de toda uma série de alcunhas que consegui recolher e para as quais não encontrei uma explicação que fosse aceitável. Estão neste caso, entre outros, João da Costa Caçador, o «Passarinho», e João Francisco da Graça, o «Melão».

 

 

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