Um dos capítulos mais curiosos e que merecia um estudo atento e profundo
é o relativo às alcunhas. Só aquelas que consegui recolher, algumas
bastante pitorescas e extravagantes, dariam para uma longa dissertação.
Mas não é isto o que aqui pretendo, pelo que tentarei, de maneira
sucinta e clara, fazer sobre elas um pequeno estudo.
Em grande número de casos, baseiam-se as alcunhas em defeitos físicos ou
até mesmo morais. Porque um homem agarrou numa bomba «d'alamite e quedou
coto», passou a ser conhecido por Antoino Coto. Um indivíduo, de nome
oficial Manuel João Gafanha, apenas era conhecido pelo «Caroço» porque
em miúdo, era pequenino como um caroço de milho. Porém, o mais curioso é
quando o defeito do pai vai servir para alcunha do filho. É o caso de
Júlio Caçador, que toda a gente apenas conhece pelo «Careca», porque o
pai era careca. Também os defeitos morais podem servir para distinguir
determinado indivíduo. Assim, um certo Albino Diamantino, que a todos
enganava como fazia um outro de Verdemilho chamado Pragas, passou a ser
conhecido pelo «Pragas».
A maneira de ser, o comportamento e o modo de andar podem também servir
para atribuir uma alcunha a uma pessoa. Logo, um indivíduo de nome
oficial João dos Santos Prior, por andar sempre «cheio de nove horas»,
passou unicamente a ser conhecido por «o Noboras». José da Costa
Caçador, que tinha por hábito dizer «caipora», quando se excitava,
passou a ser o «Caipora».
A profissão pode também servir de base para uma alcunha. Foi o que
sucedeu, por exemplo, a Manuel Domingos Ferreira. Como lidava muito com
coisas que eram próprias para senhoras, passou a ser chamado «o
Calcinhas». E de tal modo esse nome se divulgou, que hoje só o conhecem
pela alcunha.
Por vezes, a alcunha é transmitida
de pais para filhos, como já vimos ao tratar do meu informador, ou,
então, tem a sua origem na infância. Estão neste caso Manuel Faria
Louro, o «Quinhas», a quem os pais chamavam Marquinhas, ou Manuel
Gandarinho, o «Chincha», que, em miúdo, andava sempre a pedir ao pai
para o deixar ir com ele pescar à chincha.
Muitos outros exemplos poderiam ser citados, para já não falar de toda
uma série de alcunhas que consegui recolher e para as quais não
encontrei uma explicação que fosse aceitável. Estão neste caso, entre
outros, João da Costa Caçador, o «Passarinho», e João Francisco da
Graça, o «Melão». |