CASAMENTOS
Os casamentos realizavam-se entre os 24 e os27, após um namoro de sete
anos. Porém, os tempos foram mudando, passando então a efectuar-se por
volta dos 19 a 21. Actualmente, tendo-se alterado o conceito de idade,
esta passou a ter uma importância mais reduzida. E a prova é que muitas
raparigas chegam a casar-se com 17 anos apenas.
Nos nossos dias, conserva-se ainda o costume de serem os pais do
rapaz que vão pedir a noiva para o filho, certo tempo antes do
casamento. E a chamada «pedidela», durante a qual há sempre uma ceia
tradicional, se bebem uns bons copázios para animar a conversa e se fala
dos planos da casa e do futuro dos noivos.
Numa determinada época, a partir de Setembro, sempre aos sábados ou
domingos e nunca à sexta feira − neste dia seria um péssimo agoiro −,
são realizados os casamentos.
− Mas haverá algum motivo especial para se realizarem só a partir de
Setembro?
− Certamente que sim! Isso deve-se ao facto de, na região, ser costume
darem-se aos noivos produtos da terra. Como só a partir desse mês eles
estão aptos a serem colhidos, antes não os poderiam oferecer.
No dia aprazado para a celebração dos esponsais, era da praxe ir
a família do rapaz buscar a noiva a sua casa, daí seguindo para a
igreja. O padrinho acompanhava o noivo e a madrinha a noiva.
Actualmente, o costume modificou-se consideravelmente, pois é o pai que
leva a filha para a igreja, onde a espera o futuro marido.
Depois das cerimónias e do tradicional retrato à saída da igreja, vão
para casa dos recém-casados, onde se realiza uma boda que se prolonga
por dois ou três dias, quando não dura mais.
BAPTIZADOS
Da nova família nascem alguns rebentos. É então altura das crianças irem
à igreja lavar-se do pecado original, herança dos nossos primeiros pais.
É aos padrinhos, que também oferecem o «enchobalzinho», que cabe o
encargo de levar a criança ao baptismo. Em regra, os pais não assistem a
ele, pois ficam em casa a assar o carneiro, que o dia é de festa para
toda a família.
Muitas vezes, quando nascia a criança, vestiam-lhe uma camisita, que
guardavam sem nunca a lavar até ao dia do baptismo, para que o
«inocente» não ficasse ruim. Mas isto era o menos. O pior era quando
obrigavam a infeliz a ingerir a água com que a tinham lavado pela
primeira vez. É que, assim, tirar-lha-iam toda a ruindade e ela seria
boazinha. E, quem sabe, não a transformariam num anjinho, depois de tão
desagradável mistela. Felizmente os tempos mudaram e casos como este são
já difíceis de se encontrar.
MORTE
Quando morre alguém, vão os vizinhos levar de comer à família do
defunto, durante uns cinco a seis dias, visto, pelo costume, não poderem
cozinhar nem fazer qualquer espécie de trabalho. Sobretudo, durante a
primeira semana, não devem comer carne de espécie alguma.
O enterro faz-se directamente de casa para o cemitério.
Durante uma semana, os parentes não saem à rua, fazendo-o pela primeira
vez para irem à missa do sétimo dia. Daqui em diante, recomeçam a vida
de todos os dias.
SUPERSTIÇÕES E CRENDICES
Além das já citadas, recolhi mais alguns elementos bastante curiosos,
que a seguir passo a expor.
Durante o período da gestação, a futura mãe tem de tomar certos
cuidados, se não quiser que a criança nasça com defeitos físicos. Se ela
nasce com manchas rubras, é porque a mãe, certamente costureira, foi
imprevidente e guardou agulhas nas dobras dos vestidos, junto da
cintura. Se a criança nasce com um lábio fendido, é porque a mãe trouxe
alguma chave no bolso ou na cintura.
Já depois de nascida e antes de baptizada, a criança está sujeita a
perigos de natureza vária. Um deles é o de ser chuchada pelas bruxas,
pelo que morre sem alma. Que fazer para evitar tão grande perigo? Nada
mais fácil! Durante a noite, para manter as bruxas à distância, a mãe
põe em cima do filho, deitado no berço, as calças do pai. Mas cuidado,
porque é preciso não esquecer que a perneira esquerda deve ficar
desvirada. Para maior segurança, não vá o diabo tecê-las, deve a mãe
dependurar umas tesouras abertas, no género das usadas pelos estudantes
para rapar os caloiros, junto da caminha da criança. |