Henrique J. C. de Oliveira, Relatório do Inquérito Linguístico realizado na Gafanha do Carmo, Aveiro, 1967.

DEVOCIONÁRIO

Servindo-se de uma curiosa imagem, aconselha-se, na oração seguinte, o pecador, adormecido na cama fofa e esquecido da sua condição de mortal, a levantar-se para se ir confessar, pois pode não mais acordar e ter de ir dar a Deus contas de seus pecados. Para melhor o convencer, mostra-lhe um pequeno aspecto das penas infernais.

PECADOR ADORMECIDO





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Pecador adormecido,
Que andas no mundo esquecido,
Confessa-te, ó pecador,
Qu'andas no mundo enganado.
Não sabes a hora nem quando,
podes morrer em pecado.
Enfim, um Deus temido,
Que te pode castigar.
Quando tu menos pensares,
Contas a Deus hás-de dar.
Oh! Que conta rigorosa,
Mer'cida por toda a vida:
Confessa-te, ó pecador,
Que trazes a alma perdida.
Deita-te na cama banda,
Dá descanso a esse teu corpo.
Já não fazes penitência
Senão depois de morto.
Mas, levanta-te, ó pecador,
Anda fazer penitência.
Olha que no céu não entra
Quem não fizer a diligência.
Há-de ouvir ler a sentença
Diante de teu Redemptor.
Sarás bem aventurado
S’ela for a teu favor.
Nós andemos neste mundo
Todos muito enganados;
Nós havemos de ir ao fogo
Por mal dos nossos pecados.
Ó pecador, se te vires
Naquela fornalha a arder,
Por muito que tu lá chores
Ninguém te lá vai valer.
Chora, chora e suspira,
Considera nessa doutrina,
Sigarás a lei divina.
Não te deites em pecado,
Que podes amanhecer
No inferno condenado.

 

 

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